Sabin Por: Sabin
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Os testes para covid-19 são excelentes ferramentas diagnósticas para diferenciar um quadro de covid-19 de uma gripe comum, algo essencial para direcionar corretamente o tratamento a ser adotado.

Desde a detecção do primeiro contágio pelo SARS-CoV-2 no Brasil, os testes avançaram bastante e a evolução é contínua. Como afirma o PhD Gustavo Barra, coordenador de pesquisas do Grupo Sabin, que participou do desenvolvimento do teste molecular que diagnosticou a paciente zero no Centro-Oeste brasileiro, o começo foi uma “época de muitas incertezas em relação ao vírus e de poucas ferramentas que tínhamos”.

De lá para cá, “surgiram outros tipos de testes moleculares não baseados em RT-PCR” e, com o surgimento de novas variantes, “somos obrigados a garantir que o ensaio não perca sua capacidade diagnóstica por meio do monitoramento das alterações no genoma do vírus”.

O cenário, quando se trata de testes de covid-19, é de ampla variedade de metodologias, e é natural que surjam dúvidas sobre como funcionam cada um dos testes e qual é o ideal para cada situação. Pensando nisso, neste conteúdo, explicamos as principais opções disponíveis e o que significa fazer o teste certo, no momento certo. É só seguir a leitura!

A importância dos testes diagnósticos no combate à covid-19

Além de auxiliar no direcionamento do tratamento, identificar o agente causador da doença auxilia também na adoção de medidas de proteção e distanciamento social, que evita a contaminação de mais pessoas.

Os resultados dos testes constituem uma excelente forma de fornecer às autoridades sanitárias um panorama da extensão da contaminação na população, dando um norte mais adequado às decisões que precisam ser tomadas para conter um possível avanço da doença, especialmente frente ao surgimento de novas variantes do vírus.

Sem a testagem, qualquer estratégia de controle da covid-19 fica prejudicada, o que, potencialmente, pode impactar na disseminação em larga escala da doença. Quanto maior o número de testes por milhão de habitantes, menor a quantidade de mortes causadas pelo coronavírus. Em parte, isso se deve também ao diagnóstico precoce e rápidas intervenções terapêuticas, que impedem o agravamento da doença e o surgimento de complicações de saúde.

Diagnóstico molecular para covid-19

Os testes moleculares são aqueles que detectam a presença de material genético do SARS-CoV-2 em amostras de secreções das vias respiratórias superiores dos pacientes sintomáticos. A seguir, descreveremos em maiores detalhes os principais testes moleculares utilizados no diagnóstico da covid-19.

RT-PCR

O RT-PCR é um teste molecular que identifica o ácido ribonucleico, ou seja, o material genético do vírus. A coleta é feita por meio de um swab — um cotonete, na linguagem popular — que retira amostras de secreções das vias respiratórias superiores do paciente. Ficou muito conhecido pelas hastes que são inseridas nas narinas. A amostra é levada para um laboratório para fazer a amplificação do material genético do vírus. É um teste que não exige qualquer tipo de preparo específico ou jejum.

A ideia é simples: se o material genético do vírus é encontrado, significa que a pessoa teve contato com o coronavírus, uma vez que as vias respiratórias são sua porta de entrada. Entretanto, como lembra Gustavo Barra:

“[O RT-PCR] não vai detectar proteínas virais, nem anticorpos contra o vírus (…) não permite detectar infecções pregressas pelo vírus, mas sim que o vírus está ali e agora”.

Conforme explica o Dr. Rafael Jácomo, médico e diretor técnico do Grupo Sabin, em virtude da sua precisão, o RT-PCR é o padrão-ouro, ou seja, “o exame ideal a ser realizado”. Segundo Gustavo Barra, isso se deve “à sua capacidade superior em relação a outros tipos de testes diagnósticos de distinguir se um indivíduo está com o vírus ou não, em um tempo de infecção relativamente precoce”. Ele acrescenta que o “RT-PCR é muito sensível, então, pouco material genético do vírus é necessário para um resultado positivo”. “Ele é, também, muito específico, pois é direcionado para sequências de ácidos nucleicos que só ocorrem no genoma do SARS-CoV-2, então, as reações cruzadas com outros vírus e patógenos são muito raras”.

Para que o resultado seja satisfatório, é preciso que a quantidade de vírus na amostra seja além do limite mínimo que o exame consegue detectar. Por isso, o médico explica que é necessário atenção para não aplicar o “teste muito precocemente, momento em que não há carga viral suficiente na amostra”, de modo que o vírus não seja detectado. É preciso, portanto, aplicar o exame mais adequado em cada ocasião.

Por outro lado, a aplicação do teste em um momento muito tardio também pode ser um problema, uma vez que “as defesas imunológicas já [terão] eliminado a maioria das cópias virais do organismo”, podendo seu resultado não ser detectado.

É importante destacar a vantagem do RT-PCR em relação a outras metodologias de testes moleculares, que também detectam o RNA do SARS-CoV-2: eles não são tão sensíveis quanto o RT-PCR.

PCR Express

Assim como no caso do RT-PCR, o PCR Express é uma metodologia que detecta o material genético do vírus. Esse teste, também disponível no Sabin, é feito por meio de secreção coletada via swab, apresentando um resultado mais rápido. O diagnóstico pode ser entregue on-line ao cliente a partir de 2 horas da coleta. Mais comodidade e segurança na hora de sua testagem, certo?

Evidentemente, o fato de ser um teste rápido não compromete a eficiência do exame. Como esclarece o Dr. Rafael Jácomo:

“Sempre que falamos de sensibilidade do teste, estamos comparando com o PCR clássico. Esse teste, do PCR Express, tem uma sensibilidade entre 97% e 98% em relação ao RT-PCR”.

Ou seja, mesmo sendo teoricamente uma pequena margem percentual de menor exatidão, é quase tão eficiente quanto. Além disso, outros fatores que vão além da urgência tornam o diagnóstico rápido muito vantajoso, mesmo que o grau de sensibilidade seja levemente menor. Por exemplo, se um paciente apresenta quadro fortemente sugestivo de que possa estar com covid-19, e o resultado dá negativo, a realização de um teste mais apurado pode ser necessária. Caso contrário, o PCR Express atenderá a uma boa parcela dos casos.

RT-PCR Saliva

Assim como os demais PCRs, esse exame analisa a presença do vírus no organismo. Seu diferencial consiste na garantia de maior conforto ao paciente e facilidade na coleta — basta apenas 1,5 ml de saliva e não é invasivo. Dessa maneira, é ideal para indivíduos que têm dificuldades com a coleta pelo swab, crianças e idosos.

Qual o momento certo para realizar os diferentes testes moleculares?

É importante que o exame mais adequado seja realizado no momento certo. Por exemplo, exames que detectam a presença do vírus são mais eficientes no período em que a carga viral é alta.

Diante disso, recomenda-se que os testes moleculares (RT-PCR, PCR Express e RT-PCR Saliva) sejam realizados nos primeiros 10 dias do surgimento dos sintomas, preferencialmente nos primeiros sete dias.

Minipainel Respiratório

O Minipainel Respiratório é realizado pela mesma metodologia do RT-PCR, com a diferença de que ele identifica outros três vírus, além do SARS-CoV-2, em uma mesma coleta: influenza A (incluindo H1N1), influenza B e o vírus sincicial respiratório (VSR).

Com a normalização pós-pandemia do convívio social, a circulação de outros tipos de vírus passa a ser maior na população. Entre os vírus que afetam o sistema respiratório, os principais são os da influenza e o vírus sincicial respiratório, que podem apresentar quadros clínicos graves em determinadas populações vulneráveis, sendo os sintomas iniciais muito parecidos com os da covid-19.

O exame é indicado para qualquer pessoa que apresente sintomas relacionados a um quadro viral respiratório, principalmente idosos, que podem apresentar casos graves de influenza, e crianças menores de dois anos, que, além da influenza, podem desenvolver casos graves devido à infecção pelo vírus sincicial respiratório.

Os perigos do vírus sincicial respiratório

O VSR atinge as crianças, especialmente bebês prematuros no primeiro ano de vida, mas não somente elas. Idosos, imunodeprimidos, pessoas com doenças crônicas ou cardíacas também fazem parte da população bastante impactada pela doença, que se desenvolve de forma rápida e pode levar a quadros graves que exigem internação (às vezes, até mesmo em UTI).

O VSR é um dos principais agentes de infecções respiratórias, acometendo sobretudo os brônquios e os pulmões. “A doença é altamente contagiosa, há evidências de que todas as crianças de até três anos de idade já entraram em contato com o vírus, mesmo sem desenvolvê-lo de maneira grave. Ele é mais frequente no período entre maio e setembro, uma doença sazonal, e sua infecção progride muito rapidamente. Por isso, é tão importante seu diagnóstico e tratamento precoces”, alerta a infectologista Ana Rosa dos Santos, consultora de imunização do Sabin Diagnóstico e Saúde.

Com sintomas iniciais semelhantes e muito comuns nessa época do ano, as doenças respiratórias podem se agravar por falta de tratamento adequado em sua fase inicial. Os sintomas iniciais podem ser negligenciados, e a automedicação ainda é um recurso muito utilizado para tratar esses sintomas gripais quando percebidos. “Muitas vezes, a pessoa acha que não é nada sério e se automedica. Somente quando o quadro se agrava, é que ela busca por um médico para o diagnóstico adequado. Pode ter relação com a demora na busca por suporte clínico adequado”, alerta a médica.

Por que realizar o Minipainel Respiratório?

No Boletim INFOGripe da Fiocruz, consta o crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em 19 dos 27 estados do país, entre janeiro e abril de 2023, sendo que 35,9% dos casos positivos para vírus respiratórios correspondiam ao VSR.

Buscar o diagnóstico correto é uma medida eficaz para garantir o tratamento adequado e reduzir as chances de agravamento. Para apoiar o diagnóstico, já existem testes que com uma única amostra são capazes de identificar qual vírus respiratório está presente no organismo, como o Minipainel Respiratório oferecido pelo Sabin.

“O painel fornece um quadro ampliado de possibilidades para que o médico possa indicar o tratamento mais adequado, sinalizando, inclusive, a presença de mais de um vírus no organismo, um quadro que tem se tornado cada vez mais comum nos últimos tempos”, explica Ana Rosa.

O Minipainel Respiratório pode ser realizado a partir do primeiro dia de sintomas, enquanto eles ainda estiverem presentes, e a coleta pode ser realizada por swab nasal ou a partir de 1,5 ml de saliva. Crianças com dificuldades em expelir a saliva terão auxílio de um profissional para a coleta do material. A sucção será realizada por meio de uma seringa, sem agulha e de forma indolor.

É importante reforçar que, além do diagnóstico rápido e preciso, é fundamental adotar medidas preventivas, especialmente durante o período de frio, como a higienização frequente das mãos e a vacinação contra gripe e covid-19.

Como lidar com o falso-negativo e positivo?

Como nos lembra o PhD Gustavo Barra, “todo exame diagnóstico tem resultados falso-positivos e falso-negativos”. Com os testes para covid-19, isso não é diferente.

O estudo “Resultados da covid-19 falso-positivos: problemas e custos ocultos”aponta para algumas das consequências que falso-positivos podem gerar na rotina de médicos e pacientes: cirurgias canceladas ou adiadas, perdas financeiras decorrentes do isolamento social, medo de infectar outros, superestimação da incidência da doença e desorientação das políticas públicas.

As causas desse tipo de variabilidade são muitas. Como mencionado, testes realizados precipitadamente ou no momento errado podem motivar esses equívocos. No entanto, devemos ressaltar que há um conjunto bastante rigoroso de controles de qualidade adotados para mitigar o problema. Esse tipo de monitoramento é essencial para garantir a precisão dos exames diagnósticos.

Gustavo Barra destaca “as certificações de qualidade que os laboratórios possuem” como uma “garantia que o paciente tem de que seu exame foi executado seguindo regras preestabelecidas… [Os] órgãos certificadores auditam os processos dos laboratórios e toda a qualidade da execução dos exames é avaliada e certificada”.

Nesse contexto, a interpretação do resultado deve ser vista de um modo abrangente, contemplando o momento em que foi realizado, os dados epidemiológicos e clínicos e a avaliação médica.

Como interpretar resultados dos testes diagnósticos para covid-19?

Como afirma Gustavo Barra, “todo resultado de teste diagnóstico deve ser interpretado no contexto da probabilidade pré-teste de doença”. Assim, ele acrescenta que, “para a covid-19, a avaliação de probabilidade pré-teste inclui sintomas, histórico médico anterior de covid-19 ou presença de anticorpos, qualquer exposição potencial ao SARS-CoV-2 e a probabilidade de um diagnóstico alternativo”.

Para esclarecer esse tipo de interpretação, o Dr. Rafael Jácomo exemplifica com duas situações diferentes. Uma pessoa em isolamento, sem sintomas, que faz um exame de PCR porque precisa fazer uma viagem, cujo resultado dá negativo. É muito provável que esse seja o resultado correto. Por outro lado, digamos que uma pessoa teve contato com alguém com covid-19 e apresenta sintomas respiratórios, tosse e falta de ar, porém, o resultado do teste também é negativo. Nesse caso, o contexto indica o contrário.

Logo, o teste de covid-19 é mais um elemento nas mãos do médico para determinar um diagnóstico. Os profissionais avaliam diversas nuances para chegar a uma conclusão, para o resultado do exame ter um impacto real para o paciente. É por isso que o médico é sempre o profissional indicado para fazer a interpretação do teste. Tal premissa está de acordo com as conclusões de um estudo intitulado “Eficácia dos testes para detectar a presença do vírus SARS-CoV-2 e anticorpos ao SARS-CoV-2 para informar o diagnóstico covid-19: uma rápida revisão sistemática”.

Ainda conforme a pesquisa: “As estimativas de precisão diagnóstica devem ser interpretadas tendo em vista a ausência de um padrão de referência definitivo para diagnosticar ou excluir a infecção por covid-19. Mais evidências são necessárias sobre a eficácia dos testes fora dos ambientes hospitalares e em casos leves ou assintomáticos”.

Será que as mutações do SARS-CoV-2 podem afetar os resultados dos testes de covid-19?

Para entender melhor essa relação entre mutação genética e testes laboratoriais, Dr. Rafael Jácomo explica que a mutação pode ocorrer de diversas maneiras: quebra do material genético que se junta a outro material ou a duplicação de parte do material que se une dentro do próprio gene.

Ao passo que ele se replica, é normal que ocorram erros na cópia do seu genoma. Dependendo do tipo de alteração genética que ocorre, o vírus pode ter melhores condições de sobreviver ou mesmo desaparecer.

Alguns vírus sofrem mutações rápidas que exigem, por exemplo, que diferentes vacinas sejam aplicadas a cada ano, como ocorre no caso do vírus da influenza. Ele é diferente do vírus do sarampo, que não exige vacinas distintas. Todo esse mecanismo é natural, é uma forma que o vírus tem para se adaptar a diferentes circunstâncias.

Testes de covid-19 que buscam o material genético do vírus, como o PCR, estão avaliando uma pequena sequência do genoma. Amplificam esse pedaço do gene e, se ele for semelhante ao que se espera para aquele tipo de organismo, o teste é positivo. Mas como isso poderia afetar o teste?

Para que o teste fosse comprometido pela mutação, a alteração deveria ocorrer exatamente naquele pedaço amplificado pelo teste. As mutações conhecidas até hoje não abrangem essas sequências avaliadas pelos testes disponíveis comercialmente.

Alguns estudos afirmam que a variante do Reino Unido se ligaria mais facilmente às células, o que poderia gerar uma resposta imunológica diferente. Isso gerou alguns questionamentos em relação ao comportamento dos testes sorológicos. Contudo, como explica o Dr. Jácomo, tudo isso ainda é especulação, pois “não existe nenhuma evidência de que os testes existentes até o momento não consigam detectar as variantes até o momento descritas”.

E como disse Gustavo Barra, no início deste texto, “somos obrigados a garantir que o ensaio não perca sua capacidade diagnóstica, por meio do monitoramento das alterações no genoma do vírus”. Assim, os testes de covid-19 hoje praticados pelos melhores laboratórios seguem como ferramentas muito eficientes nas mãos da medicina para o fechamento de diagnóstico e prescrição de tratamentos.

É inegável que os diversos tipos de testes de covid-19, cada um com sua aplicação e contexto, são ferramentas indispensáveis no combate ao coronavírus. Os resultados dos testes, porém, não fornecem uma resposta definitiva em qualquer diagnóstico. Ainda cabe ao médico a responsabilidade de indicar o teste no momento certo e de avaliar os resultados para garantir a eficiência do atendimento e posterior monitoramento ou tratamento.

Concorda que é importante fornecer informações claras e exatas sobre a covid-19? Então, contribua para a maior transparência e circulação de conteúdos de qualidade sobre o tema, compartilhando este blog post em suas redes sociais!

Sabin avisa:

Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.

Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas. 

Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.

Referências:

Jarrom D, Elston L, Washington J, Prettyjohns M, Cann K, Myles S, Groves P. Effectiveness of tests to detect the presence of SARS-CoV-2 virus, and antibodies to SARS-CoV-2, to inform COVID-19 diagnosis: a rapid systematic review. BMJ Evid Based Med. 2022 Feb;27(1):33-45. doi: 10.1136/bmjebm-2020-111511

Surkova E, Nikolayevskyy V, Drobniewski F. False-positive COVID-19 results: hidden problems and costs. Lancet Respir Med. 2020 Dec;8(12):1167-1168. doi: 10.1016/S2213-2600(20)30453-7

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Testes Diagnósticos para covid-19: o guia Sabin;Os testes para covid-19 são excelentes ferramentas diagnósticas para diferenciar um quadro de covid-19 de uma gripe comum, algo essencial para direcionar corretamente o tratamento a ser adotado. Desde a detecção do primeiro contágio pelo SARS-CoV-2 no Brasil, os testes avançaram bastante e a evolução é contínua. Como afirma o PhD Gustavo Barra, coordenador de pesquisas do Grupo Sabin, que participou do desenvolvimento do teste molecular que diagnosticou a paciente zero no Centro-Oeste brasileiro, o começo foi uma “época de muitas incertezas em relação ao vírus e de poucas ferramentas que tínhamos”. De lá para cá, “surgiram outros tipos de testes moleculares não baseados em RT-PCR” e, com o surgimento de novas variantes, “somos obrigados a garantir que o ensaio não perca sua capacidade diagnóstica por meio do monitoramento das alterações no genoma do vírus”. O cenário, quando se trata de testes de covid-19, é de ampla variedade de metodologias, e é natural que surjam dúvidas sobre como funcionam cada um dos testes e qual é o ideal para cada situação. Pensando nisso, neste conteúdo, explicamos as principais opções disponíveis e o que significa fazer o teste certo, no momento certo. É só seguir a leitura! A importância dos testes diagnósticos no combate à covid-19 Além de auxiliar no direcionamento do tratamento, identificar o agente causador da doença auxilia também na adoção de medidas de proteção e distanciamento social, que evita a contaminação de mais pessoas. Os resultados dos testes constituem uma excelente forma de fornecer às autoridades sanitárias um panorama da extensão da contaminação na população, dando um norte mais adequado às decisões que precisam ser tomadas para conter um possível avanço da doença, especialmente frente ao surgimento de novas variantes do vírus. Sem a testagem, qualquer estratégia de controle da covid-19 fica prejudicada, o que, potencialmente, pode impactar na disseminação em larga escala da doença. Quanto maior o número de testes por milhão de habitantes, menor a quantidade de mortes causadas pelo coronavírus. Em parte, isso se deve também ao diagnóstico precoce e rápidas intervenções terapêuticas, que impedem o agravamento da doença e o surgimento de complicações de saúde. Diagnóstico molecular para covid-19 Os testes moleculares são aqueles que detectam a presença de material genético do SARS-CoV-2 em amostras de secreções das vias respiratórias superiores dos pacientes sintomáticos. A seguir, descreveremos em maiores detalhes os principais testes moleculares utilizados no diagnóstico da covid-19. RT-PCR O RT-PCR é um teste molecular que identifica o ácido ribonucleico, ou seja, o material genético do vírus. A coleta é feita por meio de um swab — um cotonete, na linguagem popular — que retira amostras de secreções das vias respiratórias superiores do paciente. Ficou muito conhecido pelas hastes que são inseridas nas narinas. A amostra é levada para um laboratório para fazer a amplificação do material genético do vírus. É um teste que não exige qualquer tipo de preparo específico ou jejum. A ideia é simples: se o material genético do vírus é encontrado, significa que a pessoa teve contato com o coronavírus, uma vez que as vias respiratórias são sua porta de entrada. Entretanto, como lembra Gustavo Barra: “[O RT-PCR] não vai detectar proteínas virais, nem anticorpos contra o vírus (…) não permite detectar infecções pregressas pelo vírus, mas sim que o vírus está ali e agora”. Conforme explica o Dr. Rafael Jácomo, médico e diretor técnico do Grupo Sabin, em virtude da sua precisão, o RT-PCR é o padrão-ouro, ou seja, “o exame ideal a ser realizado”. Segundo Gustavo Barra, isso se deve “à sua capacidade superior em relação a outros tipos de testes diagnósticos de distinguir se um indivíduo está com o vírus ou não, em um tempo de infecção relativamente precoce”. Ele acrescenta que o “RT-PCR é muito sensível, então, pouco material genético do vírus é necessário para um resultado positivo”. “Ele é, também, muito específico, pois é direcionado para sequências de ácidos nucleicos que só ocorrem no genoma do SARS-CoV-2, então, as reações cruzadas com outros vírus e patógenos são muito raras”. Para que o resultado seja satisfatório, é preciso que a quantidade de vírus na amostra seja além do limite mínimo que o exame consegue detectar. Por isso, o médico explica que é necessário atenção para não aplicar o “teste muito precocemente, momento em que não há carga viral suficiente na amostra”, de modo que o vírus não seja detectado. É preciso, portanto, aplicar o exame mais adequado em cada ocasião. Por outro lado, a aplicação do teste em um momento muito tardio também pode ser um problema, uma vez que “as defesas imunológicas já [terão] eliminado a maioria das cópias virais do organismo”, podendo seu resultado não ser detectado. É importante destacar a vantagem do RT-PCR em relação a outras metodologias de testes moleculares, que também detectam o RNA do SARS-CoV-2: eles não são tão sensíveis quanto o RT-PCR. PCR Express Assim como no caso do RT-PCR, o PCR Express é uma metodologia que detecta o material genético do vírus. Esse teste, também disponível no Sabin, é feito por meio de secreção coletada via swab, apresentando um resultado mais rápido. O diagnóstico pode ser entregue on-line ao cliente a partir de 2 horas da coleta. Mais comodidade e segurança na hora de sua testagem, certo? Evidentemente, o fato de ser um teste rápido não compromete a eficiência do exame. Como esclarece o Dr. Rafael Jácomo: “Sempre que falamos de sensibilidade do teste, estamos comparando com o PCR clássico. Esse teste, do PCR Express, tem uma sensibilidade entre 97% e 98% em relação ao RT-PCR”. Ou seja, mesmo sendo teoricamente uma pequena margem percentual de menor exatidão, é quase tão eficiente quanto. Além disso, outros fatores que vão além da urgência tornam o diagnóstico rápido muito vantajoso, mesmo que o grau de sensibilidade seja levemente menor. Por exemplo, se um paciente apresenta quadro fortemente sugestivo de que possa estar com covid-19, e o resultado dá negativo, a realização de um teste mais apurado pode ser necessária. Caso contrário, o PCR Express atenderá a uma boa parcela dos casos. RT-PCR Saliva Assim como os demais PCRs, esse exame analisa a presença do vírus no organismo. Seu diferencial consiste na garantia de maior conforto ao paciente e facilidade na coleta — basta apenas 1,5 ml de saliva e não é invasivo. Dessa maneira, é ideal para indivíduos que têm dificuldades com a coleta pelo swab, crianças e idosos. Qual o momento certo para realizar os diferentes testes moleculares? É importante que o exame mais adequado seja realizado no momento certo. Por exemplo, exames que detectam a presença do vírus são mais eficientes no período em que a carga viral é alta. Diante disso, recomenda-se que os testes moleculares (RT-PCR, PCR Express e RT-PCR Saliva) sejam realizados nos primeiros 10 dias do surgimento dos sintomas, preferencialmente nos primeiros sete dias. Minipainel Respiratório O Minipainel Respiratório é realizado pela mesma metodologia do RT-PCR, com a diferença de que ele identifica outros três vírus, além do SARS-CoV-2, em uma mesma coleta: influenza A (incluindo H1N1), influenza B e o vírus sincicial respiratório (VSR). Com a normalização pós-pandemia do convívio social, a circulação de outros tipos de vírus passa a ser maior na população. Entre os vírus que afetam o sistema respiratório, os principais são os da influenza e o vírus sincicial respiratório, que podem apresentar quadros clínicos graves em determinadas populações vulneráveis, sendo os sintomas iniciais muito parecidos com os da covid-19. O exame é indicado para qualquer pessoa que apresente sintomas relacionados a um quadro viral respiratório, principalmente idosos, que podem apresentar casos graves de influenza, e crianças menores de dois anos, que, além da influenza, podem desenvolver casos graves devido à infecção pelo vírus sincicial respiratório. Os perigos do vírus sincicial respiratório O VSR atinge as crianças, especialmente bebês prematuros no primeiro ano de vida, mas não somente elas. Idosos, imunodeprimidos, pessoas com doenças crônicas ou cardíacas também fazem parte da população bastante impactada pela doença, que se desenvolve de forma rápida e pode levar a quadros graves que exigem internação (às vezes, até mesmo em UTI). O VSR é um dos principais agentes de infecções respiratórias, acometendo sobretudo os brônquios e os pulmões. “A doença é altamente contagiosa, há evidências de que todas as crianças de até três anos de idade já entraram em contato com o vírus, mesmo sem desenvolvê-lo de maneira grave. Ele é mais frequente no período entre maio e setembro, uma doença sazonal, e sua infecção progride muito rapidamente. Por isso, é tão importante seu diagnóstico e tratamento precoces”, alerta a infectologista Ana Rosa dos Santos, consultora de imunização do Sabin Diagnóstico e Saúde. Com sintomas iniciais semelhantes e muito comuns nessa época do ano, as doenças respiratórias podem se agravar por falta de tratamento adequado em sua fase inicial. Os sintomas iniciais podem ser negligenciados, e a automedicação ainda é um recurso muito utilizado para tratar esses sintomas gripais quando percebidos. “Muitas vezes, a pessoa acha que não é nada sério e se automedica. Somente quando o quadro se agrava, é que ela busca por um médico para o diagnóstico adequado. Pode ter relação com a demora na busca por suporte clínico adequado”, alerta a médica. Por que realizar o Minipainel Respiratório? No Boletim INFOGripe da Fiocruz, consta o crescimento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em 19 dos 27 estados do país, entre janeiro e abril de 2023, sendo que 35,9% dos casos positivos para vírus respiratórios correspondiam ao VSR. Buscar o diagnóstico correto é uma medida eficaz para garantir o tratamento adequado e reduzir as chances de agravamento. Para apoiar o diagnóstico, já existem testes que com uma única amostra são capazes de identificar qual vírus respiratório está presente no organismo, como o Minipainel Respiratório oferecido pelo Sabin. “O painel fornece um quadro ampliado de possibilidades para que o médico possa indicar o tratamento mais adequado, sinalizando, inclusive, a presença de mais de um vírus no organismo, um quadro que tem se tornado cada vez mais comum nos últimos tempos”, explica Ana Rosa. O Minipainel Respiratório pode ser realizado a partir do primeiro dia de sintomas, enquanto eles ainda estiverem presentes, e a coleta pode ser realizada por swab nasal ou a partir de 1,5 ml de saliva. Crianças com dificuldades em expelir a saliva terão auxílio de um profissional para a coleta do material. A sucção será realizada por meio de uma seringa, sem agulha e de forma indolor. É importante reforçar que, além do diagnóstico rápido e preciso, é fundamental adotar medidas preventivas, especialmente durante o período de frio, como a higienização frequente das mãos e a vacinação contra gripe e covid-19. Como lidar com o falso-negativo e positivo? Como nos lembra o PhD Gustavo Barra, “todo exame diagnóstico tem resultados falso-positivos e falso-negativos”. Com os testes para covid-19, isso não é diferente. O estudo "Resultados da covid-19 falso-positivos: problemas e custos ocultos"aponta para algumas das consequências que falso-positivos podem gerar na rotina de médicos e pacientes: cirurgias canceladas ou adiadas, perdas financeiras decorrentes do isolamento social, medo de infectar outros, superestimação da incidência da doença e desorientação das políticas públicas. As causas desse tipo de variabilidade são muitas. Como mencionado, testes realizados precipitadamente ou no momento errado podem motivar esses equívocos. No entanto, devemos ressaltar que há um conjunto bastante rigoroso de controles de qualidade adotados para mitigar o problema. Esse tipo de monitoramento é essencial para garantir a precisão dos exames diagnósticos. Gustavo Barra destaca “as certificações de qualidade que os laboratórios possuem” como uma “garantia que o paciente tem de que seu exame foi executado seguindo regras preestabelecidas… [Os] órgãos certificadores auditam os processos dos laboratórios e toda a qualidade da execução dos exames é avaliada e certificada”. Nesse contexto, a interpretação do resultado deve ser vista de um modo abrangente, contemplando o momento em que foi realizado, os dados epidemiológicos e clínicos e a avaliação médica. Como interpretar resultados dos testes diagnósticos para covid-19? Como afirma Gustavo Barra, “todo resultado de teste diagnóstico deve ser interpretado no contexto da probabilidade pré-teste de doença”. Assim, ele acrescenta que, “para a covid-19, a avaliação de probabilidade pré-teste inclui sintomas, histórico médico anterior de covid-19 ou presença de anticorpos, qualquer exposição potencial ao SARS-CoV-2 e a probabilidade de um diagnóstico alternativo”. Para esclarecer esse tipo de interpretação, o Dr. Rafael Jácomo exemplifica com duas situações diferentes. Uma pessoa em isolamento, sem sintomas, que faz um exame de PCR porque precisa fazer uma viagem, cujo resultado dá negativo. É muito provável que esse seja o resultado correto. Por outro lado, digamos que uma pessoa teve contato com alguém com covid-19 e apresenta sintomas respiratórios, tosse e falta de ar, porém, o resultado do teste também é negativo. Nesse caso, o contexto indica o contrário. Logo, o teste de covid-19 é mais um elemento nas mãos do médico para determinar um diagnóstico. Os profissionais avaliam diversas nuances para chegar a uma conclusão, para o resultado do exame ter um impacto real para o paciente. É por isso que o médico é sempre o profissional indicado para fazer a interpretação do teste. Tal premissa está de acordo com as conclusões de um estudo intitulado “Eficácia dos testes para detectar a presença do vírus SARS-CoV-2 e anticorpos ao SARS-CoV-2 para informar o diagnóstico covid-19: uma rápida revisão sistemática”. Ainda conforme a pesquisa: “As estimativas de precisão diagnóstica devem ser interpretadas tendo em vista a ausência de um padrão de referência definitivo para diagnosticar ou excluir a infecção por covid-19. Mais evidências são necessárias sobre a eficácia dos testes fora dos ambientes hospitalares e em casos leves ou assintomáticos”. Será que as mutações do SARS-CoV-2 podem afetar os resultados dos testes de covid-19? Para entender melhor essa relação entre mutação genética e testes laboratoriais, Dr. Rafael Jácomo explica que a mutação pode ocorrer de diversas maneiras: quebra do material genético que se junta a outro material ou a duplicação de parte do material que se une dentro do próprio gene. Ao passo que ele se replica, é normal que ocorram erros na cópia do seu genoma. Dependendo do tipo de alteração genética que ocorre, o vírus pode ter melhores condições de sobreviver ou mesmo desaparecer. Alguns vírus sofrem mutações rápidas que exigem, por exemplo, que diferentes vacinas sejam aplicadas a cada ano, como ocorre no caso do vírus da influenza. Ele é diferente do vírus do sarampo, que não exige vacinas distintas. Todo esse mecanismo é natural, é uma forma que o vírus tem para se adaptar a diferentes circunstâncias. Testes de covid-19 que buscam o material genético do vírus, como o PCR, estão avaliando uma pequena sequência do genoma. Amplificam esse pedaço do gene e, se ele for semelhante ao que se espera para aquele tipo de organismo, o teste é positivo. Mas como isso poderia afetar o teste? Para que o teste fosse comprometido pela mutação, a alteração deveria ocorrer exatamente naquele pedaço amplificado pelo teste. As mutações conhecidas até hoje não abrangem essas sequências avaliadas pelos testes disponíveis comercialmente. Alguns estudos afirmam que a variante do Reino Unido se ligaria mais facilmente às células, o que poderia gerar uma resposta imunológica diferente. Isso gerou alguns questionamentos em relação ao comportamento dos testes sorológicos. Contudo, como explica o Dr. Jácomo, tudo isso ainda é especulação, pois “não existe nenhuma evidência de que os testes existentes até o momento não consigam detectar as variantes até o momento descritas”. E como disse Gustavo Barra, no início deste texto, “somos obrigados a garantir que o ensaio não perca sua capacidade diagnóstica, por meio do monitoramento das alterações no genoma do vírus”. Assim, os testes de covid-19 hoje praticados pelos melhores laboratórios seguem como ferramentas muito eficientes nas mãos da medicina para o fechamento de diagnóstico e prescrição de tratamentos. É inegável que os diversos tipos de testes de covid-19, cada um com sua aplicação e contexto, são ferramentas indispensáveis no combate ao coronavírus. Os resultados dos testes, porém, não fornecem uma resposta definitiva em qualquer diagnóstico. Ainda cabe ao médico a responsabilidade de indicar o teste no momento certo e de avaliar os resultados para garantir a eficiência do atendimento e posterior monitoramento ou tratamento. Concorda que é importante fornecer informações claras e exatas sobre a covid-19? Então, contribua para a maior transparência e circulação de conteúdos de qualidade sobre o tema, compartilhando este blog post em suas redes sociais! Sabin avisa: Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames. Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.  Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial. Referências: Jarrom D, Elston L, Washington J, Prettyjohns M, Cann K, Myles S, Groves P. Effectiveness of tests to detect the presence of SARS-CoV-2 virus, and antibodies to SARS-CoV-2, to inform COVID-19 diagnosis: a rapid systematic review. BMJ Evid Based Med. 2022 Feb;27(1):33-45. doi: 10.1136/bmjebm-2020-111511 Surkova E, Nikolayevskyy V, Drobniewski F. False-positive COVID-19 results: hidden problems and costs. Lancet Respir Med. 2020 Dec;8(12):1167-1168. doi: 10.1016/S2213-2600(20)30453-7