Para algumas pessoas, a batalha contra a covid-19 pode ser maior do que se imaginava. Estamos falando da covid longa, nova condição que se refere à persistência de um conjunto de sintomas após a doença.
A taxa de recuperação para a covid-19 é alta, com a maioria das pessoas conseguindo se recuperar totalmente dos sintomas. No entanto, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em torno de 10 a 20% da população pode apresentar sintomas persistentes em médio e longo prazos.
No post de hoje, traremos mais informações sobre essa nova condição e quais são os sintomas persistentes mais comuns.
O que é a covid longa?
A covid longa é a apresentação de sintomas que continuam ou se desenvolvem após a infecção pelo coronavírus, e que não podem ser explicados por uma outra doença ou diagnóstico alternativo.
A maior parte dos casos de covid-19 obtém melhora dentro de poucos dias a algumas semanas. Por isso, a OMS considera covid longa sintomas que surgem ou persistem após três meses do início da doença. Já a duração dessa condição é variável, podendo persistir por alguns meses ou até mais de um ano.
Existe diferença entre covid longa e pós-covid?
Essa é uma dúvida recorrente da população. De fato, a covid-19 é uma doença que está sendo muito investigada, e terminologias e definições mudam constantemente, à medida que os estudos científicos são realizados.
O termo pós-covid vinha sendo aplicado às sequelas e danos corporais deixados após a infecção pelo coronavírus, enquanto a covid longa era associada à persistência de sintomas semelhantes aos encontrados na fase aguda da doença.
Atualmente, a OMS e outros órgãos governamentais, como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), definiram que os termos pós-covid e covid longa são equivalentes e abrangem sintomas/sequelas persistentes ou recorrentes mesmo depois da recuperação da doença.
Quais os principais sintomas?
Em geral, alguns dos sintomas podem ser semelhantes aos apresentados durante a fase aguda da covid-19. No entanto, outras manifestações também já foram relatadas, existindo uma variabilidade grande de pessoa para pessoa quanto ao tipo do sintoma e sua intensidade.
Os principais sintomas incluem:
- cansaço que interfere na rotina diária;
- problemas respiratórios, como falta de ar ou dificuldade para respirar;
- tosse persistente;
- dores musculares;
- perda de olfato ou paladar;
- febre;
- problemas de memória ou concentração.
É muito comum, em quem apresenta sinais pós-covid, ter dificuldade em realizar atividades do dia a dia ou manifestar piora dos sintomas após esforço ou atividade física.
A covid-19 pode prejudicar outras partes do organismo além do sistema respiratório, como o coração. Os vasos sanguíneos são afetados pelo vírus SARS-CoV-2, o que poderia explicar problemas cardiovasculares persistentes apresentados por pacientes com histórico de infecção.
Além disso, sequelas neurológicas também são relatadas como uma característica da covid longa. Dificuldade de concentração, ansiedade ou depressão, distúrbios do sono, perda de memória e dores de cabeça são alguns dos sintomas neurológicos mais comuns.
Qual a gravidade das sequelas pós-covid?
A gravidade dos sintomas apresentados na pós-covid pode variar. Algumas pessoas manifestam sintomas leves, embora persistentes. Por outro lado, outras pessoas podem apresentar um quadro clínico mais grave, podendo, inclusive, comprometer tarefas do cotidiano.
Entender quais fatores são determinantes para a gravidade dos sintomas ainda é um desafio. Até o momento, estudos apontam que idosos possuem maior risco de desenvolver complicações preocupantes, assim como pacientes com comorbidades ou que apresentaram a forma grave da covid-19.
Crianças também podem ser afetadas pela covid longa?
As crianças possuem uma menor propensão a desenvolver covid-19, quando comparadas aos adultos. Portanto, é esperado que desenvolvam menos a covid longa.
No entanto, algumas podem enfrentar sintomas persistentes. Atualmente, não existem dados concretos quanto ao número de crianças afetadas pela covid longa ou em relação à gravidade dos sintomas apresentados. Mesmo com poucas informações disponíveis, especialistas alertam que é preciso ter cautela e fazer o acompanhamento médico adequado.
Quais as causas da covid longa?
Apesar dos esforços dos cientistas para entender a covid-19 e para o desenvolvimento de vacinas eficazes, ainda há muito a descobrir.
Com relação à covid longa não é diferente. Existem diversas hipóteses que tentam explicar a persistência dos sintomas nos pacientes, mas a causa real ainda é incerta.
A falta de ar e a tosse persistentes podem ocorrer devido aos danos provocados pelo vírus nos pulmões, por exemplo. O vírus da covid-19 também consegue infectar o cérebro, causando um processo inflamatório danoso ao sistema nervoso central, o que aumenta a chance de sequelas neurológicas. É o que os cientistas passaram a chamar de “névoa mental”, que pode ocasionar problemas de concentração e de memória.
O cansaço pode ter relação com a musculatura afetada pelo SARS-CoV-2, resultando em danos, fraqueza, inflamação nas fibras musculares e fadiga. Além disso, outros fatores também contribuem para o desenvolvimento dos sintomas prolongados, como fatores psicológicos relacionados à própria pandemia.
Existem estudos em curso que investigam a persistência do vírus em algumas pessoas. Normalmente, o vírus é eliminado do organismo quando o doente se cura. Mas, há casos em que partes dele podem permanecer no corpo por mais de seis meses. Isso pode desencadear um sinal de alerta que causa um processo inflamatório no paciente, gerando sintomas persistentes.
Outro ponto a ser considerado é que a covid-19 enfraquece o sistema imunológico, o que torna o corpo mais vulnerável a infecções por outros microrganismos oportunistas, como o vírus Epstein Barr. Grande parcela da população possui esse vírus “adormecido” no corpo, sem causar sintomas. Com a queda da resposta imunológica, ele poderia ser reativado e responsável por parte dos sintomas da covid longa, como a fadiga exacerbada, entre outros.
Fatores de risco
Acredita-se que existam alguns grupos de pessoas que possam ser mais suscetíveis a desenvolver a covid longa, tais como:
- pessoas acometidas pela covid-19 em sua forma mais grave, especialmente em casos de hospitalização ou de cuidados intensivos;
- pessoas que possuem outras doenças, principalmente doenças crônicas;
- pessoas com obesidade ou sobrepeso;
- não vacinados.
É necessário ressaltar que qualquer pessoa que tenha sido infectada pelo coronavírus pode ter a covid longa, mesmo pessoas que tiveram doença leve ou assintomática. Aspectos sociais também podem ser incluídos como fatores relevantes, como a dificuldade de obter assistência médica, níveis de pobreza, entre outros. Para isso, pesquisas adicionais estão sendo realizadas para entender com mais profundidade os fatores que aumentam as chances de desenvolver a covid longa.
Existe tratamento para a covid longa?
Não existem medicamentos específicos para a covid longa. A recomendação é procurar auxílio médico para monitoramento e tratamento dos sintomas de forma individualizada.
A OMS acredita que as prioridades em relação à covid longa sejam pesquisas que visem definir os sintomas clínicos. Assim, será possível caracterizar com mais precisão os casos e desenvolver estratégias terapêuticas mais eficazes para melhorar a saúde e a qualidade de vida dos pacientes.
As vacinas ajudam na prevenção?
De fato, uma das melhores maneiras de prevenção da covid longa é evitar a contaminação pelo vírus da covid-19. Isso inclui se vacinar e seguir as medidas sanitárias recomendadas para evitar a infecção e disseminação da doença.
Mas, mesmo para pessoas vacinadas, há o risco (embora mais baixo) de contrair a doença. Para essas pessoas, a vacina pode representar também uma arma para prevenir sintomas persistentes.
Alguns estudos concluídos e outros em andamento sugerem que as vacinas ajudam a diminuir as chances de desenvolver a covid longa. Um recente estudo realizado no Reino Unido demonstrou que a administração de uma única dose da vacina já foi suficiente para diminuir cerca de 12% a incidência de covid longa, principalmente em sintomas relacionados à perda de olfato, paladar e insônia.
Após a segunda dose, os resultados foram ainda melhores: houve melhora do nível de proteção, pelo menos durante o período de acompanhamento de 67 dias, com diminuição dos relatos de fadiga e dores de cabeça.
Esses dados demonstram que a vacinação pode ajudar na redução dos casos de covid longa, embora seja necessário um tempo maior de acompanhamento dos pacientes para chegar a conclusões definitivas.
A importância dos testes de covid-19 para identificação da covid longa
A covid longa e a pós-covid são termos equivalentes e que significam a persistência de sintomas e sequelas após três meses da covid-19. Mas, antes de se preocupar com a covid longa, é preciso atentar-se aos sintomas da covid-19 e, em caso de apresentar algum, deve-se realizar os exames para o diagnóstico.
Como não existem testes laboratoriais para a covid longa, o diagnóstico da covid-19, em sua fase aguda, é fundamental para que a equipe médica possa identificar, acompanhar e direcionar o tratamento adequado dos sintomas da covid longa.
Portanto, se você está com sintomas, realize o teste de covid-19. Com isso, ficará mais fácil identificar se você possui ou não a covid longa. Ainda tem dúvidas quanto aos tipos de testes e quando realizá-los? Então, confira nosso conteúdo sobre testes de diagnóstico para a covid-19. Nesse texto, você encontrará o guia completo sobre as principais opções disponíveis hoje no Brasil.
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