O termo leucoplasia ganhou evidência nas últimas semanas, em diversos meios de comunicação, gerando dúvidas e interesse na população. A leucoplasia é uma lesão de coloração esbranquiçada que se manifesta nas superfícies da mucosa, principalmente na boca.
Em geral, a leucoplasia não gera problemas graves para a saúde da pessoa. No entanto, é uma condição que deve ser monitorada de perto, pois pode evoluir em alguns casos para doenças mais sérias, como o câncer.
Não existe um agente causador específico, mas múltiplos fatores que podem aumentar as chances de desenvolvimento da alteração. Grande parte desses fatores está relacionada aos hábitos de vida, como o tabagismo.
A leucoplasia oral pode afetar pessoas jovens, mas é mais predominante em adultos entre 40 e 60 anos — principalmente homens. Na matéria de hoje, convidamos a Dra. Fernanda Picolotto Pinto, médica patologista do Grupo Sabin, para explicar maiores informações sobre a leucoplasia, especialmente em relação aos sintomas apresentados, como é feito o diagnóstico e como realizar o tratamento.
O que é leucoplasia?
A palavra leucoplasia é a combinação de duas palavras gregas: leuko (branco) e plakos (placa). Em termos gerais, a leucoplasia é a presença de placas (ou manchas) brancas na região da mucosa do trato aerodigestivo (bochechas, pregas vocais, região da laringe e língua), as quais não desaparecem quando raspadas.
É um termo muito utilizado clinicamente e não implica necessariamente em uma alteração específica no tecido em questão. Na maioria dos casos, a leucoplasia surge como um diagnóstico de exclusão de outras alterações na mucosa de aspecto semelhante.
Dra. Fernanda explica que a leucoplasia é uma alteração benigna, ou seja, não gera problemas graves à saúde da pessoa. Contudo, em alguns casos, também pode se transformar em câncer.
“A leucoplasia pode se apresentar apenas como uma alteração benigna do tecido ou também pode apresentar um potencial de transformação maligna (câncer), aumentando o risco de uma condição pré-maligna ou maligna. No entanto, é importante destacar que a maioria das manchas de leucoplasia é benigna, ocorrendo evolução para câncer em menos de 20% dos casos”, revela a médica.
Quais as causas da leucoplasia?
Diversos fatores podem influenciar no desenvolvimento da leucoplasia. Entre eles, destacam-se alguns hábitos de vida, como o uso frequente de cigarro.
Dra. Fernanda aproveita para esclarecer: “O tabagismo é a principal causa desse tipo de alteração, podendo aumentar em até seis vezes as chances de desenvolver leucoplasia. Além do cigarro, o consumo frequente de álcool também é um fator influenciador para esse tipo de alteração”.
A utilização de dentaduras não bem ajustadas pode gerar irritação crônica na mucosa da boca e, consequentemente, o surgimento das manchas esbranquiçadas características. Aliado a isso, o refluxo gastroesofágico e a higiene bucal inadequada também podem contribuir para a leucoplasia.
A presença de doenças como o HPV, uma infecção sexualmente transmissível, também é um fator de risco para o desenvolvimento de leucoplasia. Por fim, a patologista destaca que a exposição a determinados produtos químicos, como amianto, níquel e ácido sulfúrico, podem causar doenças na laringe e faringe, bem como o surgimento da leucoplasia.
Quais os principais sintomas?
Os sinais e sintomas clínicos da leucoplasia podem ser diversos. Inicialmente, ela surge como uma placa translúcida ou acinzentada, fina e ligeiramente elevada, a qual não é possível raspar e não é dolorosa.
Esse tipo de lesão costuma não apresentar relevo (na maioria das vezes, é plana), porém, em alguns casos, pode ser enrugada, com fissuras ou com a presença de verrugas. Quando se apresenta com essas características, a leucoplasia deve ser monitorada com maior atenção, devido ao alto risco de malignidade. As bordas são bem demarcadas e, com o tempo, as lesões tornam-se mais espessas, extensas lateralmente e com a coloração mais esbranquiçada.
Como mencionado, a leucoplasia acomete, principalmente, mucosas da região oral. Portanto, os locais mais afetados são: língua, parte interna da bochecha, gengivas, faringe (garganta) e laringe (região das cordas vocais). Os sintomas apresentados podem variar de acordo com o paciente e dependem também da localização da leucoplasia.
Se for na faringe/laringe, local de difícil identificação da lesão, a leucoplasia pode gerar rouquidão ou alterações na voz, dificuldade em engolir alimentos ou a sensação de algo preso na garganta. Além disso, podem surgir sintomas como dor de garganta persistente, dor de ouvido, caroço no pescoço, tosse constante e problemas respiratórios.
Dra Fernanda salienta a importância de estar atento aos sinais e sintomas e consultar um médico ou dentista especialista para uma avaliação mais precisa: “Ao perceber uma lesão na boca, que não cicatriza em um prazo máximo de 15 dias, deve-se procurar um profissional de saúde, dentista ou médico, para a realização do exame completo da boca. Quanto mais precoce a busca por um profissional, maiores as chances de descobrir se a condição é benigna ou maligna”.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da leucoplasia começa por uma avaliação clínica de um dentista (caso a lesão seja na mucosa da boca) ou médico (localização na laringe, por exemplo).
Entretanto, a real natureza de uma leucoplasia só pode ser confirmada por meio da biópsia e análise anátomo-patológica. Na biópsia, remove-se uma pequena parte da área suspeita da lesão ou a lesão na totalidade para análise microscópica. Esse tipo de exame pode exigir o uso de anestesia local ou geral, a depender da região afetada e extensão do procedimento.
Dra Fernanda esclarece que o diagnóstico precoce aumenta as chances de sucesso no tratamento da doença, além de reduzir possíveis impactos em relação à qualidade de vida. “Ao perceber alguns dos sintomas mencionados, é importante que o paciente procure um otorrinolaringologista ou um médico especialista em cirurgia de cabeça e pescoço. Exames de imagem, como a laringoscopia direta e indireta, são importantes para o diagnóstico, mas é pela biópsia que é possível identificar se o tumor é maligno ou não”, orienta.
Outros exames utilizados para diagnóstico incluem a nasofibroscopia, um exame endoscópico que avalia a mucosa da cavidade nasal, faringe, cordas vocais e laringe. É um exame semelhante à endoscopia, mas na região da garganta. Realizado pelo otorrinolaringologista, o procedimento é rápido e via introdução nasal. Assim, uma câmera digital capta imagens das estruturas respiratórias, permitindo a busca por anormalidades na região.
Fiz a biópsia, como devo proceder?
Após a coleta do material, o mesmo é acondicionado em um frasco com formol para preservar o tecido. O paciente leva o frasco, juntamente com o pedido médico, até um laboratório ou unidade de coleta, que encaminhará para o setor de anatomia patológica. O material, então, será analisado por uma equipe composta por médicos patologistas.
Ao final da análise, será emitido um laudo anátomo-patológico, contendo os resultados das análises. Dessa forma, o paciente deverá levá-lo ao médico/dentista para que possa tomar a conduta mais adequada. Em geral, o serviço de análise da biópsia leva até 10 dias úteis para ficar pronto.
É importante destacar que somente através dessa análise é possível identificar se a doença é benigna ou maligna. A partir do laudo da biópsia, é possível encaminhar o paciente para cirurgia, por exemplo, ou somente acompanhamento clínico.
Existe tratamento para leucoplasia?
A leucoplasia é considerada comum e, geralmente, o problema se resolve sozinho ao interromper ou tratar aquilo que está causando a reação na região — como parar de fumar ou tratar os casos de refluxo.
Já em casos mais graves, o tratamento pode envolver a remoção das manchas por cirurgia. “Conforme protocolo médico, se a leucoplasia for maligna e um câncer é diagnosticado, além de realizar o tratamento, é essencial manter o acompanhamento após a remissão da doença. Assim, por esse e outros motivos (como a idade), é muito importante manter o check-up anual em dia”, finaliza Dra Fernanda.
Agora que você já sabe o que é a leucoplasia e como ela pode impactar a sua vida, que tal dedicar mais cuidado à sua saúde? Comece identificando quando sua imunidade está baixa, lendo o artigo 5 sinais de imunidade baixa que devem te deixar alerta.
Referências:
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