A tireoide é uma glândula localizada na região do pescoço, responsável pela produção de hormônios importantes para a regulação do metabolismo e funcionamento de diversos órgãos.
Garantir o correto funcionamento da tireoide é fundamental para a manutenção do estado de saúde do organismo. No entanto, diversos fatores e doenças podem afetar essa glândula, como doenças autoimunes, deficiências nutricionais e até mesmo o câncer.
Por isso, é importante monitorar regularmente as funções da tireoide por meio de exames laboratoriais, a fim de identificar possíveis alterações e prevenir complicações que podem afetar a qualidade de vida e o bem-estar da pessoa.
Neste conteúdo, você obterá informações essenciais sobre os principais exames utilizados para monitorar a saúde da tireoide.
O que é a tireoide?
A tireoide é uma glândula endócrina, em forma de borboleta, localizada anteriormente à traqueia, cuja principal função é a produção de hormônios que possuem diferentes funções no organismo.
Em comparação aos demais órgãos do corpo humano, a tireoide é bastante pequena. Mas, quando comparada a outras glândulas, ela é considerada uma das maiores, podendo pesar até 25 gramas em indivíduos adultos.
Uma característica muito interessante da tireoide é a sua alta vascularização arterial. A numerosa presença de vasos sanguíneos na glândula é fundamental para que os hormônios liberados entrem na corrente sanguínea e sejam facilmente distribuídos a diferentes partes do organismo.
O funcionamento da tireoide é controlado, em parte, pelo hormônio estimulante da tireoide (TSH), secretado por outra estrutura pertencente ao sistema endócrino: a hipófise. A liberação do TSH pela hipófise estimula a tireoide a produzir e liberar os seus hormônios. Por sua vez, a glândula hipófise é controlada por uma porção do cérebro chamada hipotálamo, a qual produz o hormônio liberador de tireotrofina (ou TRH), que atua sobre a hipófise estimulando a liberação de TSH, constituindo, assim, o eixo hipotálamo-hipófise-tireoide.
Quais os hormônios produzidos pela tireoide?
Os hormônios tireoidianos são: tiroxina (T4), tri-iodotironina (T3) e calcitonina.
Os hormônios T4 e T3 são fundamentais para a regulação do metabolismo e influenciam a atividade de diversos órgãos do corpo humano. O T4 é produzido em maior quantidade, sendo, em seguida, convertido perifericamente em T3, a versão biologicamente ativa. Esses hormônios possuem a função de aumentar a taxa metabólica do organismo, ou seja, o consumo de energia pelas células e tecidos. Atuam também no controle da temperatura corporal, estimulam a atividade do coração, do sistema gastrointestinal, sistema reprodutivo e sistema nervoso central. Outra função importante dos hormônios tireoidianos é a regulação do crescimento e desenvolvimento das células e tecidos, especialmente durante a infância e adolescência.
Já a calcitonina é um hormônio que possui como principal função a regulação dos níveis de cálcio no sangue. A regulação das concentrações de cálcio é fundamental para a manutenção da saúde óssea e para o funcionamento adequado dos sistemas nervoso, muscular e cardiovascular.
Quais as doenças que podem prejudicar a saúde da tireoide?
Como mencionado, a tireoide está sujeita a diferentes condições e doenças que podem impactar no seu funcionamento e produção dos hormônios. A seguir, abordaremos as principais doenças que podem acometer a glândula.
Hipotireoidismo
É uma condição em que a tireoide não produz hormônios tireoidianos suficientes. As principais causas incluem doença autoimune (tireoidite de Hashimoto), cirurgia de remoção da tireoide (devido ao câncer, por exemplo), deficiência de iodo, radioterapia e uso de medicamentos que afetam a produção dos hormônios. Outras causas podem incluir alterações centrais (hipotireoidismo central), em que há falha no funcionamento do hipotálamo ou hipófise, liberando insuficientemente os hormônios TRH ou TSH. Os sintomas incluem fadiga, ganho de peso, intolerância ao frio, pele seca, constipação e depressão.
Hipertireoidismo
No hipertireoidismo, há uma produção excessiva de hormônios tireoidianos. As principais causas também incluem doença autoimune (doença de Graves), nódulos na tireoide, que produzem hormônios em excesso, e inflamação da tireoide. Os sintomas incluem perda de peso, tremores, ansiedade, sudorese excessiva, insônia, aumento da frequência cardíaca e irritabilidade.
Nódulos na tireoide
São crescimentos anormais de células da tireoide, sendo a maioria considerada benigna (em alguns casos, maligna). O diagnóstico é feito por meio de exames de imagem e biópsia. Os sintomas dependem do tamanho e da localização do nódulo, podendo incluir dificuldade para engolir, dor no pescoço e rouquidão.
Câncer de tireoide
É o desenvolvimento de câncer na glândula em decorrência de causas multifatoriais, podendo ser classificado em quatro tipos principais: carcinoma papilífero, carcinoma folicular, carcinoma medular e carcinoma anaplásico. Os sintomas incluem nódulos na tireoide, rouquidão, dor no pescoço, dificuldade para engolir e aumento dos linfonodos cervicais.
Tireoidite
Inflamação da tireoide que pode ser causada por diferentes fatores, como doenças autoimunes, infecções virais ou bacterianas, exposição à radiação, entre outros. Os sintomas variam de acordo com o tipo de tireoidite, podendo incluir dor no pescoço, febre, fadiga, aumento da tireoide, hipotireoidismo ou hipertireoidismo.
Bócio
O bócio é uma condição caracterizada pelo aumento de tamanho da glândula, que pode ser causada por hipo e hipertireoidismo ou a falta de iodo na dieta, um mineral essencial para a produção dos hormônios T3 e T4. A deficiência em iodo faz com que a tireoide trabalhe mais para compensar a produção hormonal, hipertrofiando as células e aumentando o tamanho da glândula. O principal sintoma é o inchaço da glândula, tornando-a palpável e visível, na maioria dos casos.
Quais os exames da tireoide?
Atualmente, existem diversos exames laboratoriais disponíveis para avaliar a saúde e função da tireoide, ficando a cargo do médico endocrinologista a definição dos mais apropriados, conforme o caso clínico do paciente. Listamos, a seguir, os principais exames utilizados.
Dosagem de hormônio tireoestimulante (TSH)
A dosagem do TSH é um exame laboratorial importante para avaliar o funcionamento da tireoide. Como vimos, o TSH é produzido pela glândula hipófise e tem a função de estimular a tireoide a produzir os hormônios tireoidianos.
Quando a tireoide está funcionando corretamente, a produção de TSH é inibida, resultando em níveis baixos desse hormônio no sangue. Por outro lado, quando a tireoide não está produzindo hormônios suficientes, a hipófise aumenta a produção de TSH para estimular a tireoide, elevando seus níveis circulantes.
A dosagem de TSH é útil para diagnosticar doenças como hipotireoidismo e hipertireoidismo. Além disso, a dosagem de TSH é importante para monitorar o tratamento dessas doenças, avaliar a eficácia da terapia de reposição hormonal, em pacientes com hipotireoidismo, e detectar a recorrência do câncer de tireoide.
T4 livre, T4 total e T3
O T4 é um hormônio que circula no sangue e que é ligado majoritariamente a proteínas, para poder ser transportado a diferentes partes do organismo, enquanto uma pequena fração circula na forma livre (não ligada). O T4 livre é a fração do hormônio que está disponível para agir no organismo, e a dosagem de T4 total inclui tanto o T4 livre quanto o T4 ligado a proteínas. Já o T3 é o hormônio ativo, conforme já mencionado, e é produzido a partir da conversão do T4 nos tecidos periféricos.
A dosagem de T4 total e T4 livre serve para avaliar a produção de hormônios pela tireoide e para diagnosticar doenças como hipotireoidismo e hipertireoidismo. Contudo, é importante lembrar que a dosagem de T4 total pode ser influenciada por fatores como a concentração de proteínas transportadoras no sangue, o que pode levar a resultados falsamente elevados ou diminuídos.
Dessa forma, a dosagem de T4 livre é mais específica, sensível e confiável para avaliar a função tireoidiana. Em contrapartida, a dosagem de T3 é utilizada para avaliar a conversão de T4 em T3, nos tecidos periféricos. Em algumas doenças, como o hipotireoidismo central, os níveis de T3 podem estar normais, mas os níveis de T4 estão baixos devido à falta de estímulo do TSH na tireoide. A avaliação do T3 é normalmente solicitada após a detecção de alterações nos níveis de TSH ou do hormônio T4.
Anticorpo antiperoxidase (anti-TPO)
O anti-TPO é um exame laboratorial que mede a presença de anticorpos contra a enzima peroxidase, que desempenha um papel importante na produção dos hormônios tireoidianos. Esse exame é utilizado para auxiliar no diagnóstico de doenças autoimunes da tireoide, principalmente a tireoidite de Hashimoto e, em menor proporção, a doença de Graves.
Anticorpos antitireoglobulina (anti-Tg)
O exame de anticorpos anti-Tg é um teste laboratorial que avalia a presença de anticorpos direcionados contra a proteína tireoglobulina.
A tireoglobulina é uma substância precursora dos hormônios tireoidianos produzida pelas células foliculares da tireoide. Os anticorpos anti-Tg podem estar presentes em algumas doenças autoimunes, como a tireoidite de Hashimoto e a doença de Graves.
Anticorpos antirreceptores de TSH (TRAb)
O exame de anticorpos TRAb avalia a presença de anticorpos direcionados contra os receptores de TSH presentes nas células da glândula tireoide. Esse exame é utilizado, principalmente, no diagnóstico da doença de Graves.
Nessa doença autoimune, o sistema imunológico produz anticorpos TRAb, que se ligam aos receptores de TSH nas células da tireoide, estimulando a produção e liberação de hormônios tireoidianos em excesso.
Ecografia
A ecografia da tireoide é um exame de imagem que utiliza ondas sonoras de alta frequência para produzir imagens detalhadas da glândula tireoide. Em geral, a ecografia é realizada para avaliar o tamanho, a forma, a estrutura e a presença de nódulos ou outras alterações na tireoide.
Cintilografia com mapeamento
A cintilografia com mapeamento é um exame de imagem que utiliza uma pequena quantidade de radiofármacos, para a detecção com alta sensibilidade de nódulos tireoidianos. Pode ajudar a determinar se os nódulos são “quentes” (absorvem uma quantidade excessiva de material radioativo) ou “frios” (absorvem pouco ou nenhum material radioativo). Nódulos quentes geralmente são benignos, enquanto nódulos frios têm maior probabilidade de serem cancerosos.
É um exame importante também para a avaliação de outras condições, como o hipertireoidismo e hipotireoidismo. Apesar de usar uma pequena quantidade de material radioativo, é importante esclarecer que a cintilografia é um exame seguro e que não acarreta prejuízos à saúde do paciente.
Biópsia ou punção no caso de nódulos
É um procedimento que envolve a remoção de uma pequena amostra de tecido da tireoide para análise laboratorial. O procedimento é comumente realizado em casos em que foi identificado um nódulo tireoidiano suspeito de câncer ou que esteja causando sintomas no paciente.
Existem dois tipos principais de biópsia: a punção aspirativa por agulha fina (PAAF) e a biópsia por núcleo. A PAAF é um procedimento simples e envolve a inserção de uma agulha fina na tireoide para retirar uma pequena amostra de tecido para análise. A biópsia por núcleo é um procedimento mais invasivo e envolve a remoção de uma amostra maior de tecido.
Como me preparar para fazer exames de tireoide?
Antes de mais nada, é necessário pontuar que a realização de qualquer exame deve obedecer ao critério médico. Somente o especialista saberá indicar quais exames e em que periodicidade o paciente deverá realizá-los. Na maioria dos casos, os exames laboratoriais da tireoide, feitos a partir de coleta de sangue, não requerem preparos prévios e não exigem a realização de jejum.
No caso da cintilografia que utiliza radiofármacos, segundo a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN), deve-se evitar alimentos que contenham iodo na composição por duas semanas, como peixe de água salgada, frutos do mar, algas marinhas, alimentos industrializados com corante, folhas verdes e derivados de soja.
Para a realização da PAAF, recomenda-se jejum de, pelo menos, quatro horas, além da suspensão do uso de medicamentos anticoagulantes. Por se tratar de um exame invasivo, pacientes menores de 18 anos devem estar acompanhados de um responsável legal.
Caso ainda haja dúvidas, antes de realizar os exames, procure auxílio médico ou do próprio laboratório onde será realizado o procedimento para obter informações mais detalhadas. Agora que você já conhece os principais exames utilizados para avaliar a saúde da tireoide, convidamos você para fazer a leitura do conteúdo sobre como funcionam os exames de imagem. Boa leitura!
Referências:
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