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Febre maculosa: entenda o que é e quais os sintomas da doença

Quais os sintomas da febre maculosa?

A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Rickettsia, caracterizada por febre alta e de início repentino. Sua transmissão ocorre por meio da picada do carrapato-estrela, sendo conhecida popularmente como a “doença do carrapato”.

Dados epidemiológicos fornecidos pelo Ministério da Saúde (MS) indicam que, no ano de 2022, foram confirmados cerca de 250 novos casos no Brasil, com mais de 50 óbitos decorrentes da doença. No primeiro semestre de 2023, a febre maculosa ganhou destaque em mídias televisivas e digitais devido ao crescente número de casos — incluindo óbitos —, especialmente no estado de São Paulo, gerando preocupação na população e autoridades de saúde.

A febre maculosa pode variar quanto à gravidade do quadro clínico, apresentando formas leves e atípicas, até quadros graves com elevada taxa de letalidade, sobretudo se não forem tratados com rapidez.

Portanto, é imprescindível conscientizar a população acerca dos riscos da doença e estratégias de prevenção, que incluem evitar áreas com risco de infestação e procurar assistência médica na presença de sintomas e suspeita de contato com o carrapato transmissor.

Neste conteúdo, você encontrará informações fundamentais para sanar as suas dúvidas sobre o que é a doença, formas de transmissão, principais sintomas, diagnóstico, tratamento e como se prevenir.

O que é a febre maculosa?

A febre maculosa é uma zoonose (doença transmitida entre animais e humanos) causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, a bactéria responsável pela forma grave da doença.

Outra espécie de Rickettsia também está associada à doença, a Rickettsia parkeri, encontrada em regiões de mata atlântica no sul do país, mas que produz uma versão mais branda da infecção.

É uma doença caracterizada por febre alta e súbita, com evolução rápida, que se traduz no surgimento de manchas avermelhadas e irritações na pele, principalmente nas mãos e nos pés. Nos casos graves, se não houver tratamento em tempo hábil, a doença pode evoluir e gerar complicações de saúde, como danos no fígado, nos rins e em outros órgãos do corpo, podendo levar à morte.

Como é a transmissão da doença?

O principal agente transmissor da febre maculosa para humanos são os carrapatos do gênero Amblyomma, conhecidos como “carrapatos-estrela” (Amblyomma sculptum). A transmissão ocorre após a exposição de longa duração ao carrapato infectado (parasitismo prolongado). Ou seja, é necessário que o aracnídeo se alimente do sangue da pessoa por tempo igual ou superior a quatro horas (em média) para que a bactéria infecte o novo hospedeiro.

O carrapato-estrela possui diversos estágios no seu ciclo de vida e todos eles podem transmitir a febre maculosa. No entanto, é importante destacar que nem todos os carrapatos estão contaminados, sendo necessário que o mesmo se alimente do sangue de um animal infectado para se contaminar, ou ainda por outras formas de transmissão vertical e transestadial, nas quais os carrapatos já nascem infectados. Na natureza, isso representa algo em torno de 1% da população total de carrapatos.

Como todos os estágios do carrapato-estrela transmitem a febre maculosa, aqueles ainda em fase larval (micuins) são bastante preocupantes pelo seu tamanho pequeno e de difícil visualização, o que facilita o parasitismo prolongado e maior chance de infecção.

Quais são os hospedeiros do carrapato-estrela?

Na natureza, o carrapato-estrela pode parasitar animais de grande porte, como cavalos, bois e particularmente capivaras. As capivaras são consideradas amplificadoras da doença, por serem reservatórios da bactéria e por apresentarem alta capacidade de infectar os carrapatos. Cães também podem ser parasitados em áreas de infestação, mas não são considerados hospedeiros preferenciais do carrapato-estrela.

Os locais de maior risco de infestação incluem parques, praças, fazendas, pastos, matas e vegetação nas margens dos rios, córregos e lagoas. Todos os locais onde houver circulação de animais hospedeiros são potenciais áreas de risco para a proliferação do carrapato-estrela.

Como as capivaras habitam regiões que possuem curso de rios e lagoas (esses animais dependem de água para viver), o carrapato costuma se proliferar com mais intensidade na vegetação das margens.

No ambiente, o parasita habita locais com acúmulo de vegetação e folhas, especialmente em áreas protegidas do sol, e não infesta o interior de domicílios ou edificações. Ao contrário do carrapato do cão, o estrela não se prolifera em ambientes de solo exposto (terra batida) ou caminhos pavimentados.

Quais os sintomas da febre maculosa?

Os sintomas da febre maculosa surgem após um período de incubação, intervalo entre o contato com a bactéria e a manifestação dos primeiros sintomas, que pode ser de dois a 14 dias. Por esse motivo, para fins diagnósticos, é importante considerar a exposição ocorrida nos últimos 15 dias antes do início da sintomatologia.

Os sintomas iniciais incluem:

Perceba que os sintomas são genéricos e podem ser confundidos com outras doenças, como a dengue e a gripe, o que dificulta a detecção e o tratamento precoce da febre maculosa. A evolução da doença pode acontecer rapidamente (três a cinco dias), com o surgimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que podem se espalhar em direção às palmas das mãos e solas dos pés.

Na forma grave da febre maculosa, se não houver tratamento, após o sexto dia, pode surgir inchaço de membros inferiores, com evolução subsequente do quadro clínico para danos hepáticos e hepatoesplenomegalia (aumento do fígado e baço), insuficiência renal, edema pulmonar, convulsões e morte. 

Como é o diagnóstico da febre maculosa?

O diagnóstico precoce da febre maculosa é desafiador pela falta de especificidade dos sintomas. Na presença de sinais que possam ser suspeitos, o médico irá investigar o histórico do paciente em relação à circulação em áreas de possível infestação. Para isso, deve ser considerado, como mencionado, os últimos 15 dias, por conta do período de incubação da doença.

Exames complementares deverão ser solicitados para a confirmação do diagnóstico, como a reação de imunofluorescência indireta, que detecta no sangue a presença de anticorpos contra a bactéria.

Poderão ser utilizadas técnicas de diagnóstico molecular (PCR) em amostras sanguíneas ou de tecido (biópsia) para a detecção de material genético da bactéria. Por fim, o isolamento da bactéria em cultura também é uma opção e pode ser feito a partir de amostras de sangue, tecidos ou do próprio carrapato retirado do indivíduo.

Outros exames menos específicos podem ajudar o médico a averiguar o estado de saúde do paciente, como o hemograma, onde pode-se observar alterações na contagem de plaquetas (diminuição) e presença de anemia, por exemplo.

Existe tratamento para a doença?

Sim, existe e deve ser iniciado rapidamente, mesmo que haja somente a suspeita, sem os resultados dos exames complementares. Quanto mais cedo a terapia for iniciada, maiores as chances de cura e prevenção de desfechos clínicos graves e óbito.

O tratamento se baseia no uso de antibióticos específicos (como a doxiciclina e cloranfenicol) para a eliminação da bactéria. A depender da gravidade do quadro clínico, poderá ser necessária a internação hospitalar do paciente.

Em geral, a terapia medicamentosa é realizada por um período de sete dias, ficando sob critério médico. É importantíssimo também que a medicação seja mantida por, pelo menos, três dias após o fim dos sintomas.

Estive em área de infestação por carrapato-estrela, como proceder?

Se você circulou por áreas de risco ou conhecidas pela infestação do carrapato-estrela, é imprescindível realizar um exame corporal minucioso durante e logo após a exposição.

Caso o parasita seja encontrado no corpo, deverá ser retirado imediatamente para evitar a exposição prolongada (aumenta a chance de contaminação). A forma correta de retirar o carrapato é com o auxílio de uma pinça, removendo-o cuidadosamente sem esmagá-lo.

Após esse procedimento, procure imediatamente auxílio médico para investigação do caso e orientações referentes ao início do tratamento (se for o caso). Se o carrapato não for encontrado, mas há a presença de febre alta de início súbito, procure atendimento. Não espere a evolução dos sintomas para procurar ajuda, pois quanto mais tardia for a suspeita, menor a efetividade dos medicamentos no tratamento da doença.

Como se prevenir da febre maculosa?

Embora a febre maculosa seja uma doença grave e potencialmente fatal, é possível reduzir de forma significativa os riscos adotando algumas medidas de prevenção. A principal estratégia é evitar as áreas de infestação e a exposição ao carrapato. Procure não transitar em regiões com vegetação alta ou praticar atividades de lazer em áreas com maior risco.

Caso o faça (por motivo de trabalho, por exemplo), utilize sempre roupas de manga longa (calças e camisetas) de cor clara, para facilitar a visualização do parasita. Use também calçados fechados e, de preferência, de cano alto para a proteção dos pés.

Agora que você já sabe o que é a febre maculosa e como preveni-la, indicamos a leitura do conteúdo sobre como se organizar para viajar em família, para que você realize passeios em segurança com as pessoas que você mais ama.

Referências:

Governo do Estado de São Paulo. Febre Maculosa: saiba mais sobre as principais medidas de combate e prevenção Disponível em: https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/febre-maculosa-saiba-mais-sobre-as-principais-medidas-de-combate-e-prevencao/ Acesso em: 20/06/2023

Jay R, Armstrong PA. Clinical characteristics of Rocky Mountain spotted fever in the United States: A literature review. J Vector Borne Dis. 2020 Apr-Jun;57(2):114-120. doi: 10.4103/0972-9062.310863

Ministério da Saúde. Febre Maculosa. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-maculosa Acesso em: 20/06/2023.

Ministério da Saúde. Situação epidemiológica da Febre Maculosa. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-maculosa/situacao-epidemiologica/situacao-epidemiologica-da-febre-maculosa-brasil-2007-2023/view Acesso em: 20/06/2023

Snowden J, Simonsen KA. Rocky Mountain Spotted Fever (Rickettsia rickettsii) [Updated 2022 Jul 18]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK430881/

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