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Conheça as vantagens da pesquisa do antígeno fecal da H. pylori

esquisa do antígeno fecal da H. pylori

A presença da bactéria Helicobacter pylori (H. pylori) no trato gastrointestinal humano tem sido associada a uma série de complicações de saúde, desde a inflamação crônica da mucosa gástrica até o maior risco de desenvolvimento de câncer.

Em muitas pessoas, a infecção pode permanecer silenciosa ao longo da vida, sem a manifestação de sintomas. Entretanto, em uma parcela da população, ela pode desencadear doenças gastroduodenais, particularmente úlcera péptica, gastrite ativa e, eventualmente, alguns tipos de câncer, como o câncer gástrico e, mais raramente, o linfoma de tecido linfoide associado à mucosa gástrica (ou MALT).

Apesar dos avanços significativos na prevenção e no tratamento da condição, segundo a Organização Mundial de Gastroenterologia, a H. pylori continua a ser um dos patógenos bacterianos mais comuns, chegando a infectar quase 50% da população mundial.

Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a H. pylori como um carcinógeno grupo I, o que torna o diagnóstico precoce e a terapêutica de erradicação dessa infecção de grande relevância clínica. Nesse contexto, a pesquisa do antígeno fecal da H. pylori emerge como uma ferramenta diagnóstica promissora na detecção não invasiva dessa infecção.

Neste conteúdo, você encontrará informações relevantes sobre a fisiopatologia da H. pylori, o que é a pesquisa do antígeno fecal e quais as vantagens do exame. Boa leitura!

Fisiopatologia da H. pylori

A H. pylori é uma bactéria espiralada patogênica que coloniza o epitélio gástrico humano. Sua capacidade de sobreviver no ambiente altamente ácido do estômago é atribuída à produção de urease, uma enzima que neutraliza o pH local. Como mencionado, a infecção por H. pylori é bastante comum na população mundial e pode persistir por décadas, se não tratada.

Estudos epidemiológicos apontam que houve uma diminuição na prevalência global da infecção por H. pylori em adultos ao longo dos anos, passando de 55% para 43% durante o período de 2014 a 2020. Esse declínio tem sido atribuído principalmente a melhorias no nível socioeconômico, padrão de vida e condições de higiene. O aumento do uso de antibióticos, incluindo terapias de erradicação, também pode ter contribuído para essa tendência.

A prevalência da infecção por H. pylori varia consideravelmente com base em vários fatores, incluindo idade, etnia, presença de doenças associadas, regiões geográficas, nível socioeconômico e condições de higiene. Para grupos etários jovens, a maioria das infecções por H. pylori recém-adquiridas ocorre antes dos 10 anos. A incidência costuma ser mais alta em adultos do que em crianças, sendo mais comum em zonas rurais em desenvolvimento do que em áreas urbanas desenvolvidas. De acordo com especialistas, a infecção por H. pylori em crianças vem diminuindo devido a melhorias socioeconômicas e de condições sanitárias.

A transmissão direta de pessoa para pessoa é considerada o principal modo de propagação. A via indireta, por meio do ambiente, também é considerável, especialmente em regiões com precárias condições sanitárias.

O consumo de vegetais crus, uso de água de riachos e rios para consumo e higiene, além da falta de tratamento adequado da água, têm sido associados a uma maior incidência de infecção por H. pylori.

A transmissão interpessoal é favorecida por diversas vias, incluindo a oral, fecal-oral, gástrica-oral e até mesmo a via sexual. Estudos apontam que a bactéria pode ser encontrada na placa dental e saliva de indivíduos infectados, destacando a importância da higiene bucal na prevenção da disseminação da H. pylori.

Doenças relacionadas à infecção por H. pylori

A infecção crônica por H. pylori está envolvida no desenvolvimento de diferentes condições de saúde que afetam o trato gastrointestinal, conforme descreveremos a seguir.

Gastrite

A gastrite é uma condição comumente relacionada à infecção por H. pylori. A infecção crônica pela bactéria pode desencadear uma resposta inflamatória marcada pela produção de citocinas pró-inflamatórias. Essa cascata inflamatória afeta células-chave envolvidas na regulação da acidez gástrica, como as células produtoras de gastrina, somatostatina e ácido, desequilibrando a homeostase estomacal.

A infecção por H. pylori não apenas provoca a inflamação, mas também diminui os níveis de somatostatina. A redução da somatostatina resulta em um aumento na secreção de gastrina, que, por sua vez, aumenta a produção de ácido gástrico. Esse círculo vicioso é intensificado pelo efeito direto das citocinas pró-inflamatórias sobre as células produtoras de gastrina.

Além da influência na secreção ácida, a infecção por H. pylori também pode gerar a produção de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, que têm o potencial de causar danos ao DNA a longo prazo, influenciando eventos envolvidos na carcinogênese gástrica.

Úlceras pépticas

A H. pylori está associada à formação de úlceras pépticas. Pesquisas mostraram que a prevalência de úlceras ao longo da vida em indivíduos infectados por H. pylori é significativamente maior do que naqueles sem a infecção. Além disso, o risco de desenvolver úlceras duodenais e gástricas é substancialmente aumentado em indivíduos infectados, sobretudo quando comparados com aqueles sem a infecção.

Câncer gástrico

O câncer gástrico, classificado como o quinto tipo mais comum de câncer em todo o mundo, possui como um forte fator de risco a infecção por H. pylori. Estima-se que esse patógeno possa conferir um risco individual de câncer gástrico de 1,5% a 2% ao longo da vida em indivíduos infectados.

Sabe-se que a H. pylori secreta uma citotoxina formadora de vacúolos (vacA), que adere ao epitélio de superfície com proteínas adesina, causando vacuolização. A vacA induz a morte da célula hospedeira através da formação de poros e apoptose nas membranas mitocondriais.

A genética do hospedeiro também pode ser afetada pela infecção por H. pylori, alterando genes que codificam citocinas, como IL-8, IL-1β, IL-10 e TNF-α, gerando polimorfismos que aumentam as respostas pró-inflamatórias.

É fundamental compreender que nem todos os casos de infecção por H. pylori resultam em câncer gástrico. A progressão para essa condição maligna é influenciada por uma interação complexa de fatores, incluindo características do hospedeiro e virulência da cepa bacteriana.

A prevenção do câncer gástrico através da erradicação da H. pylori tem se mostrado eficaz, especialmente quando realizada antes que ocorram alterações pré-cancerosas na mucosa gástrica. Programas de rastreamento em massa e tratamentos direcionados a adultos jovens em áreas com alta carga de doenças têm o potencial de reduzir drasticamente a incidência de câncer gástrico. O risco residual de câncer gástrico, mesmo após a erradicação da H. pilory, permanece em indivíduos com alterações histológicas adversas preexistentes.

Portanto, estratégias de vigilância endoscópica podem ser necessárias em determinados casos, a fim de detectar precocemente quaisquer sinais de progressão para câncer.

Pesquisa do antígeno fecal da H. pylori

A pesquisa do antígeno fecal da H. pylori auxilia no diagnóstico de infecções gástricas causadas pela bactéria, possibilitando a detecção do antígeno específico da H. pylori nas fezes do paciente.

É um método diagnóstico realizado por meio da técnica de imunoensaio por quimioluminescência. Esse método baseia-se na interação específica entre os anticorpos presentes no teste e os antígenos da H. pylori presentes nas fezes do paciente. A detecção da quimioluminescência gerada nesse processo proporciona resultados sensíveis e confiáveis, permitindo uma avaliação precisa da presença do microrganismo no trato gastrointestinal.

Para assegurar a precisão dos resultados, é importante respeitar determinadas considerações pré-analíticas. O uso de medicamentos inibidores da bomba de prótons, como omeprazol e pantoprazol, deve ser descontinuado por um período mínimo de duas semanas antes da coleta das amostras fecais.

A administração de antibióticos e sais de bismuto também deve ser suspensa por um período mínimo de quatro semanas antes do procedimento. Essas precauções visam minimizar possíveis interferências nos resultados e garantir uma avaliação precisa da presença de H. pylori.

Quais as vantagens do exame?

A pesquisa fecal da H. pylori oferece uma série de vantagens que a tornam uma escolha preferencial em diferentes cenários clínicos.

Uma das vantagens mais evidentes é a sua não invasividade. Ao contrário de procedimentos endoscópicos ou biópsias, que podem ser desconfortáveis e envolver riscos para o paciente, a coleta de amostras fecais é um processo simples e indolor. Isso não apenas aumenta a aceitação por parte do paciente, como também torna o exame mais acessível, principalmente para crianças e pessoas idosas.

A pesquisa do antígeno fecal da H. pylori oferece, ainda, uma alta sensibilidade e especificidade na detecção do patógeno no trato gastrointestinal. Essa precisão diagnóstica é elementar para garantir resultados confiáveis e embasar decisões clínicas adequadas. A capacidade de identificar com precisão a presença ou ausência da H. pylori auxilia a orientar o manejo terapêutico, seja no diagnóstico inicial da infecção ativa ou no monitoramento do tratamento.

Outra vantagem é a sua aplicabilidade abrangente, cobrindo todas as faixas etárias. Desde lactentes até idosos, o exame pode ser realizado em pacientes de todas as idades, o que o torna uma ferramenta versátil. Especialmente para crianças muito pequenas ou não colaborativas, a pesquisa do antígeno fecal é o teste não invasivo de escolha.

A pesquisa fecal também desempenha um papel no controle do tratamento. Após a terapia antimicrobiana, é essencial confirmar a erradicação completa do patógeno para evitar recorrências e complicações associadas à infecção persistente. Assim, a pesquisa fecal oferece uma maneira conveniente e confiável de verificar a eficácia do tratamento, fornecendo uma avaliação objetiva da resposta do paciente à terapia. Em conclusão, a pesquisa do antígeno fecal da H. pylori apresenta uma série de vantagens que a tornam uma ferramenta indispensável na prática clínica.

Outra ferramenta de grande utilidade clínica são as análises microbiológicas. Um dos erros mais comuns na prática clínica é associar diretamente uma determinada condição de saúde a determinado antibiótico, sem antes realizar uma análise microbiológica acurada sobre o provável agente patogênico. Para aprofundar seu conhecimento acerca de análises microbiológicas, sugerimos a leitura do conteúdo sobre como utilizar o laboratório de microbiologia na prática médica.

Referências:

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