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Entenda o que é deficiência intelectual e múltipla

O que é deficiência intelectual?

No Brasil, estima-se que mais de 45 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência. Dessas, 3 milhões têm deficiência intelectual e/ou múltipla.

Celebrada no mês de agosto, a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla foi instituída para conscientizar a população sobre o tema, além de reforçar os debates a respeito de políticas de inclusão social.

Pessoas com deficiência intelectual ou cognitiva apresentam dificuldades em interações sociais, de compreensão e de raciocínio lógico. Já a deficiência múltipla é caracterizada pela associação entre diferentes tipos de deficiência, como as intelectuais e físicas.

É fundamental compreender o que são essas deficiências para que possamos exercer nosso papel como cidadãos, gerando impactos positivos na sociedade e na qualidade de vida destas pessoas.

O que é a deficiência intelectual?

A deficiência intelectual pode ser definida como um prejuízo relacionado à capacidade de compreensão de novas informações ou conceitos complexos, bem como a dificuldade de aprender e aplicar novas habilidades. Todos esses prejuízos podem resultar na redução da interação social e dependência na realização de atividades do cotidiano.

Em geral, a deficiência intelectual começa na infância, com efeito duradouro ao longo de toda a vida. Pode ser gerada a partir de um transtorno associado ao desenvolvimento e funcionamento do sistema nervoso central, acarretando déficits intelectuais e adaptativos.

Além disso, pessoas com deficiência intelectual têm maior tendência a apresentar outros problemas de saúde mental, como depressão, distúrbios afetivos e comportamentais. Estima-se que uma grande parcela de adultos com deficiência intelectual realiza tratamento com medicamentos psicotrópicos diariamente.

O que é deficiência múltipla?

A deficiência múltipla é caracterizada pelo conjunto de duas ou mais deficiências primárias na mesma pessoa. As deficiências primárias englobam as intelectuais, visuais, auditivas e físicas, resultando em atrasos no desenvolvimento global e adaptativo.

Quais as principais causas?

Existem diversas causas para as deficiências intelectuais e múltiplas, incluindo fatores genéticos e ambientais. Os fatores de risco podem ser divididos em três grandes grupos: pré-natais (durante a gestação), perinatais (no momento do parto) e pós-natais (após o nascimento).

Conheça, a seguir, um pouco mais sobre esses fatores de risco.

Fatores pré-natais

As alterações cromossômicas são as causas biológicas pré-natais mais conhecidas. A síndrome de Down, uma anomalia genética causada pela trissomia do cromossomo 21, é uma causa de deficiência intelectual na criança. Outras alterações genéticas também podem desencadear déficit intelectual, como a síndrome do X frágil, fenilcetonúria, entre outros.

Infecções congênitas também podem causar deficiência intelectual, como as infecções pelo vírus da herpes simples, HIV ou rubéola. Outro exemplo bastante conhecido atualmente é a infecção pré-natal pelo zika vírus, que causa microcefalia congênita e deficiência intelectual grave associada.

A utilização de medicamentos pela mãe, e consequente exposição do feto, também pode ser um agente causador de deficiência intelectual. Álcool, cigarro e outras substâncias tóxicas prejudicam o desenvolvimento do sistema nervoso do feto, podendo gerar deficiências múltiplas. Além disso, a desnutrição grave da mãe durante a gestação pode afetar o desenvolvimento cerebral, levando à deficiência intelectual.

Fatores perinatais

Estes fatores estão relacionados a eventos que ocorrem no momento do parto, como a prematuridade, baixo peso ao nascer, oxigenação cerebral insuficiente, entre outros.

A paralisia cerebral durante o nascimento é um fator de risco para o desenvolvimento de deficiência intelectual e múltipla. 

Fatores pós-natais

Um dos fatores que mais influenciam no desenvolvimento intelectual após o parto é a desnutrição infantil. Durante os primeiros meses de vida, é fundamental que o bebê receba a nutrição adequada, pois, nessa fase, o sistema nervoso da criança está em pleno desenvolvimento. O déficit nutricional pode acarretar falha no desenvolvimento e ocorrência de deficiências intelectuais.

Infecções virais ou bacterianas causadoras de quadros de meningite, por exemplo, também podem gerar sequelas cognitivas e sensoriais permanentes. Também são considerados como fatores pós-natais acidentes na infância ou em estágios mais avançados da vida, como afogamentos e lesões na cabeça.

Outros fatores relevantes

É importante destacar que outros fatores relacionados ao ambiente e condições socioeconômicas também podem influenciar no desenvolvimento de deficiências. 

A falta de informação e preparo dos pais, os serviços educacionais inadequados, diagnóstico tardio de doenças e a falta de apoio familiar e de instituições também são fatores que oferecem maior risco para as deficiências intelectuais e múltiplas.

Como é realizado o diagnóstico?

O diagnóstico da deficiência intelectual e múltipla pode variar de acordo com o caso clínico. Em caso de suspeita de deficiência intelectual, são realizadas análises do desenvolvimento e desempenho cognitivo da criança de forma detalhada, geralmente com intervenção precoce ou ajuda da equipe escolar.

A avaliação deve ser feita por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, fisioterapeutas e fonoaudiólogos. Estabelecida a existência de deficiência intelectual ou múltipla, é necessário identificar suas causas por meio de exames de imagem, testes genéticos para avaliação de alterações cromossômicas ou gênicas, entre outros. 

Com as causas definidas, é possível determinar a evolução da deficiência, assim como estratégias terapêuticas para a melhora da qualidade de vida da criança. Outro fator importante é saber a causa da deficiência, que servirá para a elaboração de planos educacionais adequados, programas de treinamento e preparação dos pais para os desafios que surgirão ao longo do caminho.

A importância do exame pré-natal

Desde o nascimento, é rotina avaliar o crescimento e o desenvolvimento da criança em consultas médicas. No entanto, os cuidados devem começar muito antes do parto, por meio dos exames pré-natais.

O pré-natal é um acompanhamento médico indispensável a toda gestante, o qual previne e detecta precocemente doenças tanto maternas quanto fetais, permitindo um desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos da gestante.

A detecção pré-natal de alterações cromossômicas pode ser feita por meio de testes não invasivos, como o teste pré-natal não invasivo NIPT (do inglês, Non-Invasive Prenatal Testing). O NIPT é um exame genético que avalia o código genético (DNA) do feto presente no sangue materno. Durante a gestação, células do feto acabam passando pela placenta para a corrente sanguínea da mãe, sendo rapidamente eliminadas da circulação materna após o parto.

Dessa maneira, é possível detectar e analisar o DNA dessas células fetais diretamente no sangue da mãe, em busca de possíveis alterações cromossômicas que poderiam afetar a saúde do bebê, como a síndrome de Down.

Apesar de possuir grande precisão, o NIPT é considerado um exame de triagem. Em casos positivos para alterações cromossômicas no feto, outros exames podem ser solicitados pelo especialista para confirmação.

Quais as dificuldades que as pessoas com deficiências múltiplas ou intelectual enfrentam?

Independentemente da idade, as dificuldades encontradas por pessoas portadoras de deficiência intelectual e múltipla são muitas. Além de questões como o preconceito, a acessibilidade para essa parcela da população é, muitas vezes, problemática.

Para pessoas com deficiência, o acesso a serviços de saúde pode ser complexo e possuir barreiras, conforme aponta um recente estudo científico. Entre os principais problemas encontrados, destacam-se a falta de preparo de profissionais da área da saúde, barreiras físicas que impedem uma acessibilidade adequada (falta de rampas de acesso, por exemplo), limitações financeiras, falta de recursos tecnológicos e barreiras de comunicação.

Cada vez mais, é discutida a necessidade de inclusão social dessas pessoas, desde o acesso a escolas e universidades, até oportunidades no mercado de trabalho. A implementação de políticas públicas que incentivem e proporcionem uma maior inclusão social dessa população é fundamental para garantir oportunidades e direitos iguais.

Quais os direitos das pessoas com deficiência intelectual?

O Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n° 13.146/2015) ampliou os direitos dessas pessoas, assegurando e garantindo a inclusão social e a cidadania.

No âmbito da saúde, os serviços de saúde pública devem oferecer uma rede de serviços especializados para habilitação e reabilitação, bem como garantir o acesso a hospitais e outros estabelecimentos. Além disso, precisam disponibilizar equipamentos como próteses, cadeiras de rodas e medicamentos necessários.

Apesar da pouca infraestrutura e recursos oferecidos em escolas e universidades, toda pessoa com deficiência deve ter direito garantido ao acesso à educação e oportunidade de emprego. Existem, ainda, outros direitos relacionados à isenção de alguns impostos, como o ICMS, IPI, entre outros.

É importante destacar também que a família exerce papel fundamental no processo de inclusão social. Conhecer os direitos da pessoa com deficiência ajuda a aumentar a capacidade de reivindicação dos recursos. O amparo emocional dos familiares também é importante para diminuir os impactos psicológicos na pessoa com deficiência.

Agora que você já sabe o que é deficiência intelectual e múltipla, o que acha de compartilhar o conteúdo nas redes sociais? Ao divulgar estas informações, você ajudará outras pessoas a conhecer mais sobre o assunto!

Referências:

Bourne, J., Harrison, T. L., Wigham, S., Morison, C. J., & Hackett, S. (2022). A systematic review of community psychosocial group interventions for adults with intellectual disabilities and mental health conditions. Journal of Applied Research in Intellectual Disabilities, 35(1), 3-23.

Clemente, K. A. P., Silva, S. V. D., Vieira, G. I., Bortoli, M. C. D., Toma, T. S., Ramos, V. D., & Brito, C. M. M. D. (2022). Barriers to the access of people with disabilities to health services: a scoping review. Revista de Saúde Pública, 56, 64.

Cooper, S. A., Smiley, E., Finlayson, J., Jackson, A., Allan, L., Williamson, A., … & Morrison, J. (2007). The prevalence, incidence, and factors predictive of mental ill‐health in adults with profound intellectual disabilities. Journal of Applied Research in Intellectual Disabilities, 20(6), 493-501.

Fio Cruz. Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual Múltipla. 2021. Disponível em:https://portal.fiocruz.br/noticia/de-21-28/08-semana-nacional-da-pessoa-com-deficiencia-intelectual-multipla.

Horn, E., & Kang, J. (2012). Supporting young children with multiple disabilities: What do we know and what do we still need to learn?. Topics in early childhood special education, 31(4), 241-248.

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