Ícone do site Blog Sabin

Avaliação clínico-laboratorial das doenças renais

Como avaliar clinicamente as doenças renais?

Entre os excelentes temas do curso “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, realizado pelo Grupo Sabin com o objetivo de orientar estudantes dos últimos períodos de medicina e médicos residentes quanto à solicitação adequada de exames, este é direcionado à avaliação clínica e laboratorial da função renal.

Por se tratar de um assunto tão vasto, o patologista clínico Dr. Fabrício Cazorla optou por dar um enfoque maior nos biomarcadores utilizados para a identificação das doenças renais mais frequentes.

Confira, a seguir, as principais explicações vistas na aula. Para assistir à apresentação rica, o vídeo está disponível ao longo do texto.

O laboratório clínico como papel fundamental na investigação de doenças renais

Partindo da premissa de que o estudo da patologia clínica envolve todos os órgãos e sistemas, oferecendo informações importantes sobre os estados fisiológico ou patológico, o laboratório clínico dispõe de inúmeros recursos que possibilitam o monitoramento da saúde de um indivíduo. Entre esses recursos, estão a caracterização do funcionamento adequado das estruturas renais ou a detecção precoce de eventuais doenças renais.

Dr. Fabrício inicia a aula apresentando uma visão geral sobre a anatomia e a fisiologia dos rins. Ele faz uma breve explanação acerca dos mecanismos de funcionamento dos marcadores bioquímicos que servem para avaliar a função renal.

A importância dos biomarcadores renais

Ferramentas utilizadas para avaliar a função dos rins, os biomarcadores são substâncias (isoladas ou combinadas entre si) que atuam como indicadores quantitativos de processos biológicos ou patológicos, para fins diagnósticos ou terapêuticos.

São caracterizados por apresentarem concentração estável no plasma sanguíneo, por serem livremente filtrados pelo glomérulo, não serem reabsorvidos pelos túbulos e não serem secretados, metabolizados ou sintetizados pelos rins.

Os biomarcadores podem ser endógenos ou exógenos. Os exógenos não são produzidos pelo organismo e exigem que a substância seja introduzida no paciente. Dessa forma, não costumam ser utilizados na rotina clínica de laboratórios comuns, sendo restritos a laboratórios de pesquisa. 

Nesta aula, serão abordados os principais tipos de biomarcadores renais endógenos, ou seja, aqueles utilizados em laboratórios clínicos. Veja a seguir.

Concentração plasmática de ureia

Primeira substância endógena utilizada para avaliar os rins, a ureia é um produto intermediário do metabolismo proteico. Mais de 90% é excretada por filtração tubular, e entre 40 e 70% da quantidade filtrada é reabsorvida nos túbulos e retorna à corrente sanguínea.

As variações de ureia secretada dependem de fatores como a baixa ingestão proteica, ocorrência de insuficiência hepática e, ainda, necrose tubular aguda. Como são condições que devem ser investigadas, mas que, nesse caso, a ureia não consegue fornecer a melhor correlação, esse biomarcador tem sido, cada vez menos, utilizado na prática clínica.

Concentração plasmática de creatinina

Marcador endógeno mais utilizado para avaliação do ritmo de filtração glomerular, a creatinina tem sido comumente usada como biomarcador de doença renal crônica e injúria renal aguda.

Entretanto, a creatinina possui algumas limitações, sendo uma delas o fato de ser uma substância que se eleva de forma tardia no sangue. E sabemos que, quanto mais alta a creatinina sanguínea, maior é a probabilidade de uma alteração significativa na função renal.

Em um organismo considerado normal, a produção de creatinina é relativamente constante e a concentração plasmática pode ser influenciada por fatores como idade, gênero e hábitos do paciente.

Quer entender melhor como esses fatores podem influenciar a dosagem de creatinina? A explicação completa pode ser vista no vídeo abaixo. O patologista demonstra, com muita clareza, alguns estudos científicos que comprovam essas interferências. Confira!

Nos laboratórios clínicos, a concentração plasmática de creatinina pode ser medida através das metodologias colorimétricas e enzimáticas, sendo a última a mais utilizada atualmente.

Cistatina C

A cistatina C é o biomarcador mais recente que os anteriores, mas também está disponível nos laboratórios clínicos. É uma proteína inibidora da proteinase da cisteína e tem concentração sérica que depende, quase que exclusivamente, da capacidade de filtração glomerular.

Apesar de apresentar algumas características semelhantes à creatinina — como o ritmo constante de produção —, a cistatina C não sofre interferência de fatores como idade, gênero, entre outros. Estudos comprovam que a interferência no resultado pode ocorrer pela função tireoidiana.

Sua eliminação é exclusivamente renal, por filtração, e é captada e metabolizada nas células renais, não retornando à circulação sanguínea. Os métodos utilizados para a dosagem da cistatina C incluem a imunodifusão e a nefelometria, sendo o último o mais utilizado atualmente.

Taxa de filtração glomerular

Considerado o melhor parâmetro para avaliação da capacidade funcional dos rins, a taxa de filtração glomerular está diretamente relacionada ao número de néfrons funcionantes. 

Esse biomarcador é capaz de expressar a concentração de urina, através do volume urinário, em relação à concentração plasmática. Para melhor compreensão, convidamos você a retornar ao vídeo e assistir à explicação do Dr. Fabrício, que traz os padrões de referência usados internacionalmente para o cálculo da taxa de filtração glomerular.

Microalbuminúria 

Microalbuminúria é a presença de baixa concentração de albumina na urina. Biomarcador importante para a detecção precoce de lesão renal, é também uma ferramenta muito útil para o monitoramento de pacientes diabéticos tipos 1 e 2.

Recomenda-se a realização anual do exame de microalbuminúria, principalmente para aqueles incluídos nos grupos de risco para doenças renais. Para fazer a dosagem, são utilizados três métodos: HPLC (do inglês High Performance Liquid Chromatography); nefelometria; e turbidimetria.

Proteinúria 

Primeiramente, cabe ressaltar que a proteinúria nem sempre é um sinal de doença renal. Entre suas variações, está a proteinúria glomerular, que é caracterizada pela perda de albumina e outras proteínas de tamanho semelhante, como transferrina, pré-albumina e alfa-1 glicoproteína.

Já a proteinúria tubular é caracterizada pelas proteínas de baixo peso molecular. No início do quadro, não há lesão renal, mas a exposição das células tubulares a essas proteínas pode levar, até mesmo, à necrose tubular.

No Brasil, os índices de hipertensão, diabetes e obesidade têm aumentado progressivamente, tornando-se um grave problema de saúde pública. Somando-se a isso, contamos, ainda, com o envelhecimento da população. Todos esses fatores são condicionantes para a ocorrência das doenças renais. Portanto, vemos o quão importante é fazer o diagnóstico precoce e a abordagem terapêutica adequada, pois podem representar medidas preventivas capazes de retardar ou interromper a progressão dos estágios mais avançados dessas doenças.

Gostou do conteúdo? Compartilhe com seus colegas médicos. E não deixe de acompanhar as outras aulas do curso de Medicina Diagnóstica do Sabin! Confira os temas:

Sair da versão mobile