Sabin Por: Sabin
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Os reticulócitos, precursores imediatos dos eritrócitos maduros, desempenham um papel relevante no diagnóstico e manejo de anemias e outras condições hematológicas.

Durante a eritropoiese, os reticulócitos permanecem na medula óssea por alguns dias antes de serem liberados na circulação periférica, onde terminam sua diferenciação em hemácias funcionais. A avaliação dos parâmetros reticulocitários oferece percepções importantes sobre a atividade medular e a eritropoiese, sendo necessária na prática clínica para a detecção precoce e o monitoramento de diversas patologias hematológicas.

Pensando nisso, preparamos este conteúdo para que você possa aprofundar seu conhecimento sobre a aplicabilidade dos parâmetros reticulocitários em sua rotina clínica. Confira!

Qual a importância da contagem de reticulócitos?

A contagem de reticulócitos é importante para avaliar a capacidade da medula óssea de gerar glóbulos vermelhos, em resposta a estímulos diversos. Esse exame é amplamente utilizado no diagnóstico de anemias, na análise da resposta terapêutica e no acompanhamento da recuperação medular em diversas condições clínicas.

Em pacientes com anemia, geralmente a medula óssea aumenta a produção de reticulócitos para compensar a perda ou destruição das hemácias. Contudo, em casos de anemia por deficiência de ferro, vitamina B12 ou folato, essa produção é comprometida, resultando em uma contagem de reticulócitos mais baixa.

Reticulócitos aumentados

A presença de reticulócitos aumentados pode ser observada em várias situações clínicas, e a interpretação desses níveis é determinante para o diagnóstico diferencial. Alguns dos cenários mais comuns incluem:

  • Sangramento recente: após uma perda significativa de sangue, a medula óssea aumenta a produção de reticulócitos para compensar a perda de hemácias. A contagem elevada de reticulócitos, nesses casos, é um reflexo da resposta compensatória da medula óssea.
  • Anemias hemolíticas: nessas condições, a destruição acelerada de hemácias força a medula óssea a produzir mais reticulócitos. A contagem elevada de reticulócitos é uma característica típica dessas anemias e ajuda a distinguir essas condições de outros tipos de anemia, como a anemia ferropriva.
  • Doença hemolítica do recém-nascido: condição caracterizada pela destruição das hemácias do bebê, em geral, devido à incompatibilidade de Rh entre a mãe e o bebê. A medula óssea do recém-nascido responde com uma produção aumentada de reticulócitos, refletindo uma tentativa de compensar a destruição das hemácias.

Reticulócitos diminuídos

Uma contagem reduzida de reticulócitos, por outro lado, pode indicar problemas na produção de hemácias. Alguns exemplos incluem:

  • Anemia por deficiência de ferro, vitamina B12 ou folato: nessas condições, a produção de hemácias é ineficaz, em razão da falta de nutrientes essenciais, resultando em uma contagem baixa de reticulócitos. Isso indica que a medula óssea não está conseguindo responder adequadamente à necessidade aumentada de hemácias.
  • Aplasia medular: caracterizada por uma redução da celularidade da medula óssea, levando a uma produção consideravelmente reduzida das células do sangue, incluindo a série vermelha. A baixa contagem de reticulócitos é um indicador-chave dessa condição e justifica uma investigação mais aprofundada.
  • Inibição da medula óssea por infecção ou câncer: infecções graves ou processos neoplásicos podem afetar a função da medula óssea, resultando em uma redução na produção de reticulócitos. Isso pode refletir uma atividade eritropoiética insuficiente e é um sinal de alerta para os médicos sobre a gravidade da condição subjacente.

Fração de reticulócitos imaturos (IRF)

A fração de reticulócitos imaturos (IRF) é um parâmetro específico que mede a quantidade de reticulócitos com maiores quantidades de RNA. A IRF é especialmente útil na monitorização da resposta ao tratamento em pacientes que recebem agentes estimuladores da eritropoiese (ESA), uma vez que um aumento na IRF precede o aumento na contagem total de reticulócitos.

Além disso, a IRF tem aplicação na avaliação da recuperação medular em pacientes submetidos a transplante de medula óssea. A presença de uma IRF elevada pode indicar uma recuperação da função medular, mesmo antes de um aumento significativo na contagem total de reticulócitos. Isso torna a IRF um parâmetro importante no acompanhamento desses pacientes.

Conteúdo de hemoglobina dos reticulócitos (Ret-HE)

O conteúdo de hemoglobina dos reticulócitos (Ret-HE) é um dos parâmetros reticulocitários mais relevantes na avaliação da disponibilidade de ferro para a eritropoiese. O Ret-HE mede diretamente a quantidade de hemoglobina dos reticulócitos recém-formados, o que o torna um indicador precoce da deficiência de ferro. 

Esse parâmetro é particularmente útil porque não é influenciado por inflamações, ao contrário da ferritina, que pode ser elevada em condições inflamatórias, mesmo quando os estoques de ferro são baixos.

O Ret-HE é amplamente utilizado no monitoramento da terapia com ferro parenteral, sobretudo em pacientes com doenças renais crônicas que recebem agentes estimuladores da eritropoiese. Um aumento no Ret-HE após a administração de ferro intravenoso indica que a terapia está sendo eficaz e que o ferro está disponível para a produção de hemoglobina. Esse parâmetro permite ao médico ajustar a dosagem de ferro conforme as necessidades individuais do paciente, evitando tanto a deficiência quanto a sobrecarga de ferro.

Limitações dos parâmetros reticulocitários

Apesar da sua importância, os parâmetros reticulocitários apresentam algumas limitações que devem ser consideradas na prática clínica. A interpretação dos resultados de reticulócitos deve sempre ser feita no contexto clínico completo do paciente. Fatores como transfusões recentes, infecções ou tratamentos específicos podem alterar os níveis de reticulócitos, interferindo na interpretação dos resultados.

Adicionalmente, a variabilidade entre os métodos laboratoriais utilizados para medir os parâmetros reticulocitários pode influenciar os resultados. Por isso, é importante que os laboratórios utilizem técnicas padronizadas e de alta precisão para garantir que os resultados sejam confiáveis e comparáveis.

Os parâmetros de reticulócitos, incluindo a fração de reticulócitos imaturos (IRF) e o conteúdo de hemoglobina dos reticulócitos (Ret-HE), são ferramentas imprescindíveis na avaliação da eritropoiese e na gestão de anemias. Eles fornecem aos médicos uma visão detalhada da atividade da medula óssea e da disponibilidade de ferro, propiciando um diagnóstico mais exato e um monitoramento eficaz do tratamento. 

A integração desses parâmetros na prática clínica diária melhora a acurácia diagnóstica e contribui para um manejo mais eficiente das condições hematológicas, resultando em melhores desfechos para os pacientes.

No Sabin, o exame de análise dos parâmetros reticulocitários é realizado por meio da coleta de sangue total em EDTA. A metodologia utilizada é a citometria de fluxo/fluorescência, uma técnica que permite a avaliação precisa das características celulares, englobando a contagem de reticulócitos e a análise de seus parâmetros específicos, como a fração de reticulócitos imaturos (IRF) e o conteúdo de hemoglobina dos reticulócitos (Ret-HE). 

Para aprofundar o seu conhecimento, convidamos você para assistir a uma das aulas do curso on-line “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, cujo tema é a “Investigação laboratorial das anemias”, ministrada pela hematologista e hemoterapeuta Dra. Maria do Carmo Favarin.

Referências:

Dacie and Lewis Practical Haematology – Elsevier 2017- Capítulo 3, página 42 e 43.

Hematologia Laboratorial: teoria e procedimentos – Artmed 2016 – Capítulo 2, páginas 30, 31 e 32.

Mast AE, Blinder MA, Dietzen DJ. Reticulocyte hemoglobin content. Am J Hematol. 2008;83(4):307-310. doi:10.1002/ajh.21090

Mast, AE, Blinder, MA e Dietzen, DJ (2008), Conteúdo de hemoglobina de reticulócitos. Am. J. Hematol., 83: 307-310. https://doi.org/10.1002/ajh.21090

Parodi E, Giraudo MT, Ricceri F, Aurucci ML, Mazzone R, Ramenghi U. Absolute Reticulocyte Count and Reticulocyte Hemoglobin Content as Predictors of Early Response to Exclusive Oral Iron in Children with Iron Deficiency Anemia. Anemia. 2016;2016:7345835. doi: 10.1155/2016/7345835.

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Aplicabilidade clínica dos parâmetros de reticulócitos; Os reticulócitos, precursores imediatos dos eritrócitos maduros, desempenham um papel relevante no diagnóstico e manejo de anemias e outras condições hematológicas. Durante a eritropoiese, os reticulócitos permanecem na medula óssea por alguns dias antes de serem liberados na circulação periférica, onde terminam sua diferenciação em hemácias funcionais. A avaliação dos parâmetros reticulocitários oferece percepções importantes sobre a atividade medular e a eritropoiese, sendo necessária na prática clínica para a detecção precoce e o monitoramento de diversas patologias hematológicas. Pensando nisso, preparamos este conteúdo para que você possa aprofundar seu conhecimento sobre a aplicabilidade dos parâmetros reticulocitários em sua rotina clínica. Confira! Qual a importância da contagem de reticulócitos? A contagem de reticulócitos é importante para avaliar a capacidade da medula óssea de gerar glóbulos vermelhos, em resposta a estímulos diversos. Esse exame é amplamente utilizado no diagnóstico de anemias, na análise da resposta terapêutica e no acompanhamento da recuperação medular em diversas condições clínicas. Em pacientes com anemia, geralmente a medula óssea aumenta a produção de reticulócitos para compensar a perda ou destruição das hemácias. Contudo, em casos de anemia por deficiência de ferro, vitamina B12 ou folato, essa produção é comprometida, resultando em uma contagem de reticulócitos mais baixa. Reticulócitos aumentados A presença de reticulócitos aumentados pode ser observada em várias situações clínicas, e a interpretação desses níveis é determinante para o diagnóstico diferencial. Alguns dos cenários mais comuns incluem: Sangramento recente: após uma perda significativa de sangue, a medula óssea aumenta a produção de reticulócitos para compensar a perda de hemácias. A contagem elevada de reticulócitos, nesses casos, é um reflexo da resposta compensatória da medula óssea. Anemias hemolíticas: nessas condições, a destruição acelerada de hemácias força a medula óssea a produzir mais reticulócitos. A contagem elevada de reticulócitos é uma característica típica dessas anemias e ajuda a distinguir essas condições de outros tipos de anemia, como a anemia ferropriva. Doença hemolítica do recém-nascido: condição caracterizada pela destruição das hemácias do bebê, em geral, devido à incompatibilidade de Rh entre a mãe e o bebê. A medula óssea do recém-nascido responde com uma produção aumentada de reticulócitos, refletindo uma tentativa de compensar a destruição das hemácias. Reticulócitos diminuídos Uma contagem reduzida de reticulócitos, por outro lado, pode indicar problemas na produção de hemácias. Alguns exemplos incluem: Anemia por deficiência de ferro, vitamina B12 ou folato: nessas condições, a produção de hemácias é ineficaz, em razão da falta de nutrientes essenciais, resultando em uma contagem baixa de reticulócitos. Isso indica que a medula óssea não está conseguindo responder adequadamente à necessidade aumentada de hemácias. Aplasia medular: caracterizada por uma redução da celularidade da medula óssea, levando a uma produção consideravelmente reduzida das células do sangue, incluindo a série vermelha. A baixa contagem de reticulócitos é um indicador-chave dessa condição e justifica uma investigação mais aprofundada. Inibição da medula óssea por infecção ou câncer: infecções graves ou processos neoplásicos podem afetar a função da medula óssea, resultando em uma redução na produção de reticulócitos. Isso pode refletir uma atividade eritropoiética insuficiente e é um sinal de alerta para os médicos sobre a gravidade da condição subjacente. Fração de reticulócitos imaturos (IRF) A fração de reticulócitos imaturos (IRF) é um parâmetro específico que mede a quantidade de reticulócitos com maiores quantidades de RNA. A IRF é especialmente útil na monitorização da resposta ao tratamento em pacientes que recebem agentes estimuladores da eritropoiese (ESA), uma vez que um aumento na IRF precede o aumento na contagem total de reticulócitos. Além disso, a IRF tem aplicação na avaliação da recuperação medular em pacientes submetidos a transplante de medula óssea. A presença de uma IRF elevada pode indicar uma recuperação da função medular, mesmo antes de um aumento significativo na contagem total de reticulócitos. Isso torna a IRF um parâmetro importante no acompanhamento desses pacientes. Conteúdo de hemoglobina dos reticulócitos (Ret-HE) O conteúdo de hemoglobina dos reticulócitos (Ret-HE) é um dos parâmetros reticulocitários mais relevantes na avaliação da disponibilidade de ferro para a eritropoiese. O Ret-HE mede diretamente a quantidade de hemoglobina dos reticulócitos recém-formados, o que o torna um indicador precoce da deficiência de ferro.  Esse parâmetro é particularmente útil porque não é influenciado por inflamações, ao contrário da ferritina, que pode ser elevada em condições inflamatórias, mesmo quando os estoques de ferro são baixos. O Ret-HE é amplamente utilizado no monitoramento da terapia com ferro parenteral, sobretudo em pacientes com doenças renais crônicas que recebem agentes estimuladores da eritropoiese. Um aumento no Ret-HE após a administração de ferro intravenoso indica que a terapia está sendo eficaz e que o ferro está disponível para a produção de hemoglobina. Esse parâmetro permite ao médico ajustar a dosagem de ferro conforme as necessidades individuais do paciente, evitando tanto a deficiência quanto a sobrecarga de ferro. Limitações dos parâmetros reticulocitários Apesar da sua importância, os parâmetros reticulocitários apresentam algumas limitações que devem ser consideradas na prática clínica. A interpretação dos resultados de reticulócitos deve sempre ser feita no contexto clínico completo do paciente. Fatores como transfusões recentes, infecções ou tratamentos específicos podem alterar os níveis de reticulócitos, interferindo na interpretação dos resultados. Adicionalmente, a variabilidade entre os métodos laboratoriais utilizados para medir os parâmetros reticulocitários pode influenciar os resultados. Por isso, é importante que os laboratórios utilizem técnicas padronizadas e de alta precisão para garantir que os resultados sejam confiáveis e comparáveis. Os parâmetros de reticulócitos, incluindo a fração de reticulócitos imaturos (IRF) e o conteúdo de hemoglobina dos reticulócitos (Ret-HE), são ferramentas imprescindíveis na avaliação da eritropoiese e na gestão de anemias. Eles fornecem aos médicos uma visão detalhada da atividade da medula óssea e da disponibilidade de ferro, propiciando um diagnóstico mais exato e um monitoramento eficaz do tratamento.  A integração desses parâmetros na prática clínica diária melhora a acurácia diagnóstica e contribui para um manejo mais eficiente das condições hematológicas, resultando em melhores desfechos para os pacientes. No Sabin, o exame de análise dos parâmetros reticulocitários é realizado por meio da coleta de sangue total em EDTA. A metodologia utilizada é a citometria de fluxo/fluorescência, uma técnica que permite a avaliação precisa das características celulares, englobando a contagem de reticulócitos e a análise de seus parâmetros específicos, como a fração de reticulócitos imaturos (IRF) e o conteúdo de hemoglobina dos reticulócitos (Ret-HE).  Para aprofundar o seu conhecimento, convidamos você para assistir a uma das aulas do curso on-line “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, cujo tema é a “Investigação laboratorial das anemias”, ministrada pela hematologista e hemoterapeuta Dra. Maria do Carmo Favarin. Referências: Dacie and Lewis Practical Haematology - Elsevier 2017- Capítulo 3, página 42 e 43. Hematologia Laboratorial: teoria e procedimentos – Artmed 2016 - Capítulo 2, páginas 30, 31 e 32. Mast AE, Blinder MA, Dietzen DJ. Reticulocyte hemoglobin content. Am J Hematol. 2008;83(4):307-310. doi:10.1002/ajh.21090 Mast, AE, Blinder, MA e Dietzen, DJ (2008), Conteúdo de hemoglobina de reticulócitos. Am. J. Hematol., 83: 307-310. https://doi.org/10.1002/ajh.21090 Parodi E, Giraudo MT, Ricceri F, Aurucci ML, Mazzone R, Ramenghi U. Absolute Reticulocyte Count and Reticulocyte Hemoglobin Content as Predictors of Early Response to Exclusive Oral Iron in Children with Iron Deficiency Anemia. Anemia. 2016;2016:7345835. doi: 10.1155/2016/7345835.