O câncer colorretal é uma neoplasia comum na população adulta e uma importante causa de morbimortalidade. Embora a maioria dos casos seja esporádica, uma parcela dos pacientes apresenta predisposição hereditária, especialmente relacionada à síndrome de Lynch e a formas de polipose adenomatosa familiar. Essas síndromes resultam de variantes germinativas em genes de reparo do DNA ou de supressores tumorais, o que aumenta significativamente o risco de desenvolvimento tumoral ao longo da vida.
A identificação precoce desses pacientes, por meio de avaliação clínica e testes moleculares, viabiliza estratégias individualizadas de rastreamento, indicação de cirurgias redutoras de risco e investigação de outros familiares sob risco. Nesse sentido, os painéis multigênicos baseados em Sequenciamento de Nova Geração (NGS) tornaram-se uma ferramenta fundamental na prática oncológica de precisão.
Atualmente, o Sabin Diagnóstico e Saúde oferece duas opções de exames com finalidades distintas: o Painel para Câncer Colorretal Hereditário, voltado para a investigação de variantes associadas ao câncer colorretal; e o Painel Expandido para Câncer Hereditário, que realiza uma análise ampliada de 220 genes associados à predisposição hereditária ao câncer. Leia o conteúdo a seguir para se atualizar sobre o tema.
O câncer colorretal e sua origem hereditária
Estima-se que entre 3% e 5% dos casos de câncer colorretal sejam atribuídos a síndromes hereditárias bem definidas, como a síndrome de Lynch e as poliposes genéticas. Além disso, uma proporção adicional dos casos pode apresentar padrão familiar sugestivo, mesmo na ausência de variantes genéticas identificáveis. O reconhecimento dessas formas é crucial, já que os pacientes afetados frequentemente apresentam início precoce da doença, múltiplos tumores primários e histórico familiar relevante.
A diferenciação entre casos esporádicos, familiares e hereditários deve considerar os critérios clínicos, o histórico familiar detalhado e, quando indicados, testes moleculares específicos. Assim, a identificação de mutações germinativas pode impactar diretamente o manejo terapêutico e sinalizar risco aumentado para outras neoplasias associadas, como câncer de endométrio, ovário, estômago e trato urinário.
Síndromes genéticas associadas ao câncer colorretal
A síndrome de Lynch é a principal síndrome hereditária relacionada ao câncer colorretal. É causada por variantes patogênicas nos genes de reparo de DNA por incompatibilidade de bases (MMR), que incluem MLH1, MSH2, MSH6, PMS2 e EPCAM. A deficiência nesse sistema leva à instabilidade de microssatélites (MSI), predispondo à carcinogênese precoce. Dessa forma, os indivíduos afetados têm risco elevado de câncer colorretal, geralmente antes dos 50 anos, além de maior incidência de neoplasias extracolônicas.
Outras síndromes polipósicas hereditárias também merecem atenção. A polipose adenomatosa familiar (FAP), decorrente de mutações no gene APC, leva à formação de centenas a milhares de pólipos, com risco próximo de 100% de malignização. A MAP (polipose associada ao gene MUTYH), de herança autossômica recessiva, também eleva o risco para câncer colorretal em indivíduos com as duas cópias do gene MUTYH alteradas.
Entre as síndromes menos frequentes, estão a polipose juvenil (mutações em SMAD4 e BMPR1A), a síndrome de Peutz-Jeghers (STK11) e a síndrome de Cowden (PTEN). Essas condições, embora raras, compartilham características como início precoce, polipose gastrointestinal e associação com outras neoplasias, justificando sua inclusão em painéis genéticos abrangentes.
Critérios clínicos e sinais de alerta para investigação genética
A suspeita de câncer colorretal hereditário deve ser considerada diante de manifestações clínicas e antecedentes familiares sugestivos. Entre os principais critérios, destacam-se o diagnóstico em idade inferior a 50 anos, a ocorrência de múltiplos tumores primários (sincrônicos e metacrônicos), histórico familiar compatível com síndromes genéticas e presença de neoplasias extracolônicas associadas.
A identificação precoce desses elementos permite o encaminhamento adequado para aconselhamento genético e a realização de testes moleculares, contribuindo para um diagnóstico mais preciso e intervenções preventivas oportunas.
Painel genético: uma ferramenta essencial
Com os avanços da genômica, os painéis multigênicos passaram a representar o novo padrão na avaliação de síndromes de predisposição hereditária ao câncer. Essas plataformas permitem a análise simultânea de dezenas ou centenas de genes de alta e moderada penetrância, aumentando a acurácia diagnóstica e a eficácia das estratégias de triagem.
Baseados em Sequenciamento de Nova Geração (NGS), esses testes são mais sensíveis e custo-efetivos do que abordagens gene a gene. No entanto, exigem suporte especializado para interpretação, principalmente diante da presença de variantes de significado incerto (VUS), cujo impacto clínico pode não estar completamente estabelecido, requerendo monitoramento longitudinal.
Painéis genéticos oferecidos pelo Sabin
Entre as soluções disponíveis, o Sabin Diagnóstico e Saúde oferece dois exames com finalidades complementares. O Painel para Câncer Colorretal Hereditário é voltado especificamente à investigação do câncer colorretal hereditário, sendo composto por 26 genes com associação reconhecida a esse grupo de neoplasias. Entre os genes analisados, destacam-se APC, MLH1, MSH2, MSH6, PMS2, EPCAM, MUTYH, PTEN, TP53, STK11 e SMAD4, entre outros. O exame inclui, ainda, a avaliação das regiões promotoras de genes como APC, BMPR1A, GREM1, MLH1, PTEN e TP53, além da região acentuadora do gene GREM1, ampliando sua sensibilidade diagnóstica.
Para casos em que o histórico familiar ou fenótipo clínico sugere risco ampliado para múltiplas neoplasias, o Painel Expandido para Câncer Hereditário contempla uma abordagem mais abrangente, com 220 genes relacionados a diferentes síndromes de predisposição ao câncer. É indicado sobretudo para pacientes com histórico familiar amplo, múltiplas neoplasias primárias ou apresentação clínica atípica, permitindo avaliar simultaneamente genes relacionados aos cânceres de mama, ovário, pâncreas, próstata, entre outros.
Ambos os testes são realizados pelo NGS e contam com validação clínica e suporte especializado para interpretação e aconselhamento genético.
Implicações clínicas da identificação precoce
A confirmação de uma variante germinativa com impacto clínico pode alterar substancialmente o manejo do paciente. Estratégias de rastreamento intensificado, como colonoscopias mais frequentes e em idade precoce, podem ser implementadas. Já em situações específicas, como na FAP clássica, a colectomia profilática pode ser indicada. Além disso, a detecção de deficiência de MMR tem implicações terapêuticas importantes, como a indicação de imunoterapia em tumores metastáticos com instabilidade de microssatélites.
A testagem em cascata de familiares em risco após o devido aconselhamento pré-teste permite a identificação precoce da predisposição hereditária e a implementação de medidas preventivas, com impacto direto na redução da mortalidade associada às síndromes de predisposição hereditária.
O cenário brasileiro e os desafios no diagnóstico genético
No Brasil, a testagem genética voltada à identificação de síndromes de predisposição hereditária ao câncer ainda encontra entraves estruturais. Entre os principais desafios, estão a baixa cobertura por planos de saúde, as disparidades regionais de acesso a serviços especializados e a ausência de políticas públicas consolidadas que regulamentem o rastreamento genético.
Nesse contexto, a incorporação de painéis multigênicos à rotina assistencial constitui um avanço na implementação da medicina personalizada no país. A síndrome de Lynch continua sendo a síndrome hereditária mais frequente relacionada ao câncer colorretal, mas outras condições polipósicas, bem como variantes em genes associados a condições mais raras, devem ser igualmente consideradas na investigação.
A disponibilização de exames como os painéis acima mencionados permite uma avaliação genômica mais abrangente e precisa, contribuindo para a estratificação de risco, a definição de condutas clínicas individualizadas e a realização de testagem em cascata de familiares potencialmente afetados. Para ampliar seu conhecimento sobre o papel da genômica na oncologia, convidamos você a ler também o conteúdo: Utilidade dos testes genéticos para o câncer hereditário.
Referências:
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