Sabin Por: Sabin
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O câncer de mama continua a ser uma das principais causas de mortalidade entre as mulheres em todo o mundo. Em 2023, no Brasil, foram registrados 74 mil novos casos da doença, com um risco estimado de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. Em 2020, a taxa de mortalidade por câncer de mama, ajustada pela idade e considerando a população mundial, foi de 11,84 óbitos a cada 100 mil mulheres. 

A detecção precoce desse tipo de câncer é necessária para aumentar as chances de tratamento bem-sucedido e sobrevivência, e é nesse contexto que os exames de imagem desempenham um papel fundamental. 

A mamografia, amplamente utilizada no rastreamento populacional, tem sido um pilar no diagnóstico precoce. Com o avanço da tecnologia, a tomossíntese mamária emergiu como uma técnica inovadora, facilitando a detecção de lesões que poderiam ficar obscurecidas na mamografia.

Para aprofundar seu conhecimento sobre a tomossíntese mamária e como ela está ampliando as possibilidades do diagnóstico precoce do câncer de mama, continue a leitura deste conteúdo.

Princípios da tomossíntese mamária

A tomossíntese mamária baseia-se em um princípio físico que diferencia significativamente a técnica da mamografia convencional. Enquanto a mamografia digital 2D captura uma imagem estática da mama comprimida, a tomossíntese utiliza um movimento de arco do tubo de raio-X para captar múltiplas projeções da mama em diferentes ângulos. 

Essas imagens, tomadas em cortes finos de aproximadamente 1 milímetro de espessura, são reconstruídas digitalmente para criar inúmeras imagens da mama. Esse processo reduz a sobreposição de tecidos, facilitando a detecção de lesões ocultas e proporcionando uma maior clareza diagnóstica.

A capacidade de criar várias imagens em cortes finos é particularmente útil em mamas densas, nas quais a mamografia convencional pode ter dificuldades para distinguir entre tecido normal e tecido anômalo. A tomossíntese permite ao radiologista “navegar” por cortes sucessivos das mamas, o que ajuda na identificação de pequenas lesões que poderiam passar despercebidas em imagens bidimensionais.

Vantagens do exame

Como dito, a tomossíntese mamária é especialmente recomendada para pacientes com mamas densas, cuja detecção das lesões pode ser dificultada através da mamografia convencional. Essa técnica se destaca na identificação de distorções arquiteturais, assimetrias e nódulos ocultos no tecido glandular. Pacientes que apresentam alterações detectadas na mamografia digital 2D ou possuem histórico familiar de câncer de mama podem se beneficiar dessa abordagem, que oferece maior precisão diagnóstica.

Estudos multicêntricos indicam que a combinação da tomossíntese com a mamografia digital pode aumentar em até 30% a detecção de cânceres mamários, sobretudo em casos de carcinomas ductais infiltrantes. Além disso, a técnica demonstrou eficácia na redução de até 40% das reconvocações para exames complementares, fator que minimiza o estresse das pacientes e reduz os custos associados ao diagnóstico. 

A introdução da tomossíntese nos protocolos clínicos tem transformado o rastreamento e o diagnóstico do câncer de mama, permitindo a detecção de lesões em estágios mais iniciais e otimizando o fluxo de trabalho nos centros de diagnóstico. Embora a dose de radiação seja ligeiramente maior do que na mamografia convencional, os exames combinados permanecem dentro dos parâmetros de segurança estabelecidos pela Food and Drug Administration (FDA) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Limitações da tomossíntese

Um dos principais desafios da tomossíntese é a exigência de habilidades especializadas por parte dos radiologistas na interpretação das imagens. Essa análise demanda um conhecimento técnico que vai além da mamografia tradicional, tornando essencial o treinamento e experiência prática para alcançar precisão diagnóstica.

O posicionamento adequado da mama durante o exame é importante para garantir que todas as lesões sejam capturadas de maneira clara. Lesões localizadas em áreas de difícil acesso podem não ser visualizadas adequadamente, e o tempo adicional necessário, tanto para a realização quanto para a interpretação dos exames, pode ser uma limitação para as pacientes.

Outro ponto a ser considerado é que, apesar de seus avanços, a tomossíntese não elimina a necessidade de exames complementares em certos casos. Pacientes com nódulos, lesões complexas ou com suspeita de disseminação do câncer podem precisar de ultrassonografias ou ressonâncias magnéticas para uma avaliação mais completa. Esses exames adicionais ajudam a garantir que nenhum detalhe seja negligenciado e que o tratamento seja o mais eficaz possível.

Comparação com outros métodos de imagem

No contexto do diagnóstico de câncer de mama, a tomossíntese apresenta várias vantagens em comparação com outras técnicas de imagem. Enquanto a mamografia digital 2D costuma ser o padrão para o rastreamento, ela pode não ser tão eficaz em mamas densas. 

A ultrassonografia mamária, por sua vez, é amplamente utilizada como exame complementar, principalmente em mulheres jovens ou com tecido mamário denso. No entanto, a ultrassonografia tem suas limitações, como a variabilidade dependente do operador e a dificuldade em detectar microcalcificações.

A ressonância magnética é singularmente útil em pacientes de alto risco e na avaliação de implantes mamários, mas é um exame mais caro, com maior tempo de realização e menor disponibilidade em comparação à tomossíntese. 

Em compensação, a tomossíntese equilibra bem a detecção de pequenas lesões, como microcalcificações (sendo ainda necessário o estudo complementar com magnificação), e a análise detalhada da arquitetura mamária.

A tomossíntese mamária representa um avanço substancial na detecção precoce do câncer de mama, proporcionando imagens detalhadas que melhoram a precisão diagnóstica e diminuem a necessidade de complementações, como as compressões localizadas. Entretanto, sua implementação requer considerações sobre o tempo do exame, além de demandar o treinamento adequado dos profissionais para garantir a eficácia do método.

Para aprofundar seu conhecimento sobre os exames que investigam o câncer, confira nosso conteúdo sobre marcadores tumorais e entenda melhor quando solicitar o screening completo.

Referências:

García-León FJ, Llanos-Méndez A, Isabel-Gómez R. Digital tomosynthesis in breast cancer: A systematic review. Radiologia. 2015 Jul-Aug;57(4):333-43. English, Spanish. doi: 10.1016/j.rx.2014.06.006. 

Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). Dados e números sobre câncer de mama. Rio de Janeiro: INCA, setembro de 2022. Disponível em: https://www.inca.gov.br/mama.

Martínez Miravete P, Etxano J. Tomosíntesis de mama: una nueva herramienta en el diagnóstico del cáncer de mama [Breast tomosynthesis: a new tool for diagnosing breast cancer]. Radiologia. 2015 Jan-Feb;57(1):3-8. Spanish. doi: 10.1016/j.rx.2013.06.006.

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Conheça as vantagens da tomossíntese mamária; O câncer de mama continua a ser uma das principais causas de mortalidade entre as mulheres em todo o mundo. Em 2023, no Brasil, foram registrados 74 mil novos casos da doença, com um risco estimado de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. Em 2020, a taxa de mortalidade por câncer de mama, ajustada pela idade e considerando a população mundial, foi de 11,84 óbitos a cada 100 mil mulheres.  A detecção precoce desse tipo de câncer é necessária para aumentar as chances de tratamento bem-sucedido e sobrevivência, e é nesse contexto que os exames de imagem desempenham um papel fundamental.  A mamografia, amplamente utilizada no rastreamento populacional, tem sido um pilar no diagnóstico precoce. Com o avanço da tecnologia, a tomossíntese mamária emergiu como uma técnica inovadora, facilitando a detecção de lesões que poderiam ficar obscurecidas na mamografia. Para aprofundar seu conhecimento sobre a tomossíntese mamária e como ela está ampliando as possibilidades do diagnóstico precoce do câncer de mama, continue a leitura deste conteúdo. Princípios da tomossíntese mamária A tomossíntese mamária baseia-se em um princípio físico que diferencia significativamente a técnica da mamografia convencional. Enquanto a mamografia digital 2D captura uma imagem estática da mama comprimida, a tomossíntese utiliza um movimento de arco do tubo de raio-X para captar múltiplas projeções da mama em diferentes ângulos.  Essas imagens, tomadas em cortes finos de aproximadamente 1 milímetro de espessura, são reconstruídas digitalmente para criar inúmeras imagens da mama. Esse processo reduz a sobreposição de tecidos, facilitando a detecção de lesões ocultas e proporcionando uma maior clareza diagnóstica. A capacidade de criar várias imagens em cortes finos é particularmente útil em mamas densas, nas quais a mamografia convencional pode ter dificuldades para distinguir entre tecido normal e tecido anômalo. A tomossíntese permite ao radiologista "navegar" por cortes sucessivos das mamas, o que ajuda na identificação de pequenas lesões que poderiam passar despercebidas em imagens bidimensionais. Vantagens do exame Como dito, a tomossíntese mamária é especialmente recomendada para pacientes com mamas densas, cuja detecção das lesões pode ser dificultada através da mamografia convencional. Essa técnica se destaca na identificação de distorções arquiteturais, assimetrias e nódulos ocultos no tecido glandular. Pacientes que apresentam alterações detectadas na mamografia digital 2D ou possuem histórico familiar de câncer de mama podem se beneficiar dessa abordagem, que oferece maior precisão diagnóstica. Estudos multicêntricos indicam que a combinação da tomossíntese com a mamografia digital pode aumentar em até 30% a detecção de cânceres mamários, sobretudo em casos de carcinomas ductais infiltrantes. Além disso, a técnica demonstrou eficácia na redução de até 40% das reconvocações para exames complementares, fator que minimiza o estresse das pacientes e reduz os custos associados ao diagnóstico.  A introdução da tomossíntese nos protocolos clínicos tem transformado o rastreamento e o diagnóstico do câncer de mama, permitindo a detecção de lesões em estágios mais iniciais e otimizando o fluxo de trabalho nos centros de diagnóstico. Embora a dose de radiação seja ligeiramente maior do que na mamografia convencional, os exames combinados permanecem dentro dos parâmetros de segurança estabelecidos pela Food and Drug Administration (FDA) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Limitações da tomossíntese Um dos principais desafios da tomossíntese é a exigência de habilidades especializadas por parte dos radiologistas na interpretação das imagens. Essa análise demanda um conhecimento técnico que vai além da mamografia tradicional, tornando essencial o treinamento e experiência prática para alcançar precisão diagnóstica. O posicionamento adequado da mama durante o exame é importante para garantir que todas as lesões sejam capturadas de maneira clara. Lesões localizadas em áreas de difícil acesso podem não ser visualizadas adequadamente, e o tempo adicional necessário, tanto para a realização quanto para a interpretação dos exames, pode ser uma limitação para as pacientes. Outro ponto a ser considerado é que, apesar de seus avanços, a tomossíntese não elimina a necessidade de exames complementares em certos casos. Pacientes com nódulos, lesões complexas ou com suspeita de disseminação do câncer podem precisar de ultrassonografias ou ressonâncias magnéticas para uma avaliação mais completa. Esses exames adicionais ajudam a garantir que nenhum detalhe seja negligenciado e que o tratamento seja o mais eficaz possível. Comparação com outros métodos de imagem No contexto do diagnóstico de câncer de mama, a tomossíntese apresenta várias vantagens em comparação com outras técnicas de imagem. Enquanto a mamografia digital 2D costuma ser o padrão para o rastreamento, ela pode não ser tão eficaz em mamas densas.  A ultrassonografia mamária, por sua vez, é amplamente utilizada como exame complementar, principalmente em mulheres jovens ou com tecido mamário denso. No entanto, a ultrassonografia tem suas limitações, como a variabilidade dependente do operador e a dificuldade em detectar microcalcificações. A ressonância magnética é singularmente útil em pacientes de alto risco e na avaliação de implantes mamários, mas é um exame mais caro, com maior tempo de realização e menor disponibilidade em comparação à tomossíntese.  Em compensação, a tomossíntese equilibra bem a detecção de pequenas lesões, como microcalcificações (sendo ainda necessário o estudo complementar com magnificação), e a análise detalhada da arquitetura mamária. A tomossíntese mamária representa um avanço substancial na detecção precoce do câncer de mama, proporcionando imagens detalhadas que melhoram a precisão diagnóstica e diminuem a necessidade de complementações, como as compressões localizadas. Entretanto, sua implementação requer considerações sobre o tempo do exame, além de demandar o treinamento adequado dos profissionais para garantir a eficácia do método. Para aprofundar seu conhecimento sobre os exames que investigam o câncer, confira nosso conteúdo sobre marcadores tumorais e entenda melhor quando solicitar o screening completo. Referências: García-León FJ, Llanos-Méndez A, Isabel-Gómez R. Digital tomosynthesis in breast cancer: A systematic review. Radiologia. 2015 Jul-Aug;57(4):333-43. English, Spanish. doi: 10.1016/j.rx.2014.06.006.  Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). Dados e números sobre câncer de mama. Rio de Janeiro: INCA, setembro de 2022. Disponível em: https://www.inca.gov.br/mama. Martínez Miravete P, Etxano J. Tomosíntesis de mama: una nueva herramienta en el diagnóstico del cáncer de mama [Breast tomosynthesis: a new tool for diagnosing breast cancer]. Radiologia. 2015 Jan-Feb;57(1):3-8. Spanish. doi: 10.1016/j.rx.2013.06.006.