A hanseníase é uma doença infecciosa caracterizada por lesões e manchas na pele. Anteriormente conhecida como lepra, a hanseníase teve sua denominação modificada pela alta carga estigmatizante que a doença carregava.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020, mais de 120 mil novos casos de hanseníase foram diagnosticados em todo o mundo. No Brasil, dados do Boletim Epidemiológico de Hanseníase de 2022, emitido pelo Ministério da Saúde (MS), indicam que em torno de 18 mil novos casos da doença foram notificados no país no mesmo ano, o que corresponde a mais de 90% dos casos notificados em todas as Américas.
A hanseníase pode acometer pessoas de qualquer idade e em ambos os sexos, e apresenta período de incubação — período que compreende o momento da infecção até a manifestação de sintomas — de um a cinco anos.
A hanseníase é uma doença grave que continua sendo um sério problema de saúde pública, mas que, felizmente, possui tratamento e cura. Neste conteúdo, explicaremos informações essenciais sobre a doença, suas formas de transmissão, sintomas, diagnóstico e como realizar o tratamento.
O que é a hanseníase?
A hanseníase é uma doença antiga, descrita em muitas civilizações ao longo dos séculos. É causada pela infecção através da bactéria Mycobacterium leprae, mais conhecida como bacilo de Hansen, nome dado em homenagem ao pesquisador que a identificou pela primeira vez, em 1873.
A contaminação pela bactéria produz uma infecção crônica em humanos, que afeta, principalmente, os nervos e a pele, mas também pode acometer outros locais, como os olhos e as mucosas.
A presença dos bacilos na pele produz as manifestações dermatológicas características, sob forma de lesões e nódulos. Já a infecção em nervos pode acarretar disfunção neuronal e desmielinização, processo que gera como consequência perda sensorial, incapacidades e deformidades.
Como ocorre a transmissão?
A forma de eliminação do bacilo pelo organismo são as vias aéreas superiores. Portanto, a principal forma de transmissão da doença é a partir de gotículas de saliva ou secreções nasais (tosse ou espirro). Para que ocorra a transmissão, é necessário um convívio físico próximo e prolongado com a pessoa infectada.
A hanseníase pode ser classificada em paucibacilar, quando o paciente apresenta poucos ou nenhum bacilo no exame baciloscópico, ou multibacilar, quando há a presença de muitos bacilos. Pacientes que apresentam a forma paucibacilar não são importantes fontes transmissoras, devido à baixa carga de bacilos, diferentemente da forma multibacilar, considerada a forma mais contagiosa, na qual o paciente transmite a doença até o tratamento específico ser iniciado.
É importante destacar também que tocar a pele da pessoa acometida pela doença não é contagioso. Além disso, a transmissão é interrompida logo nos primeiros dias de tratamento.
Quais os principais sinais e sintomas da hanseníase?
Inicialmente, a hanseníase se caracteriza pela presença de manchas claras, avermelhadas ou mais escuras na pele, com limites imprecisos e frequentemente associados à falta de sensibilidade, perda de pelos e ausência de transpiração. Também pode-se observar a presença de alterações da percepção térmica e da sensibilidade ao toque e à dor.
Quando há o comprometimento de nervos periféricos, os sintomas podem incluir dormência, perda de tônus muscular e retração de dedos — mãos ou pés —, gerando incapacidades físicas. Sensações de formigamento nos pés, mãos e rosto também são relatados. Com o avanço da doença, verifica-se, ainda, o espessamento e surgimento de nódulos avermelhados e dolorosos, capazes de prejudicar o movimento dos membros e da face.
Se não tratada a tempo, a hanseníase pode gerar danos irreversíveis, os quais contribuem para o aumento do estigma da doença. Pode ocorrer prejuízo de mobilidade nos membros, como a extensão dos dedos e punhos (mãos em forma de garra), incapacidade de fechar os olhos, necrose de cartilagens, entre outras deformidades.
Como é feito o diagnóstico?
Cabe ressaltar que alguns dos sintomas podem ser identificados pelo próprio paciente, como as manchas na pele que apresentam redução da sensibilidade, o que ajuda na detecção precoce da doença. No entanto, a avaliação por um médico especialista é essencial para definir o diagnóstico.
Inicialmente, a investigação é feita a partir dos sintomas apresentados pelo paciente, histórico epidemiológico e exame físico. Em geral, são realizados exames dermatoneurológicos, envolvendo testes de sensibilidade na pele e avaliação motora.
Exames laboratoriais complementares poderão ser solicitados, como a baciloscopia. Esse exame consiste na pesquisa da bactéria Mycobacterium leprae, diretamente nos esfregaços obtidos de raspados intradérmicos das lesões suspeitas de hanseníase. Após a coleta da amostra, é realizada a fixação e a coloração do material biológico, que permitirão determinar a presença do bacilo através de um microscópio.
Para uma maior precisão diagnóstica, principalmente em pacientes que apresentam poucas lesões e que costumam ser negativados na baciloscopia (paucibacilares), atualmente existem exames moleculares baseados na técnica de PCR, que conseguem detectar o bacilo com maior precisão e sensibilidade.
Por fim, existe a possibilidade de utilização do teste rápido para diagnóstico da hanseníase, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e que torna o Brasil pioneiro na realização do exame. Ele se baseia no método sorológico e tem como intuito identificar anticorpos produzidos pelo organismo em resposta à infecção.
O teste rápido é realizado a partir de uma gota de sangue e seu resultado sai em menos de 30 minutos. É útil para identificar precocemente casos de hanseníase, contudo, em resultados negativos, o teste não exclui a necessidade de outros exames complementares mais sensíveis, como o de PCR.
Uma vez diagnosticada a hanseníase, familiares, amigos e pessoas próximas ao infectado também deverão ser examinadas.
Hanseníase tem cura?
O tratamento da hanseníase é feito por meio da Poliquimioterapia Única, que consiste na utilização, em associação, dos antibióticos rifampicina, dapsona e clofazimina. É uma abordagem terapêutica eficaz em diminuir a resistência medicamentosa do bacilo, fato que ocorre com frequência quando se utiliza apenas um dos medicamentos.
A duração do tratamento pode variar de acordo com a forma clínica apresentada pelo paciente. Nos casos de hanseníase paucibacilar, a duração do tratamento é de seis meses. Em casos multibacilares, doze meses.
Conforme já mencionado, o tratamento medicamentoso é essencial não somente para curar o paciente, como também para diminuir a transmissão da doença. Não há contraindicações de uso em mulheres grávidas ou durante o aleitamento materno. Apenas uma ressalva para o uso de anticoncepcionais, pois a rifampicina pode diminuir a eficácia deles.
Todo o tratamento e acompanhamento do paciente diagnosticado com hanseníase é gratuito e fornecido pelo SUS. Em casos mais graves ou de não resposta ao tratamento convencional, o paciente poderá ser encaminhado para os Centros de Referência em hanseníase, onde são realizadas avaliações mais detalhadas e a prescrição de outros medicamentos. Após seguir o tratamento corretamente, no período estipulado, e passar por nova avaliação médica, o paciente recebe alta por cura.
Como realizar a prevenção?
O diagnóstico precoce é a melhor forma de prevenção contra a hanseníase. Quanto mais cedo for identificada a doença e o tratamento adequado iniciado, mais rápida será a cura e menores as chances de complicações para o paciente.
Em casos de pessoas que tenham tido contato prolongado ou regular com um indivíduo diagnosticado com hanseníase, a vacina BCG pode auxiliar como forma de proteção. Embora a vacina BCG não seja específica para a hanseníase (protege contra a tuberculose), ela pode auxiliar melhorando a resposta imunológica da pessoa contra uma possível infecção pelo bacilo, diminuindo sua transmissão e manifestação clínica da doença.
Existem protocolos a serem seguidos para utilização dessa estratégia de proteção. Normalmente, a vacina BCG é aplicada nos primeiros anos de vida e gera uma marca característica no braço. Em adultos, a vacina só deve ser aplicada após avaliação do histórico vacinal da pessoa em risco de contaminação (se tomou a BCG e quantas doses foram aplicadas ao longo da vida).
Com todas essas informações você deve ter percebido o quanto é importante manter a vacinação em dia. Então, aproveite para conhecer o calendário de vacinação e não esqueça de compartilhar este conteúdo com mais pessoas, afinal a hanseníase ainda é uma doença com grande estigma social e a melhor forma de combater esse quadro é a informação.
Referências:
SBD. (2022). Hanseníase. Disponível em: https://www.sbd.org.br/doencas/2350-2/ Acesso em: 13/12/2022
Ministério da Saúde. (2022). Hanseníase. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/h/hanseniase Acesso em: 13/12/2022
Ministério da Saúde (2022). Boletim Epidemiológico de Hanseníase.
White, C., & Franco-Paredes, C. (2015). Leprosy in the 21st century. Clinical microbiology reviews, 28(1), 80-94. DOI: 10.1128/CMR.00079-13WHO. (2022). Leprosy. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/leprosy Acesso em: 13/12/2022