Sabin Por: Sabin
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A mononucleose infecciosa é uma doença popularmente conhecida como “doença do beijo”, tendo em vista ser a principal forma de transmissão. Ela afeta principalmente a região da garganta, gerando dor, febre e inflamação nas amígdalas (amigdalite).

Pela natureza inespecífica de seus sinais e sintomas, a mononucleose infecciosa pode ser facilmente confundida com outras infecções respiratórias,  embora também possa apresentar-se de forma assintomática.

Neste conteúdo, traremos informações essenciais sobre a doença, seus principais sintomas, formas de transmissão e como realizar a prevenção.

O que é a mononucleose infecciosa?

A mononucleose infecciosa é uma doença causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV), um tipo de herpesvírus transmitido, geralmente, por meio de secreções salivares (saliva). A transmissão mais comum ocorre de pessoa para pessoa ou pelo compartilhamento de utensílios, como copos e talheres, sendo os jovens de 15 a 24 anos os mais acometidos.

Quando uma pessoa é exposta ao EBV, o vírus infecta células de defesa, chamadas linfócitos. Assim, os linfócitos que residem na cavidade oral (garganta) — especialmente, amígdalas — são expostos ao vírus, e é possível observar o aumento dos linfonodos (ínguas) e a inflamação das amígdalas (amigdalite). Uma característica importante é que a maioria dos casos tende a ser assintomática (sem a manifestação de sintomas).

A reação do organismo à infecção consiste na produção de anticorpos para combater a doença, formando-se, dessa forma, uma memória imunológica. Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 95% dos adultos sejam soropositivos para EBV, ou seja, já tiveram contato com o vírus e produziram anticorpos (IgG). Apesar disso, a mononucleose não é considerada uma doença altamente contagiosa, como o resfriado.

É importante destacar que a infecção pelo EBV é permanente, ou seja, após a infecção primária, o EBV permanece dentro dos linfócitos por toda a vida, mesmo que não se manifeste. 

Quais os sintomas da mononucleose?

A mononucleose é uma doença que afeta a região orofaríngea, portanto, um de seus principais sintomas é a dor de garganta. Esse é um sintoma que pode ser facilmente confundido com amigdalites bacterianas, entretanto, conforme a mononucleose evolui, observa-se que não há uma melhora com o uso de antibióticos.

Outros sintomas incluem fadiga, febre, inchaço dos gânglios linfáticos no pescoço e axilas e dor de cabeça. Também podem ser observados inchaços e placas esbranquiçadas nas amígdalas, erupções cutâneas e aumento de tamanho de órgãos como baço e fígado.

Quanto tempo dura a mononucleose infecciosa?

Em geral, o vírus EBV apresenta um período de incubação de quatro a seis semanas. Esse período refere-se ao tempo entre o contato com o vírus e o surgimento dos primeiros sintomas, e representa a principal janela de transmissão.

Os sintomas mais comuns, como dor de garganta e febre, tendem a durar duas semanas, mas esse período pode variar de caso em caso. Já os sintomas de fadiga, gânglios linfáticos, baço ou fígado aumentados podem se estender por mais tempo.

Como diagnosticar a mononucleose infecciosa?

O diagnóstico é feito clinicamente, a partir de exame físico e análise dos sintomas apresentados. Normalmente, o aumento dos linfonodos no pescoço ou aumento do fígado e baço (hepatoesplenomegalia) são achados sugestivos de mononucleose infecciosa. Exames laboratoriais complementares podem ser necessários para a confirmação diagnóstica.

No hemograma, a presença de grande quantidade de linfócitos atípicos (principalmente, após a segunda semana da infecção) é sugestiva de mononucleose infecciosa. Ela pode ser confirmada com testes sorológicos, nos quais busca-se a presença de anticorpos contra o EBV (IgM e IgG). Em casos específicos, pode-se detectar a presença do EBV por meio de exames que utilizam técnica de biologia molecular.

Qual o melhor tratamento para a mononucleose infecciosa?

Não existem medicamentos específicos para tratar a mononucleose infecciosa. O tratamento é de suporte para melhoria dos sinais e sintomas, por meio de medicamentos analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios. 

Também são aconselhados repouso e evitar a realização de exercícios físicos, enquanto as anormalidades no baço e fígado estiverem sendo detectadas. Além disso, especialistas recomendam a ingestão de alimentos leves e o consumo de líquidos.

Vale ressaltar que manter o acompanhamento médico é fundamental para monitorar os sintomas da doença e alcançar uma plena recuperação.

Possíveis complicações com outras doenças

O EBV tem sido extensamente estudado quanto a sua relação causal com a esclerose múltipla. A esclerose múltipla é uma doença inflamatória crônica que danifica células do sistema nervoso, gerando sintomas como fraqueza muscular, dificuldade de locomoção, tremores, problemas visuais, entre outros.

Recentes estudos indicam que o EBV poderia ser um possível agente desencadeador em indivíduos que sejam geneticamente predispostos ao desenvolvimento da esclerose múltipla. Outro fator está relacionado à gravidade da infecção primária por EBV. Cientistas acreditam que o desenvolvimento da esclerose múltipla, muitos anos depois, possa depender da resposta imune inicial à infecção por EBV.

A infecção pelo EBV também tem sido associada ao desenvolvimento de certos tipos de câncer, como o linfoma de Hodgkin e o linfoma de Burkitt. Pesquisas apontam que a mononucleose infecciosa pode ser um fator de risco para a proliferação de linfócitos nesses tipos de câncer.

No entanto, esses são estudos ainda em andamento e mais pesquisas são necessárias para compreender completamente o significado dessas descobertas.

Como se prevenir da infecção pelo EBV?

Atualmente, não há vacinas disponíveis contra a mononucleose infecciosa. O principal método de prevenção é evitar o contato direto com pessoas que estejam diagnosticadas com a doença (beijos, compartilhamentos de talheres, entre outros), principalmente durante o período de incubação do vírus.

Manter hábitos de higiene, como lavar as mãos e limpar objetos possivelmente contaminados, também são ações fundamentais para a prevenção, sobretudo se houver pessoas próximas doentes.

O indivíduo que estiver com mononucleose infecciosa também está impedido de doar sangue, até estar completamente curado. Outra dúvida muito recorrente é a possibilidade de contrair novamente a doença. Caso você já tenha sido infectado, não há risco de desenvolver o quadro de sintomas novamente, graças à geração de anticorpos pelo sistema imunológico.

Agora que você já sabe o que é a mononucleose infecciosa e como ela pode afetar a sua saúde, sugerimos a leitura do conteúdo sobre 5 sinais de imunidade baixa que devem te deixar alerta. No texto, você vai descobrir os sinais que o corpo mostra e quais são as melhores atitudes para fortalecer o sistema imunológico.

Referências:

Balfour HH Jr, Dunmire SK, Hogquist KA. Infectious mononucleosis. Clin Transl Immunology. 2015 Feb 27;4(2):e33. doi: 10.1038/cti.2015.1.

CDC. About Infectious Mononucleosis. Disponível em: https://www.cdc.gov/epstein-barr/about-mono.html Acesso em:28/12/2022.

Mohseni M, Boniface MP, Graham C. Mononucleosis. [Atualizado em 8 de agosto de 2022]. In: StatPearls [Internet]. Ilha do Tesouro (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470387/
Soldan, S.S., Lieberman, P.M. Epstein–Barr virus and multiple sclerosis. Nat Rev Microbiol 21, 51–64 (2023). https://doi.org/10.1038/s41579-022-00770-5

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Mononucleose: entenda como o vírus Epstein-Barr pode afetar sua saúde; A mononucleose infecciosa é uma doença popularmente conhecida como “doença do beijo”, tendo em vista ser a principal forma de transmissão. Ela afeta principalmente a região da garganta, gerando dor, febre e inflamação nas amígdalas (amigdalite). Pela natureza inespecífica de seus sinais e sintomas, a mononucleose infecciosa pode ser facilmente confundida com outras infecções respiratórias,  embora também possa apresentar-se de forma assintomática. Neste conteúdo, traremos informações essenciais sobre a doença, seus principais sintomas, formas de transmissão e como realizar a prevenção. O que é a mononucleose infecciosa? A mononucleose infecciosa é uma doença causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV), um tipo de herpesvírus transmitido, geralmente, por meio de secreções salivares (saliva). A transmissão mais comum ocorre de pessoa para pessoa ou pelo compartilhamento de utensílios, como copos e talheres, sendo os jovens de 15 a 24 anos os mais acometidos. Quando uma pessoa é exposta ao EBV, o vírus infecta células de defesa, chamadas linfócitos. Assim, os linfócitos que residem na cavidade oral (garganta) — especialmente, amígdalas — são expostos ao vírus, e é possível observar o aumento dos linfonodos (ínguas) e a inflamação das amígdalas (amigdalite). Uma característica importante é que a maioria dos casos tende a ser assintomática (sem a manifestação de sintomas). A reação do organismo à infecção consiste na produção de anticorpos para combater a doença, formando-se, dessa forma, uma memória imunológica. Estima-se que, em todo o mundo, cerca de 95% dos adultos sejam soropositivos para EBV, ou seja, já tiveram contato com o vírus e produziram anticorpos (IgG). Apesar disso, a mononucleose não é considerada uma doença altamente contagiosa, como o resfriado. É importante destacar que a infecção pelo EBV é permanente, ou seja, após a infecção primária, o EBV permanece dentro dos linfócitos por toda a vida, mesmo que não se manifeste.  Quais os sintomas da mononucleose? A mononucleose é uma doença que afeta a região orofaríngea, portanto, um de seus principais sintomas é a dor de garganta. Esse é um sintoma que pode ser facilmente confundido com amigdalites bacterianas, entretanto, conforme a mononucleose evolui, observa-se que não há uma melhora com o uso de antibióticos. Outros sintomas incluem fadiga, febre, inchaço dos gânglios linfáticos no pescoço e axilas e dor de cabeça. Também podem ser observados inchaços e placas esbranquiçadas nas amígdalas, erupções cutâneas e aumento de tamanho de órgãos como baço e fígado. Quanto tempo dura a mononucleose infecciosa? Em geral, o vírus EBV apresenta um período de incubação de quatro a seis semanas. Esse período refere-se ao tempo entre o contato com o vírus e o surgimento dos primeiros sintomas, e representa a principal janela de transmissão. Os sintomas mais comuns, como dor de garganta e febre, tendem a durar duas semanas, mas esse período pode variar de caso em caso. Já os sintomas de fadiga, gânglios linfáticos, baço ou fígado aumentados podem se estender por mais tempo. Como diagnosticar a mononucleose infecciosa? O diagnóstico é feito clinicamente, a partir de exame físico e análise dos sintomas apresentados. Normalmente, o aumento dos linfonodos no pescoço ou aumento do fígado e baço (hepatoesplenomegalia) são achados sugestivos de mononucleose infecciosa. Exames laboratoriais complementares podem ser necessários para a confirmação diagnóstica. No hemograma, a presença de grande quantidade de linfócitos atípicos (principalmente, após a segunda semana da infecção) é sugestiva de mononucleose infecciosa. Ela pode ser confirmada com testes sorológicos, nos quais busca-se a presença de anticorpos contra o EBV (IgM e IgG). Em casos específicos, pode-se detectar a presença do EBV por meio de exames que utilizam técnica de biologia molecular. Qual o melhor tratamento para a mononucleose infecciosa? Não existem medicamentos específicos para tratar a mononucleose infecciosa. O tratamento é de suporte para melhoria dos sinais e sintomas, por meio de medicamentos analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios.  Também são aconselhados repouso e evitar a realização de exercícios físicos, enquanto as anormalidades no baço e fígado estiverem sendo detectadas. Além disso, especialistas recomendam a ingestão de alimentos leves e o consumo de líquidos. Vale ressaltar que manter o acompanhamento médico é fundamental para monitorar os sintomas da doença e alcançar uma plena recuperação. Possíveis complicações com outras doenças O EBV tem sido extensamente estudado quanto a sua relação causal com a esclerose múltipla. A esclerose múltipla é uma doença inflamatória crônica que danifica células do sistema nervoso, gerando sintomas como fraqueza muscular, dificuldade de locomoção, tremores, problemas visuais, entre outros. Recentes estudos indicam que o EBV poderia ser um possível agente desencadeador em indivíduos que sejam geneticamente predispostos ao desenvolvimento da esclerose múltipla. Outro fator está relacionado à gravidade da infecção primária por EBV. Cientistas acreditam que o desenvolvimento da esclerose múltipla, muitos anos depois, possa depender da resposta imune inicial à infecção por EBV. A infecção pelo EBV também tem sido associada ao desenvolvimento de certos tipos de câncer, como o linfoma de Hodgkin e o linfoma de Burkitt. Pesquisas apontam que a mononucleose infecciosa pode ser um fator de risco para a proliferação de linfócitos nesses tipos de câncer. No entanto, esses são estudos ainda em andamento e mais pesquisas são necessárias para compreender completamente o significado dessas descobertas. Como se prevenir da infecção pelo EBV? Atualmente, não há vacinas disponíveis contra a mononucleose infecciosa. O principal método de prevenção é evitar o contato direto com pessoas que estejam diagnosticadas com a doença (beijos, compartilhamentos de talheres, entre outros), principalmente durante o período de incubação do vírus. Manter hábitos de higiene, como lavar as mãos e limpar objetos possivelmente contaminados, também são ações fundamentais para a prevenção, sobretudo se houver pessoas próximas doentes. O indivíduo que estiver com mononucleose infecciosa também está impedido de doar sangue, até estar completamente curado. Outra dúvida muito recorrente é a possibilidade de contrair novamente a doença. Caso você já tenha sido infectado, não há risco de desenvolver o quadro de sintomas novamente, graças à geração de anticorpos pelo sistema imunológico. Agora que você já sabe o que é a mononucleose infecciosa e como ela pode afetar a sua saúde, sugerimos a leitura do conteúdo sobre 5 sinais de imunidade baixa que devem te deixar alerta. No texto, você vai descobrir os sinais que o corpo mostra e quais são as melhores atitudes para fortalecer o sistema imunológico. Referências: Balfour HH Jr, Dunmire SK, Hogquist KA. Infectious mononucleosis. Clin Transl Immunology. 2015 Feb 27;4(2):e33. doi: 10.1038/cti.2015.1. CDC. About Infectious Mononucleosis. Disponível em: https://www.cdc.gov/epstein-barr/about-mono.html Acesso em:28/12/2022. Mohseni M, Boniface MP, Graham C. Mononucleosis. [Atualizado em 8 de agosto de 2022]. In: StatPearls [Internet]. Ilha do Tesouro (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470387/Soldan, S.S., Lieberman, P.M. Epstein–Barr virus and multiple sclerosis. Nat Rev Microbiol 21, 51–64 (2023). https://doi.org/10.1038/s41579-022-00770-5