Você sabe o que é tétano e quais são as principais causas dessa enfermidade? A doença, comum especialmente em regiões nas quais o acesso à saúde é mais restrito, tem seus primeiros registros históricos datados no século V a.C.
Muita gente associa o tétano à ferrugem, acreditando ser essa a principal causa da doença. Mas será que é isso mesmo?
Neste artigo, você tem acesso a muitas informações sobre o tétano: vai entender o que é a doença, como ela é contraída, quais são os sintomas e como são feitos o diagnóstico e o tratamento.
Também vamos explicar como funciona a vacinação contra o tétano e mostrar por que ela é importante para proteção e imunização. Acompanhe e aprofunde o seu conhecimento sobre o assunto! Vamos lá?
O que é tétano?
O tétano é uma doença causada pela bactéria Clostridium tetani, que penetra o nosso corpo por meio de ferimentos, atinge o sistema nervoso central e se caracteriza, especialmente, por espasmos musculares.
Trata-se de uma doença infecciosa aguda não contagiosa, ou seja, não existe transmissão de uma pessoa para outra. A bactéria causadora do tétano pode infectar indivíduos de todas as idades.
O termo “tétano” é originário do grego “teínein” e significa estirar, distender, esticar. No latim, a expressão “tetanus” é traduzida como “rigidez de um membro”. A palavra faz referência às contraturas musculares (ou seja, quando o músculo faz uma contração de forma incorreta e não retorna ao seu estado de relaxamento normal) provocadas na pessoa infectada quando atinge o sistema nervoso central.
Outro ponto importante é que, se a bactéria encontrar condições propícias para multiplicação, ela passa a produzir toxinas que se disseminam pelo organismo. Por essa razão, ela é considerada muito grave, oferecendo risco de morte caso não seja tratada de forma rápida e adequada.
E quanto à bactéria que causa o tétano?
A bactéria causadora do tétano é a Clostridium tetani e o que chama atenção nela é a alta capacidade de resistência mesmo em condições adversas, como podemos ver no trecho descrito por Tavares, em 1973, a seguir.
O C. tetani é uma bactéria descrita por Nicolaier em 1894, agente causador do tétano. A bactéria é isolada de amostras de solo, fezes de animais e homens e das feridas tetanígenas. É um bacilo anaeróbio estrito, produtor de esporo que lhe permite sobreviver em condições de aerobiose e produtor de um a exotoxina que se fixa ao sistema nervoso, provocando a sintomatologia da doença.
Esses esporos resistem a condições adversas, não sendo possível eliminar essa bactéria da natureza, que está presente no solo, em poeira da rua e em fezes de vários animais.
Nesse sentido, é importante entender que os esporos da bactéria são estruturas que permitem que as mesmas se mantenham vivas por um período de tempo maior quando se encontram em condições ambientais favoráveis. As condições ambientais são adversas, mas favoráveis ao crescimento do clostridium, ou seja, com excesso de calor ou frio, ar rarefeito, entre outros. Dessa forma, seria uma espécie de proteção das bactérias nessas diferentes situações no meio ambiente.
Como a doença é contraída?
O tétano acontece quando o esporo da bactéria atinge um tecido humano machucado, entrando em contato com a pele ou mucosas, tanto em ferimentos profundos quanto naqueles mais superficiais.
Após esse contato, quando a bactéria chega a nosso organismo, ele passa a produzir a toxina tetânica, também chamada de tetanospamina metaloprotease.
A atenção aqui se deve ao fato de que queimaduras e tecidos necrosados são uma porta de entrada para essa doença, uma vez que favorecem o desenvolvimento da bactéria. Outro ponto essencial é que a bactéria do tétano está presente no solo, na poeira e nas fezes de animais, sendo necessário andar sempre calçado, por exemplo. Mas ainda há outras formas de se prevenir e falaremos delas ao longo deste texto.
Qual é o caminho da toxina tetânica no nosso corpo?
No organismo, a toxina é transportada até atingir o sistema nervoso central, bloqueando a neurotransmissão. Isso faz com que aconteça um processo de desinibição dos neurônios responsáveis pela modulação dos impulsos excitatórios do córtex motor.
O que significa na prática, na apresentação clínica? Basicamente, que a pessoa infectada tem alterações no tônus muscular, causando o surgimento de espasmos dolorosos, por exemplo.
Essa rigidez muscular ocorre em função do aumento na taxa de disparo de repouso dos neurônios motores bem como da falta de inibição das respostas motoras. Pra entender melhor, é como se os músculos estivessem sendo exigidos ao máximo o tempo todo, o que causa dor e até sudorese, como veremos ao longo do texto.
E quanto ao tétano neonatal?
Também é preciso falar da transmissão do tétano neonatal, que acontece por meio da contaminação do coto umbilical por esporos do bacilo tetânico — esses podem estar presentes em instrumentos sujos utilizados para cortar o cordão umbilical ou em substâncias pouco higiênicas usadas para cobrir o coto umbilical (ex. fezes de animais).
Qual é o período de incubação do tétano?
O período de incubação do tétano pode ter uma variação grande, de 3 a 20 dias. Isso significa que, após o contato com a bactéria e a infecção, os primeiros sintomas podem demorar até 21 dias para aparecer.
Essa é apenas uma média, tendo em vista que em alguns casos acontecem em até 1 a 2 dias após a exposição. No caso do tétano neonatal, o período de incubação costuma ser de 7 dias.
Um ponto importante aqui é que, quando os esporos da bactéria atingem locais mais distantes da cabeça, por exemplo mãos ou pés, o prazo de início dos sintomas é mais longo. Porém, quando a inoculação ocorre perto da cabeça, como no pescoço, os sintomas costumam aparecer com mais rapidez.
De forma geral, a infecção costuma ser mais grave quando os primeiros sintomas surgem poucos dias após o contato, bem como nas situações em que a porta de entrada da bactéria está mais próxima do sistema nervoso central e/ou quando o paciente não tem histórico de vacinação prévia.
Qual é a relação entre tétano e ferrugem?
Ainda hoje, muitas pessoas associam o tétano à ferrugem, acreditando que são os objetos enferrujados que causam a doença.
A relação entre tétano e objetos enferrujados existe porque esses últimos podem estar contaminados pela bactéria Clostridium tetani (como vimos, ela sobrevive a condições mais adversas). Assim, se estamos feridos ou se um objeto enferrujado e contaminado atinge nossa pele ou mucosas, existe a probabilidade de contrair a doença, sim.
Entretanto, essa é apenas uma das maneiras de desenvolver o tétano, que pode ser contraído ao termos contato com fezes de animais, solo contaminado, entre outros já citados.
Quais são os sintomas do tétano?
Pacientes com tétano podem apresentar contração tônica dos músculos esqueléticos, associada a espasmos musculares intermitentes. Por não haver alterações na consciência, é natural sentir muita dor por todo o corpo.
Mas esse não é o único sintoma. Nos quadros mais graves, se destacam:
- trismo, ou seja, dificuldade de abrir a boca, normalmente associada a uma contração dos músculos mandibulares;
- irritabilidade;
- agitação;
- taquicardia;
- sudorese.
Além desses, sintomas associados ao tétano e que devem ser objeto de atenção, são:
- rigidez e dores na musculatura;
- rigidez e dores na musculatura cervical;
- contratura de ombros e dorso;
- espasmos constantes e intensos;
- disfagia (dificuldade de engolir);
- sudorese profusa;
- hipertensão;
- hipotensão lábil;
- arritmias cardíacas.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do tétano deve ser feito por um médico. Na maior parte dos casos, o tétano é uma suspeita diagnóstica clínica, ou seja, independente de exames laboratoriais.
A suspeita da doença costuma ocorrer quando há relato de lesão em qualquer parte do corpo associada à falta de imunização ou imunização inadequada. Após a conversa e diagnóstico clínico, o médico pode solicitar exames inespecíficos, para acompanhamento das complicações e do tratamento.
Caso surja qualquer sintoma ou suspeita de tétano, é fundamental que o paciente busque suporte de saúde com urgência, tendo em vista tratar-se de uma doença grave e que pode levar à morte.
Quais são as opções de tratamentos?
O tratamento não é curativo e se concentra, principalmente, no controle das complicações por meio do uso de antibióticos, sedativos, relaxantes musculares, imunoglobulina ou soro antitetânico.
Em alguns casos, pode ser necessário atendimento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com suporte de equipe multidisciplinar.
Todos os pacientes com tétano devem ser submetidos ao procedimento de desbridamento da ferida, que consiste na remoção do tecido necrosado, o que ajuda no processo de cicatrização e evita que a infecção se espalhe pelo organismo.
A duração do tratamento vai depender da resposta de cada pessoa e, após a cura clínica, o paciente, embora recuperado da doença aguda, não tem imunidade.
É preciso reforçar que o tétano é uma doença grave que, em alguns casos, pode ser fatal. Por isso, a pessoa que apresentar qualquer sintoma da doença deve buscar atendimento imediato em um serviço de saúde.
Existem regiões específicas onde o tétano é mais comum?
De forma geral, o tétano costuma ocorrer com maior frequência em regiões nas quais inexiste programa de vacinas ou onde o acesso à assistência em saúde é mais difícil. Porém, por se tratar de uma doença que demanda a realização de reforços da vacina a cada 10 anos, é comum encontrar pacientes de diferentes regiões que não estão devidamente imunizados e, por isso, passíveis de infecção.
Mesmo tendo sido descoberta há muito tempo e existindo uma vacina contra a doença, o tétano continua sendo considerado um risco e um problema grave de saúde pública nacional.
E quanto às taxas de letalidade da doença?
Enquanto em alguns países mais desenvolvidos a letalidade do tétano fica na casa dos 10 e 17%, no Brasil, nos últimos três anos, o percentual está entre 30 e 40% segundo dados do Ministério da Saúde.
Vale dizer, ainda, que a maior parte dos registros da doença se concentra nas categorias de aposentados ou pensionistas, trabalhadores agropecuários, profissionais da construção civil (sobretudo pedreiros), estudantes e donas de casa.
Assim, é importante que os pacientes tenham em mente que o tétano pode acontecer acidentalmente, razão pela qual a vacinação é de suma importância. Ou seja, não podemos descuidar.
Como podemos prevenir o tétano?
A melhor forma de prevenção é estar em dia com as vacinas contra o tétano. Você pode até evitar andar descalço em solos e tentar não se machucar, por exemplo. Mas é complicado identificar espaços e objetos contaminados, certo? Por isso, precisamos falar sobre a vacinação. Acompanhe!
Por que a vacinação é essencial?
Em se tratando de proteção e prevenção, a vacina é o melhor caminho para se evitar a doença. Desde 1940, as campanhas de vacinação foram responsáveis por reduzir significativamente a incidência de tétano em todo o mundo.
Inclusive, na Segunda Guerra Mundial, a vacina, recém-desenvolvida, foi responsável por proteger milhares de soldados que lutaram nos frontes. Ela é essencial até os dias atuais, já que qualquer pessoa, independentemente da idade, sexo ou classe social, pode ser contaminada quando em contato com o agente causador da doença.
Lembrando que a imunidade só ocorre por meio da realização da vacina em três doses, desde que realizados os reforços a cada 5 ou 10 anos. Outro fator que pede atenção é que as pessoas doentes que se curam do tétano não ficam imunes à doença e precisam realizar a imunização por meio de vacina.
Mulheres gestantes devem realizar o reforço da vacina caso ela tenha sido feita há mais de 5 anos. Além disso, filhos de mães com imunidade têm imunidade passiva por um período de quatro meses, ou seja, por esse tempo — apenas — as crianças estão seguras, sem tomar a vacina. Pacientes que fazem uso do soro antitetânico têm imunidade de até 14 dias.
Quem pode tomar a vacina?
A imunização é indicada para qualquer pessoa, desde crianças até adultos e idosos. Os médicos costumam recomendar que ela seja tomada junto com a vacina da difteria e/ou coqueluche (tríplice bacteriana).
Onde é administrada?
A vacina do tétano deve ser administrada por um profissional de saúde capacitado, por meio de injeção direta no músculo. Isso pode ser feito tanto em hospitais e clínicas quanto no conforto de trabalho ou da sua própria casa, sabia? Para tanto, o atendimento móvel é uma opção.
Quantas doses é preciso tomar?
O médico vai orientar com relação às especificidades de cada paciente. Ela é administrada em três doses, sendo recomendado tomar junto com a vacina contra coqueluche e difteria, também conhecida como tríplice bacteriana ou dTpa.
A vacina do tétano é recomendada para adultos, adolescentes, idosos e gestantes, com atenção também aos profissionais que estão em grupos de risco, como marceneiros, bombeiros e policiais.
Como a imunidade ao tétano diminui com o passar do tempo, os adultos precisam fazer uma dose de reforço a cada 10 anos.
Para adultos que ainda não se imunizaram com a vacina bacteriana do tipo adulto — dTpa (Difteria, Tétano e Coqueluche) ou dT (Difteria e Tétano), recomenda-se tomá-la no lugar da vacina antitetânica (Toxóide Tetânico). A dose de dTpa pode ser reforçada antes de 10 anos, então, uma boa ideia é falar com um médico sobre o que é melhor para sua situação específica.
É essencial se certificar que você e seus familiares estão protegidos contra o tétano. Em caso de dúvida, converse com um profissional da área de saúde.
A vacina tem efeitos colaterais?
De forma geral, os principais efeitos colaterais causados pela vacina ocorrem no local da aplicação: dor e vermelhidão.
É comum que, após a aplicação da vacina, o paciente sinta o braço pesado e um pouco dolorido — todavia, essas sensações têm curta duração e costumam desaparecer ao longo das primeiras 24 horas. Para aliviar a dor local, é recomendado ao paciente que coloque um pouco de gelo na região.
Em alguns casos — bem raros — a pessoa pode ter outros efeitos colaterais como: dor de cabeça, sonolência, febre, cansaço, fraqueza e vômito. Neste tipo de situação, é importante informar o médico para que ele faça o acompanhamento e a notificação.
Entretanto, a presença de qualquer um desses efeitos colaterais não deve ser razão para a não imunização. A vacinação é fundamental para garantir a proteção da sua saúde, evitando problemas mais graves.
A vacina tem contraindicações?
Existem alguns casos nos quais a vacina contra o tétano pode ser contraindicada, especialmente para aqueles pacientes que apresentam alergia a algum dos componentes utilizados na sua formulação.
Gestantes e lactantes devem informar o médico antes de tomar a vacina. Mulheres gestantes com alergias também devem informar o seu médico.
Além disso, a vacina não é indicada nos casos em que a pessoa tenha apresentado reações como convulsão ou choque anafilático após a administração de doses anteriores.
Um lembrete aqui: febre não é considerada um efeito colateral que impeça a aplicação de outras doses. Converse sempre com o seu médico, ele poderá esclarecer qualquer dúvida e orientar com relação às melhores alternativas de acordo com as particularidades do seu organismo.
Como você pode ver, o tétano é uma doença grave e que, caso não seja tratada a tempo, pode levar a óbito. Muito embora seja conhecida há muitos anos e exista uma vacina desde a década de 1940, que é responsável por uma redução no número de casos em todo o mundo, ainda é comum encontrar pessoas que não realizam a imunização de forma adequada.
Se você está desconfiado de ter contraído ou conhece alguém que pode ter a doença, lembre-se de que, entre os sintomas mais comuns, estão rigidez e dores na musculatura, contratura de ombros e dorso, espasmos constantes e intensos. Dessa forma, o paciente que não está com a vacina em dia, apresenta esses sintomas e teve qualquer ferimento ou lesão de pele deve buscar orientação médica o mais rápido possível!
Não se esqueça: os sintomas podem demorar para aparecer, e o acompanhamento médico é fundamental para garantir o suporte clínico e medicamentoso adequados.
A melhor proteção é a prevenção, por isso a vacinação ainda é o melhor mecanismo de redução de casos e óbitos decorrentes do tétano.
Agora que você já sabe o que é tétano e a importância da vacinação, que tal aprofundar o seu conhecimento sobre vacinas? Aproveite para conferir quais são os principais mitos e verdades sobre vacinação!