A raiva humana é uma infecção viral extremamente grave que ainda causa mortes todos os anos, apesar de ser totalmente evitável. Classificada como uma zoonose, ou seja, uma doença transmitida de animais para seres humanos, a raiva afeta o sistema nervoso central e tem evolução rápida e letal em praticamente todos os casos sintomáticos.
Compreender mais sobre como ela ocorre e seus sintomas mais frequentes, reconhecer os grupos mais vulneráveis e, sobretudo, conhecer as formas mais eficazes de prevenção é importante para proteger a própria saúde e de toda a comunidade. Continue a leitura para saber mais!
O que é a raiva humana?
A raiva humana é uma encefalite viral aguda causada pelo vírus do gênero Lyssavirus. Esse vírus ataca o sistema nervoso central, provocando alterações neurológicas graves e irreversíveis.
Uma das principais características da raiva é a sua rápida evolução após o aparecimento dos primeiros sintomas. Quando isso ocorre, a doença torna-se quase sempre fatal. A taxa de letalidade ultrapassa 99%, o que a torna uma das doenças infecciosas mais letais conhecidas.
Apesar disso, trata-se de uma doença completamente evitável. Com estratégias adequadas de prevenção, como a vacinação de animais e a administração imediata da profilaxia pós-exposição, é possível eliminar o risco de morte.
Como a raiva em humanos é transmitida?
A transmissão da raiva ocorre quando a saliva de um animal infectado entra em contato com a pele humana lesionada ou com mucosas. Isso pode acontecer através de mordidas, arranhões profundos ou lambidas em feridas abertas.
Em áreas urbanas, os cães são os principais responsáveis pela transmissão da doença. Já em regiões rurais e florestais, os morcegos hematófagos têm ganhado destaque como fontes relevantes de infecção, em particular no Brasil. Também há registros de contaminação por meio de outros animais silvestres, como raposas, gambás e macacos.
Quais são os sintomas da raiva humana?
Os sintomas da raiva humana surgem em fases distintas. Na fase inicial, conhecida como pródromo, o paciente pode apresentar febre, mal-estar, dor de cabeça, náuseas e coceira ou dormência no local da mordida. Esses sinais são inespecíficos e costumam passar despercebidos.
À medida que a infecção avança, surgem os sintomas neurológicos. Nessa fase, é comum o paciente apresentar ansiedade, agitação, espasmos musculares, dificuldade para engolir, aversão à água (hidrofobia), alucinações e paralisia. Sem tratamento adequado antes do início dessa fase, a progressão para o coma e a morte é quase inevitável.
Quem está em maior risco?
A raiva humana pode acometer qualquer pessoa que tenha contato com um animal infectado. No entanto, certos grupos estão mais vulneráveis à exposição ao vírus. Profissionais que atuam diretamente com animais, como médicos veterinários, zootecnistas, biólogos, tratadores e trabalhadores do campo, fazem parte da população de risco devido à natureza de sua atividade diária.
Mas o risco não se limita ao ambiente profissional. Moradores de áreas rurais ou regiões com baixa cobertura vacinal em cães e gatos também estão mais suscetíveis, especialmente quando há circulação de animais silvestres. As crianças merecem atenção especial, já que, muitas vezes, interagem com animais sem supervisão e podem não relatar pequenos arranhões, mordidas e lambidas, o que dificulta a detecção precoce de uma possível exposição ao vírus.
O que fazer em caso de exposição?
Em qualquer situação de possível exposição ao vírus da raiva, é preciso agir imediatamente. O primeiro passo é lavar o local da mordida ou do arranhão com água e sabão por, no mínimo, quinze minutos. Essa medida simples ajuda a reduzir a carga viral no lugar da lesão.
Em seguida, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde o mais rápido possível. O profissional avaliará a necessidade de iniciar a profilaxia pós-exposição, procedimento fundamental para impedir a instalação do vírus no organismo.
Como funciona a profilaxia pós-exposição (PEP)?
A profilaxia pós-exposição é o nome dado ao conjunto de medidas adotadas após o contato com o vírus da raiva. Ela pode incluir a aplicação da vacina antirrábica humana e, em casos mais graves, a administração da imunoglobulina antirrábica. A indicação depende da gravidade da exposição, do local da lesão e do histórico vacinal da pessoa.
Independentemente da situação, quanto mais cedo o tratamento for iniciado, maior a chance de evitar a evolução para a forma clínica da doença. Por isso, toda exposição potencial deve ser tratada como uma emergência médica.
Panorama da raiva humana no Brasil e no mundo
No Brasil, os casos de raiva humana diminuíram significativamente nas últimas décadas, graças a campanhas de vacinação e ações de vigilância epidemiológica. Ainda assim, há registros da doença, principalmente na região amazônica, onde o contato com morcegos hematófagos é mais frequente. O sistema SINAN (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) é a principal ferramenta do Ministério da Saúde (MS) para monitorar os casos.
No cenário internacional, a raiva continua sendo um grave problema de saúde pública em países da África e da Ásia. Nessas regiões, a combinação de baixa cobertura vacinal em cães, acesso limitado à profilaxia e falta de informação contribui para a alta mortalidade. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como meta eliminar todas as mortes humanas por raiva canina até 2030, por meio da iniciativa “Zero by 30”.
A importância da vacinação animal
A vacinação de cães e gatos é a estratégia mais eficaz para interromper o ciclo de transmissão da raiva aos seres humanos. No Brasil, essa vacinação é gratuita e promovida por campanhas anuais do MS.
Todos os cães e gatos com mais de três meses de idade devem ser vacinados anualmente. Cabe ressaltar que a criação de animais silvestres como pets é ilegal e representa um risco elevado para a transmissão de diversas zoonoses, incluindo a raiva.
Diagnóstico e tratamento da raiva humana
O diagnóstico da raiva em seres humanos é complexo e exige exames laboratoriais específicos, como RT-PCR, imunofluorescência direta e testes imuno-histoquímicos. Esses exames geralmente são realizados apenas em laboratórios de referência.
Infelizmente, a eficácia do tratamento para a raiva após o início dos sintomas é limitada, o que reforça ainda mais a importância da prevenção e da resposta rápida à exposição.
Prevenção da raiva humana
Prevenir a raiva humana requer um conjunto de ações coordenadas que envolvem tanto medidas individuais quanto políticas públicas. A seguir, pontuamos algumas das ações que podem auxiliar na prevenção da ocorrência da raiva humana.
Vacinação pré-exposição
Indicada para pessoas em profissões de risco ou que planejam visitar áreas onde a raiva é endêmica. Essa estratégia inclui a aplicação de três doses da vacina, com reforços periódicos conforme recomendação médica.
Educação comunitária
Campanhas informativas que orientam a população sobre a doença, formas de transmissão e cuidados com os animais ajudam a reduzir a incidência de casos. O envolvimento de escolas, postos de saúde e veículos de mídia é essencial nesse processo.
Vigilância e controle
Ações coordenadas de vigilância, vacinação em massa de animais e controle de cães errantes são cruciais para diminuir a circulação do vírus.
De modo geral, a raiva humana pode ser evitada. Compartilhar informações corretas e estimular a conscientização também são atitudes que salvam vidas.
Se você deseja se aprofundar no tema e conhecer outras doenças que também são transmitidas entre animais e seres humanos, acesse o conteúdo exclusivo no Blog Sabin: Quais as principais zoonoses?.
Sabin avisa:
Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.
Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.
Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.
Referências:
Ministério da Saúde. Raiva humana. Portal gov.br. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/r/raiva/raiva-humana
Fooks, Anthony R et al. “Rabies.” Nature reviews. Disease primers vol. 3 17091. 30 Nov. 2017, doi:10.1038/nrdp.2017.91
Haradanhalli, Ravish S et al. “Safety and clinical efficacy of human rabies immunoglobulin in post exposure prophylaxis for category III animal exposures.” Human vaccines & immunotherapeutics vol. 18,5 (2022): 2081024. doi:10.1080/21645515.2022.2081024
Benavides, Julio A et al. “An evaluation of Brazil’s surveillance and prophylaxis of canine rabies between 2008 and 2017.” PLoS neglected tropical diseases vol. 13,8 e0007564. 5 Aug. 2019, doi:10.1371/journal.pntd.0007564
Undurraga, Eduardo A et al. “Costs and effectiveness of alternative dog vaccination strategies to improve dog population coverage in rural and urban settings during a rabies outbreak.” Vaccine vol. 38,39 (2020): 6162-6173. doi:10.1016/j.vaccine.2020.06.006
CRMV-SP – Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo. Profilaxia pré-exposição contra a raiva para médicos-veterinários e zootecnistas se torna ainda mais importante.https://crmvsp.gov.br/profilaxia-pre-exposicao-contra-a-raiva-para-medicos-veterinarios-e-zootecnistas-se-torna-ainda-mais-importante/