A esclerose múltipla é uma doença inflamatória crônica que gera danos nas células do sistema nervoso, os neurônios. A perda de função dessas células acarreta o surgimento de sintomas característicos, como fraqueza muscular, dificuldade de locomoção, tremores, problemas visuais, problemas cognitivos, entre outros.
É uma doença que possui maior incidência em populações jovens, entre 20 e 40 anos, embora possa se desenvolver em qualquer idade. Apesar de ser considerada rara, a esclerose múltipla possui um alto impacto na vida da pessoa, sendo considerada uma das principais causas incapacitantes entre jovens.
Um caso mundialmente conhecido é o da atriz Selma Blair, protagonista de filmes reconhecidos como “Legalmente Loira” e “Hellboy”. Em 2018, a atriz revelou seu diagnóstico de esclerose múltipla e sua luta foi retratada em um recente documentário chamado “Selma Blair – A batalha contra a esclerose múltipla” (em inglês, Introducing, Selma Blair).
A esclerose múltipla é uma doença neurológica impactante, mas que ainda é pouco conhecida pela população. Por isso, no post de hoje, trouxemos informações que podem ajudar você a conhecer um pouco sobre essa doença e seus principais sintomas.
O que é a esclerose múltipla?
A esclerose múltipla é uma doença crônica, inflamatória, desmielinizante e neurodegenerativa do sistema nervoso central. É considerada uma doença autoimune, ou seja, quando o sistema imunológico começa a atacar células saudáveis do próprio organismo, no caso, as células nervosas.
Nossos neurônios utilizam sinais elétricos para se comunicar uns com os outros, semelhantes à rede elétrica de uma casa. Para que essa comunicação seja eficiente, as fibras nervosas precisam de uma “capa” protetora em suas fibras, chamada mielina — substância gordurosa que funciona como uma espécie de isolante em um cabo elétrico.
O objetivo da mielina é isolar as fibras nervosas para que o processo de condução do sinal elétrico seja eficiente e rápido. Na esclerose múltipla, o principal alvo do ataque imunológico é justamente a fibra nervosa e a mielina. Esse ataque gera um processo inflamatório que destrói a mielina, prejudicando a comunicação entre os neurônios. Por isso, ela é conhecida como uma doença neurodegenerativa desmielinizante.
A esclerose múltipla pode afetar diversas partes do cérebro, assim como a medula espinhal e, a depender do local afetado, diferentes sintomas podem aparecer. No entanto, a desmielinização pode ser mais comum em alguns locais do sistema nervoso, como na medula espinhal, nervos ópticos e tronco cerebral. Isso explica a recorrência de alguns sintomas, especialmente problemas visuais e motores.
Quais são os principais sintomas?
A esclerose é uma doença que afeta diferentes partes do sistema nervoso, portanto, existem sintomas que variam de acordo com cada caso clínico.
Dependendo do tipo de esclerose múltipla, os sintomas podem aparecer em quadros de crises e desaparecer depois de um tempo, dificultando o diagnóstico. Os principais sintomas incluem:
- fraqueza ou cansaço;
- distúrbios sensoriais (dormência ou formigamentos);
- problemas visuais causados por danos no nervo óptico (visão embaçada, perda visual ou visão dupla, por exemplo);
- problemas motores (dificuldade para andar, tremores, rigidez muscular, falta de coordenação dos movimentos e desequilíbrio);
- problemas cognitivos e de memória;
- dificuldades de controle urinário;
- alterações de humor, depressão e ansiedade.
É importante destacar que, inicialmente, o portador de esclerose múltipla pode não apresentar necessariamente vários sintomas. Eles podem aparecer de forma leve e evoluir com o tempo, progredindo na gravidade e repetição.
Quais as causas da esclerose múltipla?
As causas da esclerose múltipla ainda não são totalmente conhecidas pela ciência. O conhecimento científico atual sugere que diversos fatores influenciam para o desenvolvimento da resposta autoimune característica da doença, incluindo a genética e fatores ambientais.
A hereditariedade genética parece ter um papel relevante no desenvolvimento da doença. Possuir histórico familiar de parentes próximos, que são portadores (pais e irmãos), aumenta o risco de desenvolver a esclerose múltipla.
Além disso, estudos identificaram mutações em genes específicos que estão envolvidos com o funcionamento das células do sistema imune. A presença dessas mutações foram associadas com uma maior chance de ocorrência de distúrbios imunológicos, como os encontrados na esclerose múltipla.
Também podem ser considerados “gatilhos” para a doença fatores ambientais e de estilo de vida, especialmente durante a adolescência, um período de maior vulnerabilidade. Infecções no início da vida pelo vírus Epstein-Barr podem desencadear, de alguma maneira, a ativação acentuada do sistema imunológico e fazer com que ele ataque as células do organismo.
Outros fatores ambientais incluem a obesidade, exposição a substâncias tóxicas, tabagismo, baixa exposição solar e consequente diminuição dos níveis de vitamina D. Estudos sugerem uma associação entre baixos níveis de vitamina D e aumento do risco para esclerose múltipla. Os mecanismos por trás dessa relação ainda são desconhecidos, mas cientistas acreditam que a forma ativa da vitamina D possua um papel importante na função imune.
Quantas formas clínicas existem?
A esclerose múltipla pode apresentar mais de uma forma clínica, que varia em relação à sua progressão e recorrência. Listamos para você as três principais formas clínicas da doença.
Remitente-recorrente (EMRR)
Na maioria dos casos, essa é a forma inicial da doença. É caracterizada por alternância de episódios de desmielinização (surtos) e melhora dos sintomas após o tratamento ou de forma espontânea (remissão).
É comum que a forma remitente-recorrente ocorra nos primeiros anos da doença, com recuperação completa e sem sequelas. Os surtos podem durar dias e até semanas, podendo se repetir com maior frequência caso o tratamento não seja iniciado. Já a remissão pode durar meses ou anos, podendo ser interrompida por recaídas espontâneas ou desencadeadas por infecções virais, por exemplo.
Nessa forma clínica, são comuns sintomas relacionados à dificuldade de locomoção, problemas visuais e distúrbios sensoriais, incluindo formigamento, dormência, dor e sensibilidade ao toque.
Secundária progressiva (EMSP)
Com o passar dos anos, a esclerose múltipla pode evoluir para um padrão progressivo, a partir da forma clínica remitente-recorrente. Dados indicam que metade dos pacientes pode evoluir para essa forma, onde não há mais uma recuperação plena dos surtos e começam a surgir sequelas.
Nessa fase, os portadores podem apresentar perda visual e maior dificuldade de andar, por exemplo, levando à necessidade de ajuda para se movimentar.
Primária progressiva (EMPP)
Essa é a forma menos comum da doença, representando em torno de 10% dos casos. É caracterizada pela piora progressiva, sem passar pelo estágio remitente-recorrente. A forma primária progressiva leva ao acúmulo dos sintomas e sequelas, ao longo de anos, e não há períodos de remissão.
Existe, ainda, um quarto tipo de esclerose múltipla, chamada progressiva com surtos. Essa é uma combinação da forma progressiva com episódios de surtos graves, o que acelera ainda mais a progressão e a quantidade de sequelas deixadas no paciente. Apesar de ser o tipo mais grave de todas, é a que possui menor ocorrência.
Como diagnosticar a esclerose múltipla?
Muitos dos sintomas iniciais podem ser confundidos com outras doenças ou até mesmo passarem despercebidos pelo portador, gerando agravamento do quadro clínico. Dessa forma, é essencial estar atento a sinais e sintomas recorrentes e procurar auxílio médico.
A identificação da esclerose múltipla pode ser feita inicialmente por meio de uma avaliação clínica, onde o médico pesquisa os históricos familiares do paciente, os hábitos de vida, antecedentes médicos, além da sintomatologia e da realização do exame físico.
Em caso de suspeita da doença, são realizadas análises detalhadas do sistema nervoso (exames neurológicos). Análises oftalmológicas também são úteis, em especial o exame de fundo de olho, para detectar anormalidades no nervo óptico.
Exames de imagem também podem ser realizados, como a ressonância magnética. A ressonância magnética de crânio e coluna (medula espinhal) é a principal ferramenta para o diagnóstico de doenças desmielinizantes do sistema nervoso central. Nesse tipo de imagem, é possível observar as lesões no tecido cerebral ou na medula espinhal.
Em associação, podem ser realizados exames laboratoriais para análise do líquor. O líquor é um líquido presente entre as membranas que recobrem o cérebro e a medula, onde é possível identificar marcadores específicos (proteínas) que indiquem possível diagnóstico para esclerose múltipla.
O diagnóstico precoce é fundamental
A esclerose múltipla é uma doença grave e incapacitante, especialmente entre jovens. Conhecer seus principais sintomas pode ajudar muitas pessoas a identificar de forma precoce a doença, o que pode fazer toda a diferença no tratamento.
Quanto mais cedo a terapia for iniciada, maiores são as chances de controlar os sintomas e retardar o avanço da doença. Não existe cura para a esclerose múltipla, mas com o tratamento adequado, é possível controlar os surtos, lesões e sequelas neurológicas, proporcionando uma melhor qualidade de vida ao paciente.
E lembre-se: cultivar hábitos de vida saudáveis pode ajudar a prevenir o desenvolvimento da esclerose múltipla, assim como de diversas outras doenças. Então, aproveite para ler o nosso guia com 8 dicas práticas para ter uma rotina saudável.
Referências:
Abem. (2022). O que é Esclerose Múltipla (EM). Disponível em: https://www.abem.org.br/esclerose-multipla/o-que-e-esclerose-multipla/
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