O curso on-line “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, realizado pelo Grupo Sabin com o objetivo de orientar estudantes dos últimos períodos de medicina e médicos residentes quanto à solicitação adequada de exames, também discutiu sobre os cenários atuais e mais relevantes da medicina.
Na aula “Endocrinopatias após covid-19. Quando suspeitar e como investigar?”, a endocrinologista Dra. Luciana Naves explica quais as principais endocrinopatias observadas com a chegada da pandemia e orienta como fazer uma boa avaliação clínica.
Confira, a seguir, uma síntese das últimas atualizações sobre o tema. Assista à aula completa no vídeo disponível neste artigo.
Qual a relação entre a covid-19 e as endocrinopatias?
A pandemia de covid-19 trouxe situações adversas e inusitadas a todos, e principalmente a área médica não poderia deixar de ser impactada. Dessa forma, surgiram algumas condições clínicas importantes a serem avaliadas com maior critério em pacientes infectados pelo coronavírus.
Um desses impactos é a disfunção do sistema endócrino: a endocrinopatia. O indivíduo que já teve covid-19 pode ter suas glândulas endócrinas afetadas. Mas por que essa relação? Continue lendo para entender.
Assim como as glândulas endócrinas, o vírus causador da covid-19 (SARS-CoV-2) também possui ligação com a enzima conversora de angiotensina. Ocorre que, a partir do momento em que o vírus acessa o receptor dessa enzima, é possível que sejam geradas lesões citotóxicas ou autoimunidade secundária, que, por sua vez, levam a um processo inflamatório desencadeado pelas citocinas.
Fatores de risco para endocrinopatias após a infecção pelo coronavírus
Após estudos recentes, alguns fatores foram vistos como agravantes comuns nas endocrinopatias causadas pelo SARS-CoV-2, tais como obesidade, diabetes e eixos endócrinos.
Pacientes obesos são mais suscetíveis por apresentarem uma predisposição maior à tempestade de citocina. Já os diabéticos, pela tendência a processos inflamatórios. E os eixos endócrinos, por serem alvos naturais do vírus.
Resposta imunológica para a obesidade
Na condição de obesidade, o sistema imunológico funciona de maneira deficiente, ocasionando atraso na resolução de infecções virais e apresentando resistência a tratamentos antivirais.
Como o tecido adiposo aumenta a produção de citocinas inflamatórias, isso gera uma resistência à insulina e à leptina. Com isso, aumenta também a ocorrência dos fenômenos pró-trombóticos e pró-inflamatórios. É importante reforçar a necessidade de acompanhamento dos marcadores inflamatórios em pacientes obesos pós-covid.
Resposta imunológica para o diabetes
A relação da covid-19 com o diabetes se dá em função da grande expressão dos receptores da enzima conversora de angiotensina. Logo, o vírus induz a uma degeneração hidrópica, a uma proliferação intersticial fibrótica e a uma perda funcional das células beta, causando prejuízo direto do pâncreas.
Com a lesão pancreática, gatilhos de autoimunidade são manifestados, e o coronavírus tem sido relatado como o novo gatilho para o diabetes tipo 1. Pode-se inferir, portanto, que, nos pacientes diabéticos, além do aumento dos marcadores inflamatórios, ocorre a deterioração da síndrome respiratória.
Em estudo recente, Dra. Luciana avalia como pacientes diabéticos e obesos, que foram hospitalizados em decorrência da covid-19, apresentam prognóstico mais agravado do que em pacientes comuns. Esses e os demais relatos podem ser vistos, na íntegra, durante a apresentação. Confira o vídeo:
“Em 2020, acreditava-se que o diabetes era um fator que predispunha o agravamento da infecção [pelo coronavírus]. Hoje, após quase três anos de estudo da covid-19, sabemos que o vírus é um agressor pancreático. O diabetes deixou de ser o agravante e o pâncreas passou a ser o alvo da infecção”, pontua a médica.
Na avaliação laboratorial do diabetes pós-covid, é indicado fazer o monitoramento das taxas glicêmicas e da autoimunidade, bem como rastrear as possíveis complicações neuropáticas.
Principais danos na hipófise causados pela covid-19
Os prejuízos causados pela infecção envolvem o eixo hipotálamo-hipofisário. O vírus é capaz de lesionar a hipófise, através da ação citotóxica direta, podendo ocasionar uma hipofisite e levar ao hipopituitarismo funcional ou à insuficiência adrenal. A especialista detalha minuciosamente essa ação.
A avaliação laboratorial do paciente com suspeita de insuficiência adrenal pós-covid deve ser feita baseada em alguns procedimentos: acompanhar uma possível hiponatremia persistente; fazer o controle clínico de uma provável hipotensão postural e quadro de fadiga crônica; e monitorar a produção de cortisol.
A médica aproveita para expor as diretrizes de investigação hormonal das insuficiências adrenais secundárias, estabelecidas em publicação feita pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), na qual é uma das autoras.
Quais disfunções da tireoide estão ligadas ao coronavírus?
Para melhor demonstração das alterações provocadas na tireoide pela covid-19, Dra. Luciana traz um estudo científico que avalia as funções tireoidianas antes, durante e depois da doença. Diante disso, é possível visualizar claramente a diferença dos níveis de TSH nas três situações.
Ela lembra que, assim como a hipófise e a suprarrenal, a tireoide também representa um alvo para processos inflamatórios secundários autoimunes, ocorridos após a infecção pelo coronavírus. Confira os esquemas completos da resposta imunológica e dos mecanismos de alteração tireoidiana apresentados por ela na aula!
Outra preocupação dos efeitos sobre a tireoide é a síndrome autoimune inflamatória, que pode acontecer tanto após a infecção por covid-19 quanto após a vacinação. Entretanto, cabe ressaltar que essa manifestação é muito semelhante à tireoidite subaguda. Por essa razão, é importante estar atento aos resultados dos exames laboratoriais para fazer a devida diferenciação e, se for necessário, reavaliar o paciente. Na aula, você pode acompanhar, em detalhes, os parâmetros recomendados para análise, além de casos clínicos práticos.
As doenças endócrinas que surgiram após a pandemia, se tratadas adequadamente, contribuem significativamente para a melhoria da qualidade de vida do paciente. É fundamental o rastreamento dessas disfunções, contribuindo para minimizar as possíveis sequelas e os impactos diretos na saúde como um todo.
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