Com várias atribuições, a mulher moderna, muitas vezes, precisa se dividir em mãe, profissional, esposa, filha, amiga, etc. Mas como dar conta de tudo? E onde ficam os cuidados com sua saúde e bem-estar?
A autocobrança, muitas vezes, pode ser um inimigo para a qualidade de vida de qualquer pessoa. Afinal, em um mundo acelerado e cheio de informações, nos deparamos com o desejo de “abraçar o mundo”. A mulher, em específico, até por questões histórico-culturais, sempre esteve na posição de acolher, de cuidar e também de se superar para mostrar seu valor.
É claro que estamos fazendo uma abordagem geral. Este conteúdo tem o objetivo de abordar a pluralidade da mulher e sua capacidade de exercer diversas funções. A intenção é trazer uma reflexão sobre como a mulher pode ser múltipla e, ao mesmo tempo, demonstrar a habilidade em conciliar os variados papéis no dia a dia. Boa leitura!
O papel evolutivo das mulheres no mercado de trabalho
É indiscutível a importância e o espaço cada vez maior ocupado pelas mulheres na sociedade e, principalmente, no mercado de trabalho. A crescente inclusão da mulher é fruto de lutas conquistadas ao longo de muitos anos, uma vez que, até pouco tempo, seu papel estava atrelado aos cuidados domésticos e à maternidade.
A inserção da mão de obra feminina começou a ganhar novas nuances no período da Revolução Industrial. Mas foi no século XX que a mulher pôde consolidar sua emancipação e galgar uma posição de destaque nos postos de trabalho, desvinculando-se definitivamente da identidade original estabelecida. Com o rompimento desse paradigma, vieram novas responsabilidades e a necessidade de equilibrar a interface trabalho-família.
Junto a essa balança, surgiram outros desafios, que vão muito além da emancipação financeira e a inserção no mercado de trabalho. Diferenças salariais relacionadas ao gênero ainda representam um grande entrave na conquista profissional feminina. Tal diferença se deve à divisão da relação entre os sexos feminino e masculino, construída de maneira distorcida socialmente, além da valorização desigual entre os trabalhos de ambos. Ainda se observa, mesmo em tempos atuais, uma associação pré-concebida ao que é considerado “trabalho de mulher” e “trabalho de homem”.
Por outro lado, vale destacar que avanços já são percebidos em nosso país e no mundo, embora o processo de transformação ainda esteja em curso. Um exemplo é o projeto de lei que tramita no Congresso Nacional e prevê a equiparação salarial entre mulheres e homens que exercem a mesma função.
Principais impactos da maternidade no ambiente de trabalho
Apesar do avanço das mulheres no mercado de trabalho, o papel de mãe atribuído durante séculos está profundamente enraizado, e conciliar essa relação é uma árdua missão.
Relatos de mulheres apontados na pesquisa intitulada “Entre Voltas e (Re)voltas: um Estudo sobre Mães que abandonam a Carreira Profissional” deixam bem claro que, na maioria dos ambientes profissionais, a maternidade é vista com uma certa resistência. Situações em que a mulher precisa se ausentar por motivo de doença do filho ou devido à amamentação são alguns dos exemplos de demandas que impactam diretamente o olhar dos empregadores.
Um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela outra grande preocupação: existe uma queda na empregabilidade após o período gestacional. O levantamento indicou o dado alarmante de que quase metade das mulheres que tiraram a licença-maternidade foram dispensadas após 24 meses.
Como consequência de tudo isso, muitas mulheres desistem no meio do caminho e abrem mão dos seus projetos pessoais e profissionais para se dedicarem exclusivamente ao exercício da maternidade. Outras recorrem aos trabalhos informais ou ao empreendedorismo, ainda que enfrentem dificuldades para manter o equilíbrio das funções. Segundo dados estatísticos divulgados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 75% das donas de negócios, no Brasil, começaram a empreender após a maternidade.
Direitos amparados por lei
A gravidez é um período que exige um cuidado reforçado por natureza. E, em relação ao trabalho, é comum que surjam dúvidas e inseguranças na mulher. Os primeiros meses após o parto tendem a ser os mais desafiadores, principalmente por ser um período de adaptação tanto para mãe quanto para o filho. É um processo delicado e, por vezes, até mesmo doloroso.
Amparada por lei, a mulher tem a proteção à maternidade assegurada frente ao seu posto de trabalho, incluindo a licença-maternidade com duração de 120 dias, no Brasil. Já existem empregadores — participantes do Programa Empresa Cidadã — que vêm possibilitando às funcionárias estenderem a licença-maternidade por mais 60 dias. Cabe dizer que esse benefício contempla trabalhadoras formais e informais. No entanto, é importante salientar que, para o recebimento da licença, a mulher precisa estar em dia com as contribuições do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
A fim de proteger a situação da mulher no mercado de trabalho, também são garantidos legalmente o direito à amamentação, com a concessão de períodos de pausa ou a redução de horas trabalhadas. Lembrando que essas horas de afastamento permanecem sendo devidamente remuneradas.
A proteção à maternidade ainda é garantida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), cujo objetivo é promover melhorias à saúde materna por meio de intervenções no local de trabalho.
O futuro da maternidade no trabalho
No mercado de trabalho, nota-se um crescente avanço relacionado à cultura organizacional. Nos últimos anos, muitas empresas vêm fomentando a mudança comportamental em relação à maternidade. Debater esse assunto com os funcionários possibilita um diálogo mais transparente e melhor compreensão sobre as necessidades que a maternidade impõe às mulheres e que refletem diretamente na execução do seu trabalho. Além de contribuir para um ambiente saudável para todos.
Outro ponto positivo que vem sendo observado entre os empregadores diz respeito à humanização, com a oferta de benefícios flexíveis às trabalhadoras que são mães, como a possibilidade do home office. Esse procedimento não apenas facilita a vida da colaboradora, como também faz com que ela se sinta valorizada e, consequentemente, invista em sua produtividade.
Quais os desafios enfrentados?
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), em todo o mundo, mulheres recebem 20% a menos que os homens. Como dito anteriormente, a equiparação salarial configura como um dos principais desafios no mercado de trabalho.
Entretanto, pode-se afirmar que o grande desafio enfrentado pela mulher que é mãe e profissional, certamente, é priorizar a si mesma. Com a versatilidade, pode vir o sentimento de culpa, e a chave é saber se adaptar a cada situação, papel ou função. Afinal, as coisas podem mudar a qualquer momento, e tudo irá depender da postura a ser adotada perante aquela situação.
Durante muito tempo, a mulher foi limitada ao lar. Romper essa barreira foi e tem sido um trabalho exaustivo. Mas é preciso modificar os conceitos ultrapassados e compreender que a dupla jornada é possível de ser realizada, e mais do que isso, pode (e deve) ser dividida. Mulheres e homens podem, sim, ser cuidadores e provedores.
A transformação do padrão de comportamento começa pela própria mulher, que precisa entender suas limitações como pessoa e entender em que proporção está construindo a sobrecarga a partir das múltiplas funções.
Como conciliar vida pessoal e carreira profissional?
A mulher multitarefas necessita de condições favoráveis para conciliar a vida pessoal e profissional. Fácil não é, mas é possível ter uma carreira de sucesso sendo mãe.
Contar com uma rede de apoio faz toda a diferença para enfrentar os desafios. Procure dividir as responsabilidades com seu parceiro ou parceira. Ou, ainda, com outros familiares do seu convívio.
É importante que a mulher entenda suas limitações e tenha consciência de que não consegue dar conta de tudo o tempo inteiro. E não há problema algum nisso. O grande trunfo é buscar o equilíbrio entre maternidade e trabalho, mesmo que não seja uma tarefa simples.
A importância do autocuidado
Na maioria das vezes, a mulher que desempenha várias atividades, ao longo do dia, tende a priorizar o outro em detrimento de si mesma, investindo nos cuidados com o filho ou com a entrega de um trabalho, por exemplo. Dessa maneira, ela acaba se colocando de lado, sente-se cansada física e mentalmente, além da falsa sensação de que não conseguiu entregar tudo o que deveria.
Esse sentimento está comumente associado à falta do autocuidado. É essencial separar um tempo de qualidade para se cuidar, e isso deve ser prioridade na vida para que todos os âmbitos possam caminhar juntos.
Faça uma atividade dedicada ao seu lazer, à sua diversão ou saúde. Uma dica é reservar um horário para aquela atividade e tratar como um compromisso, um compromisso com você mesma. Escolha alguma prática que você se identifique, pode ser alguma atividade física, yoga, meditação ou outra que você se encaixa. Não espere sobrar um tempo para se cuidar, faça esse tempo acontecer!
Administre seu tempo de forma a incluir o autocuidado em seu cotidiano. Ele é parte fundamental para a saúde e o bem-estar de uma pessoa. Antes de exercer tantos papéis, o primeiro tem que ser se colocar em primeiro lugar. Não esqueça que sua agenda não precisa estar totalmente preenchida de tarefas, e ter um intervalo é extremamente saudável e necessário.
Como você pode notar, todas essas medidas levam ao principal cuidado: a saúde mental. As cargas assumidas pela mulher que é mãe, e principalmente que também é profissional, podem desencadear transtornos emocionais como estresse, depressão, ansiedade, entre outros. Desempenhar tantos papéis levam a mulher a se cobrar demais, a pensar que deve executar todas as atividades com perfeição ou a não aceitar falhas. Essa visão equivocada é conhecida, na psicologia, como “o mito da mulher-maravilha” e está justamente ligada às consequências da sobrecarga e da exigência de obter sempre os melhores resultados.
Nesse contexto, foi criada a campanha Maio Furta-Cor, que destaca a necessidade do cuidado com a saúde mental materna, diante da crescente demanda da dupla jornada maternidade e trabalho, além de propor ações para dar suporte físico e emocional a essa mulher.
Por falar nisso, cabe ressaltar que a psicoterapia é uma forte aliada no processo de saúde mental. O autoconhecimento pode ser utilizado como instrumento não apenas em caso de já estar sofrendo com algum transtorno, mas sobretudo como um método preventivo e, mais do que isso, como um momento dedicado a você. Considere a possibilidade de experimentar uma sessão de terapia, e veja como pode fazer a diferença em sua vida. Busque o profissional e a técnica que mais se alinha ao seu perfil e se autoconheça!
Outra dica interessante e que contribui para não sobrecarregar o emocional é: estabeleça metas possíveis, preferencialmente com prazos menores, que você possa dar conta. Assim, evita a ocorrência de frustrações e possibilita um melhor desempenho na execução da tarefa. Entenda e aceite seus limites!
Por fim, é preciso reforçar a importância da implantação de diretrizes e políticas públicas que equiparem posições e faixas salariais, para que sejam promovidas mudanças significativas, em todos os aspectos, no desenvolvimento sustentável da sociedade. Dessa forma, é possível construir um ambiente de trabalho mais justo e com mais oportunidades a todas e todos.
Esperamos que a narrativa aqui apresentada sirva de inspiração e incentivo para você, mulher, que deseja “equilibrar os pratinhos” da sua vida pessoal e profissional com qualidade e saúde. E que tal incrementar esses cuidados lendo um artigo especial que também preparamos para você? Confira os cuidados essenciais com a saúde da mulher. Lembre-se: antes de ser mãe ou profissional, você precisa se cuidar como mulher.