O hormônio anti-Mülleriano (HAM) é uma proteína presente no corpo humano que desempenha um papel muito importante em várias funções do organismo, especialmente na função reprodutiva.
Descoberto na década de 40, o HAM tem uma função relacionada ao desenvolvimento sexual. No sexo masculino, atua na formação dos testículos e na diferenciação dos órgãos reprodutivos masculinos. Mais recentemente, foi reconhecida sua relevância na saúde reprodutiva feminina, sobretudo pela capacidade de avaliar a reserva ovariana e prever a resposta em tratamentos de fertilidade.
Além de contribuir na personalização dos tratamentos de fertilidade, a dosagem do HAM também pode colaborar na prevenção da menopausa, proporcionando um panorama preciso do tempo de vida reprodutiva, ao tempo em que auxilia no diagnóstico de distúrbios reprodutivos.
A infertilidade é um problema de saúde mundial que afeta milhões de pessoas em idade reprodutiva. Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelam que, globalmente, uma em cada seis pessoas é afetada pela infertilidade ao longo da vida. Portanto, a dosagem do HAM pode ter um papel significativo na identificação de problemas relacionados à fertilidade.
Para entender mais sobre a importância do hormônio anti-Mülleriano, a função de sua dosagem e como é feito o exame, continue a leitura deste conteúdo.
O que é o hormônio anti-Mülleriano?
O HAM é uma proteína produzida naturalmente tanto em mulheres quanto em homens, em duas regiões do corpo: nos ovários e nos testículos.
Em mulheres, a produção ocorre nos ovários, nas células que envolvem os óvulos, chamadas de células da granulosa, desempenhando importante função na regulação do desenvolvimento dos ovários e na produção dos óvulos.
Já nos homens, a produção do HAM ocorre durante o desenvolvimento fetal (quando o bebê está se formando), em células específicas dos testículos: as chamadas células de Sertoli. O HAM ajuda no desenvolvimento dos órgãos reprodutivos masculinos, tem a função biológica de inibir o desenvolvimento dos ductos de Müller, prevenindo a formação de estruturas reprodutivas femininas internas.
Após o nascimento, a produção nos homens diminui, enquanto nas mulheres, o hormônio continua a ser sintetizado durante toda a vida reprodutiva. Nos ovários, o hormônio é expresso em folículos primordiais e pequenos folículos antrais, agindo na regulação da foliculogênese — processo pelo qual os folículos ovarianos se desenvolvem e maturam nos ovários das mulheres. Essa função reguladora é fundamental para a manutenção da reserva ovariana ao longo da vida reprodutiva da mulher.
Nesse sentido, o HAM pode ser utilizado como um marcador para a saúde reprodutiva feminina, sendo amplamente utilizado para avaliar a quantidade de óvulos remanescentes nos ovários.
Qual a importância da dosagem do hormônio anti-Mülleriano?
O HAM é considerado um dos melhores marcadores para avaliar a reserva ovariana, que faz referência ao número de folículos viáveis nos ovários e é um indicador da capacidade reprodutiva da mulher.
Sua dosagem é um método confiável para prever a resposta à estimulação ovariana em tratamentos de fertilidade. Segundo estudos, o hormônio não apresenta variações significativas durante o ciclo menstrual, permitindo sua dosagem em qualquer fase do ciclo, facilitando o planejamento e a execução de tratamentos de fertilidade.
Com o avançar da idade, os níveis de HAM diminuem gradualmente, refletindo na diminuição da reserva ovariana. Essa queda é um indicador precoce da menopausa, uma vez que os níveis do hormônio tendem a se tornar indetectáveis cerca de cinco anos antes da cessação das menstruações. Assim, a dosagem do hormônio pode fornecer informações sobre o tempo de vida reprodutiva e auxiliar no planejamento familiar de longo prazo.
Quais as aplicações clínicas do hormônio anti-Mülleriano?
O HAM é utilizado no diagnóstico de vários distúrbios reprodutivos. Em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP), os níveis de HAM estão tipicamente elevados devido ao maior número de folículos antrais (estruturas dentro dos ovários, onde os óvulos se desenvolvem). Em contraste, níveis baixos são indicativos de insuficiência ovariana prematura, uma condição em que a função dos ovários diminui consideravelmente antes dos 40 anos.
A dosagem também auxilia no monitoramento e ajuste de tratamentos de fertilização in vitro, ajudando a prever a resposta dos ovários à estimulação hormonal, permitindo ajustes na dosagem dos medicamentos para maximizar a produção de óvulos e aumentar as chances de sucesso do tratamento.
Na endocrinologia pediátrica, o HAM é utilizado para avaliar a função testicular em meninos com distúrbios do desenvolvimento sexual. Níveis anormais podem indicar disfunções e auxiliar no diagnóstico de condições como a persistência dos ductos de Müller, uma doença rara do desenvolvimento sexual caracterizada pela persistência de derivativos de Müllerianos, do útero e/ou das trompas de Falópio, em rapazes normalmente virilizados.
Como é realizada a dosagem do hormônio anti-Mülleriano?
A dosagem do HAM é realizada, inicialmente, por meio de uma coleta simples de sangue, sem necessidade de preparo específico do paciente. Os valores de referência variam conforme a idade e a fase reprodutiva da mulher. Níveis baixos indicam uma baixa reserva ovariana, e níveis elevados podem sugerir a presença de SOP.
É importante destacar que, para a obtenção de um diagnóstico preciso, a interpretação dos resultados da dosagem de HAM deve ser feita em conjunto com a avaliação clínica e o resultado de outros exames. Também deve ser considerada a variabilidade entre as pessoas e fatores que podem influenciar os níveis do hormônio, como o índice de massa corporal (IMC), o uso de contraceptivos hormonais e a existência de doenças reprodutivas.
O hormônio anti-Mülleriano é uma ferramenta importante na avaliação da saúde reprodutiva da mulher, possibilitando percepções sobre a reserva ovariana e auxiliando no diagnóstico e tratamento de várias condições reprodutivas.
A realização periódica de exames e consultas regulares com especialistas é essencial para o monitoramento da saúde reprodutiva, permitindo intervenções precoces e personalizadas. Quer saber mais sobre a saúde reprodutiva feminina? Então, leia o conteúdo sobre como a síndrome dos ovários policísticos influencia a saúde feminina. Boa leitura!
Sabin avisa:
Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.
Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.
Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.
Referências:
Nelson SM, Davis SR, Kalantaridou S, Lumsden MA, Panay N, Anderson RA. Anti-Müllerian hormone for the diagnosis and prediction of menopause: a systematic review. Hum Reprod Update. 2023 May 2;29(3):327-346. doi: 10.1093/humupd/dmac045
di Clemente N, Racine C, Pierre A, Taieb J. Anti-Müllerian Hormone in Female Reproduction. Endocr Rev. 2021 Nov 16;42(6):753-782. doi: 10.1210/endrev/bnab012
Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Síndrome de Ovários Policísticos. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/publicacoes_ms/pcdt_sndrome-ovrios-policsticos_isbn.pdf. Acesso em: 17/06/2024
World Health Organization. Polycystic ovary syndrome. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/polycystic-ovary-syndrome?gad_source=1&gclid=CjwKCAjwgdayBhBQEiwAXhMxtn90Z1bU94yLrKtdNKtLWBWmap3bCNpg72_oWitL1qkaG3TAFhAQlBoC6Y4QAvD_BwE. Acesso em: 17/06/2024