Mundialmente, estamos vivenciando um cenário de envelhecimento populacional. O avanço da medicina proporcionou maior expectativa de vida para as pessoas, e dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que a proporção de pessoas idosas no mundo pode dobrar até 2050.
Embora a longevidade seja algo perseguido por muitos, alguns cuidados devem ser necessários para preservar a saúde das pessoas idosas, principalmente a saúde mental.
A incidência de transtornos mentais ou neurológicos pode ultrapassar 20% em pessoas acima de 60 anos, uma estimativa que tende a crescer com o avanço da idade. Em geral, os transtornos mentais e neurológicos mais comuns em pessoas idosas são a demência e a depressão.
O grande obstáculo dessas projeções é que, muitas vezes, esses problemas podem não ser facilmente percebidos pelos familiares e pela própria pessoa, ou podem ser diagnosticados mais tardiamente. Ainda existem barreiras e preconceitos que impedem a pessoa idosa de procurar ajuda, seja por vergonha ou falta de informação, gerando agravamento da condição.
Dessa forma, é essencial a discussão sobre a importância da saúde mental em pessoas idosas. Neste conteúdo, você encontrará informações muito importantes sobre os principais transtornos mentais em idosos, quais as suas causas e como garantir a saúde mental dessas pessoas.
Como a saúde mental de pessoas idosas pode ser afetada?
Problemas de saúde mental podem afetar pessoas em qualquer idade, no entanto, pessoas idosas podem ser mais suscetíveis. O processo natural de envelhecimento leva à perda gradativa de habilidades motoras e mentais, gerando uma maior dependência e influenciando o surgimento de transtornos mentais.
Outros fatores também devem ser levados em consideração, principalmente fatores ambientais, genéticos, de estilo de vida e a presença de doenças. A seguir, descrevemos os principais fatores que podem afetar a saúde mental de pessoas idosas.
Fatores de risco
A saúde física gera impactos na saúde mental da pessoa idosa. Dados indicam que portadores de doenças cardíacas, por exemplo, têm maiores taxas de depressão do que pessoas saudáveis. Outros fatores físicos podem afetar negativamente a saúde mental da pessoa idosa, tais como mobilidade reduzida, dor crônica, fragilidade e outros problemas de saúde que levam à dependência e cuidados de longo prazo.
Nessa fase da vida, as pessoas são mais propensas a vivenciar situações de luto ou dificuldades socioeconômicas, fatores que também podem gerar comportamentos de isolamento e sofrimento psicológico.
Outro ponto de bastante importância é a vulnerabilidade da pessoa idosa quanto a abusos, seja físico, psicológico, sexual ou negligência e abandono. O abuso de idosos pode levar a consequências psicológicas graves e duradouras, incluindo depressão e ansiedade.
Além dos fatores mencionados, é necessário pontuar a existência de componentes genéticos capazes de influenciar o desenvolvimento de transtornos mentais. Doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, podem ter predisposição genética, aumentando as chances de ocorrência em idosos.
Quais são os principais transtornos mentais na melhor idade?
A depressão e a ansiedade são os transtornos mentais mais frequentes na melhor idade. A depressão pode causar grande sofrimento, sendo uma condição, muitas vezes, subnotificada e subdiagnosticada.
Em pessoas idosas, a depressão normalmente ocorre associada a questões como a dificuldade na realização de tarefas, que antes eram prazerosas. Fatores externos também podem influenciar, especialmente mudanças drásticas na rotina de vida.
Algumas pessoas idosas recorrem ao isolamento, por vergonha ou pela negação de que precisam de ajuda para realizar certas atividades. Esse tipo de comportamento afeta a autoestima, podendo levá-las a quadros graves de depressão e ansiedade.
Outro transtorno que possui relativa recorrência nessa população é a demência, especialmente em pessoas com mais de 70 anos. A demência é caracterizada por declínio cognitivo, complicações de linguagem, perda de memória e redução da capacidade de resolver problemas (mesmo os mais simples).
É importante diferenciar o declínio cognitivo natural do envelhecimento da demência. Muitas pessoas idosas começam a ter perdas de memória leves e dificuldades de aprender novas informações, uma característica biológica normal. Por outro lado, a demência é uma condição grave e altamente incapacitante, devido aos prejuízos mentais que causa.
A demência pode ser ocasionada por diversos fatores, sendo a doença de Alzheimer um dos principais. Estima-se que, cerca de 60 a 80% de pessoas idosas com demência, tenham Alzheimer. Acidentes vasculares cerebrais, por exemplo, também são causas de demência, pois podem levar a danos no sistema nervoso central, que prejudicam diversos aspectos cognitivos.
Como identificar os sinais de problemas com a saúde mental?
Cada doença tem suas particularidades e sintomas. No entanto, é importante estar atento a sinais gerais que podem indicar problemas na saúde mental da pessoa idosa.
A depressão, geralmente, se manifesta como uma sensação de tristeza e frustração constantes, falta de motivação para tarefas simples do cotidiano, como se alimentar e cuidar da higiene pessoal. A depressão é uma doença grave que pode levar a grande sofrimento e angústia na pessoa idosa, podendo se agravar e desencadear, inclusive, outras doenças.
A ansiedade tem como característica excesso de preocupações e expectativas persistentes, inquietação, fadiga, falta de concentração, tensão muscular e dificuldades para dormir. Em momentos de crise, podem surgir outros sintomas, como aumento dos batimentos do coração e até falta de ar.
A demência, especialmente em casos da doença de Alzheimer, possui caracterização mais complexa. Uma das principais características, nesses casos, é a perda da memória recente. Ou seja, a pessoa idosa começa a ter lapsos de memória de fatos do cotidiano, que ficam, cada vez mais, recorrentes. Com o tempo, a doença progride com perda grave da memória, problemas de fala, dificuldade de realização de tarefas e mudanças comportamentais, entre outros sintomas.
Como é realizado o diagnóstico?
O diagnóstico de transtornos mentais varia de acordo com o caso clínico e a doença envolvida. Em geral, os pacientes são avaliados por um médico especialista (geriatra, neurologista ou psiquiatra), que, baseando-se no quadro clínico, história familiar, hábitos de vida e exame físico, realiza uma hipótese diagnóstica. Após isso, se necessário, solicita exames complementares, como exames de imagem.
Como cuidar da saúde mental e emocional na melhor idade?
Envelhecer com qualidade de vida e com uma mente saudável é possível. Cultivar hábitos de vida saudáveis, como uma alimentação adequada, atividades físicas regulares e boas noites de sono contribuem positivamente para manter a saúde mental.
É fundamental, ainda, cultivar as interações sociais com familiares e amigos. Esse tipo de relacionamento melhora a comunicação, o humor e motiva a pessoa idosa. Manter-se uma pessoa mentalmente e fisicamente ativa também ajuda muito no processo de cognição e memória.
Pessoas idosas, em geral, são mais sensíveis emocionalmente. Por isso, apoio e afeto familiar e de amigos são primordiais. É muito importante que a pessoa idosa se sinta pertencente a um círculo e contexto social. Dessa forma, durante a comunicação com os mais velhos, evite usar termos pejorativos ao se referir à idade. Inclusive, recentemente, o Estatuto do Idoso (Lei nº 14.423/2022) sofreu uma alteração em sua denominação, que agora é Estatuto da Pessoa Idosa, objetivando promover a igualdade de gênero e a inclusão.
Envelhecimento ativo
O processo de envelhecimento pode ser desafiador para algumas pessoas, sob o ponto de vista psicológico. No entanto, é importante que paradigmas sejam superados, a fim de transformar a melhor idade em uma experiência positiva.
Sendo assim, envelhecer com qualidade tem ganhado um novo significado, chamado de “envelhecimento ativo”. Essa é uma terminologia adotada pela OMS como forma de traduzir um processo que envolve a participação contínua da população idosa em questões sociais, culturais e civis.
Ser ativo não significa apenas estar fisicamente ativo ou atuante no mercado de trabalho. O conceito de “envelhecimento ativo” diz respeito a uma maior inclusão social dessas pessoas, em diferentes esferas da nossa sociedade.
Portanto, políticas públicas devem ser implementadas para garantir condições de vida e ambientes que apoiem o bem-estar e permitam que essas pessoas tenham uma vida saudável.
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Referências:
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Centers for Disease Control and Prevention and National Association of Chronic Disease Directors. The State of Mental Health and Aging in America Issue Brief 1: What Do the Data Tell Us? Atlanta, GA: National Association of Chronic Disease Directors; 2008.
Vahia, I. V., Jeste, D. V., & Reynolds, C. F. (2020). Older adults and the mental health effects of COVID-19. Jama, 324(22), 2253-2254.
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