Sabin Por: Sabin
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A infertilidade é um desafio que afeta cerca de 17,5% da população adulta global, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), impactando negativamente a vida de pessoas que pretendem ter filhos. 

Definida como a incapacidade de engravidar após 12 meses ou mais de relações sexuais desprotegidas, a infertilidade pode ser consequência de problemas no sistema reprodutor masculino ou feminino. Nesse contexto, a medicina reprodutiva vem buscando ferramentas diagnósticas eficazes para entender e tratar as diversas causas subjacentes da infertilidade.

O hormônio anti-Mülleriano (HAM) tem emergido como um importante marcador na avaliação da reserva ovariana e na previsão da resposta a tratamentos de estimulação ovariana. Produzido pelas células da granulosa dos folículos ovarianos em desenvolvimento, o HAM oferece uma visão precisa da quantidade e qualidade de oócitos disponíveis, independentemente da fase do ciclo menstrual. 

Além do seu papel diagnóstico, o HAM demonstrou uma grande relevância na identificação e no manejo de condições como a síndrome do ovário policístico (SOP), uma das principais causas de infertilidade feminina.

Continue lendo para aprofundar seu conhecimento sobre como o HAM pode transformar a prática clínica e melhorar os resultados nos tratamentos reprodutivos. Boa leitura!

O que é o hormônio anti-Mülleriano?

O hormônio anti-Mülleriano (HAM) é uma glicoproteína da superfamília do fator de crescimento transformador beta (TGF-β), secretada pelas células da granulosa dos folículos ovarianos. Sua principal função é a regulação do desenvolvimento dos folículos antrais e pré-antrais, durante a fase inicial do crescimento folicular.

O nome do hormônio deriva da sua atuação na diferenciação sexual masculina, uma vez que induz a regressão dos ductos Müllerianos na fase de desenvolvimento fetal. Embora inicialmente relacionado à diferenciação sexual, o HAM é atualmente mais reconhecido como um marcador sérico da função ovariana, sendo fundamental na avaliação da reserva ovariana e na identificação da síndrome do ovário policístico (SOP).

A principal função do HAM é regular o desenvolvimento dos folículos antrais e pré-antrais durante a fase inicial do crescimento folicular. Ele é produzido continuamente pelos pequenos folículos antrais, com níveis mais elevados observados em mulheres durante a fase reprodutiva. Diferentemente de outros marcadores de reserva ovariana, como o hormônio folículo-estimulante (FSH), os níveis de HAM permanecem relativamente constantes ao longo do ciclo menstrual, tornando-o um indicador confiável da reserva ovariana em qualquer fase do ciclo.

Nos folículos atrésicos e nos corpos lúteos, a expressão do HAM é completamente perdida. A expressão do HAM atinge seu pico em folículos de até oito milímetros, estando ausente em folículos maiores que oito milímetros. Esse padrão de expressão é refletido nas concentrações de HAM no fluido folicular, que são mais elevadas em folículos de até oito milímetros e caem drasticamente em folículos maiores.

Nos homens, o HAM é produzido pelas células de Sertoli nos testículos na fase de desenvolvimento fetal, desempenhando um papel importante na regressão dos ductos Müllerianos, necessário para o desenvolvimento normal do sistema reprodutor masculino. Após o nascimento, a produção de HAM pelas células de Sertoli continua, mas em quantidades menores.

Implicações clínicas dos níveis séricos do hormônio anti-Mülleriano

A dosagem do HAM tem várias aplicações clínicas, especialmente na área da reprodução assistida. Seus níveis séricos são utilizados para prever a resposta ovariana à estimulação, bem como personalizar os tratamentos de infertilidade. Mulheres com níveis baixos de HAM geralmente têm uma baixa reserva de oócitos, o que pode indicar uma menor probabilidade de sucesso em tratamentos de reprodução assistida. 

Estudos indicam que a dosagem de HAM é um preditor mais seguro da reserva ovariana em comparação com o FSH, principalmente porque não varia significativamente durante o ciclo menstrual​​​​. Dessa forma, a determinação dos níveis de HAM é utilizada para avaliar a reserva ovariana e prever a resposta à estimulação ovariana controlada (EOC). 

Os níveis de HAM também são utilizados para personalizar a dose de hormônio folículo-estimulante recombinante humano (rFSH) na estimulação ovariana controlada (EOC). Ensaios automatizados, como o Elecsys AMH Plus, são empregados em combinação com o peso corporal para determinar a dose diária ideal de rFSH. Essa abordagem ajuda a otimizar o desenvolvimento de múltiplos folículos e aumentar as chances de sucesso nos programas de tecnologia reprodutiva assistida​​.

Mulheres com níveis elevados de HAM tendem a ter uma resposta mais robusta à estimulação ovariana, enquanto aquelas com níveis baixos podem ter uma resposta fraca ou ausente. Essa informação é essencial para ajustar os protocolos de estimulação e evitar complicações como a síndrome de hiperestimulação ovariana (SHO)​​​​.

No entanto, os níveis elevados de HAM também têm um desdobramento. Eles são frequentemente observados em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP). Essa condição é caracterizada pela presença de múltiplos folículos antrais e é uma das causas mais comuns de infertilidade feminina. A dosagem de HAM pode, portanto, ser uma ferramenta útil no diagnóstico e manejo da SOP​​. 

Como o exame é feito?

A dosagem do HAM é realizada por meio de um exame de sangue simples, normalmente utilizando ensaios automatizados de alta precisão. O exame de HAM é feito a partir de uma amostra de sangue venoso, coletada em qualquer fase do ciclo menstrual, em razão da estabilidade dos níveis do hormônio ao longo do ciclo. A amostra é, então, enviada ao laboratório especializado para análise​​.

Em geral, para a dosagem do HAM, são utilizados os ensaios automatizados, como o Elecsys AMH Plus e o Access AMH. Esses ensaios são preferidos por sua alta precisão e reprodutibilidade. Entretanto, cabe ressaltar que diferentes ensaios podem fornecer resultados ligeiramente diferentes, o que pode impactar as decisões clínicas. Por exemplo, estudos mostraram que o ensaio Access tende a fornecer valores de HAM aproximadamente 10% mais altos do que o Elecsys, o que pode levar a uma dosagem incorreta de medicamentos se não for considerado adequadamente​​.

A interpretação dos níveis de HAM deve ser feita por um médico especialista, que levará em consideração outros fatores clínicos e exames complementares para uma avaliação completa da fertilidade da paciente. Os resultados do exame de HAM são expressos em nanogramas por mililitro (ng/mL) ou picomoles por litro (pmol/L). 

Considerando que os resultados da determinação quantitativa do HAM são utilizados para o doseamento da folitropina delta Ferring, o Sabin Diagnóstico e Saúde emprega o Imunoensaio de Eletroquimioluminescência Elecsys AMH Plus. Os resultados desse teste são disponibilizados nas unidades ng/mL e pmol/L, garantindo precisão e confiabilidade na avaliação da reserva ovariana e na personalização dos tratamentos de estimulação ovariana.

É necessário reconhecer a importância do hormônio anti-Mülleriano (HAM) na avaliação da reserva ovariana, proporcionando uma visão precisa da quantidade de oócitos disponíveis e permitindo a personalização dos tratamentos de infertilidade. 

Ao ajustar com precisão os protocolos de estimulação ovariana a partir dos níveis de HAM, os médicos podem aumentar consideravelmente as chances de sucesso em programas de reprodução assistida. Sendo assim, que tal compartilhar este conteúdo com os seus colegas de profissão?

Referências:

Iliodromiti S, Salje B, Dewailly D, Fairburn C, Fanchin R, Fleming R, Li HWR, Lukaszuk K, Ng EHY, Pigny P, Tadros T, van Helden J, Weiskirchen R, Nelson SM. Non-equivalence of anti-Müllerian hormone automated assays-clinical implications for use as a companion diagnostic for individualised gonadotrophin dosing. Hum Reprod. 2017 Aug 1;32(8):1710-1715. doi: 10.1093/humrep/dex219.

Nathalie di Clemente, Chrystèle Racine, Alice Pierre, Joëlle Taieb, Hormônio antimülleriano na reprodução feminina, Endocrine Reviews , Volume 42, Edição 6, dezembro de 2021, Páginas 753–782, https://doi.org/10.1210/endrev/bnab012

Rudnicka E, Kunicki M, Calik-Ksepka A, Suchta K, Duszewska A, Smolarczyk K, Smolarczyk R. Anti-Müllerian Hormone in Pathogenesis, Diagnostic and Treatment of PCOS. Int J Mol Sci. 2021 Nov 19;22(22):12507. doi: 10.3390/ijms222212507. 

van Tilborg TC, Oudshoorn SC, Eijkemans MJC, Mochtar MH, van Golde RJT, Hoek A, Kuchenbecker WKH, Fleischer K, de Bruin JP, Groen H, van Wely M, Lambalk CB, Laven JSE, Mol BWJ, Broekmans FJM, Torrance HL; OPTIMIST study group. Individualized FSH dosing based on ovarian reserve testing in women starting IVF/ICSI: a multicentre trial and cost-effectiveness analysis. Hum Reprod. 2017 Dec 1;32(12):2485-2495. doi: 10.1093/humrep/dex321

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Saúde reprodutiva feminina: dosagem do hormônio anti-Mülleriano; A infertilidade é um desafio que afeta cerca de 17,5% da população adulta global, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), impactando negativamente a vida de pessoas que pretendem ter filhos.  Definida como a incapacidade de engravidar após 12 meses ou mais de relações sexuais desprotegidas, a infertilidade pode ser consequência de problemas no sistema reprodutor masculino ou feminino. Nesse contexto, a medicina reprodutiva vem buscando ferramentas diagnósticas eficazes para entender e tratar as diversas causas subjacentes da infertilidade. O hormônio anti-Mülleriano (HAM) tem emergido como um importante marcador na avaliação da reserva ovariana e na previsão da resposta a tratamentos de estimulação ovariana. Produzido pelas células da granulosa dos folículos ovarianos em desenvolvimento, o HAM oferece uma visão precisa da quantidade e qualidade de oócitos disponíveis, independentemente da fase do ciclo menstrual.  Além do seu papel diagnóstico, o HAM demonstrou uma grande relevância na identificação e no manejo de condições como a síndrome do ovário policístico (SOP), uma das principais causas de infertilidade feminina. Continue lendo para aprofundar seu conhecimento sobre como o HAM pode transformar a prática clínica e melhorar os resultados nos tratamentos reprodutivos. Boa leitura! O que é o hormônio anti-Mülleriano? O hormônio anti-Mülleriano (HAM) é uma glicoproteína da superfamília do fator de crescimento transformador beta (TGF-β), secretada pelas células da granulosa dos folículos ovarianos. Sua principal função é a regulação do desenvolvimento dos folículos antrais e pré-antrais, durante a fase inicial do crescimento folicular. O nome do hormônio deriva da sua atuação na diferenciação sexual masculina, uma vez que induz a regressão dos ductos Müllerianos na fase de desenvolvimento fetal. Embora inicialmente relacionado à diferenciação sexual, o HAM é atualmente mais reconhecido como um marcador sérico da função ovariana, sendo fundamental na avaliação da reserva ovariana e na identificação da síndrome do ovário policístico (SOP). A principal função do HAM é regular o desenvolvimento dos folículos antrais e pré-antrais durante a fase inicial do crescimento folicular. Ele é produzido continuamente pelos pequenos folículos antrais, com níveis mais elevados observados em mulheres durante a fase reprodutiva. Diferentemente de outros marcadores de reserva ovariana, como o hormônio folículo-estimulante (FSH), os níveis de HAM permanecem relativamente constantes ao longo do ciclo menstrual, tornando-o um indicador confiável da reserva ovariana em qualquer fase do ciclo. Nos folículos atrésicos e nos corpos lúteos, a expressão do HAM é completamente perdida. A expressão do HAM atinge seu pico em folículos de até oito milímetros, estando ausente em folículos maiores que oito milímetros. Esse padrão de expressão é refletido nas concentrações de HAM no fluido folicular, que são mais elevadas em folículos de até oito milímetros e caem drasticamente em folículos maiores. Nos homens, o HAM é produzido pelas células de Sertoli nos testículos na fase de desenvolvimento fetal, desempenhando um papel importante na regressão dos ductos Müllerianos, necessário para o desenvolvimento normal do sistema reprodutor masculino. Após o nascimento, a produção de HAM pelas células de Sertoli continua, mas em quantidades menores. Implicações clínicas dos níveis séricos do hormônio anti-Mülleriano A dosagem do HAM tem várias aplicações clínicas, especialmente na área da reprodução assistida. Seus níveis séricos são utilizados para prever a resposta ovariana à estimulação, bem como personalizar os tratamentos de infertilidade. Mulheres com níveis baixos de HAM geralmente têm uma baixa reserva de oócitos, o que pode indicar uma menor probabilidade de sucesso em tratamentos de reprodução assistida.  Estudos indicam que a dosagem de HAM é um preditor mais seguro da reserva ovariana em comparação com o FSH, principalmente porque não varia significativamente durante o ciclo menstrual​​​​. Dessa forma, a determinação dos níveis de HAM é utilizada para avaliar a reserva ovariana e prever a resposta à estimulação ovariana controlada (EOC).  Os níveis de HAM também são utilizados para personalizar a dose de hormônio folículo-estimulante recombinante humano (rFSH) na estimulação ovariana controlada (EOC). Ensaios automatizados, como o Elecsys AMH Plus, são empregados em combinação com o peso corporal para determinar a dose diária ideal de rFSH. Essa abordagem ajuda a otimizar o desenvolvimento de múltiplos folículos e aumentar as chances de sucesso nos programas de tecnologia reprodutiva assistida​​. Mulheres com níveis elevados de HAM tendem a ter uma resposta mais robusta à estimulação ovariana, enquanto aquelas com níveis baixos podem ter uma resposta fraca ou ausente. Essa informação é essencial para ajustar os protocolos de estimulação e evitar complicações como a síndrome de hiperestimulação ovariana (SHO)​​​​. No entanto, os níveis elevados de HAM também têm um desdobramento. Eles são frequentemente observados em mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP). Essa condição é caracterizada pela presença de múltiplos folículos antrais e é uma das causas mais comuns de infertilidade feminina. A dosagem de HAM pode, portanto, ser uma ferramenta útil no diagnóstico e manejo da SOP​​.  Como o exame é feito? A dosagem do HAM é realizada por meio de um exame de sangue simples, normalmente utilizando ensaios automatizados de alta precisão. O exame de HAM é feito a partir de uma amostra de sangue venoso, coletada em qualquer fase do ciclo menstrual, em razão da estabilidade dos níveis do hormônio ao longo do ciclo. A amostra é, então, enviada ao laboratório especializado para análise​​. Em geral, para a dosagem do HAM, são utilizados os ensaios automatizados, como o Elecsys AMH Plus e o Access AMH. Esses ensaios são preferidos por sua alta precisão e reprodutibilidade. Entretanto, cabe ressaltar que diferentes ensaios podem fornecer resultados ligeiramente diferentes, o que pode impactar as decisões clínicas. Por exemplo, estudos mostraram que o ensaio Access tende a fornecer valores de HAM aproximadamente 10% mais altos do que o Elecsys, o que pode levar a uma dosagem incorreta de medicamentos se não for considerado adequadamente​​. A interpretação dos níveis de HAM deve ser feita por um médico especialista, que levará em consideração outros fatores clínicos e exames complementares para uma avaliação completa da fertilidade da paciente. Os resultados do exame de HAM são expressos em nanogramas por mililitro (ng/mL) ou picomoles por litro (pmol/L).  Considerando que os resultados da determinação quantitativa do HAM são utilizados para o doseamento da folitropina delta Ferring, o Sabin Diagnóstico e Saúde emprega o Imunoensaio de Eletroquimioluminescência Elecsys AMH Plus. Os resultados desse teste são disponibilizados nas unidades ng/mL e pmol/L, garantindo precisão e confiabilidade na avaliação da reserva ovariana e na personalização dos tratamentos de estimulação ovariana. É necessário reconhecer a importância do hormônio anti-Mülleriano (HAM) na avaliação da reserva ovariana, proporcionando uma visão precisa da quantidade de oócitos disponíveis e permitindo a personalização dos tratamentos de infertilidade.  Ao ajustar com precisão os protocolos de estimulação ovariana a partir dos níveis de HAM, os médicos podem aumentar consideravelmente as chances de sucesso em programas de reprodução assistida. Sendo assim, que tal compartilhar este conteúdo com os seus colegas de profissão? Referências: Iliodromiti S, Salje B, Dewailly D, Fairburn C, Fanchin R, Fleming R, Li HWR, Lukaszuk K, Ng EHY, Pigny P, Tadros T, van Helden J, Weiskirchen R, Nelson SM. Non-equivalence of anti-Müllerian hormone automated assays-clinical implications for use as a companion diagnostic for individualised gonadotrophin dosing. Hum Reprod. 2017 Aug 1;32(8):1710-1715. doi: 10.1093/humrep/dex219. Nathalie di Clemente, Chrystèle Racine, Alice Pierre, Joëlle Taieb, Hormônio antimülleriano na reprodução feminina, Endocrine Reviews , Volume 42, Edição 6, dezembro de 2021, Páginas 753–782, https://doi.org/10.1210/endrev/bnab012 Rudnicka E, Kunicki M, Calik-Ksepka A, Suchta K, Duszewska A, Smolarczyk K, Smolarczyk R. Anti-Müllerian Hormone in Pathogenesis, Diagnostic and Treatment of PCOS. Int J Mol Sci. 2021 Nov 19;22(22):12507. doi: 10.3390/ijms222212507.  van Tilborg TC, Oudshoorn SC, Eijkemans MJC, Mochtar MH, van Golde RJT, Hoek A, Kuchenbecker WKH, Fleischer K, de Bruin JP, Groen H, van Wely M, Lambalk CB, Laven JSE, Mol BWJ, Broekmans FJM, Torrance HL; OPTIMIST study group. Individualized FSH dosing based on ovarian reserve testing in women starting IVF/ICSI: a multicentre trial and cost-effectiveness analysis. Hum Reprod. 2017 Dec 1;32(12):2485-2495. doi: 10.1093/humrep/dex321