O curso “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, realizado pelo Grupo Sabin com o objetivo de orientar estudantes dos últimos períodos de medicina e médicos residentes quanto à solicitação adequada de exames, seguiu apresentando temáticas relacionadas à investigação laboratorial de patologias.
Na aula “Quando pensar e como investigar doenças reumáticas autoimunes”, o reumatologista Dr. Wilton Santos levanta a importância do raciocínio clínico na prática médica, determinante para conduzir a uma abordagem terapêutica eficaz. Ao longo da aula, são mostrados estudos de casos de pacientes com doenças autoimunes de origem reumática, em que é possível acompanhar todas as etapas para o desenvolvimento de um diagnóstico preciso.
Nas próximas linhas, você pode acessar o que foi discutido, além do vídeo completo da aula.
O que são doenças autoimunes e quais os tipos principais?
As doenças autoimunes têm como característica principal a produção de autoanticorpos. Esses autoanticorpos podem reconhecer antígenos do próprio organismo, desencadeando uma resposta imune, que cursa com inflamação e dano tecidual.
As doenças autoimunes podem ser divididas em órgão-específicas e não órgão-específicas. As órgão-específicas, como o próprio nome diz, acometem determinados órgãos. Já as não órgão-específicas, também chamadas de sistêmicas, podem afetar, ao mesmo tempo, várias partes do organismo.
Exemplos de doenças autoimunes órgão-específicas:
- diabetes mellitus tipo 1;
- tireoidite de Hashimoto;
- doença de Addison;
- cirrose biliar primária;
- hepatite autoimune;
- doença celíaca;
- vitiligo.
Exemplos de doenças autoimunes não órgão-específicas:
- lúpus eritematoso sistêmico;
- polimiosite/dermatomiosite;
- esclerose sistêmica;
- artrite reumatoide;
- doença mista do tecido conjuntivo;
- síndrome de Sjögren;
- vasculites.
Como investigar uma doença autoimune?
Muitos autoanticorpos são utilizados como biomarcadores das doenças reumáticas autoimunes sistêmicas (DRAS) por serem dosáveis no soro e terem importância tanto diagnóstica quanto prognóstica nesses pacientes.
A importância prognóstica se deve ao fato de que parte desses anticorpos é utilizada como indicativo de atividade de doença ou demonstra valor preditivo para o acometimento de determinados órgãos.
Avaliação laboratorial da autoimunidade
A avaliação de pacientes com suspeita de doença autoimune sistêmica deve focar na pesquisa de autoanticorpos por testes sorológicos, na investigação de inflamação e na monitorização do envolvimento de alguns órgãos e sistemas.
O exame de triagem para dosagem de autoanticorpos é a pesquisa de anticorpos contra antígenos celulares, conhecido como Fator Antinuclear (FAN). Conforme o resultado do FAN e a suspeita clínica, é recomendável prosseguir com a investigação, por meio da dosagem dos anticorpos específicos. A solicitação desses anticorpos deve ser guiada pela hipótese diagnóstica formulada pelo médico.
Teste de FAN
Sendo o mais solicitado atualmente quando se suspeita de uma doença autoimune, o FAN é, portanto, considerado um exame de primeira linha no processo de investigação das DRAS.
Importante destacar que, para a correta interpretação do FAN, dois elementos devem ser rigorosamente observados: o título e o padrão. Eles interferem diretamente no resultado do exame. Em linhas gerais, quanto maior o título mais chance existe de estar diante das DRAS. Padrões distintos de FAN sinalizam para antígenos celulares diferentes, desencadeando a resposta imune, que aponta para doenças também distintas.
Para melhor compreensão sobre a funcionalidade do exame, Dr. Wilton apresenta as diretrizes elaboradas pelos Consensos Brasileiros de FAN, onde é possível visualizar diferentes padrões de fluorescência e suas associações com algumas doenças reumáticas. Além disso, ele mostra os padrões de FAN mais frequentes na rotina laboratorial diária. Convidamos você a assistir no vídeo abaixo:
Teste de anticorpos específicos
O teste de autoanticorpos específicos é baseado na pesquisa de anticorpos associados a determinadas doenças autoimunes.
O critério diagnóstico para a classificação da doença depende da avaliação do biomarcador específico. Exemplo: a presença dos autoanticorpos anti-dsDNA, anti-Sm e anticardiolipina pode dar suporte ao diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico (LES).
A tabela completa dos autoanticorpos mais comuns usados para identificar diversos distúrbios autoimunes sistêmicos pode ser encontrada na apresentação. Confira!
A multiplicidade das manifestações clínicas das doenças autoimunes requer uma investigação criteriosa e bem direcionada para o paciente. “Embora as doenças tenham os mesmos nomes, sua expressão, em cada paciente, é diferente”, conclui Dr. Wilton.
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