Sabin Por: Sabin
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A osteoporose é uma doença sistêmica caracterizada pela redução da densidade mineral óssea (DMO) e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, resultando em aumento da fragilidade óssea e risco de fraturas.

Estima-se que mais de 200 milhões de pessoas sofram de osteoporose em todo o mundo, com a taxa de incidência aumentando de acordo com a idade. A osteoporose é mais comum em mulheres do que em homens; em países desenvolvidos, 2% a 8% dos homens e 9% a 38% das mulheres são afetados. 

Essa condição resulta em, aproximadamente, nove milhões de fraturas por ano. Estudos preveem que cerca de 50% das mulheres e 20% dos homens com mais de 50 anos sofram uma fratura osteoporótica ao longo da vida. Países com menor exposição à vitamina D através da luz solar, como as regiões mais distantes da linha do Equador, apresentam maiores taxas de fratura em comparação com pessoas que vivem em latitudes mais baixas​​.

No Brasil, dados epidemiológicos mostraram que fraturas de baixo impacto foram identificadas em 15,1% das mulheres e 12,8% dos homens avaliados. Os principais sítios de fratura foram: antebraço distal (30%), quadril (12%), úmero (8%), costelas (6%) e coluna (4%). Não foram observadas diferenças significativas em relação ao gênero e à classe social, mas houve maior incidência de fraturas nas mulheres das regiões metropolitanas em comparação com as da área rural.

Este conteúdo contém informações detalhadas sobre abordagens diagnósticas relevantes no manejo da osteoporose. Boa leitura!

Aspectos fisiológicos

O tecido ósseo está em constante remodelação, processo essencial para a reparação de microfraturas e manutenção da resistência estrutural. Esse ciclo é regulado por células especializadas, os osteoblastos, responsáveis pela formação de novo tecido ósseo, e os osteoclastos, que realizam a reabsorção óssea.

Os osteócitos, derivados dos osteoblastos, têm um papel fundamental na manutenção da matriz óssea. Ele possui funções mecânicas que protegem os órgãos internos e promove a sustentação do corpo, além de funções metabólicas, servindo como reserva de sais minerais e participando do equilíbrio eletrolítico. A remodelação óssea é influenciada por estímulos físicos e hormonais, com o paratormônio e a vitamina D regulando os níveis de cálcio sérico.

Existem dois tipos principais de tecido ósseo: trabecular, com estrutura esponjosa e alta atividade metabólica; e cortical, mais sólido e formado por lamelas ósseas, que oferece suporte estrutural. O equilíbrio entre formação e reabsorção óssea é mantido por um complexo sistema de controle. No entanto, fatores como envelhecimento, doenças osteometabólicas, redução da mobilidade e uso de certos medicamentos, podem desestabilizar esse equilíbrio, resultando em osteoporose.

Osteoporose primária e secundária

Conforme sua etiologia, a osteoporose pode ser agrupada entre primária e secundária. A osteoporose primária está relacionada ao envelhecimento e à diminuição dos hormônios sexuais. Em contrapartida, a osteoporose secundária é causada por outras doenças ou tratamentos. 

Homens são mais propensos a desenvolver osteoporose secundária do que mulheres, com medicamentos como glicocorticoides e antiepilépticos sendo conhecidos indutores dessa condição. Outros medicamentos, como agentes quimioterápicos, inibidores da bomba de prótons e tiazolidinedionas, também podem contribuir para a osteoporose.

Doenças como hiperparatireoidismo, anorexia, síndromes de má absorção gastrointestinal, hipertireoidismo, insuficiência renal crônica e síndrome de Cushing, além de qualquer condição que leve à imobilização prolongada, podem causar osteoporose. Amenorreia secundária por mais de um ano, devido a causas como terapia hormonal sem estrogênio, baixo peso corporal e exercício excessivo, também pode resultar em rápida perda de massa óssea.

Pacientes com doenças que afetam a mobilidade, como lesões medulares, podem sofrer rápida deterioração da densidade mineral óssea nas primeiras semanas após essas lesões.

Investigação clínica da osteoporose

A massa óssea atinge seu pico de massa óssea (PMO) durante a puberdade, influenciada por fatores genéticos, saúde, nutrição, estado endócrino, gênero e atividade física. Após o PMO, a reabsorção óssea supera a formação, especialmente após a menopausa e com a idade, aumentando o risco de fraturas, em razão da perda da microarquitetura óssea.

A osteoporose é uma condição silenciosa, passando geralmente despercebida até uma queda de baixo impacto com consequências significativas. Portanto, é importante ter atenção às manifestações clínicas e aos fatores de risco para detecção precoce e intervenção adequada.

A investigação completa da osteoporose inicia-se a partir de um histórico médico detalhado, o que inclui histórico familiar para verificar a incidência de osteoporose ou fraturas em parentes próximos e histórico pessoal com foco na ocorrência de fraturas anteriores, especialmente aquelas de baixo impacto. Além disso, o uso prolongado de medicamentos como corticoides, que podem afetar a densidade óssea, deve ser considerado.

O índice de massa corporal (IMC) é outro fator determinante, uma vez que o baixo peso corporal (<18,5 kg/m²) é associado a um risco aumentado de osteoporose. O estilo de vida também deve ser analisado, considerando hábitos como tabagismo, consumo excessivo de álcool, sedentarismo e uma dieta pobre em cálcio e vitamina D.

Parâmetros clínicos

A medição regular da altura do paciente pode detectar reduções expressivas que indicam perda de estatura. A perda de estatura expressiva ao longo do tempo é um sinal clínico valioso na suspeita de osteoporose. Essa redução pode ser consequência de fraturas vertebrais por compressão, que, frequentemente, ocorrem sem sintomas evidentes de dor aguda.

Microfraturas da coluna vertebral são comuns em pacientes com osteoporose e podem não ser acompanhadas de dor intensa, levando a subdiagnósticos. Radiografias da coluna podem revelar fraturas vertebrais antigas ou em processo de cicatrização, indicando fragilidade óssea. A detecção de microfraturas deve motivar a investigação mais aprofundada da densidade mineral óssea e do risco de futuras fraturas.

Fraturas patológicas e fraturas de repetição, sobretudo aquelas que ocorrem com traumas mínimos, são indicativas de osteoporose. Fraturas de quadril, punho e coluna são as mais comuns, devendo-se sempre levantar a suspeita de osteoporose em pacientes com histórico de quedas leves ou traumas menores que resultam em fraturas.

Como é feito o diagnóstico da osteoporose?

O diagnóstico preciso da osteoporose começa com uma avaliação clínica detalhada realizada pelo médico, que pode determinar a necessidade de uma investigação mais aprofundada.

O exame físico é uma etapa que deve envolver a avaliação da postura, observando-se a presença de curvaturas anormais na coluna, como a cifose, que podem indicar fraturas vertebrais. Adicionalmente, a identificação de dor nas costas também é um fator preponderante, pois pode sugerir a presença de microfraturas vertebrais.

A realização de um perfil metabólico ósseo completo, que combina exames laboratoriais e de imagem, é fundamental para a avaliação da saúde óssea e o diagnóstico da osteoporose.

Perfil metabólico ósseo completo

O perfil metabólico ósseo completo consiste em uma série de exames laboratoriais que fornecem uma visão detalhada do metabolismo ósseo e das possíveis causas secundárias de osteoporose. Os exames abrangem a investigação do paratormônio (PTH), cálcio total e iônico, fósforo, 25-hidroxivitamina D e fosfatase alcalina.

O PTH é um regulador crítico do metabolismo do cálcio e do fósforo. Níveis elevados de PTH podem indicar hiperparatireoidismo, uma causa secundária de osteoporose. O PTH atua aumentando a reabsorção óssea para liberar cálcio no sangue, mantendo a homeostase do cálcio.

É preciso avaliar os níveis de cálcio, tendo em vista que a hipocalcemia pode afetar a saúde óssea. O cálcio é necessário para a contração muscular, a coagulação do sangue e a transmissão nervosa, além de ser um componente da matriz óssea.

Níveis anormais de fósforo podem indicar distúrbios no metabolismo ósseo. O fósforo, com o cálcio, é um componente da hidroxiapatita, o mineral que confere rigidez e resistência aos ossos.

A deficiência de vitamina D está associada às fraturas e perda óssea, já que ela está associada à absorção de cálcio. O exame 25-hidroxivitamina D (25OHD) é o melhor marcador para detectar deficiência de vitamina D e intoxicação exógena.

A fosfatase alcalina é um marcador de atividade osteoblástica. Níveis elevados de fosfatase alcalina podem indicar aumento da formação óssea. Esse exame é particularmente útil para avaliar o estado da remodelação óssea.

Função renal

A insuficiência renal crônica (IRC) é uma condição em que os rins perdem gradualmente a capacidade de filtrar resíduos e manter o equilíbrio de eletrólitos e fluidos no corpo, impactando consideravelmente a saúde óssea. A associação entre IRC e osteoporose é complexa, envolvendo alterações no metabolismo mineral e ósseo, em virtude da função renal reduzida.

Com a redução da capacidade dos rins de excretar fósforo, a consequência é a hiperfosfatemia, que diminui os níveis de cálcio no sangue e estimula a secreção de paratormônio (PTH). O aumento do PTH resulta em maior reabsorção óssea, contribuindo para a perda óssea. Por sua vez, a síntese de calcitriol — a forma ativa da vitamina D — é comprometida, reduzindo a absorção de cálcio no intestino, causando a hipocalcemia.

Esse ciclo promove a reabsorção óssea e aumenta o risco de osteoporose. O acúmulo de toxinas urêmicas na IRC também interfere na função das células ósseas, levando à disfunção osteoblástica e osteoclástica, remodelação óssea inadequada e perda de massa óssea.

CTx (telopeptídeo C-terminal do colágeno tipo I) e osteocalcina 

O CTx é um marcador de reabsorção óssea. Níveis elevados de CTx indicam aumento da atividade osteoclástica — degradação do osso. Esse marcador serve para monitorar a eficácia do tratamento antirreabsortivo.

A osteocalcina é um marcador de formação óssea que ajuda a avaliar a atividade osteoblástica. Níveis elevados de osteocalcina refletem no aumento da formação óssea, enquanto níveis baixos podem indicar deficiência na formação óssea.

Densitometria óssea (DXA)

A densitometria óssea (DXA) é uma medida não invasiva essencial para a avaliação da saúde esquelética e é considerada a tecnologia “padrão-ouro” para o diagnóstico e monitoramento da osteoporose.

A DXA é realizada na coluna, no quadril ou no antebraço, sendo utilizada para medir a densidade mineral óssea (DMO). Esse exame é importante não apenas para diagnosticar a osteoporose, mas também para prever o risco de fratura. Além da DXA, outras tecnologias podem ser utilizadas para avaliar vários sítios esqueléticos.

A DMO é comumente descrita em termos de T-score, sendo a variação do desvio-padrão da DMO de um paciente em comparação com a DMO de uma população de referência adulta, jovem e saudável. Segundo os critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os resultados são classificados conforme abaixo.

  • normal: T-score acima de -1;
  • osteopenia: T-score entre -1 e -2,5;
  • osteoporose: T-score abaixo de -2,5.

Essa classificação ajuda a determinar o risco de fraturas e a necessidade de intervenção terapêutica, bem como serve para monitorar a eficácia do tratamento.

VFA (vertebral fracture assessment)

A avaliação de fratura vertebral (VFA) é um método radiográfico que usa absorciometria de raios-x dupla (DXA). É uma técnica confiável com baixa radiação, realizada durante a medição da densitometria óssea para avaliar deformidades vertebrais.

Como vimos, o diagnóstico da osteoporose requer uma abordagem múltipla, combinando avaliação clínica detalhada e exames laboratoriais e de imagem. A identificação precoce é imprescindível para uma investigação diagnóstica eficaz. Esse processo facilita o caminho para o tratamento adequado e a prevenção de complicações nesses pacientes.

Para ampliar ainda mais seu repertório sobre o preparo de exames, separamos um conteúdo sobre jejum para exames de sangue: quais são os exames que pedem e por que é necessário? Confira!

Referências:

Ana Saavedra, Paula Freitas, Daniel Carvalho‐Braga, Davide Carvalho, Osteoporose em 12 questões, Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, Volume 11, Issue 2, 2016, Pages 296-306, ISSN 1646-3439, https://doi.org/10.1016/

Blackie, R. (2020), Diagnóstico, avaliação e tratamento da osteoporose. Prescriber, 31: 14-19. https://doi.org/10.1002/psb.1815

Goswami R. Primer on the metabolic bone diseases and disorders of mineral metabolism. Indian J Med Res. 2016 Sep;144(3):489–90. doi: 10.4103/0971-5916.198664.

Portaria Conjunta SAES/SECTICS nº 19, de 28 de setembro de 2023, Ministério da Saúde, Brasil. Aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Osteoporose. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/protocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas-pcdt.

Porter JL, Varacallo M. Osteoporose. [Atualizado em 4 de agosto de 2023]. Em: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441901/

Sözen T, Özışık L, Başaran NÇ. An overview and management of osteoporosis. Eur J Rheumatol. 2017 Mar;4(1):46-56. doi: 10.5152/eurjrheum.2016.048. Epub 2016 Dec 30. DOI: 10.5152/eurjrheum.2016.048

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Investigação laboratorial e clínica da osteoporose; A osteoporose é uma doença sistêmica caracterizada pela redução da densidade mineral óssea (DMO) e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, resultando em aumento da fragilidade óssea e risco de fraturas. Estima-se que mais de 200 milhões de pessoas sofram de osteoporose em todo o mundo, com a taxa de incidência aumentando de acordo com a idade. A osteoporose é mais comum em mulheres do que em homens; em países desenvolvidos, 2% a 8% dos homens e 9% a 38% das mulheres são afetados.  Essa condição resulta em, aproximadamente, nove milhões de fraturas por ano. Estudos preveem que cerca de 50% das mulheres e 20% dos homens com mais de 50 anos sofram uma fratura osteoporótica ao longo da vida. Países com menor exposição à vitamina D através da luz solar, como as regiões mais distantes da linha do Equador, apresentam maiores taxas de fratura em comparação com pessoas que vivem em latitudes mais baixas​​. No Brasil, dados epidemiológicos mostraram que fraturas de baixo impacto foram identificadas em 15,1% das mulheres e 12,8% dos homens avaliados. Os principais sítios de fratura foram: antebraço distal (30%), quadril (12%), úmero (8%), costelas (6%) e coluna (4%). Não foram observadas diferenças significativas em relação ao gênero e à classe social, mas houve maior incidência de fraturas nas mulheres das regiões metropolitanas em comparação com as da área rural. Este conteúdo contém informações detalhadas sobre abordagens diagnósticas relevantes no manejo da osteoporose. Boa leitura! Aspectos fisiológicos O tecido ósseo está em constante remodelação, processo essencial para a reparação de microfraturas e manutenção da resistência estrutural. Esse ciclo é regulado por células especializadas, os osteoblastos, responsáveis pela formação de novo tecido ósseo, e os osteoclastos, que realizam a reabsorção óssea. Os osteócitos, derivados dos osteoblastos, têm um papel fundamental na manutenção da matriz óssea. Ele possui funções mecânicas que protegem os órgãos internos e promove a sustentação do corpo, além de funções metabólicas, servindo como reserva de sais minerais e participando do equilíbrio eletrolítico. A remodelação óssea é influenciada por estímulos físicos e hormonais, com o paratormônio e a vitamina D regulando os níveis de cálcio sérico. Existem dois tipos principais de tecido ósseo: trabecular, com estrutura esponjosa e alta atividade metabólica; e cortical, mais sólido e formado por lamelas ósseas, que oferece suporte estrutural. O equilíbrio entre formação e reabsorção óssea é mantido por um complexo sistema de controle. No entanto, fatores como envelhecimento, doenças osteometabólicas, redução da mobilidade e uso de certos medicamentos, podem desestabilizar esse equilíbrio, resultando em osteoporose. Osteoporose primária e secundária Conforme sua etiologia, a osteoporose pode ser agrupada entre primária e secundária. A osteoporose primária está relacionada ao envelhecimento e à diminuição dos hormônios sexuais. Em contrapartida, a osteoporose secundária é causada por outras doenças ou tratamentos.  Homens são mais propensos a desenvolver osteoporose secundária do que mulheres, com medicamentos como glicocorticoides e antiepilépticos sendo conhecidos indutores dessa condição. Outros medicamentos, como agentes quimioterápicos, inibidores da bomba de prótons e tiazolidinedionas, também podem contribuir para a osteoporose. Doenças como hiperparatireoidismo, anorexia, síndromes de má absorção gastrointestinal, hipertireoidismo, insuficiência renal crônica e síndrome de Cushing, além de qualquer condição que leve à imobilização prolongada, podem causar osteoporose. Amenorreia secundária por mais de um ano, devido a causas como terapia hormonal sem estrogênio, baixo peso corporal e exercício excessivo, também pode resultar em rápida perda de massa óssea. Pacientes com doenças que afetam a mobilidade, como lesões medulares, podem sofrer rápida deterioração da densidade mineral óssea nas primeiras semanas após essas lesões. Investigação clínica da osteoporose A massa óssea atinge seu pico de massa óssea (PMO) durante a puberdade, influenciada por fatores genéticos, saúde, nutrição, estado endócrino, gênero e atividade física. Após o PMO, a reabsorção óssea supera a formação, especialmente após a menopausa e com a idade, aumentando o risco de fraturas, em razão da perda da microarquitetura óssea. A osteoporose é uma condição silenciosa, passando geralmente despercebida até uma queda de baixo impacto com consequências significativas. Portanto, é importante ter atenção às manifestações clínicas e aos fatores de risco para detecção precoce e intervenção adequada. A investigação completa da osteoporose inicia-se a partir de um histórico médico detalhado, o que inclui histórico familiar para verificar a incidência de osteoporose ou fraturas em parentes próximos e histórico pessoal com foco na ocorrência de fraturas anteriores, especialmente aquelas de baixo impacto. Além disso, o uso prolongado de medicamentos como corticoides, que podem afetar a densidade óssea, deve ser considerado. O índice de massa corporal (IMC) é outro fator determinante, uma vez que o baixo peso corporal (<18,5 kg/m²) é associado a um risco aumentado de osteoporose. O estilo de vida também deve ser analisado, considerando hábitos como tabagismo, consumo excessivo de álcool, sedentarismo e uma dieta pobre em cálcio e vitamina D. Parâmetros clínicos A medição regular da altura do paciente pode detectar reduções expressivas que indicam perda de estatura. A perda de estatura expressiva ao longo do tempo é um sinal clínico valioso na suspeita de osteoporose. Essa redução pode ser consequência de fraturas vertebrais por compressão, que, frequentemente, ocorrem sem sintomas evidentes de dor aguda. Microfraturas da coluna vertebral são comuns em pacientes com osteoporose e podem não ser acompanhadas de dor intensa, levando a subdiagnósticos. Radiografias da coluna podem revelar fraturas vertebrais antigas ou em processo de cicatrização, indicando fragilidade óssea. A detecção de microfraturas deve motivar a investigação mais aprofundada da densidade mineral óssea e do risco de futuras fraturas. Fraturas patológicas e fraturas de repetição, sobretudo aquelas que ocorrem com traumas mínimos, são indicativas de osteoporose. Fraturas de quadril, punho e coluna são as mais comuns, devendo-se sempre levantar a suspeita de osteoporose em pacientes com histórico de quedas leves ou traumas menores que resultam em fraturas. Como é feito o diagnóstico da osteoporose? O diagnóstico preciso da osteoporose começa com uma avaliação clínica detalhada realizada pelo médico, que pode determinar a necessidade de uma investigação mais aprofundada. O exame físico é uma etapa que deve envolver a avaliação da postura, observando-se a presença de curvaturas anormais na coluna, como a cifose, que podem indicar fraturas vertebrais. Adicionalmente, a identificação de dor nas costas também é um fator preponderante, pois pode sugerir a presença de microfraturas vertebrais. A realização de um perfil metabólico ósseo completo, que combina exames laboratoriais e de imagem, é fundamental para a avaliação da saúde óssea e o diagnóstico da osteoporose. Perfil metabólico ósseo completo O perfil metabólico ósseo completo consiste em uma série de exames laboratoriais que fornecem uma visão detalhada do metabolismo ósseo e das possíveis causas secundárias de osteoporose. Os exames abrangem a investigação do paratormônio (PTH), cálcio total e iônico, fósforo, 25-hidroxivitamina D e fosfatase alcalina. O PTH é um regulador crítico do metabolismo do cálcio e do fósforo. Níveis elevados de PTH podem indicar hiperparatireoidismo, uma causa secundária de osteoporose. O PTH atua aumentando a reabsorção óssea para liberar cálcio no sangue, mantendo a homeostase do cálcio. É preciso avaliar os níveis de cálcio, tendo em vista que a hipocalcemia pode afetar a saúde óssea. O cálcio é necessário para a contração muscular, a coagulação do sangue e a transmissão nervosa, além de ser um componente da matriz óssea. Níveis anormais de fósforo podem indicar distúrbios no metabolismo ósseo. O fósforo, com o cálcio, é um componente da hidroxiapatita, o mineral que confere rigidez e resistência aos ossos. A deficiência de vitamina D está associada às fraturas e perda óssea, já que ela está associada à absorção de cálcio. O exame 25-hidroxivitamina D (25OHD) é o melhor marcador para detectar deficiência de vitamina D e intoxicação exógena. A fosfatase alcalina é um marcador de atividade osteoblástica. Níveis elevados de fosfatase alcalina podem indicar aumento da formação óssea. Esse exame é particularmente útil para avaliar o estado da remodelação óssea. Função renal A insuficiência renal crônica (IRC) é uma condição em que os rins perdem gradualmente a capacidade de filtrar resíduos e manter o equilíbrio de eletrólitos e fluidos no corpo, impactando consideravelmente a saúde óssea. A associação entre IRC e osteoporose é complexa, envolvendo alterações no metabolismo mineral e ósseo, em virtude da função renal reduzida. Com a redução da capacidade dos rins de excretar fósforo, a consequência é a hiperfosfatemia, que diminui os níveis de cálcio no sangue e estimula a secreção de paratormônio (PTH). O aumento do PTH resulta em maior reabsorção óssea, contribuindo para a perda óssea. Por sua vez, a síntese de calcitriol — a forma ativa da vitamina D — é comprometida, reduzindo a absorção de cálcio no intestino, causando a hipocalcemia. Esse ciclo promove a reabsorção óssea e aumenta o risco de osteoporose. O acúmulo de toxinas urêmicas na IRC também interfere na função das células ósseas, levando à disfunção osteoblástica e osteoclástica, remodelação óssea inadequada e perda de massa óssea. CTx (telopeptídeo C-terminal do colágeno tipo I) e osteocalcina  O CTx é um marcador de reabsorção óssea. Níveis elevados de CTx indicam aumento da atividade osteoclástica — degradação do osso. Esse marcador serve para monitorar a eficácia do tratamento antirreabsortivo. A osteocalcina é um marcador de formação óssea que ajuda a avaliar a atividade osteoblástica. Níveis elevados de osteocalcina refletem no aumento da formação óssea, enquanto níveis baixos podem indicar deficiência na formação óssea. Densitometria óssea (DXA) A densitometria óssea (DXA) é uma medida não invasiva essencial para a avaliação da saúde esquelética e é considerada a tecnologia "padrão-ouro" para o diagnóstico e monitoramento da osteoporose. A DXA é realizada na coluna, no quadril ou no antebraço, sendo utilizada para medir a densidade mineral óssea (DMO). Esse exame é importante não apenas para diagnosticar a osteoporose, mas também para prever o risco de fratura. Além da DXA, outras tecnologias podem ser utilizadas para avaliar vários sítios esqueléticos. A DMO é comumente descrita em termos de T-score, sendo a variação do desvio-padrão da DMO de um paciente em comparação com a DMO de uma população de referência adulta, jovem e saudável. Segundo os critérios estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os resultados são classificados conforme abaixo. normal: T-score acima de -1; osteopenia: T-score entre -1 e -2,5; osteoporose: T-score abaixo de -2,5. Essa classificação ajuda a determinar o risco de fraturas e a necessidade de intervenção terapêutica, bem como serve para monitorar a eficácia do tratamento. VFA (vertebral fracture assessment) A avaliação de fratura vertebral (VFA) é um método radiográfico que usa absorciometria de raios-x dupla (DXA). É uma técnica confiável com baixa radiação, realizada durante a medição da densitometria óssea para avaliar deformidades vertebrais. Como vimos, o diagnóstico da osteoporose requer uma abordagem múltipla, combinando avaliação clínica detalhada e exames laboratoriais e de imagem. A identificação precoce é imprescindível para uma investigação diagnóstica eficaz. Esse processo facilita o caminho para o tratamento adequado e a prevenção de complicações nesses pacientes. Para ampliar ainda mais seu repertório sobre o preparo de exames, separamos um conteúdo sobre jejum para exames de sangue: quais são os exames que pedem e por que é necessário? Confira! Referências: Ana Saavedra, Paula Freitas, Daniel Carvalho‐Braga, Davide Carvalho, Osteoporose em 12 questões, Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, Volume 11, Issue 2, 2016, Pages 296-306, ISSN 1646-3439, https://doi.org/10.1016/ Blackie, R. (2020), Diagnóstico, avaliação e tratamento da osteoporose. Prescriber, 31: 14-19. https://doi.org/10.1002/psb.1815 Goswami R. Primer on the metabolic bone diseases and disorders of mineral metabolism. Indian J Med Res. 2016 Sep;144(3):489–90. doi: 10.4103/0971-5916.198664. Portaria Conjunta SAES/SECTICS nº 19, de 28 de setembro de 2023, Ministério da Saúde, Brasil. Aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Osteoporose. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/protocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas-pcdt. Porter JL, Varacallo M. Osteoporose. [Atualizado em 4 de agosto de 2023]. Em: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2024 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441901/ Sözen T, Özışık L, Başaran NÇ. An overview and management of osteoporosis. Eur J Rheumatol. 2017 Mar;4(1):46-56. doi: 10.5152/eurjrheum.2016.048. Epub 2016 Dec 30. DOI: 10.5152/eurjrheum.2016.048