Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), diariamente, mais de um milhão de pessoas adquirem Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) no mundo, sendo a maioria assintomática. As estatísticas destacam a urgência de uma conscientização global sobre diagnóstico precoce, tratamento e prevenção para combater a propagação dessas doenças.
Felizmente, os avanços tecnológicos atuais têm transformado o cenário diagnóstico, proporcionando métodos mais rápidos, eficazes e acessíveis. Diante das novas abordagens, temos a investigação molecular de ISTs, uma alternativa que utiliza técnicas moleculares para identificar diferentes infecções de maneira eficiente e precisa. Entenda mais sobre esses exames e suas aplicações neste conteúdo.
Epidemiologia de ISTs no mundo
Anualmente, estima-se que ocorram 374 milhões de novas infecções sexualmente transmissíveis no mundo, como clamídia, gonorreia, sífilis e tricomoníase, correspondendo a uma em cada quatro ISTs curáveis. Entre elas, a tricomoníase é a mais comum, com 156 milhões de novos casos por ano, seguida pela clamídia (127 milhões), gonorreia (87 milhões) e sífilis (6,3 milhões).
O Mycoplasma genitalium é o microrganismo responsável por cerca de 15 a 20% de todas as uretrites não gonocócicas, 20 a 25% de todos os casos de uretrites não gonocócica não clamídia e cerca de 40% de todas as uretrites recorrentes ou persistentes.
Outra IST extremamente relevante é o vírus herpes simples, com incidência prevista em mais de 500 milhões de pessoas entre 15 e 49 anos. Já a infecção pelo papilomavírus humano (HPV) está associada a mais de 311 mil mortes por câncer do colo do útero a cada ano.
As ISTs também apresentam impactos significativos em gestantes, especialmente quanto à infecção por sífilis. Estudos epidemiológicos indicam que, em 2016, quase um milhão de mulheres grávidas foram infectadas pela doença, resultando em mais de 350 mil resultados adversos no parto.
Todos esses dados ressaltam a importância dessas doenças para a saúde da população. Nesse cenário, o diagnóstico precoce se torna uma ação fundamental para o tratamento e a prevenção de complicações oriundas das ISTs em longo prazo. Identificar essas infecções em estágios iniciais não apenas melhora as perspectivas de tratamento, como também contribui para a redução da disseminação dessas infecções.
Investigação molecular de ISTs
Sem dúvidas, os testes moleculares têm desempenhado um papel crucial no diagnóstico de ISTs, proporcionando melhor sensibilidade e precisão, em comparação aos métodos tradicionais.
O Sabin Diagnóstico e Saúde dispõe de três diferentes testes para a investigação de ISTs:
- Painel molecular para detecção de patógenos associados a ISTs;
- Teste molecular para detecção de Trichomonas vaginalis;
- Painel molecular para úlceras genitais.
A seguir, descreveremos em maiores detalhes as características específicas de cada um dos exames.
Painel molecular para detecção de patógenos associados a ISTs
O painel molecular para detecção de patógenos associados a ISTs é uma ferramenta diagnóstica que permite a detecção simultânea de diferentes agentes patogênicos em uma única amostra. Com o teste, é possível identificar o material genético de sete diferentes microrganismos causadores de ISTs comuns, como Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae, Mycoplasma genitalium, Trichomonas vaginalis, Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum e Ureaplasma parvum.
- Chlamydia trachomatis: a C. trachomatis é uma bactéria intracelular obrigatória que pode infectar os tratos genitais e retais em humanos, sendo capaz de levar a complicações sérias se não tratada, como a doença inflamatória pélvica em mulheres. Recomenda-se rastreio anual em mulheres sexualmente ativas acima dos 25 anos ou naquelas que apresentam fatores de risco;
- Neisseria gonorrhoeae: é a bactéria causadora da gonorreia, doença caracterizada pela presença de corrimento e ardência ao urinar. Se não tratada, a infecção pode levar a complicações como a mencionada doença inflamatória pélvica ou infertilidade, além de aumentar o risco de contrair o HIV. Também recomenda-se rastreio anual em mulheres sexualmente ativas acima dos 25 anos ou na presença de fatores de risco;
- Mycoplasma genitalium/hominis: M. genitalium e M. hominins são bactérias que podem infectar os tratos geniturinários feminino e masculino, causando uretrite, vaginite e doença inflamatória pélvica. A detecção do M. genitalium pode ser muito importante em casos de cervicite mucopurulenta, corrimento cervical ou vaginal com fator de risco para ISTs, sangramento pós-coito, dor pélvica ou em casos de indivíduos expostos a fatores de risco;
- Trichomonas vaginalis: o T. vaginalis é um protozoário flagelado que causa a tricomoníase, uma infecção parasitária comum do trato urogenital. Tanto mulheres quanto homens podem ser afetados, mas as mulheres costumam apresentar sintomas mais evidentes. A tricomoníase está associada a complicações como o aumento do risco de contrair outras ISTs e complicações durante a gravidez;
- Ureaplasma urealyticum e Ureaplasma parvum: ambas as bactérias podem colonizar o trato urinário sem causar doença sintomática. No entanto, em algumas situações, pode levar a infecções genitais, sobretudo em contextos de imunossupressão. Em casos graves, também pode estar associada à doença inflamatória pélvica.
Esse painel é realizado por meio da metodologia de PCR em tempo real multiplex para a detecção de alvos específicos dos microrganismos, utilizando ácidos nucleicos totais purificados. Um gene endógeno humano é usado como controle interno durante todo o processo, sendo o limite de detecção de até 5 mil cópias/mililitro.
A ausência do material genético desses patógenos (não detectado) não exclui a possibilidade de infecção. O teste está sujeito a limitações e interferentes, como coleta inadequada e baixa carga bacteriana e/ou de protozoário na amostra.
Teste molecular para detecção de Trichomonas vaginalis
Conforme visto, a tricomoníase é uma das ISTs com mais alta incidência no mundo. Assim, quando houver forte suspeita clínica da infecção, pode-se utilizar o teste molecular direcionado para a detecção de Trichomonas vaginalis. O exame é feito por meio de PCR em tempo real multiplex, com limite de detecção de 100 cópias/reação.
O laudo do exame deve ser interpretado pelo especialista, correlacionando o contexto clínico e epidemiológico do paciente, em conjunto com outros achados laboratoriais.
Um resultado “não detectado (ausência de material genético)” não exclui a possibilidade de uma infecção, uma vez que o teste está sujeito a limitações, como coleta inadequada e baixa carga do patógeno na amostra. Já um resultado “detectado (presença de material genético)” indica que o material genético do Trichomonas vaginalis foi detectado.
Painel molecular para úlceras genitais
O painel molecular para úlceras genitais avalia alvos específicos para os principais patógenos causadores de úlceras genitais. As úlceras genitais são caracterizadas pela descontinuação da pele ou da mucosa, causando uma ferida aberta, precedidas ou não por pústulas e/ou vesículas que causam sintomas como dor, ardor, coceira, drenagem de material mucopurulento, sangramento e linfadenopatia (íngua) regional.
Podem ser causadas por ISTs como herpes genital (Herpes simplex tipos 1 e 2), sífilis (Treponema pallidum), cancroide (Haemophilus ducreyi) linfogranuloma venéreo (Chlamydia trachomatis sorotipos L1, L2, L3) ou por infecções de transmissão não sexual, como a herpes-zóster (Varicella-zoster vírus) e a citomegalovirose (Citomegalovírus).
Assim como nos outros exames citados, um resultado “não detectado (ausência de material genético)” desses patógenos não exclui a possibilidade de uma infecção, uma vez que o teste também está sujeito às limitações descritas anteriormente.
Já um resultado “detectado (presença de material genético)” significa que o material genético de um ou mais patógenos foi detectado na amostra. O teste avalia a amplificação de genes específicos de cada patógeno (PCR em tempo real multiplex), além de um gene endógeno humano como controle interno para monitorar todo o processo de coleta da amostra, extração de ácido nucleico e para verificar qualquer possível inibição da PCR, sendo o limite de detecção de 100 cópias/reação.
Diagnóstico diferencial
O diagnóstico diferencial de ISTs pode ser desafiador devido à presença de sintomas comuns entre diferentes infecções e à existência de casos assintomáticos. Algumas infecções, como clamídia e gonorreia, podem manifestar-se de maneira semelhante, dificultando a identificação precisa com base apenas nos sintomas clínicos.
Outras ISTs podem apresentar lesões que não são facilmente visíveis, ressaltando a necessidade de métodos de diagnóstico sensíveis e específicos para garantir a detecção precoce.
Nesse sentido, a investigação molecular oferece vantagens significativas frente a métodos tradicionais. São testes que possuem uma sensibilidade equivalente ou maior quando comparados às culturas, permitindo a detecção do patógeno mesmo em indivíduos assintomáticos.
Em comparação às culturas, que podem levar semanas para ficarem prontas, os testes moleculares são muito mais fáceis e rápidos de serem executados, gerando resultados em poucos dias. Isso é crucial para iniciar o tratamento precocemente, interrompendo a transmissão e reduzindo o impacto das ISTs na saúde do paciente.
Os resultados dos testes moleculares ficam prontos em até seis dias úteis. O laudo do exame indica a presença ou ausência do microrganismo-alvo na amostra. Em casos positivos, o relatório pode fornecer informações adicionais, como a carga viral ou a concentração bacteriana, caso haja necessidade. Entretanto, cabe reforçar que o resultado do exame deve sempre ser interpretado considerando o contexto clínico do paciente.
Em suma, o diagnóstico com base nos testes moleculares é uma alternativa altamente precisa e ágil para essas importantes infecções. Suas capacidades discriminativas auxiliam no diagnóstico diferencial, contribuindo para a rápida detecção do agente patogênico e tratamento precoce. Para continuar se atualizando em exames moleculares, sugerimos a leitura do conteúdo sobre o diagnóstico molecular da vaginose bacteriana.
Referências:
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