A elastase pancreática é uma enzima proteolítica produzida pelas células acinares do pâncreas. Essa enzima desempenha um papel muito importante na digestão, ajudando a quebrar proteínas, gorduras e carboidratos no intestino delgado.
Diferentemente de outras enzimas pancreáticas, como a lipase e a amilase, a elastase preserva suas propriedades ao passar pelo trânsito gastrointestinal, permanecendo estável até sua excreção nas fezes.
Assim, ela se torna um marcador confiável da função exócrina pancreática, especialmente em condições como a insuficiência pancreática exócrina (IPE). Entenda melhor sobre a importância do diagnóstica do teste de elastase pancreática.
Insuficiência pancreática exócrina
A IPE ocorre quando o pâncreas não produz enzimas digestivas em quantidade suficiente para a digestão adequada dos nutrientes, como gorduras, proteínas e carboidratos. Isso resulta em má absorção de nutrientes, levando a sintomas como esteatorreia (fezes gordurosas e volumosas), perda de peso e deficiências de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K). Veja, abaixo, as principais causas da IPE.
- Pancreatite crônica: inflamação persistente do pâncreas que danifica o tecido pancreático, afetando sua função enzimática;
- Fibrose cística: doença genética que provoca o acúmulo de muco nos ductos pancreáticos, dificultando a liberação das enzimas;
- Tumores pancreáticos: bloqueiam o fluxo enzimático e reduzem a função do pâncreas;
- Diabetes tipo 1 e tipo 2: associados à disfunção pancreática exócrina devido a processos inflamatórios ou degenerativos no órgão.
O diagnóstico de IPE envolve a combinação de testes laboratoriais e exames de imagem. O teste de gordura fecal em 72 horas ainda é utilizado para avaliar a absorção lipídica, e a ultrassonografia ou a tomografia computadorizada ajuda a identificar possíveis alterações estruturais no pâncreas.
Importância do teste de elastase pancreática
O teste de elastase pancreática é uma ferramenta diagnóstica relevante para avaliar a função exócrina do pâncreas de forma precisa e não invasiva. Em razão da alta estabilidade, a enzima elastase permite que a concentração nas fezes seja um reflexo direto da capacidade secretória exócrina do pâncreas, o que o diferencia de outros exames mais complexos e invasivos.
Em pacientes com condições como pancreatite crônica, fibrose cística, câncer de pâncreas e diabetes mellitus, níveis reduzidos de elastase nas fezes são um indicativo claro de insuficiência pancreática exócrina (IPE).
A interpretação do teste pode ser ainda mais valiosa quando associada a exames de imagem e à dosagem de gordura fecal. Valores baixos de elastase fecal, juntamente com alterações nos exames de imagem, indicam pancreatite crônica. Já níveis normais de elastase com exames de imagem alterados podem sugerir condições pancreáticas leves ou moderadas.
No Sabin, o teste de elastase pancreática fecal é realizado por quimioluminescência. Níveis de elastase fecal acima de 200 µg/g indicam uma função exócrina pancreática normal. Valores entre 100 e 200 µg/g sinalizam insuficiência leve a moderada, enquanto níveis abaixo de 100 µg/g são indicativos de insuficiência exócrina grave.
Aplicações clínicas além da insuficiência pancreática exócrina
Além do diagnóstico de IPE, o teste de elastase pancreática fecal pode ser utilizado para outras aplicações clínicas.
- Doenças inflamatórias intestinais: em alguns pacientes com colite ulcerativa (10%) e doença de Crohn (4%), a função pancreática pode ser prejudicada, refletindo-se em níveis baixos de elastase fecal;
- Fibrose cística: o teste é utilizado para monitorar a função pancreática em crianças e adultos com fibrose cística, auxiliando no acompanhamento e no ajuste da terapia enzimática de reposição;
- Síndrome do intestino irritável (SII): estudos em andamento investigam a relação entre disfunção pancreática e SII, avaliando como o teste de elastase pode ser útil para diferenciar disfunções digestivas;
- Pancreatite aguda: durante episódios de inflamação aguda do pâncreas, a elastase pancreática 1 (E1) pode ser liberada na circulação sanguínea. A quantificação da elastase nas fezes, associada a outros exames, auxilia no diagnóstico diferencial de pancreatite aguda, ajudando a confirmar ou excluir a presença da condição e permitindo intervenções rápidas e direcionadas.
Vantagens do teste de elastase pancreática
Conforme mencionado, o teste de elastase pancreática é reconhecido como uma ferramenta prática e precisa na avaliação da função exócrina do pâncreas. A seguir, estão descritas suas principais vantagens.
- Conforto para o paciente: a coleta é simples e requer apenas uma amostra de fezes, sem a necessidade de preparo dietético ou coletas prolongadas, como ocorre no teste de gordura fecal;
- Alta especificidade e estabilidade: a elastase pancreática é resistente à degradação bacteriana no trato digestivo e não sofre interferência de enzimas de reposição, permitindo uma medição precisa que reflete diretamente a função pancreática. O teste pode ser realizado no decorrer do acompanhamento do tratamento, inclusive durante a terapia de reposição enzimática pancreática (PERT). De acordo com as diretrizes da American Gastroenterological Association, o teste de elastase fecal não é alterado pelo uso de PERT;
- Metodologia de quimioluminescência: a tecnologia de quimioluminescência utilizada no teste aumenta a sensibilidade e especificidade, garantindo uma detecção precisa dos níveis de elastase fecal e facilitando a identificação de diferentes graus de insuficiência pancreática.
Essas características fazem do exame uma ferramenta padrão-ouro no diagnóstico e no acompanhamento de condições que afetam a função exócrina pancreática, proporcionando uma avaliação completa e confiável para suporte clínico.
Limitações do exame
Apesar de ser um método eficaz para diagnosticar insuficiência exócrina grave, o teste de elastase pancreática apresenta algumas limitações. Ele pode não detectar disfunções pancreáticas leves, em virtude da alta reserva funcional do pâncreas.
Além disso, condições como diarreia severa e uso recente de antibióticos podem interferir nos resultados, levando a falso-positivos ou negativos. Em certos casos, é recomendada a realização de exames complementares, como imagem ou dosagem de gordura fecal, para uma análise mais abrangente da função pancreática.
Ainda assim, o teste de elastase pancreática é um recurso fundamental para a avaliação da função pancreática, auxiliando no diagnóstico e no monitoramento. Com alta precisão, coleta simplificada e metodologia avançada, esse exame se destaca como um aliado no acompanhamento clínico, possibilitando decisões clínicas e intervenções terapêuticas personalizadas, que aprimoram o cuidado ao paciente.
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Referências:
Capurso G, Traini M, Piciucchi M, Signoretti M, Arcidiacono PG. Exocrine pancreatic insufficiency: prevalence, diagnosis, and management. Clin Exp Gastroenterol. 2019 Mar 21;12:129-139. doi: 10.2147/CEG.S168266.
CONITEC. Relatório técnico sobre o teste de elastase pancreática. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2022/sociedade/20220509_relsoc_299_teste_elastase-_final.pdf
SOCIEDADE BRASILEIRA DE GASTROENTEROLOGIA. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Insuficiência Pancreática Exócrina. Brasília, 2010. Disponível em: https://www.saudedireta.com.br/docsupload/1339890645pcdt_insuficiencia_pancreatica_exocrina_livro_2010.pdf.