Sabin Por: Sabin
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A talassemia é uma doença hereditária causada por mutações presentes nos genes da globina, e é enquadrada em um grupo de doenças do sangue chamadas hemoglobinopatias. Acredita-se que até 3% da população mundial carrega o gene, transformando a talassemia na doença genética mais frequente no mundo. 

Estimativas apontam que, no ano de 2013, a talassemia afetou cerca de 280 milhões de pessoas no mundo, sendo que mais de 400 mil eram portadoras da forma mais grave da doença. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), em 2022, foram registrados cerca de 930 casos da doença.

A talassemia possui diferentes tipos, envolvendo, principalmente, a presença de anemia. Os quadros clínicos variam de brandos até formas graves, que podem levar à morte se não tratadas adequadamente.

Neste conteúdo, você irá entender o que é a talassemia e os tipos alfa e beta, os sintomas, como é feito o diagnóstico e os tratamentos disponíveis. 

O que é talassemia?

A talassemia é uma doença genética hereditária (transmitida de pais para filhos) causada por mutações nos genes da globina, o que leva a alterações na produção dessa proteína nas hemácias, os glóbulos vermelhos do sangue. A deficiência na produção de hemoglobina pode levar ao mau funcionamento de órgãos e tecidos do corpo, em decorrência da carência de oxigênio.

Para um melhor entendimento sobre o impacto da talassemia na saúde, é importante, primeiramente, compreender a importância da hemoglobina para o funcionamento do corpo humano. Certamente, ao fazer o seu check-up, você já deve ter lido ou ouvido falar do exame de hemograma, no qual consta a dosagem da hemoglobina.

A hemoglobina é uma proteína presente nas hemácias, que dá coloração vermelha ao sangue. Sua função consiste no transporte do oxigênio dos pulmões para todos os tecidos e órgãos do corpo. O oxigênio é essencial nos processos metabólicos ocorridos nas células, para a geração da energia que o organismo precisa.

Quando a quantidade de hemoglobina está abaixo dos valores considerados normais, a pessoa é diagnosticada com anemia, quadro que pode ter diferentes causas, incluindo a diminuição da produção de hemácias, em virtude de doenças como a anemia falciforme e a talassemia.

Em um adulto saudável, a maior parte da hemoglobina é do tipo A1, constituída por dois tipos de globinas: a cadeia alfa e a cadeia beta. Os genes que dão origem à cadeia alfa estão localizados no cromossomo 16, e os que dão origem à cadeia beta encontram-se no cromossomo 11. Mutações nesses genes resultam em alterações na produção das respectivas cadeias e, consequentemente, na disfunção da hemoglobina. Dessa forma, existem dois tipos mais frequentes de talassemia, a talassemia alfa e a talassemia beta, conforme explicaremos, em maiores detalhes, a seguir.

Talassemia alfa 

Pessoas portadoras de talassemia alfa podem apresentar mutações em até quatro genes alfa, desencadeando diferentes graus da doença, a depender da quantidade de genes afetados. 

As apresentações clínicas da talassemia alfa englobam quatro tipos:

  • Portador silencioso: apenas um gene afetado, não apresenta manifestações clínicas e não precisa de tratamento;
  • Traço alfa-talassêmico: geralmente, não há sintomas clínicos, somente alterações no hemograma (hipocromia e microcitose com ou sem anemia leve);
  • Doença da hemoglobina H: três genes alterados. É considerado um caso moderado a grave, pois, apesar de ser produzida, a hemoglobina é mais instável do que o normal, ocasionando menor tempo de vida para as hemácias e anemia no paciente;
  • Síndrome da hidropsia fetal: quatro genes alterados, resultando em incapacidade de produção da cadeia alfa pelo organismo. É uma síndrome rara e que pode levar o feto a óbito antes mesmo do nascimento, caso não seja feito nenhum tratamento. Em países do sudeste asiático, existem muitos portadores de deleção em dois genes que podem vir a se casar. Assim, utiliza-se a triagem precoce desses casais, como forma preventiva, para avaliar os riscos envolvidos.

A  talassemia alfa é um problema grave e de alta incidência em países do sudeste da Ásia. No Brasil, as manifestações mais comumente encontradas com esse tipo de talassemia são relacionadas à anemia leve ou apenas a alterações em hemograma (hipocromia, microcitose, por exemplo), portadores silenciosos ou traço alfa.

Talassemia beta

Na talassemia beta, ocorrem mutações nos genes da beta-globina. Devido à alta prevalência em países como Itália, Grécia, Líbano, Tunísia e Argélia (países mediterrâneos), a talassemia beta ficou conhecida como a anemia do Mediterrâneo. É clinicamente dividida em três tipos: talassemia menor (ou traço talassêmico), talassemia intermédia e talassemia maior.

Na talassemia menor, os portadores apresentam apenas um gene com a mutação, sem sintomas ou apenas anemia discreta, e não há necessidade de tratamento. Enquanto na talassemia intermédia, a anemia é mais importante e o paciente apresenta fígado e baço aumentados, entre outros sinais e sintomas. Na talassemia maior, o paciente apresenta anemia — geralmente, no primeiro ano de vida —, que pode ser grave, se não for diagnosticada precocemente.

As classificações menor, maior e intermédia são definidas com base em dados clínicos e valores da hemoglobina, e não necessariamente no genótipo do paciente, embora seja comum que indivíduos heterozigotos para as mutações manifestem a forma menor.

Quais os sintomas da talassemia?

Os sintomas da talassemia dependem da gravidade da doença. Além da anemia, podem incluir cansaço, fraqueza, palidez, atraso no crescimento de crianças, irritabilidade, aumento do baço e fígado, alterações ósseas (em pacientes não tratados ou tratados tardiamente) e suscetibilidade a infecções.

Do ponto de vista laboratorial, as hemácias apresentam redução de tamanho (microcitose), formas não usuais (alvo) e perda de coloração (hipocromia).

Para a realização do diagnóstico, o paciente deve ser acompanhado por um hematologista, que solicitará todos os exames necessários. No caso de suspeita de talassemia em bebês, o pediatra deve ser consultado e fará o encaminhamento para outros profissionais. 

A talassemia, nas formas intermédia e maior, é uma doença grave que precisa de acompanhamento médico ao longo de toda a vida do paciente. O atendimento precisa ser multiprofissional, uma vez que pode acometer vários órgãos, necessitando de especialistas como cardiologistas, hepatologistas, endocrinologistas, bem como apoio psicológico.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico deve ser realizado através de um conjunto de exames e avaliações clínicas do paciente. A avaliação clínica em consultório é o primeiro passo para checar a suspeita de talassemia. Em seguida, o médico solicitará exames hematológicos, como o hemograma, para avaliar a presença de anemia e outras alterações sanguíneas.

O exame que mais sugere o diagnóstico da talassemia é a eletroforese de hemoglobinas, técnica que permite identificar a presença de alterações estruturais relacionadas à hemoglobina. Com isso, é possível realizar a diferenciação de hemoglobinopatias, como a anemia falciforme e as talassemias alfa e beta. É um exame utilizado também na triagem neonatal, quando os pais têm alto risco de anormalidades na hemoglobina. 

Podem ser solicitados, ainda, exames de esfregaço de sangue periférico, para avaliar o formato e outras características físicas dos glóbulos vermelhos do paciente. A investigação do ferro é útil para o diagnóstico diferencial de outras anemias que possam apresentar hemácias com forma semelhante à talassemia (microcíticas e hipocrômicas), como a anemia ferropriva.

A talassemia pode ser detectada também na triagem neonatal (teste do pezinho), ou seja, nos primeiros dias de vida do recém-nascido. Atualmente, o Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministério da Saúde engloba a triagem para hemoglobinopatias, incluindo as formas homozigóticas da talassemia beta e da talassemia alfa, as quais podem ser diagnosticadas antes mesmo da apresentação do quadro clínico.

O estudo genético para a investigação da presença de mutações características da talassemia é possível com a análise do DNA do paciente, por meio do Sequenciamento de Nova Geração (NGS). O NGS é uma técnica moderna que consegue checar todas as mutações nos genes das cadeias das hemoglobinas, e é capaz de identificar com exatidão quais mutações estão associadas à talassemia, em cada indivíduo.

Quais os tratamentos para a talassemia?

O tratamento dependerá do tipo e da gravidade da doença. Na talassemia menor, os sintomas são brandos e, em geral, a pessoa não precisará de tratamento. Nos quadros intermédia e maior, existem protocolos internacionais que possuem dois braços terapêuticos: transfusões sanguíneas regulares e uso de quelantes de ferro, utilizados para retirar o ferro recebido por meio das transfusões do organismo. Para os casos de talassemia maior, o transplante de medula óssea é um tratamento que representa a cura para o paciente.  

Por fim, há a opção da terapia gênica, um procedimento recentemente desenvolvido que pode ser realizado em pacientes com quadros graves de talassemia, possibilitando a cura da doença. É uma técnica que envolve a coleta de células-tronco da medula do próprio indivíduo portador, as quais são modificadas geneticamente em laboratório, a fim de corrigir as mutações para recolocá-las no paciente.

Como a talassemia é uma doença de origem genética, a prevenção pode ser feita por meio do aconselhamento genético. A avaliação hematológica dos pais por meio de hemograma, eletroforese de hemoglobina e a confirmação pela pesquisa das mutações auxiliam esse tipo de análise. 

Para realizar o aconselhamento genético, são utilizadas modernas técnicas de análise genômica, possibilitando a pesquisa das mutações mais frequentes no Brasil. A detecção de genes mutantes nos pais é uma excelente alternativa para conhecer os riscos associados ao desenvolvimento da doença em futuros filhos.

É importante destacar que a melhor maneira de minimizar os danos à saúde do paciente é a realização do diagnóstico precoce e início rápido do tratamento. Assim, é possível garantir uma melhor expectativa e qualidade de vida ao portador da talassemia. Agora que você já sabe o que é a talassemia, sugerimos a leitura do conteúdo sobre doenças causadas por mutações genéticas. Boa leitura!

Referências:

ABRASTA. O que é a talassemia? Disponível em: https://abrasta.org.br/o-que-e/ Acesso em: 19/04/2023.

Bajwa H, Basit H. Thalassemia. [Updated 2022 Aug 8]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK545151/

CDC. What is Thalassemia? Disponível em: https://www.cdc.gov/ncbddd/thalassemia/facts.html Acesso em: 19/04/2023

Imamura, T. The molecular basis of the thalassemia syndromes. Jap J Human Genet 22, 113–128 (1977). https://doi.org/10.1007/BF01874278

Mayo. Thalassemia. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/thalassemia/symptoms-causes/syc-20354995 Acesso em: 19/04/2023Origa, R. β-Thalassemia. Genet Med 19, 609–619 (2017). https://doi.org/10.1038/gim.2016.173

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O que é a talassemia? Saiba mais sobre essa doença; A talassemia é uma doença hereditária causada por mutações presentes nos genes da globina, e é enquadrada em um grupo de doenças do sangue chamadas hemoglobinopatias. Acredita-se que até 3% da população mundial carrega o gene, transformando a talassemia na doença genética mais frequente no mundo.  Estimativas apontam que, no ano de 2013, a talassemia afetou cerca de 280 milhões de pessoas no mundo, sendo que mais de 400 mil eram portadoras da forma mais grave da doença. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), em 2022, foram registrados cerca de 930 casos da doença. A talassemia possui diferentes tipos, envolvendo, principalmente, a presença de anemia. Os quadros clínicos variam de brandos até formas graves, que podem levar à morte se não tratadas adequadamente. Neste conteúdo, você irá entender o que é a talassemia e os tipos alfa e beta, os sintomas, como é feito o diagnóstico e os tratamentos disponíveis.  O que é talassemia? A talassemia é uma doença genética hereditária (transmitida de pais para filhos) causada por mutações nos genes da globina, o que leva a alterações na produção dessa proteína nas hemácias, os glóbulos vermelhos do sangue. A deficiência na produção de hemoglobina pode levar ao mau funcionamento de órgãos e tecidos do corpo, em decorrência da carência de oxigênio. Para um melhor entendimento sobre o impacto da talassemia na saúde, é importante, primeiramente, compreender a importância da hemoglobina para o funcionamento do corpo humano. Certamente, ao fazer o seu check-up, você já deve ter lido ou ouvido falar do exame de hemograma, no qual consta a dosagem da hemoglobina. A hemoglobina é uma proteína presente nas hemácias, que dá coloração vermelha ao sangue. Sua função consiste no transporte do oxigênio dos pulmões para todos os tecidos e órgãos do corpo. O oxigênio é essencial nos processos metabólicos ocorridos nas células, para a geração da energia que o organismo precisa. Quando a quantidade de hemoglobina está abaixo dos valores considerados normais, a pessoa é diagnosticada com anemia, quadro que pode ter diferentes causas, incluindo a diminuição da produção de hemácias, em virtude de doenças como a anemia falciforme e a talassemia. Em um adulto saudável, a maior parte da hemoglobina é do tipo A1, constituída por dois tipos de globinas: a cadeia alfa e a cadeia beta. Os genes que dão origem à cadeia alfa estão localizados no cromossomo 16, e os que dão origem à cadeia beta encontram-se no cromossomo 11. Mutações nesses genes resultam em alterações na produção das respectivas cadeias e, consequentemente, na disfunção da hemoglobina. Dessa forma, existem dois tipos mais frequentes de talassemia, a talassemia alfa e a talassemia beta, conforme explicaremos, em maiores detalhes, a seguir. Talassemia alfa  Pessoas portadoras de talassemia alfa podem apresentar mutações em até quatro genes alfa, desencadeando diferentes graus da doença, a depender da quantidade de genes afetados.  As apresentações clínicas da talassemia alfa englobam quatro tipos: Portador silencioso: apenas um gene afetado, não apresenta manifestações clínicas e não precisa de tratamento; Traço alfa-talassêmico: geralmente, não há sintomas clínicos, somente alterações no hemograma (hipocromia e microcitose com ou sem anemia leve); Doença da hemoglobina H: três genes alterados. É considerado um caso moderado a grave, pois, apesar de ser produzida, a hemoglobina é mais instável do que o normal, ocasionando menor tempo de vida para as hemácias e anemia no paciente; Síndrome da hidropsia fetal: quatro genes alterados, resultando em incapacidade de produção da cadeia alfa pelo organismo. É uma síndrome rara e que pode levar o feto a óbito antes mesmo do nascimento, caso não seja feito nenhum tratamento. Em países do sudeste asiático, existem muitos portadores de deleção em dois genes que podem vir a se casar. Assim, utiliza-se a triagem precoce desses casais, como forma preventiva, para avaliar os riscos envolvidos. A  talassemia alfa é um problema grave e de alta incidência em países do sudeste da Ásia. No Brasil, as manifestações mais comumente encontradas com esse tipo de talassemia são relacionadas à anemia leve ou apenas a alterações em hemograma (hipocromia, microcitose, por exemplo), portadores silenciosos ou traço alfa. Talassemia beta Na talassemia beta, ocorrem mutações nos genes da beta-globina. Devido à alta prevalência em países como Itália, Grécia, Líbano, Tunísia e Argélia (países mediterrâneos), a talassemia beta ficou conhecida como a anemia do Mediterrâneo. É clinicamente dividida em três tipos: talassemia menor (ou traço talassêmico), talassemia intermédia e talassemia maior. Na talassemia menor, os portadores apresentam apenas um gene com a mutação, sem sintomas ou apenas anemia discreta, e não há necessidade de tratamento. Enquanto na talassemia intermédia, a anemia é mais importante e o paciente apresenta fígado e baço aumentados, entre outros sinais e sintomas. Na talassemia maior, o paciente apresenta anemia — geralmente, no primeiro ano de vida —, que pode ser grave, se não for diagnosticada precocemente. As classificações menor, maior e intermédia são definidas com base em dados clínicos e valores da hemoglobina, e não necessariamente no genótipo do paciente, embora seja comum que indivíduos heterozigotos para as mutações manifestem a forma menor. Quais os sintomas da talassemia? Os sintomas da talassemia dependem da gravidade da doença. Além da anemia, podem incluir cansaço, fraqueza, palidez, atraso no crescimento de crianças, irritabilidade, aumento do baço e fígado, alterações ósseas (em pacientes não tratados ou tratados tardiamente) e suscetibilidade a infecções. Do ponto de vista laboratorial, as hemácias apresentam redução de tamanho (microcitose), formas não usuais (alvo) e perda de coloração (hipocromia). Para a realização do diagnóstico, o paciente deve ser acompanhado por um hematologista, que solicitará todos os exames necessários. No caso de suspeita de talassemia em bebês, o pediatra deve ser consultado e fará o encaminhamento para outros profissionais.  A talassemia, nas formas intermédia e maior, é uma doença grave que precisa de acompanhamento médico ao longo de toda a vida do paciente. O atendimento precisa ser multiprofissional, uma vez que pode acometer vários órgãos, necessitando de especialistas como cardiologistas, hepatologistas, endocrinologistas, bem como apoio psicológico. Como é feito o diagnóstico? O diagnóstico deve ser realizado através de um conjunto de exames e avaliações clínicas do paciente. A avaliação clínica em consultório é o primeiro passo para checar a suspeita de talassemia. Em seguida, o médico solicitará exames hematológicos, como o hemograma, para avaliar a presença de anemia e outras alterações sanguíneas. O exame que mais sugere o diagnóstico da talassemia é a eletroforese de hemoglobinas, técnica que permite identificar a presença de alterações estruturais relacionadas à hemoglobina. Com isso, é possível realizar a diferenciação de hemoglobinopatias, como a anemia falciforme e as talassemias alfa e beta. É um exame utilizado também na triagem neonatal, quando os pais têm alto risco de anormalidades na hemoglobina.  Podem ser solicitados, ainda, exames de esfregaço de sangue periférico, para avaliar o formato e outras características físicas dos glóbulos vermelhos do paciente. A investigação do ferro é útil para o diagnóstico diferencial de outras anemias que possam apresentar hemácias com forma semelhante à talassemia (microcíticas e hipocrômicas), como a anemia ferropriva. A talassemia pode ser detectada também na triagem neonatal (teste do pezinho), ou seja, nos primeiros dias de vida do recém-nascido. Atualmente, o Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministério da Saúde engloba a triagem para hemoglobinopatias, incluindo as formas homozigóticas da talassemia beta e da talassemia alfa, as quais podem ser diagnosticadas antes mesmo da apresentação do quadro clínico. O estudo genético para a investigação da presença de mutações características da talassemia é possível com a análise do DNA do paciente, por meio do Sequenciamento de Nova Geração (NGS). O NGS é uma técnica moderna que consegue checar todas as mutações nos genes das cadeias das hemoglobinas, e é capaz de identificar com exatidão quais mutações estão associadas à talassemia, em cada indivíduo. Quais os tratamentos para a talassemia? O tratamento dependerá do tipo e da gravidade da doença. Na talassemia menor, os sintomas são brandos e, em geral, a pessoa não precisará de tratamento. Nos quadros intermédia e maior, existem protocolos internacionais que possuem dois braços terapêuticos: transfusões sanguíneas regulares e uso de quelantes de ferro, utilizados para retirar o ferro recebido por meio das transfusões do organismo. Para os casos de talassemia maior, o transplante de medula óssea é um tratamento que representa a cura para o paciente.   Por fim, há a opção da terapia gênica, um procedimento recentemente desenvolvido que pode ser realizado em pacientes com quadros graves de talassemia, possibilitando a cura da doença. É uma técnica que envolve a coleta de células-tronco da medula do próprio indivíduo portador, as quais são modificadas geneticamente em laboratório, a fim de corrigir as mutações para recolocá-las no paciente. Como a talassemia é uma doença de origem genética, a prevenção pode ser feita por meio do aconselhamento genético. A avaliação hematológica dos pais por meio de hemograma, eletroforese de hemoglobina e a confirmação pela pesquisa das mutações auxiliam esse tipo de análise.  Para realizar o aconselhamento genético, são utilizadas modernas técnicas de análise genômica, possibilitando a pesquisa das mutações mais frequentes no Brasil. A detecção de genes mutantes nos pais é uma excelente alternativa para conhecer os riscos associados ao desenvolvimento da doença em futuros filhos. É importante destacar que a melhor maneira de minimizar os danos à saúde do paciente é a realização do diagnóstico precoce e início rápido do tratamento. Assim, é possível garantir uma melhor expectativa e qualidade de vida ao portador da talassemia. Agora que você já sabe o que é a talassemia, sugerimos a leitura do conteúdo sobre doenças causadas por mutações genéticas. Boa leitura! Referências: ABRASTA. O que é a talassemia? Disponível em: https://abrasta.org.br/o-que-e/ Acesso em: 19/04/2023. Bajwa H, Basit H. Thalassemia. [Updated 2022 Aug 8]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK545151/ CDC. What is Thalassemia? Disponível em: https://www.cdc.gov/ncbddd/thalassemia/facts.html Acesso em: 19/04/2023 Imamura, T. The molecular basis of the thalassemia syndromes. Jap J Human Genet 22, 113–128 (1977). https://doi.org/10.1007/BF01874278 Mayo. Thalassemia. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/thalassemia/symptoms-causes/syc-20354995 Acesso em: 19/04/2023Origa, R. β-Thalassemia. Genet Med 19, 609–619 (2017). https://doi.org/10.1038/gim.2016.173