O câncer de ovário é uma doença que atinge as células dos ovários, levando ao crescimento descontrolado e à consequente formação de tumores. Em conjunto com o câncer de colo de útero e de mama, é considerado uma das principais causas de morte por câncer entre mulheres no mundo.
No Brasil, conforme dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de ovário é a segunda neoplasia ginecológica mais comum, atrás apenas do câncer de colo de útero. Algumas estimativas apontam que, em 2022, foram diagnosticados mais de sete mil novos casos, destacando a gravidade e a importância da doença para a saúde da população feminina.
O câncer de ovário pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum em mulheres acima de 50 anos. É uma doença silenciosa e que não costuma apresentar sintomas antes de seu agravamento, o que torna fundamental o diagnóstico precoce para aumentar as chances de cura.
Neste conteúdo, abordaremos em detalhes o câncer de ovário, seus fatores de risco, sintomas, métodos de diagnóstico e quais as opções de tratamento.
O que é câncer de ovário?
Os ovários são órgãos em forma de amêndoa localizados nas extremidades da pelve feminina, um em cada lado do útero, e são responsáveis pela produção dos hormônios sexuais estrógeno e progesterona, que atuam regulando o ciclo menstrual, a produção, o armazenamento e a liberação dos óvulos, a cada ciclo da menstruação.
O ciclo celular é um processo natural controlado por uma série de fatores e proteínas, que consiste no crescimento, divisão e morte das células. Quando há mutações em genes envolvidos na produção dessas proteínas, falhas podem ocorrer, levando as células a se dividirem de maneira desordenada e excessiva, formando, assim, um tumor maligno. O câncer de ovário se desenvolve a partir do descontrole do ciclo celular das células ovarianas.
Em estágios avançados, as células do tumor podem se espalhar para outras partes da cavidade pélvica e outros órgãos, como as trompas uterinas, o útero, o intestino ou o fígado, prejudicando não somente o funcionamento dos ovários, mas de todos esses órgãos.
Quais os tipos de câncer de ovário?
Basicamente, existem três tipos de câncer de ovário, que variam de acordo com o tipo celular afetado: tumores de células epiteliais, tumores de células germinativas e tumores de células estromais.
Os tumores de células epiteliais são aqueles que possuem origem nas células de revestimento da parte externa dos ovários. É o de maior incidência e possui diferentes subtipos, como o carcinoma seroso (mais comum e que possui diferentes níveis de gravidade), o endometrial, o mucinoso (de baixo grau), entre outros.
Os tumores de células germinativas são mais raros e se originam das células germinativas do ovário, as quais são responsáveis pela produção dos óvulos. Esses tumores podem ser benignos ou malignos e geralmente afetam mulheres jovens, adolescentes e crianças.
Os tumores de células estromais também são raros e se desenvolvem nas células do estroma do ovário. O estroma é o tecido que suporta as células do órgão e desempenha várias funções, incluindo a produção de hormônios. São mais comuns em mulheres mais velhas, entretanto, em menor proporção, também podem afetar jovens.
Quais os principais fatores de risco?
O câncer de ovário é uma doença de causa multifatorial, ou seja, diversos fatores podem influenciar no seu desenvolvimento. A seguir, listamos alguns dos principais envolvidos na patogênese da doença.
Idade
Apesar de a doença afetar mulheres de qualquer idade, os riscos de desenvolver câncer de ovário aumentam com o envelhecimento. A maioria dos casos são diagnosticados em mulheres acima dos 50 anos.
Alterações genéticas e histórico familiar
Uma porcentagem dos casos de câncer de ovário possui associação com alterações genéticas herdadas. Estudos indicam que ter familiares próximos diagnosticados com a doença aumenta as chances de desenvolvê-la.
A presença de mutações em genes específicos pode aumentar o risco de câncer de ovário, como os genes BRCA1 e BRCA2, os quais também possuem associação com o câncer de mama. Outras mutações genéticas também são conhecidas por aumentar o risco de desenvolvimento da doença, incluindo alterações associadas à síndrome de Lynch e aos genes BRIP1, RAD51C e RAD51D.
Obesidade
A obesidade é uma condição relacionada a uma diversidade de doenças, e com o câncer de ovário não é diferente. Estar acima do peso ou obesa aumenta os riscos de desenvolver esse tipo de câncer.
Utilização de terapia hormonal após a menopausa
Pesquisas apontam que mulheres que usam estrogênios de forma isolada ou em combinação com progesterona após a menopausa, em comparação com mulheres que nunca fizeram terapias de reposição hormonal, têm um risco aumentado de desenvolver câncer de ovário.
Nuliparidade ou gravidez tardia
Ter a primeira gravidez a termo após os 35 anos ou nunca ter levado uma gestação até o fim também pode aumentar os riscos de desenvolvimento de câncer de ovário.
Além desses fatores, existem outros que podem ter influência, tais como: exposição a certas substâncias químicas; menarca precoce ou menopausa atrasada; ter doenças como a endometriose. É importante destacar que a presença de algum desses fatores não é uma certeza de diagnóstico de câncer no futuro. Eles representam pontos importantes que devem ser utilizados para monitoramento e rastreio de mulheres com potencial risco para o câncer de ovário.
Quais os sintomas do câncer de ovário?
Como mencionado, o câncer de ovário costuma ser silencioso no início, dificultando sua detecção precoce. À medida que o tumor cresce, alguns sintomas podem surgir:
- inchaço, dor ou pressão abdominal;
- perda de apetite;
- perda de peso;
- fadiga;
- náuseas;
- mudanças no ciclo menstrual;
- alterações no funcionamento intestinal (prisão de ventre ou diarreia).
Perceba que a sintomatologia do câncer de ovário é comum a outras doenças, e não é possível identificar o problema somente por meio dos sinais clínicos. Por isso, é imprescindível manter suas consultas e exames de rotina em dia, e procurar auxílio médico se houver presença de qualquer sintoma persistente.
Qual exame confirma o câncer de ovário?
Não existe um único exame para diagnóstico do câncer de ovário, mas um conjunto de análises que incluem anamnese, exame físico, histórico familiar e exames laboratoriais complementares.
Exames de imagem são utilizados para a avaliação dos ovários (tamanho, volume, aspecto), como a ultrassonografia pélvica ou tomografia computadorizada.
A realização do marcador tumoral CA-125, no sangue, é um parâmetro que pode colaborar com o diagnóstico, uma vez que seus níveis podem estar elevados em até 80% dos casos de câncer epitelial de ovário. A associação do CA-125 aumentado com os achados clínicos e de imagem é importante para reforçar a suspeita, pois o CA-125 não é específico para o câncer de ovário e pode estar elevado em outras condições, como na endometriose, doença inflamatória pélvica, gestação, miomas, inflamação peritoneal ou câncer peritoneal não ovariano.
Para a confirmação diagnóstica, é necessária a realização de biópsia, que pode ser coletada durante a cirurgia para retirada do tumor. Por meio da biópsia, é possível avaliar as características histológicas do tecido tumoral, definindo se é ou não câncer e o tipo de tumor. Exames moleculares também podem ser realizados, como a hibridização in situ fluorescente (FISH) ou painéis genéticos. Os testes moleculares são relevantes para detectar mutações genéticas associadas ao câncer, capazes de direcionar de forma mais assertiva o prognóstico da paciente e quais tratamentos deverão ser utilizados.
Câncer de ovário tem cura?
Sim, existem tratamento e cura, principalmente se o diagnóstico for precoce. O tratamento dependerá do estágio do câncer, do tipo histológico do tumor, da idade e da saúde geral da paciente, bem como de outros fatores. Em geral, o tratamento inclui uma combinação de cirurgia e quimioterapia, conforme necessário.
A quimioterapia é o tratamento que utiliza medicamentos para matar as células cancerígenas. Ela pode ser administrada antes da cirurgia, para reduzir o tamanho do tumor e torná-lo mais facilmente removível, ou após a cirurgia, para destruir as células cancerígenas restantes. A quimioterapia também pode ser usada como tratamento único para casos em que a cirurgia não é uma opção.
No tratamento do câncer de ovário, usualmente, o protocolo terapêutico envolve cirurgia para remover o tumor, seguido de quimioterapia para eliminar as células cancerosas remanescentes.
O prognóstico para o câncer de ovário depende, ainda, do estágio da doença no momento do diagnóstico e da resposta ao tratamento. Não existe uma maneira eficaz de prevenir a doença ou exames preventivos, portanto, é de fundamental importância a realização de consultas ginecológicas regulares, além de estar atenta a qualquer sintoma persistente para detectar a doença o mais cedo possível.
Do ponto de vista preventivo, exames genéticos para o câncer podem auxiliar na detecção de mutações genéticas hereditárias relacionadas com o maior risco da doença, como mutações nos genes BRCA1 e BRCA2. Esses exames ajudam a identificar mulheres que possuem predisposição, ressaltando sempre que a presença das mutações não deve ser interpretada como certeza de desenvolvimento de câncer.
Agora que você já sabe o que é o câncer de ovário, sugerimos a leitura do conteúdo sobre os cuidados essenciais com a saúde da mulher
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