As zoonoses são um conjunto de doenças infecciosas com a característica principal de serem transmissíveis entre animais e seres humanos. Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), elas são responsáveis por mais de dois bilhões de casos de doenças e mais de dois milhões de óbitos anuais no mundo.
Ainda segundo a OMS, há mais de 200 tipos de zoonoses, sendo que 60% das doenças infecciosas possuem sua origem em animais. Portanto, a conscientização sobre elas é essencial, uma vez que a maioria dessas condições pode ser prevenida com medidas adequadas de higiene, controle de vetores e vacinação.
Neste conteúdo, abordaremos algumas das principais zoonoses que afetam a população brasileira, explorando suas formas de transmissão, sintomas, métodos de diagnóstico e tratamento, além de destacar medidas preventivas para evitar a disseminação dessas enfermidades.
O que são zoonoses?
Zoonoses são doenças infecciosas causadas por agentes patogênicos como bactérias, vírus, parasitas e fungos, que podem ser transmitidos entre animais e humanos. Esses patógenos encontram nos animais hospedeiros uma fonte de reprodução e, em muitos casos, utilizam vetores, como mosquitos e carrapatos para infectar os seres humanos. Alguns exemplos de zoonoses incluem dengue, zika, chikungunya, febre amarela, leishmaniose, toxoplasmose, leptospirose, larva migrans cutânea e raiva, todas com impacto significativo na saúde pública.
A transmissão dessas doenças pode ocorrer de várias formas, como o contato direto com animais infectados, consumo de alimentos ou água contaminada, picadas de insetos vetores e inalação de partículas contaminadas.
Principais zoonoses no Brasil
No Brasil, as maiores incidências de zoonoses são dengue, zika e chikungunya, doenças que já foram tema de outros conteúdos em nosso blog. No entanto, existem outras tão relevantes quanto, como veremos detalhadamente a seguir.
Toxoplasmose
A toxoplasmose é uma infecção causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, que pode ser encontrado em diversas espécies de animais. Contudo, os gatos são os hospedeiros definitivos, ou seja, o ciclo de vida do parasita se completa no organismo desses animais.
Os seres humanos podem contrair toxoplasmose através da ingestão de água ou alimentos contaminados, contato com fezes de gatos infectados ou, menos comumente, pela transmissão de mãe para filho durante a gravidez (congênita).
Muitas vezes assintomática, quando há a presença de sintomas, podem variar entre:
- febre;
- dor de cabeça;
- dores musculares;
- fadiga;
- linfadenopatia, especialmente no pescoço.
O diagnóstico é realizado por meio de exames de sorologia e outros métodos laboratoriais. O tratamento envolve medicamentos como pirimetamina, sulfadiazina e ácido fólico.
Leptospirose
Uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Leptospira. A infecção se dá principalmente a partir do contato com água ou solo contaminados com a urina de animais infectados, especialmente ratos.
Os sintomas incluem:
- icterícia;
- calafrios;
- dor de cabeça;
- dor muscular intensa;
- dor abdominal;
- náuseas e vômitos;
- diarreia;
- vermelhidão nos olhos.
O diagnóstico é feito por meio de exames de sorologia e testes de PCR. O tratamento envolve antibióticos, como doxiciclina e penicilina.
Larva migrans cutânea (bicho geográfico)
A larva migrans cutânea, popularmente conhecida como “bicho geográfico”, é uma infecção de pele causada pelas larvas de parasitas como Ancylostoma braziliensis, que normalmente infestam cães e gatos. As larvas penetram na pele humana ao andar descalço em solos contaminados com fezes de animais infectados.
A infecção apresenta os seguintes sintomas:
- coceira intensa;
- vermelhidão e inchaço;
- lesões cutâneas;
- bolhas e vesículas;
- dor e desconforto.
O diagnóstico é clínico, com base no histórico de exposição, e pode incluir biópsia de pele. O tratamento é realizado com antiparasitários tópicos ou orais, como tiabendazol e ivermectina.
Raiva
Doença viral grave, com alta mortalidade, que afeta o sistema nervoso central, sendo causada pelo vírus da raiva (Rabies virus). A principal via de transmissão ocorre através da mordida de animais infectados, como cães, gatos, morcegos e outros mamíferos.
São sintomas iniciais da raiva:
- febre;
- dor de cabeça;
- mal-estar;
- perda de apetite;
- dor ou formigamento no local da mordida.
O diagnóstico é feito por meio da análise de amostras de saliva, líquido cefalorraquidiano ou tecido cerebral (pós-morte). O tratamento é realizado após a exposição (soro antirrábico e vacina).
Febre amarela
Transmissível pela picada de mosquitos infectados, sobretudo o Aedes aegypti e o Haemagogus, a febre amarela é uma doença viral que afeta áreas urbanas e rurais.
Os sintomas iniciais da febre amarela envolvem:
- febre alta súbita;
- dor de cabeça intensa;
- náusea e/ou vômito;
- dor muscular, principalmente nas costas;
- fraqueza.
Em casos graves, pode ocorrer icterícia, hemorragias e até mesmo a falência de múltiplos órgãos. O diagnóstico é feito por análises de sangue para a detecção do vírus ou anticorpos específicos. O tratamento é de suporte e sintomático, incluindo hidratação, analgésicos e antitérmicos. Para a prevenção da doença, existe a vacina.
Leishmaniose
A leishmaniose é uma doença infecciosa causada por parasitas do gênero Leishmania, transmitidos pela picada de mosquitos flebotomíneos (conhecidos como “mosquito-palha”). Confira, abaixo, as diferentes formas da doença.
- leishmaniose cutânea: causa feridas na pele que podem se expandir e formar úlceras, nódulos ou placas;
- leishmaniose mucocutânea: afeta as mucosas do nariz, boca e garganta, podendo causar deformidades;
- leishmaniose visceral (calazar): a forma mais grave, provoca febre prolongada, perda de peso, aumento do fígado e baço, anemia, fraqueza e risco de infecções secundárias.
O diagnóstico é realizado por meio do exame clínico, e a confirmação laboratorial por biópsia de pele, aspirado de medula óssea ou baço, testes sorológicos e moleculares (PCR). O tratamento varia conforme o tipo e a gravidade da doença, com a utilização de medicamentos antimoniais pentavalentes (como glucantime) ou anfotericina B.
Como se prevenir das zoonoses?
Prevenir as zoonoses engloba uma série de medidas que visam interromper a cadeia de transmissão dos agentes infecciosos. Entre elas, a higiene pessoal, com a lavagem frequente das mãos, especialmente após o contato com animais. A segurança alimentar também é crucial, recomendando-se cozinhar bem os alimentos, lavar frutas e vegetais e consumir água potável.
Ações de controle, como a eliminação de focos de mosquitos, o uso de repelentes e roupas protetoras, são importantes para evitar doenças transmitidas por vetores. Cuidados com animais de estimação, incluindo vacinação regular e controle de parasitos, como pulgas e carrapatos, são igualmente importantes.
Conhecer as zoonoses e adotar medidas preventivas são passos necessários para proteger sua saúde. A prevenção reduz o risco de infecção e minimiza o impacto dessas doenças na comunidade. Não esquecendo, é claro, de manter os exames periódicos em dia, o que facilita a detecção precoce de zoonoses e a realização de tratamento adequado.
Para mais informações sobre zoonoses e outras doenças transmitidas por vetores, leia nosso conteúdo: Dengue, zika e chikungunya: entenda as diferenças e como se prevenir.
Sabin avisa:
Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.
Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.
Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.
Referências:
Organização Mundial da Saúde. Zoonoses. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/zoonoses. Acesso em: 03/06/2024.
Biblioteca Virtual em Saúde. Ministério da Saúde. 06/7 – Dia Mundial das Zoonoses. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/06-7-dia-mundial-das-zoonoses-3/. Acesso em: 03/06/2024.
Ministério da Saúde. Manual de Vigilância, Prevenção e Controle de Zoonoses. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_vigilancia_prevencao_controle_zoonoses.pdf. Acesso em: 03/06/2024.
Noguera Z LP, Charypkhan D, Hartnack S, Torgerson PR, Rüegg SR. The dual burden of animal and human zoonoses: A systematic review. PLoS Negl Trop Dis. 2022 Oct 14;16(10):e0010540. doi: 10.1371/journal.pntd.0010540