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Como o vape pode prejudicar a saúde e aumentar o risco de dependência

Quais os prejuízos do vape para a saúde?

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Nos últimos anos, houve um aumento significativo do número de brasileiros que adotaram o uso de dispositivos eletrônicos para fumar, os conhecidos vapes, pods ou cigarros eletrônicos. Segundo dados de 2023 do Instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), cerca de 2,9 milhões de indivíduos no país fazem uso regular de vapes. Isso representa um aumento expressivo em relação ao ano anterior, quando 2,2 milhões de brasileiros afirmaram utilizar tais dispositivos.

É importante destacar que essa tendência não está restrita a determinadas faixas etárias, e a acessibilidade dos vapes entre os jovens é uma preocupação crescente. Os cigarros eletrônicos exercem um forte apelo entre adolescentes devido à disponibilidade de uma ampla gama de sabores e opções de condimentos especiais, o que os torna ainda mais atrativos em comparação aos cigarros convencionais.

Conforme a Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16,8% dos adolescentes de 13 a 17 anos já experimentaram cigarros eletrônicos, subindo para 22,7% na faixa etária dos 16 aos 17 anos. O cenário se torna ainda mais complexo quando consideramos que, apesar da proibição estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, o crescimento no consumo de vapes persiste.

Atualmente, a regulamentação dos vapes está em andamento por meio de uma consulta pública sobre dispositivos eletrônicos para fumar, englobando todos os tipos de cigarros eletrônicos. Essa realidade levanta sérias discussões entre especialistas da área de saúde sobre a segurança e os impactos desses dispositivos para a saúde humana

Neste conteúdo, você encontrará mais informações sobre o que são os vapes e quais os impactos do aumento do consumo, seus malefícios e o que pode ser feito para parar de fumar.

O que é o vape?

Os vapes foram projetados para simular a experiência de fumar o tabaco convencional. São dispositivos compostos, geralmente, por três componentes principais: uma bateria, um atomizador (ou bobina) e um reservatório de líquido. Quando o usuário ativa o dispositivo, a bateria entra em ação, aquecendo o líquido presente no reservatório e convertendo-o em vapor. Esse vapor é, então, inalado pelo usuário, proporcionando uma experiência semelhante à da fumaça do tabaco.

Os líquidos utilizados nos vapes podem conter diversos elementos, incluindo nicotina, aromatizantes e, em alguns casos, outros aditivos prejudiciais à saúde. Uma característica distintiva deles é a vasta diversidade de sabores disponíveis. Desde opções tradicionais, como tabaco e menta, até alternativas mais exóticas, como frutas e sobremesas, os vapes oferecem uma variedade de sabores que os torna atrativos para diferentes perfis de usuários.

Inicialmente, os vapes foram apresentados como uma alternativa mais segura ao tabagismo convencional, visando ajudar fumantes a abandonar o cigarro tradicional. No entanto, preocupações crescentes têm surgido sobre os potenciais riscos para a saúde associados ao uso desses dispositivos. Questões que incluem danos pulmonares, problemas cardíacos, adição de produtos químicos nocivos e o aumento do consumo entre os jovens têm despertado a atenção da comunidade médica e de autoridades de saúde.

Quais os principais malefícios do uso do vape?

Os vapes têm conquistado a atenção de muitos como uma possível alternativa menos prejudicial ao tabagismo convencional. Entretanto, ainda não existem estudos que comprovem que seja uma opção menos prejudicial quando comparado ao cigarro.

Na verdade, um crescente volume de evidências aponta para diversos malefícios associados ao uso crônico de cigarros eletrônicos, conforme descreveremos a seguir.

Saúde cardiovascular

O uso de cigarros eletrônicos, assim como o cigarro tradicional, está associado a riscos para a saúde cardiovascular, dado evidenciado por estudos científicos. A pressão arterial elevada, indicada como uma condição preocupante, pode ser exacerbada pelo uso desses dispositivos, sobrecarregando o coração e aumentando os riscos de doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e outras complicações.

A exposição a substâncias químicas presentes nos líquidos vaporizados, como a nicotina e a acroleína — uma substância cancerígena —, pode desencadear inflamações nos vasos sanguíneos, contribuindo para o acúmulo de placas ateroscleróticas e o estreitamento das artérias, fatores determinantes nas doenças cardíacas. Além disso, o ritmo cardíaco pode ser alterado pelos compostos presentes nos vapes, principalmente a nicotina, aumentando o risco de arritmias.

Saúde pulmonar

Uma das principais preocupações relacionadas aos vapes está ligada aos danos pulmonares. Relatos de lesões agudas, especialmente em casos de produtos adulterados ou contendo substâncias não regulamentadas — formaldeído (que não possui quantidade segura para seu consumo), acroleína (relacionada à toxicidade dos sistemas cardiorrespiratórios e câncer), metais pesados ou compostos orgânicos voláteis —, levantam sérias questões sobre a segurança desses dispositivos.

Nos Estados Unidos, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) monitoraram, pela primeira vez em 2019, uma condição pulmonar chamada EVALI (sigla em inglês para E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury ou lesão pulmonar associada ao uso de cigarros eletrônicos ou produtos de vaporização).

Pacientes com EVALI apresentam sintomas respiratórios, como tosse, falta de ar, dor torácica e febre, semelhantes aos observados na covid-19. A relação entre o uso de cigarros eletrônicos e a EVALI levou a uma investigação mais aprofundada sobre os riscos à saúde associados a esses dispositivos.

No Brasil, embora a Anvisa tenha registrado apenas sete casos, a subnotificação é uma preocupação levantada pelos profissionais de saúde, uma vez que a doença não é de notificação obrigatória no país.

Nicotina e outras substâncias cancerígenas

A presença de nicotina nos líquidos dos vapes está relacionada diretamente com o desenvolvimento de dependência química. A nicotina é uma substância altamente viciante que, além de impactar a saúde cardiovascular e pulmonar, também desencadeia modificações no sistema nervoso central, influenciando o estado emocional e comportamental do usuário, sobretudo em adolescentes, já que o cérebro continua em formação durante essa fase.

Adicionalmente, os líquidos utilizados nos vapes podem conter substâncias químicas com potencial cancerígeno, como formaldeído, acetaldeído, acroleína, nitrosaminas, metais pesados, flavorizantes, compostos orgânicos voláteis e outras combinações ainda desconhecidas, liberadas durante a vaporização.

Conforme sugere a Organização Mundial da Saúde (OMS), o uso de cigarro eletrônico deve ser encarado da mesma forma que o tabagismo quanto aos malefícios à saúde. De acordo com a organização, os vapes são tão prejudiciais quanto o cigarro convencional, aumentando o risco do desenvolvimento de diversos tipos de câncer, como:

Portanto, a ideia de que os vapes poderiam ser “menos prejudiciais” à saúde do que o cigarro convencional e até mesmo ser utilizado para auxiliar no processo de parar de fumar é um mito, mesmo na ausência de nicotina em sua composição.

A falsa ideia de “vapor” associada ao cigarro eletrônico ajudou a disseminar essa percepção. Os vapes não produzem apenas vapor de água, como se chegou a difundir. Na realidade, o aquecimento do líquido no dispositivo produz um aerossol, no qual já foram detectadas quase 2 mil substâncias, muitas das quais ainda são desconhecidas.

Vape é pior que o cigarro comum?

A resposta não é tão simples quanto parece. Tanto os produtos derivados do tabaco quanto os vapes apresentam preocupações significativas para a saúde, e a escolha mais segura é evitar ambos.

Os níveis de risco estão longe de ser universais, variando de acordo com uma série de fatores. A natureza do produto, sua fabricação, a frequência de uso, a demografia do usuário e o estilo de consumo são elementos que influenciam nos riscos associados ao uso de vapes ou produtos do tabaco.

A avaliação dos riscos não se restringe apenas à toxicidade dos compostos químicos. Aspectos como potencial de abuso, manipulação do produto, uso por crianças e adolescentes atraídos por sabores e aromas, o uso duplo e a possível transição de jovens para produtos fumados após a experimentação são igualmente importantes.

O uso duplo, caracterizado pelo consumo tanto de cigarros convencionais quanto de vapes, é considerado tão arriscado (se não mais) do que fumar cigarros convencionais isoladamente. É crucial reconhecer que todos os vapes não são iguais, e os riscos à saúde podem variar significativamente de um produto para outro e de usuário para usuário.

Em resumo, a escolha entre vapes e cigarros convencionais não pode ser simplificada em termos de “melhor” ou “pior”, sendo que os dois trazem sérios prejuízos à saúde. A prevenção e a conscientização sobre os danos associados a ambos são fundamentais

Quero parar, o que posso fazer?

A orientação é que as pessoas busquem serviços especializados para cessar o hábito de fumar, incluindo acompanhamento psicológico, quando disponível. O acompanhamento psicológico pode ajudar a compreender as razões por trás do hábito, identificar gatilhos emocionais e fornecer estratégias para lidar com o desejo de fumar.

Ao tomar a decisão de parar, é fundamental não se deixar enganar pelas aparências. Enquanto o cigarro convencional revela seus malefícios de maneira mais evidente, o eletrônico, muitas vezes, se disfarça como algo recreativo, prazeroso e inofensivo. Todavia, ambos podem causar complicações à saúde, e os riscos associados aos cigarros eletrônicos estão sendo cada vez mais estudados.

O Ministério da Saúde (MS) oferece ações de promoção à saúde para reduzir a prevalência de fumantes e o consumo de tabaco. O Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) proporciona tratamento abrangente e gratuito para aqueles que desejam abandonar o hábito de fumar, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

É importante destacar que, embora os cigarros eletrônicos tenham surgido com a proposta de serem menos prejudiciais e até mesmo auxiliarem no tratamento contra o tabagismo, na prática, o cenário é diferente. Eles apresentam riscos comparáveis (ou até maiores) aos cigarros convencionais e não possuem eficácia comprovada na cessação do tabagismo.

Para entender melhor os riscos do tabagismo, sugerimos a leitura do conteúdo sobre o que é o tabagismo e quais os riscos para a sua saúde. E lembre-se: se você está decidido a parar, saiba que não está sozinho. Procure ajuda, esteja ciente dos recursos disponíveis e dê o primeiro passo para uma vida mais saudável. 

Sabin avisa:

Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.

Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas. 

Referências:

Anvisa. Cigarro eletrônico. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/tabaco/cigarro-eletronico Acesso em: 04/03/2023

Jornal da USP. Regulamentação dos cigarros eletrônicos divide opiniões e chama atenção da saúde pública. Disponível em: https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/regulamentacao-dos-cigarros-eletronicos-divide-opinioes-e-chama-atencao-da-saude-publica/ Acesso em: 04/03/2024

OPAS. Perguntas e respostas: vape e outros cigarros eletrônicos. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/5-5-2023-perguntas-e-respostas-vape-e-outros-cigarros-eletronicos Acesso em: 04/03/2024

Pesquisa Fapesp. Quase 1 milhão de brasileiros fumam regularmente cigarros eletrônicos. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/quase-1-milhao-de-brasileiros-fumam-regularmente-cigarros-eletronicos/ Acesso em: 04/03/2024

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