O curso “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, realizado pelo Grupo Sabin com o objetivo de orientar estudantes dos últimos períodos de medicina e médicos residentes quanto à solicitação adequada de exames, traz um tema muito relevante na prática hospitalar: a “Gasometria arterial”.
Nesta aula, Dr. Silvio Pessoa, hematologista e patologista clínico, aborda sobre a importância da interpretação criteriosa do exame de gasometria para identificar os chamados distúrbios ácido-base. A apresentação conta com estudos de casos que vão ilustrar os aspectos analíticos indispensáveis para a obtenção de um resultado preciso.
Este blog post reúne os principais tópicos discutidos. A aula completa pode ser acompanhada no vídeo.
O que é gasometria?
O exame de gasometria arterial é rotineiramente utilizado em ambientes hospitalares, especialmente em enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Como o próprio nome diz, o exame é feito por meio do gasômetro, com o objetivo de identificar parâmetros referentes ao equilíbrio acidobásico e a ocorrência de possíveis desvios (acidose ou alcalose), bem como subsidiar o monitoramento da função respiratória do paciente. Além dos gases sanguíneos, o equipamento também possibilita avaliar os níveis de ácido lático, glicose, sódio, potássio, bilirrubina, entre outras substâncias.
Dr. Silvio destaca que a fase pré-analítica da gasometria é determinante para a garantia do resultado do exame. Para isso, alguns cuidados são rigorosamente necessários na hora de fazer a coleta da amostra e seu transporte. Ele lembra que a amostra de sangue arterial é considerada uma amostra crítica, diferentemente do sangue venoso, por exemplo. Assim, a punção arterial requer algumas restrições, como o local de coleta, principalmente quando é realizada na artéria radial.
Como fazer o exame de gasometria?
Por ser um exame de urgência e, consequentemente, exigir um tempo de resultado mais rápido, é importante ter em mente que a composição da amostra e as condições do paciente também variam constantemente.
Para ser possível a realização do exame, a estabilização da respiração do paciente é imprescindível, pois ele deverá permanecer em estado estável de ventilação. Para assegurar essa estabilidade, recomenda-se repouso de, pelo menos, cinco minutos, em caso de o paciente estar em deambulação. Caso o paciente esteja no leito da UTI, recomenda-se, no mínimo, 20 minutos de controle da ventilação respiratória.
Fatores como dor ou ansiedade em pacientes antes da coleta ou uso de medicamentos também podem interferir no resultado.
Quais as condições ideais para a realização do exame?
Os protocolos indicam que a amostra sanguínea a ser utilizada na gasometria deve ser processada em até 30 minutos após a coleta. Se, por algum motivo, não for possível, é obrigatório que o transporte da amostra seja feito em ambiente refrigerado e de forma imediata, lembrando sempre de observar a correta identificação do paciente no tubo utilizado.
Antes de utilizar o gasômetro, outros cuidados são igualmente importantes para garantir a integridade do exame. Fazer uma inspeção visual criteriosa na amostra, verificando possíveis irregularidades em sua composição, é um deles. Além disso, a amostra não pode, em hipótese alguma, conter bolhas ou coagulação. Portanto, o profissional precisa atentar-se à aspiração adequada, a fim de evitar a formação dessas bolhas e manter a homogeneização da amostra.
As condições de temperatura também podem afetar significativamente o resultado de vários parâmetros metabólicos do exame. Deseja se aprofundar sobre cada um deles? Não deixe de assistir à apresentação!
Como interpretar a gasometria?
Na gasometria arterial, é feita a avaliação da acidose ou da alcalose — metabólica e respiratória —, que são o aumento ou a diminuição do pH na concentração sanguínea. Para manter o pH em limites compatíveis com os processos vitais, o organismo depende de alguns mecanismos regulatórios: sistema tampão, que age instantaneamente; componente respiratório, que leva minutos; e componente renal, que leva horas ou dias.
O hematologista acrescenta, na aula, informações ilustrativas, em que é possível inferir a melhor maneira de interpretação da gasometria. A partir dela, ele explica detalhadamente como funcionam esses mecanismos, bem como discorre sobre a correlação com os distúrbios acidobásicos e apresenta os valores de referência para a análise da gasometria. Confira!
Quais as causas de alteração na gasometria?
Como visto anteriormente, existem quatro tipos de alterações que podem ser visualizadas na gasometria. São elas: acidose metabólica, alcalose metabólica, acidose respiratória e alcalose respiratória.
A acidose metabólica é causada pelo aumento da produção de ácido, perda gastrointestinal e renal de bicarbonato e redução da excreção renal de ácido. A alcalose metabólica é causada pela perda gastrointestinal e renal de ácido. A acidose respiratória, pela diminuição da atividade e função respiratória central, neuropatias, miopatias e distúrbios pulmonares. Por fim, a alcalose respiratória é desencadeada por distúrbios pulmonares, síndromes de ansiedade, febre, doença hepática, gravidez e toxinas ou drogas.
Quais os tipos de distúrbios acidobásicos?
Os distúrbios acidobásicos são divididos em simples ou mistos.
Os distúrbios simples são alterações, metabólicas ou respiratórias, com compensação adequada pelo outro processo. Os mistos são causados por uma combinação de anormalidades primárias.
Saiba como interpretar a gasometria para identificar o tipo de distúrbio ácido-base, descrito minuciosamente pelo Dr. Silvio, no vídeo acima.
A interpretação da gasometria representa um desafio na prática médica. Esperamos que, com esta aula, você, jovem médico, tenha condições de verificar com maior segurança os parâmetros necessários para a melhor condução terapêutica do seu paciente.
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