Sabin Por: Sabin
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Dando continuidade ao propósito do curso “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, realizado pelo Grupo Sabin, que é orientar estudantes dos últimos períodos de medicina e médicos residentes quanto à solicitação adequada de exames, apresentamos o tema “Avaliação laboratorial da hipertensão arterial de origem endócrina”.

Neste módulo, Dr. Juliano Zakir, especialista em endocrinologia, revela como realizar a avaliação diagnóstica laboratorial da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) decorrente de disfunções endócrinas.

Aqui, estão os principais assuntos abordados na aula. A apresentação completa pode ser conferida no vídeo. Acompanhe!

Como identificar a hipertensão arterial de causa endócrina?

Segundo dados apresentados pelo Dr. Juliano, 30% da população adulta brasileira sofre com Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Metade dessa porcentagem apresenta hipertensão de origem secundária, o que significa um índice relevante na saúde pública do país.

Com maior incidência na população entre 30 e 60 anos, a hipertensão secundária é consequência de outras doenças, entre elas as endócrinas. Mas, quais sinais podem indicar que o paciente está com essa condição? Algumas situações características acendem o alerta para o início da investigação. São elas:

  • quando o paciente tem quadro de hipertensão em idade precoce;
  • quando a hipertensão surge subitamente, com difícil controle;
  • quando há o desequilíbrio do quadro de hipertensão, que costumava estar previamente controlado;
  • quando o paciente já possui alguma disfunção endócrina;
  • em caso de pacientes vítimas de emergências hipertensivas.

Quais as possíveis origens da hipertensão endócrina?

Segunda causa mais comum de hipertensão secundária, a hipertensão endócrina pode ocorrer com a manifestação de, pelo menos, 15 distúrbios funcionais.

Entretanto, esta aula utiliza como foco as causas adrenais mais comuns, como o hiperaldosteronismo e o feocromocitoma, debatidos na sequência.

Hiperaldosteronismo primário

Para identificar o hiperaldosteronismo primário, deve-se observar se a HAS vem acompanhada de quadros de hipocalemia ou incidentaloma adrenal. Outro fator indicativo a ser considerado é quando o paciente apresenta hipertensão grave, nas formas sustentada e resistente.

Além desses fatores, completam a avaliação diagnóstica de hiperaldosteronismo primário o histórico familiar, a presença de alguma doença cerebrovascular precoce ou apneia do sono.

Feocromocitomas

A identificação dos feocromocitomas segue algumas indicações importantes, tais como: checar se o paciente apresenta pressão arterial com oscilações sem causa determinada; verificar a ocorrência de HAS resistente, paroxística ou em pacientes jovens; e avaliar histórico familiar para mutações genéticas relacionadas aos feocromocitomas.

Cabe ressaltar que alguns tipos de medicamentos são indutores das crises de pacientes com feocromocitomas. Dr. Juliano relaciona os principais, entre opioides, corticoides, bloqueadores neuromusculares e outros.

Como avaliar as principais causas adrenais da hipertensão endócrina?

Após identificar as causas adrenais principais, é preciso realizar o diagnóstico adequado para cada condição e, assim, determinar o melhor tratamento dispensado ao paciente.

Como diagnosticar o hiperaldosteronismo primário

A primeira etapa para o diagnóstico de hiperaldosteronismo primário consiste na realização dos testes de screening, em que são avaliados os níveis de aldosterona e as atividades da renina plasmática.

Do ponto de vista laboratorial, algumas práticas são recomendadas antes da coleta, visando garantir um resultado mais seguro: o ideal é fazer a dosagem de aldosterona e renina após o paciente deambular por, no mínimo, duas horas; não é indicado que o paciente esteja na posição em decúbito dorsal; o sal não deve ser restringido da dieta; é importante corrigir o potássio do paciente, que geralmente está reduzido.

Do ponto de vista clínico, é fundamental avaliar aspectos que podem interferir no resultado, como uso de medicamentos, gravidez, hipocalemia, função renal alterada, entre outros.

Em caso de rastreamento positivo, o próximo passo é a execução dos testes confirmatórios. Entre os testes existentes, estão o de sobrecarga oral de sódio, o de supressão de fludrocortisona, o de infusão salina, o de supressão com captopril e o de furosemida — sendo os três últimos os mais utilizados na prática clínica.

Com o diagnóstico confirmado, finalmente é definido o subtipo do hiperaldosteronismo primário, classificado como unilateral ou bilateral. A abordagem terapêutica do paciente depende diretamente dessa definição, que é feita por meio do exame de tomografia computadorizada de adrenais, com cortes finos e uso de contraste. 

Como diagnosticar os feocromocitomas

A avaliação diagnóstica dos feocromocitomas é relativamente mais simples de ser feita. O rastreamento laboratorial inclui a dosagem de metanefrinas plasmáticas e urinárias. 

O médico aproveita para destacar que a escolha do método é imprescindível para chegar à correta interpretação do resultado. Em geral, recomenda-se a técnica de HPLC (cromatografia líquida), em detrimento aos imunoensaios, que podem apresentar falsos-negativos.

Condições clínicas do paciente, como tipo de alimentação, tabagismo, uso de medicamentos, prática de atividades físicas, entre diversas outras, são fatores de interferência no rastreamento e não podem ser ignoradas. Conheça todas elas na apresentação.

Para assegurar a interpretação adequada da dosagem de metanefrina plasmática, é importante, antes de fazer a coleta, que o paciente seja mantido posicionado em decúbito dorsal por, no mínimo, 30 minutos, além de estar em jejum. 

A investigação dos feocromocitomas baseia-se, ainda, em exames de imagem. Principal ferramenta utilizada, a tomografia permite excluir hipóteses diagnósticas, descartando, assim, a necessidade de exames funcionais. A ressonância magnética também é usada na investigação, principalmente em pacientes que não podem ser submetidos a radiações. 

Os valores preditivos para cada etapa de investigação, tanto para o quadro de hiperaldosteronismo primário quanto de feocromocitomas, você encontra assistindo ao vídeo da aula:

A detecção precoce das causas de hipertensão secundária, como as de origem endócrina, é um fator determinante para delinear a abordagem clínica e facilitar o controle da doença. “O rastreamento para hipertensão endócrina pode ser a chave para a diminuição do risco de doenças cardiovasculares, melhora da qualidade de vida e aumento de sobrevida em hipertensos”, conclui Dr. Juliano.

Nunca é demais lembrar que a avaliação laboratorial deve ser iniciada imediatamente, sempre que existir qualquer suspeita no quadro apresentado pelo paciente, evitando possíveis avanços.

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Avaliação laboratorial da hipertensão arterial de origem endócrina; Dando continuidade ao propósito do curso “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, realizado pelo Grupo Sabin, que é orientar estudantes dos últimos períodos de medicina e médicos residentes quanto à solicitação adequada de exames, apresentamos o tema “Avaliação laboratorial da hipertensão arterial de origem endócrina”. Neste módulo, Dr. Juliano Zakir, especialista em endocrinologia, revela como realizar a avaliação diagnóstica laboratorial da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) decorrente de disfunções endócrinas. Aqui, estão os principais assuntos abordados na aula. A apresentação completa pode ser conferida no vídeo. Acompanhe! Como identificar a hipertensão arterial de causa endócrina? Segundo dados apresentados pelo Dr. Juliano, 30% da população adulta brasileira sofre com Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Metade dessa porcentagem apresenta hipertensão de origem secundária, o que significa um índice relevante na saúde pública do país. Com maior incidência na população entre 30 e 60 anos, a hipertensão secundária é consequência de outras doenças, entre elas as endócrinas. Mas, quais sinais podem indicar que o paciente está com essa condição? Algumas situações características acendem o alerta para o início da investigação. São elas: quando o paciente tem quadro de hipertensão em idade precoce; quando a hipertensão surge subitamente, com difícil controle; quando há o desequilíbrio do quadro de hipertensão, que costumava estar previamente controlado; quando o paciente já possui alguma disfunção endócrina; em caso de pacientes vítimas de emergências hipertensivas. Quais as possíveis origens da hipertensão endócrina? Segunda causa mais comum de hipertensão secundária, a hipertensão endócrina pode ocorrer com a manifestação de, pelo menos, 15 distúrbios funcionais. Entretanto, esta aula utiliza como foco as causas adrenais mais comuns, como o hiperaldosteronismo e o feocromocitoma, debatidos na sequência. Hiperaldosteronismo primário Para identificar o hiperaldosteronismo primário, deve-se observar se a HAS vem acompanhada de quadros de hipocalemia ou incidentaloma adrenal. Outro fator indicativo a ser considerado é quando o paciente apresenta hipertensão grave, nas formas sustentada e resistente. Além desses fatores, completam a avaliação diagnóstica de hiperaldosteronismo primário o histórico familiar, a presença de alguma doença cerebrovascular precoce ou apneia do sono. Feocromocitomas A identificação dos feocromocitomas segue algumas indicações importantes, tais como: checar se o paciente apresenta pressão arterial com oscilações sem causa determinada; verificar a ocorrência de HAS resistente, paroxística ou em pacientes jovens; e avaliar histórico familiar para mutações genéticas relacionadas aos feocromocitomas. Cabe ressaltar que alguns tipos de medicamentos são indutores das crises de pacientes com feocromocitomas. Dr. Juliano relaciona os principais, entre opioides, corticoides, bloqueadores neuromusculares e outros. Como avaliar as principais causas adrenais da hipertensão endócrina? Após identificar as causas adrenais principais, é preciso realizar o diagnóstico adequado para cada condição e, assim, determinar o melhor tratamento dispensado ao paciente. Como diagnosticar o hiperaldosteronismo primário A primeira etapa para o diagnóstico de hiperaldosteronismo primário consiste na realização dos testes de screening, em que são avaliados os níveis de aldosterona e as atividades da renina plasmática. Do ponto de vista laboratorial, algumas práticas são recomendadas antes da coleta, visando garantir um resultado mais seguro: o ideal é fazer a dosagem de aldosterona e renina após o paciente deambular por, no mínimo, duas horas; não é indicado que o paciente esteja na posição em decúbito dorsal; o sal não deve ser restringido da dieta; é importante corrigir o potássio do paciente, que geralmente está reduzido. Do ponto de vista clínico, é fundamental avaliar aspectos que podem interferir no resultado, como uso de medicamentos, gravidez, hipocalemia, função renal alterada, entre outros. Em caso de rastreamento positivo, o próximo passo é a execução dos testes confirmatórios. Entre os testes existentes, estão o de sobrecarga oral de sódio, o de supressão de fludrocortisona, o de infusão salina, o de supressão com captopril e o de furosemida — sendo os três últimos os mais utilizados na prática clínica. Com o diagnóstico confirmado, finalmente é definido o subtipo do hiperaldosteronismo primário, classificado como unilateral ou bilateral. A abordagem terapêutica do paciente depende diretamente dessa definição, que é feita por meio do exame de tomografia computadorizada de adrenais, com cortes finos e uso de contraste.  Como diagnosticar os feocromocitomas A avaliação diagnóstica dos feocromocitomas é relativamente mais simples de ser feita. O rastreamento laboratorial inclui a dosagem de metanefrinas plasmáticas e urinárias.  O médico aproveita para destacar que a escolha do método é imprescindível para chegar à correta interpretação do resultado. Em geral, recomenda-se a técnica de HPLC (cromatografia líquida), em detrimento aos imunoensaios, que podem apresentar falsos-negativos. Condições clínicas do paciente, como tipo de alimentação, tabagismo, uso de medicamentos, prática de atividades físicas, entre diversas outras, são fatores de interferência no rastreamento e não podem ser ignoradas. Conheça todas elas na apresentação. Para assegurar a interpretação adequada da dosagem de metanefrina plasmática, é importante, antes de fazer a coleta, que o paciente seja mantido posicionado em decúbito dorsal por, no mínimo, 30 minutos, além de estar em jejum.  A investigação dos feocromocitomas baseia-se, ainda, em exames de imagem. Principal ferramenta utilizada, a tomografia permite excluir hipóteses diagnósticas, descartando, assim, a necessidade de exames funcionais. A ressonância magnética também é usada na investigação, principalmente em pacientes que não podem ser submetidos a radiações.  Os valores preditivos para cada etapa de investigação, tanto para o quadro de hiperaldosteronismo primário quanto de feocromocitomas, você encontra assistindo ao vídeo da aula: https://youtu.be/jiEdjB1tzYU A detecção precoce das causas de hipertensão secundária, como as de origem endócrina, é um fator determinante para delinear a abordagem clínica e facilitar o controle da doença. “O rastreamento para hipertensão endócrina pode ser a chave para a diminuição do risco de doenças cardiovasculares, melhora da qualidade de vida e aumento de sobrevida em hipertensos”, conclui Dr. Juliano. Nunca é demais lembrar que a avaliação laboratorial deve ser iniciada imediatamente, sempre que existir qualquer suspeita no quadro apresentado pelo paciente, evitando possíveis avanços. Gostou do conteúdo? Compartilhe com seus colegas médicos. 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