O curso on-line “Medicina Diagnóstica: Interação Clínico-Laboratorial”, realizado pelo Grupo Sabin, teve o objetivo de orientar estudantes dos últimos períodos de medicina e médicos residentes quanto à solicitação adequada de exames.
Considerando a finalidade principal da avaliação laboratorial, que é corroborar alguma suspeita clínica, é interessante frisar que, quando se trata da endocrinologia pediátrica, os parâmetros não são definitivos e podem ser questionáveis. Isso ocorre em razão dos valores de referência, que são totalmente dependentes do quadro clínico. No caso do paciente púbere, essas variáveis aumentam, em razão das transformações fisiológicas sofridas durante a puberdade.
Pensando nisso, a endocrinologista pediátrica Dra. Talita Cordeschi Corrêa trouxe o tema “Avaliação laboratorial dos transtornos de puberdade”, que ajuda a esclarecer sobre os parâmetros avaliativos de investigação dos distúrbios.
O que é puberdade e quais os possíveis transtornos?
O período que caracteriza a puberdade está compreendido entre a infância e a vida adulta, com a ocorrência de diversos fenômenos biológicos. Entre eles, estão a maturação gonadal, o desenvolvimento de caracteres sexuais secundários e o início da função reprodutiva.
Além das transformações fisiológicas características, alguns distúrbios também podem ser observados, como as puberdades precoce ou atrasada, e telarca ou adrenarca precoces.
Puberdade precoce
Nessa condição, os caracteres sexuais secundários aparecem antes dos oito anos, nas meninas, e antes dos nove anos, nos meninos.
Puberdade atrasada
É quando o volume dos testículos é menor do que quatro mililitros, para meninos a partir de 14 anos, e quando as mamas ainda não se desenvolveram em meninas com 13 anos ou mais.
Telarca precoce isolada
Ocorre nas meninas, antes dos oito anos de idade, e caracteriza-se pelo aumento das mamas sem qualquer outro sinal de estimulação hormonal.
Adrenarca precoce
Acontece em ambos os sexos (antes dos oito anos em meninas, e antes dos nove em meninos), com o surgimento de pelos pubianos ou axilares, também podendo ocorrer odor axilar.
Como avaliar os transtornos de puberdade
Existem algumas recomendações clínicas para avaliar os transtornos de puberdade. No exame físico, é preciso estar atento ao estadiamento de Tanner, ferramenta que permite analisar se há sinais de estímulo hormonal, bem como os estágios de desenvolvimento e progressão puberal, sendo assim, possível identificar um possível transtorno da puberdade. Dra. Talita descreve como fazer essa avaliação no vídeo. Assista à apresentação completa:
Na avaliação laboratorial, um fator primordial é a metodologia utilizada para cada análise. Uma das técnicas mais antigas, os imunoensaios utilizam anticorpos como ligantes de antígenos, através de marcadores. Já a técnica de espectometria de massas representa o que há de mais atual entre os testes de avaliação hormonal.
“É sempre importante olhar, no resultado laboratorial, não só o valor de referência, mas também qual foi o ensaio utilizado. Isso vai trazer mais informação, além de mudar o valor de corte”, destaca a médica.
Outro fator relevante a ser analisado é a unidade em que as taxas hormonais estão presentes. Para entender melhor sobre os procedimentos avaliativos de cada transtorno, continue a leitura.
Avaliação laboratorial da puberdade precoce
Na puberdade precoce, a avaliação laboratorial se inicia pela solicitação de exames que irão medir hormônios produzidos pela hipófise (LH e FSH), além de testosterona e estradiol.
A depender do resultado, a puberdade precoce pode ser classificada como central ou periférica. A central ocorre com a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-gônada. A periférica, por sua vez, não necessita da ativação desse eixo, mas decorre da produção autônoma de esteroides sexuais, em geral de origem gonadal, suprarrenal ou de fonte exógena.
A próxima etapa consiste em levantar as hipóteses diagnósticas para identificar a origem da puberdade precoce, de acordo com o quadro laboratorial apresentado. Esse procedimento ajuda a direcionar a conduta clínica mais adequada. Veja, a seguir, algumas correlações entre as causas e as hipóteses, apresentadas pela Dra. Talita.
- Esteroides de origem gonadal: síndrome de McCune Albright; testotoxicose; cistos ovarianos autônomos; tumores ovarianos ou testiculares;
- Tumores produtores de hCG: corioepitelioma, disgerminoma e teratoma (Sistema Nervoso Central); coriocarcinoma, hepatoma, hepatoblastoma, teratoma;
- Adrenal: Hiperplasia Adrenal Congênita (HAC); adenoma ou carcinoma adrenal;
- Outras causas: uso externo de esteroides sexuais; hipotiroidismo; mutação dos genes da aromatase e receptor de glicocorticoide.
Avaliação laboratorial da puberdade atrasada
Para investigar a puberdade atrasada, primeiramente, deve-se descartar a ocorrência de possíveis doenças crônicas (renais, celíacas, hipotireoidismo, entre outras). A avaliação hormonal é feita em seguida, com a dosagem de LH e FSH, testosterona, estradiol e prolactina.
Conforme o resultado desses marcadores, pode indicar um quadro de hipogonadismo hipergonadotrófico ou hipogonadotrófico, ambos podendo ocasionar o atraso puberal.
Avaliação laboratorial da adrenarca precoce
Para a investigação do quadro de adrenarca precoce, devem ser avaliados testosterona total, DHEA, DHEA-sulfato, 17(OH) progesterona, entre outros andrógenos.
Dependendo do resultado, o quadro clínico pode indicar não apenas a adrenarca precoce, como também suspeitas diagnósticas de tumor adrenal ou de hiperplasia suprarrenal congênita.
Na aula, você confere as diretrizes e os protocolos clínicos para cada um dos parâmetros avaliativos aqui expostos! Não deixe de fazer a revisão detalhada, pois a correta interpretação dos valores de referência, tendo como principal parâmetro a clínica do paciente, é fundamental para a avaliação clínico-laboratorial bem-sucedida.
Está mais do que clara a grande importância da atuação do endocrinologista pediátrico frente aos transtornos de puberdade.
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