Sabin Por: Sabin
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A alergia alimentar é uma reação do sistema imunológico a um determinado alimento que envolve apresentações clínicas variáveis, com a possibilidade de desenvolver sintomas na pele e nos sistemas gastrointestinal e respiratório. As reações podem ser leves, como simples coceira nos lábios, até reações graves que podem comprometer órgãos e até mesmo levar à morte.

A prevalência da alergia alimentar aumentou significativamente nas últimas décadas. Atualmente, é reconhecida como um importante problema de saúde pública mundial, afetando cerca de 8% das crianças menores de 5 anos e, em média, 4% dos adultos.

O caso da jovem goiana de 25 anos que sofreu um quadro alérgico grave após inalar pimenta em conserva, em fevereiro de 2023, gerou grande repercussão nas mídias digitais e televisivas, destacando a importância de alertar e conscientizar a população sobre o potencial risco das alergias alimentares.

Neste conteúdo, você entenderá o que é a alergia alimentar, suas causas, sintomas, como obter o diagnóstico e como é possível gerenciar essa condição de forma segura e eficaz. 

O que é alergia alimentar?

A alergia alimentar, conhecida também como hipersensibilidade alimentar, é uma resposta anormal e indesejável do sistema imunológico promovida pela ingestão, inalação ou contato com determinados alimentos.

Quase qualquer alimento ou aditivo alimentar pode causar uma reação alérgica, a depender do sistema imunológico de cada indivíduo, que poderá ou não reconhecer essas substâncias como nocivas para o organismo.

Os alimentos mais comumente relacionados incluem leite, soja, ovo e trigo em crianças mais jovens, e oleaginosas (amendoim, por exemplo) e frutos do mar em crianças mais velhas e adultos. Juntos, esses alimentos são responsáveis por cerca de 90% dos casos de alergia alimentar.

Em relação aos corantes alimentares, a incidência de alergia é mais rara. Os corantes mais relacionados com as reações alérgicas são a Tartrazina (E102), o Carmin (E120) e o Red 40 (ou Allura Red).

Intolerância à lactose é uma alergia alimentar?

É comum que as pessoas confundam intolerância alimentar com alergia alimentar, sendo que, na verdade, são eventos distintos. Ao contrário das alergias, a intolerância alimentar não é uma reação causada pelo sistema imunológico, mas sim por deficiências ou carências de enzimas produzidas pelo corpo, as quais são essenciais para a correta digestão de alguns alimentos. Esse é o caso da intolerância à lactose. 

A intolerância à lactose é uma desordem metabólica cuja ausência da enzima lactase no intestino leva à incapacidade de digestão da lactose (ou o açúcar do leite), o que pode resultar em sintomas intestinais como náuseas, gases e diarreia. 

Por outro lado, a alergia à proteína do leite de vaca resulta do conjunto de reações imunológicas exacerbadas contra proteínas do leite, em especial a caseína. Essa alergia se manifesta principalmente em crianças menores de três anos, e os principais sintomas incluem urticária, náuseas, diarreias, vômitos, inflamação intestinal, redução no ganho de peso, refluxo, sangue e muco nas fezes, assaduras e, em alguns casos, dispneias e até mesmo choque anafilático.

É muito importante ressaltar a diferença entre essas duas condições, pois a orientação para o consumo de leite e derivados é distinta. Na intolerância à lactose, eventualmente, é possível ingerir pequenas quantidades de leite e produtos apenas isentos de lactose, de acordo com o grau de intolerância. Existem, inclusive, suplementos que contêm a enzima e que podem ser ingeridos antes do consumo ou inseridos no preparo dos alimentos à base de leite.

Já no quadro de alergia à proteína do leite de vaca, leite e derivados devem ser excluídos da dieta, incluindo também os traços e a contaminação cruzada com pequenas quantidades do alimento.

Quais os sintomas da alergia alimentar?

As reações alérgicas alimentares se manifestam de forma bastante variada, geralmente com sintomas leves e reações que envolvem a pele e os sistemas gastrointestinal e respiratório. Os sintomas mais comuns são:

  • urticárias e dermatites, com coceiras e inchaço local;
  • erupções cutâneas;
  • diarreia;
  • dor abdominal;
  • vômito;
  • obstrução nasal;
  • tosse;
  • espirros ou nariz escorrendo.

Em alguns casos, a urticária pode evoluir para o angioedema, inchaço que ocorre em áreas mais extensas sob a pele. Esse inchaço é causado pelo extravasamento de líquido dos vasos sanguíneos. Dependendo da região do corpo afetada, o angioedema pode ser grave, especialmente quando ocorre na garganta ou nas vias aéreas.

O início dos sintomas após o contato com o alimento pode ser imediato (menos de duas horas), intermediário (de duas a 24 horas) ou tardio (mais de 24 horas), sendo que a maioria das reações ocorre dentro de duas horas após a ingestão.

Algumas pessoas também podem apresentar manifestações que ocorrem imediatamente após contato do alimento com a mucosa oral, em um fenômeno conhecido como síndrome da alergia oral. Em um número menor de casos, a alergia alimentar pode desencadear também uma reação alérgica grave chamada anafilaxia. A seguir, explicaremos em maiores detalhes essas duas reações alérgicas.

Síndrome da alergia oral

A síndrome da alergia oral é uma manifestação alérgica que ocorre devido ao reconhecimento cruzado pelo sistema imunológico, que identifica as proteínas de uma substância (como o pólen das flores) como sendo semelhantes a outras proteínas derivadas de alimentos. 

Quando a pessoa entra em contato com essas substâncias parecidas, o sistema imune as reconhece como “nocivas”, respondendo de forma exacerbada contra elas. A síndrome da alergia oral normalmente ocorre em pessoas alérgicas ao pólen que entram em contato com certos tipos de alimento, como frutas, legumes, verduras, nozes e grãos.

Os sintomas desse tipo de reação incluem coceira e inchaço nos lábios, palato e garganta. Em alguns casos mais graves, pode causar o edema de glote, um inchaço repentino na garganta que impede a passagem de ar para os pulmões.

O que é a reação anafilática?

A reação anafilática é uma reação alérgica súbita e potencialmente fatal, se não houver intervenção imediata. Nesse tipo de reação, o consumo do alimento alergênico provoca rapidamente a liberação exacerbada de mediadores bioquímicos, que levam a um quadro grave de resposta sistêmica associada às seguintes manifestações: coceira generalizada, inchaços, tosse, rouquidão, diarreia, dor na barriga, vômitos, aperto no peito com queda da pressão arterial, arritmias cardíacas e queda brusca da pressão arterial.

As vias aéreas podem se contrair e o tecido de revestimento da garganta e das vias aéreas podem inchar, dificultando ou impedindo a respiração. É imprescindível ressaltar que o tratamento rápido e de emergência é crítico em casos de anafilaxia. Se não for tratada, essa condição pode causar coma, complicações graves, acometimento de vários órgãos ou levar a óbito.

Quais as causas e fatores de risco da alergia alimentar?

A alergia alimentar pode ser desencadeada por anticorpos do tipo IgE (conhecido como hipersensibilidade imediata), normalmente resultando em reações alérgicas agudas. Mas pode ser causada também por células de defesa chamadas linfócitos T (hipersensibilidade tardia), que, em geral, resultam em sintomas gastrointestinais crônicos.

As reações alérgicas aos alimentos envolvendo anticorpos IgE são as mais comuns e mais bem caracterizadas. Os anticorpos IgE têm a capacidade de se ligar a receptores específicos em células de defesa, como os mastócitos e os basófilos.

Pessoas com alergia alimentar apresentam anticorpos IgE que reconhecem as proteínas dos alimentos como “estranhas” e, ao se ligarem aos receptores nos mastócitos e basófilos, causam a liberação de mediadores como a histamina, prostaglandinas e leucotrienos. São essas substâncias que causam os sintomas característicos dos quadros de alergia.

O Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar inclui, ainda, um terceiro grupo de alergias mistas. Nesse grupo, incluem-se reações alérgicas mediadas por anticorpos IgE associados à hipersensibilidade de linfócitos T e de citocinas pró-inflamatórias, como a esofagite eosinofílica, a gastrite eosinofílica, a gastrenterite eosinofílica, a dermatite atópica e a asma.

Os fatores de risco para o desenvolvimento da alergia alimentar ainda não estão completamente elucidados, porém, a predisposição genética associada a fatores ambientais pode influenciar. 

As atuais evidências sugerem que a herança genética, especialmente nas alergias mediadas por anticorpos IgE, é um fator preponderante. O risco de alergia alimentar pode aumentar em 40% se um membro da família apresentar qualquer doença alérgica, e em 80% se dois familiares próximos apresentarem a mesma condição.

Uma série de outros fatores de risco também têm sido associados à alergia alimentar, tais como o sexo masculino, outras doenças alérgicas (dermatite atópica e asma), desmame precoce, insuficiência de vitamina D, obesidade, época e via de exposição aos potenciais alérgenos alimentares, entre outros.

Como é feito o diagnóstico da alergia alimentar?

O diagnóstico da alergia alimentar deve ser realizado pelo médico alergista/imunologista, considerando a história clínica do paciente. A investigação do histórico familiar em relação a alergias, conforme mencionado anteriormente, também é fundamental.

Deve-se investigar quais os alimentos consumidos pelo paciente, o intervalo entre a ingestão e o surgimento dos sintomas, quais os sinais relatados, se eles aparecem sempre que o alimento suspeito é ingerido ou se há melhora após a suspensão do mesmo.

Exames adicionais são necessários para confirmar o diagnóstico, como o teste cutâneo (Prick Test), que consiste em um método diagnóstico de alergia seguro e indolor. Nesse tipo de exame, é realizada a punctura, ou seja, pequenos furinhos na pele feitos com lancetas específicas para tal fim. Em seguida, é colocado no local um extrato da substância alergênica a ser testada, para que a mesma entre em contato com a região subcutânea da pele. Após 15 minutos, é possível observar uma reação cutânea ou não no paciente, semelhante a uma picada de mosquito. Em geral, o Prick Test é indicado para diagnosticar alergias imediatas.

Poderá ser solicitada também a dosagem sanguínea do anticorpo IgE (total e específico) para o antígeno suspeito. A partir da amostra de sangue coletada do paciente, é possível verificar se o IgE apresenta sensibilidade a um determinado alérgeno. Se a ligação entre eles ocorrer, a pessoa apresenta alergia àquela substância. Esse exame se faz necessário quando o teste cutâneo não é indicado, em casos em que o paciente apresenta sintomas mais graves e possível reação anafilática ao determinado alimento.

Qual o tratamento para a alergia alimentar?

Até o momento, não há um tratamento específico que promova a cura da alergia alimentar. Os medicamentos disponíveis, como os anti-histamínicos e os corticoides, são eficazes apenas no manejo e controle dos sintomas. A forma mais eficaz de tratamento é realizar a exclusão total do alimento alérgeno da dieta do paciente. 

Em casos de reação alérgica grave, como na anafilaxia, o tratamento deve ser feito rapidamente com adrenalina autoinjetável por via intramuscular (região anterolateral da coxa). A adrenalina é um medicamento capaz de tratar todos os sintomas associados à anafilaxia, além de poder prevenir o agravamento dos sintomas e salvar vidas. Entretanto, vale destacar que, para fazer uso do medicamento, é necessário seguir as recomendações e o plano de ação indicado pelo médico especialista.

É de extrema importância também realizar o acompanhamento com o médico alergista/imunologista após o diagnóstico da condição, uma vez que ele fornecerá as orientações necessárias ao paciente e familiares para evitar novos contatos com o alimento desencadeante. Lembrando que é essencial que essas orientações sejam fornecidas por escrito, e que o alimento excluído da dieta do paciente seja substituído por equivalentes para evitar possíveis deficiências nutricionais. Por esse motivo, o acompanhamento com um nutricionista pode ser igualmente recomendado.

O paciente ou o familiar responsável deve estar sempre atento aos alimentos industrializados, verificando atentamente os rótulos para identificar a presença ou a contaminação cruzada com a substância alérgena.

Agora que você já sabe como identificar alergias alimentares, indicamos a leitura do conteúdo sobre os tipos de alergias mais comuns para que você compreenda ainda mais sobre essa condição.

Referências:

ASBAI. Alergia alimentar. Disponível em: https://asbai.org.br/alergia-alimentar-4/ Acesso em: 08/06/2023

ASBAI. Edema de glote e anafilaxia: qual a diferença? Disponível em: https://asbai.org.br/edema-de-glote-e-anafilaxia-qual-a-diferenca/ Acesso em: 16/06/2023

Iweala OI, Choudhary SK, Commins SP. Food Allergy. Curr Gastroenterol Rep. 2018 Apr 5;20(5):17. doi: 10.1007/s11894-018-0624-y.

Mayo Clinic. Food Allergy. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/food-allergy/symptoms-causes/syc-20355095 Acesso em: 08/06/2023

Renz, H., Allen, K., Sicherer, S. et al. Food allergy. Nat Rev Dis Primers 4, 17098 (2018). https://doi.org/10.1038/nrdp.2017.98

Solé, D., Silva, L. R., Cocco, R. R., Ferreira, C. T., Sarni, R. O., Oliveira, L. C., … & Rubini, N. M. (2018). Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018-Parte 1-Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia, 2(1), 7-38.

Solé, D., Silva, L. R., Cocco, R. R., Ferreira, C. T., Sarni, R. O., Oliveira, L. C., … & Rubini, N. M. (2018). Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018-Parte 2-Diagnóstico, tratamento e prevenção. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia, 2(1), 39-82.

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Entenda o que é alergia alimentar e como é feito o diagnóstico; A alergia alimentar é uma reação do sistema imunológico a um determinado alimento que envolve apresentações clínicas variáveis, com a possibilidade de desenvolver sintomas na pele e nos sistemas gastrointestinal e respiratório. As reações podem ser leves, como simples coceira nos lábios, até reações graves que podem comprometer órgãos e até mesmo levar à morte. A prevalência da alergia alimentar aumentou significativamente nas últimas décadas. Atualmente, é reconhecida como um importante problema de saúde pública mundial, afetando cerca de 8% das crianças menores de 5 anos e, em média, 4% dos adultos. O caso da jovem goiana de 25 anos que sofreu um quadro alérgico grave após inalar pimenta em conserva, em fevereiro de 2023, gerou grande repercussão nas mídias digitais e televisivas, destacando a importância de alertar e conscientizar a população sobre o potencial risco das alergias alimentares. Neste conteúdo, você entenderá o que é a alergia alimentar, suas causas, sintomas, como obter o diagnóstico e como é possível gerenciar essa condição de forma segura e eficaz.  O que é alergia alimentar? A alergia alimentar, conhecida também como hipersensibilidade alimentar, é uma resposta anormal e indesejável do sistema imunológico promovida pela ingestão, inalação ou contato com determinados alimentos. Quase qualquer alimento ou aditivo alimentar pode causar uma reação alérgica, a depender do sistema imunológico de cada indivíduo, que poderá ou não reconhecer essas substâncias como nocivas para o organismo. Os alimentos mais comumente relacionados incluem leite, soja, ovo e trigo em crianças mais jovens, e oleaginosas (amendoim, por exemplo) e frutos do mar em crianças mais velhas e adultos. Juntos, esses alimentos são responsáveis por cerca de 90% dos casos de alergia alimentar. Em relação aos corantes alimentares, a incidência de alergia é mais rara. Os corantes mais relacionados com as reações alérgicas são a Tartrazina (E102), o Carmin (E120) e o Red 40 (ou Allura Red). Intolerância à lactose é uma alergia alimentar? É comum que as pessoas confundam intolerância alimentar com alergia alimentar, sendo que, na verdade, são eventos distintos. Ao contrário das alergias, a intolerância alimentar não é uma reação causada pelo sistema imunológico, mas sim por deficiências ou carências de enzimas produzidas pelo corpo, as quais são essenciais para a correta digestão de alguns alimentos. Esse é o caso da intolerância à lactose.  A intolerância à lactose é uma desordem metabólica cuja ausência da enzima lactase no intestino leva à incapacidade de digestão da lactose (ou o açúcar do leite), o que pode resultar em sintomas intestinais como náuseas, gases e diarreia.  Por outro lado, a alergia à proteína do leite de vaca resulta do conjunto de reações imunológicas exacerbadas contra proteínas do leite, em especial a caseína. Essa alergia se manifesta principalmente em crianças menores de três anos, e os principais sintomas incluem urticária, náuseas, diarreias, vômitos, inflamação intestinal, redução no ganho de peso, refluxo, sangue e muco nas fezes, assaduras e, em alguns casos, dispneias e até mesmo choque anafilático. É muito importante ressaltar a diferença entre essas duas condições, pois a orientação para o consumo de leite e derivados é distinta. Na intolerância à lactose, eventualmente, é possível ingerir pequenas quantidades de leite e produtos apenas isentos de lactose, de acordo com o grau de intolerância. Existem, inclusive, suplementos que contêm a enzima e que podem ser ingeridos antes do consumo ou inseridos no preparo dos alimentos à base de leite. Já no quadro de alergia à proteína do leite de vaca, leite e derivados devem ser excluídos da dieta, incluindo também os traços e a contaminação cruzada com pequenas quantidades do alimento. Quais os sintomas da alergia alimentar? As reações alérgicas alimentares se manifestam de forma bastante variada, geralmente com sintomas leves e reações que envolvem a pele e os sistemas gastrointestinal e respiratório. Os sintomas mais comuns são: urticárias e dermatites, com coceiras e inchaço local; erupções cutâneas; diarreia; dor abdominal; vômito; obstrução nasal; tosse; espirros ou nariz escorrendo. Em alguns casos, a urticária pode evoluir para o angioedema, inchaço que ocorre em áreas mais extensas sob a pele. Esse inchaço é causado pelo extravasamento de líquido dos vasos sanguíneos. Dependendo da região do corpo afetada, o angioedema pode ser grave, especialmente quando ocorre na garganta ou nas vias aéreas. O início dos sintomas após o contato com o alimento pode ser imediato (menos de duas horas), intermediário (de duas a 24 horas) ou tardio (mais de 24 horas), sendo que a maioria das reações ocorre dentro de duas horas após a ingestão. Algumas pessoas também podem apresentar manifestações que ocorrem imediatamente após contato do alimento com a mucosa oral, em um fenômeno conhecido como síndrome da alergia oral. Em um número menor de casos, a alergia alimentar pode desencadear também uma reação alérgica grave chamada anafilaxia. A seguir, explicaremos em maiores detalhes essas duas reações alérgicas. Síndrome da alergia oral A síndrome da alergia oral é uma manifestação alérgica que ocorre devido ao reconhecimento cruzado pelo sistema imunológico, que identifica as proteínas de uma substância (como o pólen das flores) como sendo semelhantes a outras proteínas derivadas de alimentos.  Quando a pessoa entra em contato com essas substâncias parecidas, o sistema imune as reconhece como “nocivas”, respondendo de forma exacerbada contra elas. A síndrome da alergia oral normalmente ocorre em pessoas alérgicas ao pólen que entram em contato com certos tipos de alimento, como frutas, legumes, verduras, nozes e grãos. Os sintomas desse tipo de reação incluem coceira e inchaço nos lábios, palato e garganta. Em alguns casos mais graves, pode causar o edema de glote, um inchaço repentino na garganta que impede a passagem de ar para os pulmões. O que é a reação anafilática? A reação anafilática é uma reação alérgica súbita e potencialmente fatal, se não houver intervenção imediata. Nesse tipo de reação, o consumo do alimento alergênico provoca rapidamente a liberação exacerbada de mediadores bioquímicos, que levam a um quadro grave de resposta sistêmica associada às seguintes manifestações: coceira generalizada, inchaços, tosse, rouquidão, diarreia, dor na barriga, vômitos, aperto no peito com queda da pressão arterial, arritmias cardíacas e queda brusca da pressão arterial. As vias aéreas podem se contrair e o tecido de revestimento da garganta e das vias aéreas podem inchar, dificultando ou impedindo a respiração. É imprescindível ressaltar que o tratamento rápido e de emergência é crítico em casos de anafilaxia. Se não for tratada, essa condição pode causar coma, complicações graves, acometimento de vários órgãos ou levar a óbito. Quais as causas e fatores de risco da alergia alimentar? A alergia alimentar pode ser desencadeada por anticorpos do tipo IgE (conhecido como hipersensibilidade imediata), normalmente resultando em reações alérgicas agudas. Mas pode ser causada também por células de defesa chamadas linfócitos T (hipersensibilidade tardia), que, em geral, resultam em sintomas gastrointestinais crônicos. As reações alérgicas aos alimentos envolvendo anticorpos IgE são as mais comuns e mais bem caracterizadas. Os anticorpos IgE têm a capacidade de se ligar a receptores específicos em células de defesa, como os mastócitos e os basófilos. Pessoas com alergia alimentar apresentam anticorpos IgE que reconhecem as proteínas dos alimentos como “estranhas” e, ao se ligarem aos receptores nos mastócitos e basófilos, causam a liberação de mediadores como a histamina, prostaglandinas e leucotrienos. São essas substâncias que causam os sintomas característicos dos quadros de alergia. O Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar inclui, ainda, um terceiro grupo de alergias mistas. Nesse grupo, incluem-se reações alérgicas mediadas por anticorpos IgE associados à hipersensibilidade de linfócitos T e de citocinas pró-inflamatórias, como a esofagite eosinofílica, a gastrite eosinofílica, a gastrenterite eosinofílica, a dermatite atópica e a asma. Os fatores de risco para o desenvolvimento da alergia alimentar ainda não estão completamente elucidados, porém, a predisposição genética associada a fatores ambientais pode influenciar.  As atuais evidências sugerem que a herança genética, especialmente nas alergias mediadas por anticorpos IgE, é um fator preponderante. O risco de alergia alimentar pode aumentar em 40% se um membro da família apresentar qualquer doença alérgica, e em 80% se dois familiares próximos apresentarem a mesma condição. Uma série de outros fatores de risco também têm sido associados à alergia alimentar, tais como o sexo masculino, outras doenças alérgicas (dermatite atópica e asma), desmame precoce, insuficiência de vitamina D, obesidade, época e via de exposição aos potenciais alérgenos alimentares, entre outros. Como é feito o diagnóstico da alergia alimentar? O diagnóstico da alergia alimentar deve ser realizado pelo médico alergista/imunologista, considerando a história clínica do paciente. A investigação do histórico familiar em relação a alergias, conforme mencionado anteriormente, também é fundamental. Deve-se investigar quais os alimentos consumidos pelo paciente, o intervalo entre a ingestão e o surgimento dos sintomas, quais os sinais relatados, se eles aparecem sempre que o alimento suspeito é ingerido ou se há melhora após a suspensão do mesmo. Exames adicionais são necessários para confirmar o diagnóstico, como o teste cutâneo (Prick Test), que consiste em um método diagnóstico de alergia seguro e indolor. Nesse tipo de exame, é realizada a punctura, ou seja, pequenos furinhos na pele feitos com lancetas específicas para tal fim. Em seguida, é colocado no local um extrato da substância alergênica a ser testada, para que a mesma entre em contato com a região subcutânea da pele. Após 15 minutos, é possível observar uma reação cutânea ou não no paciente, semelhante a uma picada de mosquito. Em geral, o Prick Test é indicado para diagnosticar alergias imediatas. Poderá ser solicitada também a dosagem sanguínea do anticorpo IgE (total e específico) para o antígeno suspeito. A partir da amostra de sangue coletada do paciente, é possível verificar se o IgE apresenta sensibilidade a um determinado alérgeno. Se a ligação entre eles ocorrer, a pessoa apresenta alergia àquela substância. Esse exame se faz necessário quando o teste cutâneo não é indicado, em casos em que o paciente apresenta sintomas mais graves e possível reação anafilática ao determinado alimento. Qual o tratamento para a alergia alimentar? Até o momento, não há um tratamento específico que promova a cura da alergia alimentar. Os medicamentos disponíveis, como os anti-histamínicos e os corticoides, são eficazes apenas no manejo e controle dos sintomas. A forma mais eficaz de tratamento é realizar a exclusão total do alimento alérgeno da dieta do paciente.  Em casos de reação alérgica grave, como na anafilaxia, o tratamento deve ser feito rapidamente com adrenalina autoinjetável por via intramuscular (região anterolateral da coxa). A adrenalina é um medicamento capaz de tratar todos os sintomas associados à anafilaxia, além de poder prevenir o agravamento dos sintomas e salvar vidas. Entretanto, vale destacar que, para fazer uso do medicamento, é necessário seguir as recomendações e o plano de ação indicado pelo médico especialista. É de extrema importância também realizar o acompanhamento com o médico alergista/imunologista após o diagnóstico da condição, uma vez que ele fornecerá as orientações necessárias ao paciente e familiares para evitar novos contatos com o alimento desencadeante. Lembrando que é essencial que essas orientações sejam fornecidas por escrito, e que o alimento excluído da dieta do paciente seja substituído por equivalentes para evitar possíveis deficiências nutricionais. Por esse motivo, o acompanhamento com um nutricionista pode ser igualmente recomendado. O paciente ou o familiar responsável deve estar sempre atento aos alimentos industrializados, verificando atentamente os rótulos para identificar a presença ou a contaminação cruzada com a substância alérgena. Agora que você já sabe como identificar alergias alimentares, indicamos a leitura do conteúdo sobre os tipos de alergias mais comuns para que você compreenda ainda mais sobre essa condição. Referências: ASBAI. Alergia alimentar. Disponível em: https://asbai.org.br/alergia-alimentar-4/ Acesso em: 08/06/2023 ASBAI. Edema de glote e anafilaxia: qual a diferença? Disponível em: https://asbai.org.br/edema-de-glote-e-anafilaxia-qual-a-diferenca/ Acesso em: 16/06/2023 Iweala OI, Choudhary SK, Commins SP. Food Allergy. Curr Gastroenterol Rep. 2018 Apr 5;20(5):17. doi: 10.1007/s11894-018-0624-y. Mayo Clinic. Food Allergy. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/food-allergy/symptoms-causes/syc-20355095 Acesso em: 08/06/2023 Renz, H., Allen, K., Sicherer, S. et al. Food allergy. Nat Rev Dis Primers 4, 17098 (2018). https://doi.org/10.1038/nrdp.2017.98 Solé, D., Silva, L. R., Cocco, R. R., Ferreira, C. T., Sarni, R. O., Oliveira, L. C., ... & Rubini, N. M. (2018). Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018-Parte 1-Etiopatogenia, clínica e diagnóstico. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia, 2(1), 7-38. Solé, D., Silva, L. R., Cocco, R. R., Ferreira, C. T., Sarni, R. O., Oliveira, L. C., ... & Rubini, N. M. (2018). Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018-Parte 2-Diagnóstico, tratamento e prevenção. Documento conjunto elaborado pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia, 2(1), 39-82.
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