O diabetes é uma doença que pode trazer sérias consequências para a saúde do organismo, se não tratada corretamente. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número global de pessoas com diabetes quadruplicou nos últimos 40 anos, aumentando também o risco de morte precoce devido às consequências da doença.
No Brasil, estima-se que em torno de 17 milhões de brasileiros sofram com o diabetes. No entanto, uma grande parcela dessas pessoas não é diagnosticada, pois o diabetes é uma doença silenciosa e que se desenvolve ao longo dos anos.
Dessa forma, é fundamental conscientizar a população acerca dos riscos da doença e incentivar o diagnóstico precoce e sua prevenção. Neste conteúdo, você encontrará informações relevantes sobre os tipos de diabetes, suas causas, sintomas, diagnóstico e como realizar a prevenção.
O que é o diabetes?
O diabetes é uma doença metabólica crônica caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue (glicemia), levando, com o passar do tempo, a sérios danos em órgãos como rins, coração, vasos sanguíneos e olhos.
O controle da glicemia é realizado, em parte, por um importante hormônio chamado insulina, produzido por células especializadas no pâncreas. Entre as suas funções, a insulina atua ajudando no transporte da glicose presente no sangue para dentro das células, a qual será utilizada para produção de energia.
Após uma refeição, os níveis de glicose (açúcar) aumentam consideravelmente. Para regular os níveis, mais insulina é produzida e liberada pelo pâncreas, ocasionando uma diminuição da quantidade de glicose no sangue. Em pessoas com diabetes, esse processo é prejudicado devido a falhas na produção ou na ação da insulina, o que gera um aumento da glicemia.
Quais os tipos?
Existem basicamente dois tipos de diabetes (tipos 1 e 2), que diferenciam-se principalmente quanto à origem da doença. A seguir, apresentaremos cada um deles e suas principais características.
Diabetes tipo 1
O diabetes do tipo 1 é uma doença autoimune crônica caracterizada pelo aumento dos níveis de glicose no sangue, motivado pela deficiência na produção de insulina por células do pâncreas.
Nesse tipo de diabetes, as células são destruídas por uma reação do sistema imune, que as reconhece como algo nocivo ao organismo e, portanto, as ataca. Como resultado, o pâncreas da pessoa passa a não produzir mais a insulina ou produz muito pouco, sendo incapaz de controlar a glicemia.
O diabetes do tipo 1 é uma doença que ocorre já na infância, causando consequências para o resto da vida, especialmente pela necessidade de uso de injeções de insulina para controle da glicemia.
Diabetes tipo 2
No diabetes do tipo 2, embora o pâncreas continue produzindo insulina, o corpo acaba desenvolvendo resistência à sua ação. Assim, a insulina existente não é suficiente para atender as necessidades do organismo e controlar a glicemia, resultando em aumento dos níveis de glicose no sangue (hiperglicemia).
Conforme o diabetes avança, pode ocorrer também diminuição da capacidade de produção de insulina pelo pâncreas, agravando ainda mais o quadro. Esse é o tipo mais comum de diabetes e acomete, em sua maioria, adultos, principalmente obesos. Contudo, cresce, cada vez mais, o número de jovens diagnosticados com diabetes do tipo 2, em virtude do sedentarismo aliado a hábitos alimentares não saudáveis.
Pré-diabetes
O pré-diabetes é um termo utilizado quando o paciente apresenta níveis de glicose acima dos parâmetros considerados normais, mas ainda sem caracterizar um quadro de diabetes do tipo 2.
Ter pré-diabetes representa um risco mais elevado para desenvolvimento do diabetes do tipo 2, principalmente em pessoas obesas e hipertensas. Por outro lado, identificar o problema ainda nesse estágio representa uma boa oportunidade de reversão do quadro clínico, além de retardar a evolução da doença e suas complicações.
Diabetes gestacional
A gravidez é um período marcado por muitas mudanças corporais e hormonais na mulher com o intuito de possibilitar o desenvolvimento do bebê. Todas essas flutuações hormonais podem atrapalhar a ação da insulina, forçando o pâncreas a aumentar a produção desse hormônio.
Ocorre que em algumas mulheres não há uma compensação adequada e a insulina produzida torna-se insuficiente para regular a glicemia. Dessa forma, surge o quadro chamado diabetes gestacional, caracterizado pelo aumento das concentrações de glicose durante a gestação.
Mulheres que apresentam diabetes gestacional possuem maiores chances de desenvolver diabetes do tipo 2 tardiamente. Além disso, a elevação dos níveis de glicose na mãe pode trazer consequências para a saúde do bebê.
Quais as causas do diabetes?
O diabetes, de modo geral, é uma doença que pode ser desencadeada por um conjunto de fatores genéticos e ambientais. Além disso, as causas variam também de acordo com o tipo da doença.
No diabetes do tipo 1, a reação autoimune de destruição das células produtoras de insulina pode ocorrer em indivíduos geneticamente suscetíveis. Ou seja, variações genéticas, especialmente em células de defesa, ajudam a desencadear o processo autoimune característico da doença.
Apesar da influência genética, no diabetes do tipo 1, a hereditariedade parece não ser um fator decisivo. Mesmo que haja histórico familiar, as chances da criança desenvolver diabetes são relativamente baixas.
Fatores ambientais também podem contribuir, como infecções virais no início da infância e eventos e infecções gestacionais. Entretanto, a ciência ainda busca compreender completamente quais seriam os fatores decisivos para o desenvolvimento do diabetes do tipo 1.
Já o diabetes do tipo 2 é uma doença fortemente associada à genética e hereditariedade. As chances podem aumentar de duas a três vezes, se houver histórico familiar da doença.
A presença de comorbidades, como a obesidade, também são fatores decisivos. A obesidade e a inatividade física podem levar à resistência à insulina, que, em conjunto com uma predisposição genética, acaba levando a falhas na produção e liberação de insulina. Outros fatores incluem envelhecimento, tabagismo e doenças como a hipertensão arterial.
Quais os sintomas da doença?
Os sintomas mais comuns do diabetes estão diretamente relacionados com o aumento da glicose sanguínea e incluem: sede e fome excessiva, cansaço, vontade de urinar com frequência, mau hálito e perda de peso sem motivo aparente.
Em geral, essa sintomatologia é mais acentuada no diabetes do tipo 1. No diabetes do tipo 2, que possui evolução mais lenta, os sinais e sintomas costumam demorar anos para aparecer, sendo o diagnóstico precoce um dos principais desafios no seu combate.
Caso não haja o tratamento adequado, a hiperglicemia decorrente da doença pode provocar lesões em vários tecidos e órgãos do corpo, como olhos, rins e coração. Outras complicações podem surgir, como distúrbios da coagulação e cicatrização de lesões e feridas, cegueira, acidente vascular cerebral, doenças cardíacas e problemas em nervos.
A hiperglicemia descontrolada pode levar, ainda, a quadros de coma e convulsões, chegando a ser fatal em alguns casos.
Diabetes infantil
O diabetes mais prevalente em crianças é o tipo 1. O tipo 2 é considerado mais raro na infância, estando geralmente associado a adolescentes obesos. É importante que os pais estejam atentos aos sinais e sintomas mencionados, principalmente fome e sede em excesso, além da perda de peso.
Outro ponto de destaque é que algumas crianças com diabetes do tipo 1 apresentam uma condição conhecida como cetoacidose diabética. Como a insulina não está sendo produzida pelo pâncreas, as células do corpo não recebem glicose como fonte de energia, sendo necessária a mobilização e utilização dos estoques de gordura do corpo para esse fim.
No entanto, a utilização dessa gordura produz substâncias ácidas chamadas corpos cetônicos, que se acumulam no sangue e, em excesso, podem alterar o pH sanguíneo. Essa condição pode evoluir para um quadro clínico grave, podendo resultar em coma ou, até mesmo, levar a criança a óbito, se não houver assistência médica emergencial.
A cetoacidose costuma surgir quando a glicemia encontra-se muito descontrolada. Seus sinais e sintomas mais comuns são náuseas, vômitos, confusão mental e mau hálito provocado pelo excesso de corpos cetônicos.
Como é realizado o diagnóstico?
O diagnóstico do diabetes é feito por meio de avaliação clínica pelo médico especialista, em que são avaliados os sinais e sintomas apresentados, exame físico e histórico do paciente. Além disso, são necessários exames complementares para verificação dos níveis de glicose sanguínea.
Um dos principais exames laboratoriais utilizados é o exame de glicemia de jejum. Nesse exame, a glicemia é dosada através de uma amostra de sangue coletada pela manhã, e é necessário que o paciente fique sem se alimentar por, no mínimo, oito horas, uma vez que a alimentação interfere no resultado.
Outro exame bastante solicitado é a dosagem de hemoglobina glicada. A hemoglobina glicada é um importante exame laboratorial de avaliação do diabetes, pois representa um parâmetro muito fidedigno para avaliar o controle da glicemia em longo prazo.
Pode ser solicitado, ainda, o teste oral de tolerância à glicose. Esse exame é realizado inicialmente com a pessoa em jejum, coletando-se uma amostra de sangue para determinar a glicemia de jejum. Em seguida, a pessoa bebe um líquido que contém uma grande quantidade de glicose, e, posteriormente, são coletadas amostras de sangue em tempos pré-definidos. Assim, é possível verificar se o controle da glicemia do paciente está adequado frente a uma sobrecarga de glicose.
É importante destacar que a interpretação desses exames deve ser feita pelo profissional médico, que irá definir o diagnóstico final da doença com base nos resultados dos exames e em outros parâmetros clínicos.
Como é o tratamento do diabetes?
O tratamento do diabetes varia de acordo com a gravidade e o tipo da doença. Em pessoas acometidas pelo diabetes do tipo 1, o tratamento inclui a utilização de injeções de insulina. Como o pâncreas da pessoa não produz mais o hormônio, é necessário realizar essa reposição por meio de injeções subcutâneas.
É importante destacar que esse tipo de tratamento acompanha o paciente para o resto da vida. Embora o diabetes do tipo 1 não tenha cura, pode ser controlado. Além disso, o paciente deve realizar um controle rígido da alimentação e contagem de carboidratos para adequar a quantidade de insulina suficiente para normalizar os níveis glicêmicos.
Em pacientes diagnosticados com diabetes do tipo 2, a depender da gravidade do quadro clínico, o tratamento inclui a utilização de medicamentos para controle glicêmico e readequação alimentar. Em casos mais graves, também pode ser necessária a utilização de insulina pelo paciente.
O acompanhamento dos níveis de glicose deve ser constante, com medições diárias e consultas médicas de rotina. Dessa maneira, é possível monitorar o controle da glicemia e realizar ajustes na medicação, quando necessário. Sem falar que, com o acompanhamento médico, é possível identificar precocemente outros problemas de saúde decorrentes da doença. A prática de exercícios físicos também é uma forte aliada para o controle glicêmico, sendo recomendada para pacientes diabéticos.
Existe prevenção para o diabetes?
A prevenção do diabetes está fortemente ligada ao cultivo de hábitos saudáveis de vida, especialmente aqueles relacionados à alimentação e à prática de exercícios físicos.
É muito importante adotar hábitos alimentares que incluam alimentos naturais, fugindo dos ultraprocessados. O consumo excessivo de alimentos ricos em carboidratos e açúcares contribui para o desenvolvimento do diabetes.
É fato que a obesidade e o sedentarismo são dois dos principais fatores relacionados com o diabetes do tipo 2. Portanto, procure manter o peso corporal dentro de parâmetros saudáveis e esteja ativo fisicamente.
Outra recomendação é manter as consultas médicas e exames de rotina em dia. Só assim é possível identificar precocemente um possível quadro de pré-diabetes, por exemplo, no qual uma simples reeducação alimentar e atividades físicas podem ser suficientes para readequar a sua saúde.
Lembre-se: o diagnóstico precoce continua sendo a melhor maneira de prevenção. Por isso, sugerimos a leitura do nosso conteúdo sobre Como cuidar da saúde de jovens e adolescentes, que orienta os pais sobre os impactos fisiológicos e psicológicos durante a fase de transição entre infância, adolescência e juventude de seus filhos.
Referências:
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