O corpo humano é uma complexa máquina que requer uma variedade de nutrientes para funcionar de maneira eficaz e manter a saúde em dia. Por meio da alimentação, obtemos vitaminas, minerais, proteínas, carboidratos e gorduras, que desempenham papéis vitais em diversas funções biológicas.
Devido a fatores relacionados ao cotidiano agitado, preferências alimentares e restrições dietéticas, muitas vezes, é desafiador suprir todas as necessidades nutricionais apenas com a alimentação. É nesse contexto que os suplementos nutricionais ganham destaque. Eles são formulados para fornecer nutrientes específicos em doses concentradas, visando preencher eventuais lacunas na dieta.
Apesar dos benefícios, é importante ressaltar que o uso de suplementos deve ser feito com cautela e consciência, pois a utilização de forma inadequada pode resultar em potenciais prejuízos ao corpo.
A autossuplementação pode causar um desequilíbrio nutricional, resultando em excesso de certos nutrientes e carência de outros. É nesse ponto que a figura do profissional nutricionista se torna fundamental. Um nutricionista qualificado é capaz de avaliar as necessidades individuais com base em sua saúde, estilo de vida, objetivos e preferências alimentares.
Pensando nisso, preparamos este conteúdo para sanar suas principais dúvidas sobre a importância da suplementação nutricional e quando utilizar suplementos.
Qual a importância da suplementação alimentar?
Como mencionado, os suplementos podem ser excelentes ferramentas para fornecer nutrientes essenciais ao organismo, especialmente em condições nas quais a pessoa não consegue obtê-los por intermédio dos alimentos ou outras fontes naturais.
Esse é o caso da vitamina D, uma vitamina de ampla atuação fisiológica que pode ser obtida primariamente por meio da exposição solar, já que sua síntese no organismo é feita na pele através do estímulo dos raios ultravioleta (UV). No entanto, muitas pessoas não conseguem fazer a exposição solar da maneira correta por diferentes motivos, o que impacta diretamente nos níveis circulantes do nutriente.
Dessa forma, a suplementação oral de vitamina D pode ser uma alternativa eficaz para corrigir sua carência, desde que feita sob orientação médica e nutricional.
O exemplo acima pode ser expandido para diversos outros nutrientes essenciais, sempre aliando a rotina de vida da pessoa às necessidades para um bom desempenho em atividades e promoção da saúde. A seguir, descreveremos a função de alguns suplementos mais conhecidos e utilizados pela população.
Whey protein
O whey protein (ou proteína derivada do soro do leite) talvez seja o suplemento mais conhecido pela população, sobretudo entre as pessoas praticantes de atividades físicas. Trata-se de uma proteína de alta qualidade, considerada completa por conter os aminoácidos necessários para o corpo humano.
As proteínas são cruciais na recuperação e no crescimento muscular, auxiliando no reparo do músculo danificado, durante o exercício e na hipertrofia (crescimento da musculatura). Mais do que entender a sua função, é importante ter o conhecimento de que o whey protein é um complemento à dieta e não deve ser considerado como substituto para uma alimentação saudável e equilibrada.
Usualmente comercializado na forma de pó, o suplemento contém alta concentração proteica e é consumido principalmente por atletas e pessoas que praticam atividades físicas intensas, mas também pelos praticantes de atividades moderadas e pode ser consumido, inclusive, por pessoas sedentárias. Lembrando que seu consumo deve sempre estar atrelado a uma avaliação pelo nutricionista, que irá definir a quantidade diária de suplemento necessária. Esses cálculos consideram características individuais, como estado de saúde, rotina de trabalho, tipo de atividade física praticada (ou não) e qual a necessidade nutricional para cada organismo.
Creatina
Outro suplemento bastante conhecido e utilizado por adeptos da musculação é a creatina. Assim como o whey protein, a creatina é um dos suplementos esportivos com maior volume de evidências científicas relacionadas à sua eficácia.
A creatina é uma substância naturalmente produzida pelo corpo que exerce um papel fundamental no fornecimento de energia para as células musculares, especialmente durante atividades físicas de curta duração e alta intensidade, promovendo mais tônus e força muscular.
Sua atuação está associada ao aumento da disponibilidade de trifosfato de adenosina (ATP) nas células musculares. O ATP é a molécula responsável por armazenar e transferir energia nas células, ou seja, a moeda de troca pela qual nosso organismo obtém energia.
Durante exercícios intensos e curtos, como a musculação, o ATP é rapidamente consumido. A creatina ajuda a regenerar o ATP mais rapidamente, permitindo que os músculos continuem funcionando em níveis máximos de energia por um período mais longo.
Portanto, a creatina auxilia na melhora do desempenho físico e, indiretamente, no aumento da massa muscular. Adicionalmente, alguns estudos sugerem que a creatina também pode ter benefícios para a saúde cerebral e cardiovascular, além da função cognitiva.
Suplementação de vitaminas e minerais
As vitaminas e os minerais são nutrientes primordiais para o funcionamento saudável do corpo humano, sendo vitais em uma ampla variedade de processos fisiológicos.
A vitamina D, por exemplo, em conjunto com os minerais cálcio e fósforo, é imprescindível para a saúde óssea, entre outras funções. Já a vitamina B12, pertencente ao grupo de vitaminas do complexo B, participa na formação de células sanguíneas, auxilia na cognição e memória e no desenvolvimento e manutenção do sistema nervoso central.
A vitamina K possui importante ação na coagulação sanguínea, enquanto as vitaminas A e C podem auxiliar na função imunológica. Minerais como sódio, ferro, cálcio e potássio desempenham inúmeras funções, sendo indispensáveis para os sistemas nervoso e cardiovascular, funcionamento dos rins, entre outros.
São apenas alguns exemplos da importância desses nutrientes para a manutenção da saúde corporal. Ter uma alimentação adequada é a base para manter os níveis ideais dessas substâncias no corpo. Por outro lado, nem sempre é possível obtê-las suficientemente apenas por meio da dieta.
A vitamina D, como dito anteriormente, tem como principal origem fontes não alimentares, uma vez que suas concentrações são muito baixas em alimentos. Além disso, outros parâmetros como a idade da pessoa, condições médicas preexistentes e restrições alimentares são exemplos de situações que podem indicar a necessidade de suplementação, sempre considerando o critério médico e a avaliação nutricional.
Ômega-3 e probióticos
O ômega-3 é uma classe de gorduras reconhecidas cientificamente por seus inúmeros benefícios para a saúde humana. Segundo estudos, o ômega-3 auxilia na saúde cardiovascular, cognição, memória, controle dos níveis de colesterol e triglicerídeos, entre outros benefícios.
O corpo humano não é capaz de produzir ômega-3, sendo as fontes alimentares e a suplementação as principais formas de obtenção. Alimentos como atum, bacalhau, salmão, sardinha e truta são excelentes fontes de gordura. Há também a opção de suplementos nutricionais em forma de cápsulas de alta concentração, as quais podem ser ingeridas de acordo com a indicação nutricional.
A saúde intestinal também é outro fator que tem ganhado destaque. Cada vez mais, estudos científicos destacam a relevância do intestino para inúmeras funções corporais. Mais especificamente, as bactérias que naturalmente habitam o intestino, a chamada microbiota intestinal, são fundamentais para garantir o funcionamento do órgão.
Nesse sentido, alimentos e suplementos probióticos podem auxiliar na manutenção e na saúde da microbiota, contribuindo para um correto funcionamento intestinal e prevenindo problemas de saúde relacionados.
Quando devo utilizar suplementos?
Essa é uma dúvida bastante frequente e a resposta dependerá diretamente dos resultados encontrados na avaliação nutricional. Sem dúvidas, consultar um nutricionista antes de consumir qualquer suplemento é a melhor estratégia a ser adotada.
O nutricionista é o profissional que possui o conhecimento necessário para avaliar o seu estado nutricional e recomendar a utilização de suplementos alimentares (e em quais doses eles devem ser consumidos).
Muitas pessoas acabam utilizando suplementos sem a devida orientação, o que pode impactar diretamente a efetividade desses produtos. Cada paciente possui necessidades nutricionais específicas, que são dependentes de diferentes fatores, como a rotina de vida, a prática ou não de atividade física, o estado de saúde geral, o peso corporal, a presença de doenças crônicas como diabetes e hipertensão, a idade, os objetivos de vida, entre outros.
Perceba que são muitas variáveis a serem levadas em conta, e uma prescrição generalista, sem considerar as individualidades de cada pessoa, além de não ser efetiva, pode trazer consequências negativas para a saúde.
O controle nutricional se expande também para o plano alimentar. A elaboração de uma dieta equilibrada é fundamental para adequar a demanda energética que cada pessoa necessita, sempre de acordo com suas atividades diárias. A avaliação implicará na necessidade (ou não) de utilização de suplementos, sendo o nutricionista o profissional capacitado para fazer esse tipo de avaliação e recomendação.
Cabe destacar que, antes de partir para o uso de suplementos, considere adequar a sua alimentação. Uma dieta variada e balanceada, com alimentos naturais e nas quantidades corretas, é suficiente para fornecer todos os nutrientes que a maioria das pessoas precisa.
Consumir suplementos pode prejudicar a saúde?
Sim, e isso está relacionado diretamente à autossuplementação e seu uso excessivo. A ingestão inadequada de suplementos pode levar a um desequilíbrio nutricional. Alguns nutrientes interagem entre si e, em excesso, podem interferir na absorção de outros, prejudicando a saúde em longo prazo.
Vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K, por exemplo) e minerais (como o ferro) podem se acumular quando consumidos em abundância, causando diversos problemas de saúde.
A suplementação, quando feita inadequadamente, pode causar efeitos colaterais, especialmente quando ingeridos em doses elevadas. Isso pode incluir problemas gastrointestinais, alergias, distúrbios do sono, dores de cabeça e outros sintomas indesejados. Além disso, caso a pessoa seja alérgica ou intolerante a algum componente de um suplemento, podem ocorrer reações até mesmo graves.
Outro ponto de destaque é a interação medicamentosa. A depender do tipo de nutriente presente no suplemento, pode acontecer de diminuir ou aumentar a absorção, desregular o metabolismo ou provocar a eliminação de certos medicamentos, afetando a sua eficácia.
Muitos suplementos disponíveis no mercado não têm evidências científicas sólidas que comprovem seus benefícios. Outros possuem qualidade duvidosa e podem conter ingredientes que podem ser prejudiciais à saúde. Diante disso, só utilize suplementos de qualidade, de preferência por meio da indicação de um profissional nutricionista.
Relação da suplementação com exames laboratoriais
Quando pensamos em vitaminas, como a B12 ou a D, além da avaliação nutricional, é importante considerar a real necessidade de suplementação baseando-se em exames laboratoriais. Atualmente, existem exames nos quais é possível fazer a dosagem sanguínea desses nutrientes, verificando se o paciente possui ou não carência.
Isso se expande para diversos outros nutrientes, como ferro, selênio, cálcio, magnésio, ácido fólico (vitamina B9), entre outros. Os exames laboratoriais são importantes ferramentas para verificar o estado nutricional do paciente e devem sempre ser considerados nesse tipo de avaliação.
Em contrapartida, alguns suplementos podem alterar resultados de exames, quando consumidos de forma inadequada. É o caso do consumo de whey protein que, em doses excessivas, pode desencadear alterações hepáticas e renais, modificando parâmetros laboratoriais relevantes, como a creatinina sérica e as enzimas hepáticas.
O corpo humano reconhece quando há quantidades excessivas de determinado nutriente e estimula processos para estocá-lo ou eliminá-lo do corpo. Por isso, é ilusão consumir altas doses de proteína para garantir melhores resultados. A regra geral é sempre adequar nutricionalmente as doses do suplemento de acordo com as necessidades e objetivos de cada pessoa.
A creatina faz mal para os rins?
De fato, esse é um mito bastante comum. Diversos estudos científicos já demonstraram que a creatina não prejudica ou sobrecarrega a função renal, quando utilizada da forma correta, sendo um suplemento considerado seguro.
A creatina é um dos suplementos mais estudados e com maior número de evidências científicas acerca dos seus benefícios. Entretanto, isso não significa que sua utilização deve ocorrer indiscriminadamente. Não esqueça que, para a obtenção de ganhos significativos, é fundamental adotar um planejamento, bem como fazer o uso do suplemento da forma correta.
Tenha sempre em mente o nutricionista como seu melhor aliado. Além de promover a sua saúde, ele é o profissional que melhor ajudará você a conquistar seus objetivos e tirar todas as suas dúvidas. Para entender mais sobre nutrição e alimentação, sugerimos a leitura do conteúdo sobre o que é uma alimentação saudável. Assim, você pode começar a colocar em prática uma rotina de vida mais benéfica ao seu corpo.
Sabin avisa:
Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.
Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.
Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.
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