Sabin Por: Sabin
Leitura
10min 55s
OUVIR 00:00
AAA

O vitiligo é uma doença caracterizada pela perda gradativa da pigmentação da pele e das mucosas, resultando em manchas brancas irregulares em diferentes partes do corpo. No Brasil, estima-se que cerca de um milhão de pessoas possuam a doença.

Embora não influencie a saúde física do paciente e a alteração da cor da pele seja considerada de natureza estética, a doença afeta negativamente a qualidade de vida dos pacientes. O vitiligo pode ter impactos significativos na saúde mental e emocional das pessoas afetadas, principalmente devido ao preconceito, gerando quadros de baixa autoestima, isolamento social e até mesmo ansiedade.

É importante ressaltar que o vitiligo não é contagioso. Infelizmente, a falta de informação ainda persiste, levando à estigmatização e dificuldades emocionais para aqueles que convivem com essa doença. Por isso, é essencial combater os estereótipos e disseminar conhecimento sobre o assunto.

Neste conteúdo, você encontrará informações sobre o que é o vitiligo, quais as principais causas e sintomas, como é feito o diagnóstico e se existe tratamento.

O que é o vitiligo?

O vitiligo é uma doença crônica que afeta os melanócitos, células presentes na pele com a função de produzir a melanina, substância que dá cor à pele e a protege do sol. 

Podendo acometer todas as raças e idades — em geral, começa por volta dos 20 anos —, a doença está presente em 0,5 a 2% da população mundial. No Brasil, a prevalência estimada é de 0,54%.

Como ocorre o vitiligo?

A cor da pele é determinada pela atividade dos melanócitos e pela quantidade de melanina que eles produzem. Pessoas de pele mais escura produzem naturalmente mais melanina, enquanto quem possui pele clara produz uma quantidade menor

Devido a certas condições patológicas, os melanócitos podem parar de produzir melanina, causando o surgimento de manchas de cor mais clara do que a pele ao seu redor. No vitiligo, os melanócitos são destruídos ou deixam de funcionar corretamente, resultando na perda da pigmentação em certas áreas da pele. 

Quais os sintomas do vitiligo?

Como mencionado, o vitiligo não costuma afetar a saúde física do paciente, portanto, a sintomatologia da doença se resume ao surgimento das manchas. Em alguns casos mais raros, podem ser relatadas dor e perda da sensibilidade na região afetada.

Sua principal característica clínica são as manchas brancas que podem variar em tamanho e forma e, na maioria das vezes, são mais visíveis em pessoas com pele mais escura. As manchas podem ocorrer em qualquer parte do corpo, incluindo rosto, mãos, braços, pernas e até mesmo em áreas menos comuns, como couro cabeludo, boca e genitais.

Com o avanço da doença, essas manchas podem se espalhar e crescer, afetando outras partes do corpo. A evolução do quadro clínico pode acontecer rapidamente e depois permanece estável por anos. Em outros casos, ocorre de forma lenta durante um longo período (vários anos).

O vitiligo pode ser clinicamente classificado em duas formas, conforme descreveremos a seguir.

Vitiligo segmentar ou unilateral

Esse tipo se manifesta em apenas um lado do corpo, podendo atingir também pelos e cabelos. É uma forma menos comum da doença e costuma afetar pacientes ainda jovens.

Vitiligo não segmentar ou bilateral

É a forma mais comum da doença e se caracteriza pela manifestação de manchas nos dois lados do corpo, inicialmente nas extremidades (nas duas mãos, nos dois pés, e assim por diante). 

Nesse tipo de vitiligo, é comum a ocorrência de ciclos de perda de cor à medida que a doença avança. Intercalando esses ciclos, há períodos de estagnação, sendo que a duração dos ciclos e o tamanho das áreas afetadas tendem a se tornar maiores com o tempo.

Quais as causas do vitiligo?

As causas exatas envolvidas na falha na produção de melanina ainda não são totalmente conhecidas. Acredita-se que alguns fatores podem contribuir para esse processo, principalmente em relação a distúrbios no sistema imunológico (doenças autoimunes). Nesse caso, a reação imunológica exacerbada acaba atacando os melanócitos, causando sua destruição.

A genética também parece exercer certa influência, com indivíduos que possuem histórico familiar com maior chance de desenvolvimento da condição. Traumas, queimaduras solares graves e exposição a determinados agentes químicos também constituem fatores de risco.

O vitiligo pode ter origem emocional?

Não existem evidências científicas sólidas que comprovem que o vitiligo seja causado unicamente por fatores emocionais. O vitiligo é considerado uma doença multifatorial, ou seja, sua origem envolve a interação de diversos fatores, incluindo genéticos, autoimunes e ambientais.

Por outro lado, o estresse emocional pode influenciar o sistema imunológico e desencadear ou agravar certas doenças de origem autoimune, como o vitiligo. Dessa forma, episódios e períodos de estresse emocional podem servir de gatilho em pacientes que já possuem predisposição.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico do vitiligo é feito por um médico dermatologista, baseando-se na avaliação clínica das manchas e nos históricos familiar e do paciente. Cabe ao dermatologista determinar o tipo de vitiligo, verificar se há alguma doença autoimune associada e indicar a conduta terapêutica mais adequada.

Na consulta, o médico irá examinar o paciente em busca de manchas brancas características do vitiligo. Durante o procedimento, poderá ser utilizada uma lâmpada de Wood, uma luz ultravioleta especial que auxilia na identificação de áreas de despigmentação, especialmente em pessoas de pele clara.

Em alguns casos específicos, pode ser recomendada a realização de biópsia da pele para análise e confirmação da ausência de melanócitos na região afetada. Esse tipo de exame auxilia também a descartar outras doenças que possam estar causando os sintomas. Como parte do protocolo de investigação imunológica, análises sanguíneas poderão ser solicitadas para investigar a presença de outras doenças autoimunes. 

Vitiligo tem cura?

Atualmente, não existe cura para o vitiligo, mas existem boas opções de tratamento para cessar o aumento das lesões (estabilização do quadro) e promover a repigmentação da pele. Para orientação no tratamento, é recomendado definir se a doença está instável ou estável. O vitiligo é considerado estável quando é observada a ausência de novas lesões ou o não aumento das lesões antigas, em um período estimado de 12 meses.   

Existem medicamentos que induzem à repigmentação das regiões afetadas, como o tacrolimus e os corticosteroides tópicos, medicamentos que atuam suprimindo a resposta imunológica local.

A terapia por luz ultravioleta é uma opção indicada para quase todos os tipos de vitiligo. Esses tratamentos envolvem a exposição controlada da pele às diferentes formas de radiação ultravioleta para estimular a produção de melanina. A mais utilizada é a fototerapia com radiação ultravioleta B banda estreita (UVB-nb), a qual apresenta resultados excelentes em manchas da face e do tronco.

Outras opções terapêuticas incluem tecnologias como o laser, técnicas cirúrgicas ou ainda o transplante de melanócitos. Vale salientar que o tratamento do vitiligo é individual, pois os resultados podem variar de pessoa para pessoa. Somente o dermatologista saberá indicar a melhor opção terapêutica conforme as características clínicas apresentadas pelo paciente.

Cuidados após o diagnóstico do vitiligo

Além desses tratamentos, é importante que as pessoas com vitiligo adotem medidas de proteção solar, uma vez que a pele afetada é mais sensível ao sol. Isso inclui usar protetor solar de amplo espectro, roupas de proteção, bem como evitar a exposição excessiva ao sol.

O impacto emocional do vitiligo é significativo, considerando que as manchas podem afetar a autoestima e a qualidade de vida do paciente. Por isso, recomenda-se que as pessoas diagnosticadas procurem apoio psicológico para lidar com os desafios associados à doença. O tratamento deve envolver uma abordagem multidisciplinar, incluindo o cuidado da saúde mental em conjunto com o tratamento dermatológico.

O vitiligo é apenas uma característica física, e a autoaceitação e o conhecimento sobre a condição são fundamentais para diminuir o seu estigma. Sendo assim, que tal contribuir para que mais pessoas se informem? Compartilhe este conteúdo em suas redes sociais!

Referências:

Ahmed jan N, Masood S. Vitiligo. [Updated 2023 Feb 16]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK559149/

Fiocruz. Vitiligo traz alterações estéticas, mas não é transmissível nem causa limitações à saúde. Disponível em:: https://portal.fiocruz.br/noticia/vitiligo-traz-alteracoes-esteticas-mas-nao-e-transmissivel-nem-causa-limitacoes-saude Acesso em: 25/05/2023.

Mayo Clinic. Vitiligo. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/vitiligo/symptoms-causes/syc-20355912 Acesso em: 25/05/2023

Picardo, M., Dell’Anna, M., Ezzedine, K. et al. Vitiligo. Nat Rev Dis Primers 1, 15011 (2015). https://doi.org/10.1038/nrdp.2015.11

SBD. Vitiligo. Disponível em: https://www.sbd.org.br/doencas/vitiligo/ Acesso em: 25/05/2023

Consenso sobre o tratamento do vitiligo – Sociedade Brasileiro de Dermatologia – Anais Brasileiro de Dermatologia. 95(Supl S1), 70-82, 2020.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Entenda o que é vitiligo e quais os sintomas; O vitiligo é uma doença caracterizada pela perda gradativa da pigmentação da pele e das mucosas, resultando em manchas brancas irregulares em diferentes partes do corpo. No Brasil, estima-se que cerca de um milhão de pessoas possuam a doença. Embora não influencie a saúde física do paciente e a alteração da cor da pele seja considerada de natureza estética, a doença afeta negativamente a qualidade de vida dos pacientes. O vitiligo pode ter impactos significativos na saúde mental e emocional das pessoas afetadas, principalmente devido ao preconceito, gerando quadros de baixa autoestima, isolamento social e até mesmo ansiedade. É importante ressaltar que o vitiligo não é contagioso. Infelizmente, a falta de informação ainda persiste, levando à estigmatização e dificuldades emocionais para aqueles que convivem com essa doença. Por isso, é essencial combater os estereótipos e disseminar conhecimento sobre o assunto. Neste conteúdo, você encontrará informações sobre o que é o vitiligo, quais as principais causas e sintomas, como é feito o diagnóstico e se existe tratamento. O que é o vitiligo? O vitiligo é uma doença crônica que afeta os melanócitos, células presentes na pele com a função de produzir a melanina, substância que dá cor à pele e a protege do sol.  Podendo acometer todas as raças e idades — em geral, começa por volta dos 20 anos —, a doença está presente em 0,5 a 2% da população mundial. No Brasil, a prevalência estimada é de 0,54%. Como ocorre o vitiligo? A cor da pele é determinada pela atividade dos melanócitos e pela quantidade de melanina que eles produzem. Pessoas de pele mais escura produzem naturalmente mais melanina, enquanto quem possui pele clara produz uma quantidade menor.  Devido a certas condições patológicas, os melanócitos podem parar de produzir melanina, causando o surgimento de manchas de cor mais clara do que a pele ao seu redor. No vitiligo, os melanócitos são destruídos ou deixam de funcionar corretamente, resultando na perda da pigmentação em certas áreas da pele.  Quais os sintomas do vitiligo? Como mencionado, o vitiligo não costuma afetar a saúde física do paciente, portanto, a sintomatologia da doença se resume ao surgimento das manchas. Em alguns casos mais raros, podem ser relatadas dor e perda da sensibilidade na região afetada. Sua principal característica clínica são as manchas brancas que podem variar em tamanho e forma e, na maioria das vezes, são mais visíveis em pessoas com pele mais escura. As manchas podem ocorrer em qualquer parte do corpo, incluindo rosto, mãos, braços, pernas e até mesmo em áreas menos comuns, como couro cabeludo, boca e genitais. Com o avanço da doença, essas manchas podem se espalhar e crescer, afetando outras partes do corpo. A evolução do quadro clínico pode acontecer rapidamente e depois permanece estável por anos. Em outros casos, ocorre de forma lenta durante um longo período (vários anos). O vitiligo pode ser clinicamente classificado em duas formas, conforme descreveremos a seguir. Vitiligo segmentar ou unilateral Esse tipo se manifesta em apenas um lado do corpo, podendo atingir também pelos e cabelos. É uma forma menos comum da doença e costuma afetar pacientes ainda jovens. Vitiligo não segmentar ou bilateral É a forma mais comum da doença e se caracteriza pela manifestação de manchas nos dois lados do corpo, inicialmente nas extremidades (nas duas mãos, nos dois pés, e assim por diante).  Nesse tipo de vitiligo, é comum a ocorrência de ciclos de perda de cor à medida que a doença avança. Intercalando esses ciclos, há períodos de estagnação, sendo que a duração dos ciclos e o tamanho das áreas afetadas tendem a se tornar maiores com o tempo. Quais as causas do vitiligo? As causas exatas envolvidas na falha na produção de melanina ainda não são totalmente conhecidas. Acredita-se que alguns fatores podem contribuir para esse processo, principalmente em relação a distúrbios no sistema imunológico (doenças autoimunes). Nesse caso, a reação imunológica exacerbada acaba atacando os melanócitos, causando sua destruição. A genética também parece exercer certa influência, com indivíduos que possuem histórico familiar com maior chance de desenvolvimento da condição. Traumas, queimaduras solares graves e exposição a determinados agentes químicos também constituem fatores de risco. O vitiligo pode ter origem emocional? Não existem evidências científicas sólidas que comprovem que o vitiligo seja causado unicamente por fatores emocionais. O vitiligo é considerado uma doença multifatorial, ou seja, sua origem envolve a interação de diversos fatores, incluindo genéticos, autoimunes e ambientais. Por outro lado, o estresse emocional pode influenciar o sistema imunológico e desencadear ou agravar certas doenças de origem autoimune, como o vitiligo. Dessa forma, episódios e períodos de estresse emocional podem servir de gatilho em pacientes que já possuem predisposição. Como é feito o diagnóstico? O diagnóstico do vitiligo é feito por um médico dermatologista, baseando-se na avaliação clínica das manchas e nos históricos familiar e do paciente. Cabe ao dermatologista determinar o tipo de vitiligo, verificar se há alguma doença autoimune associada e indicar a conduta terapêutica mais adequada. Na consulta, o médico irá examinar o paciente em busca de manchas brancas características do vitiligo. Durante o procedimento, poderá ser utilizada uma lâmpada de Wood, uma luz ultravioleta especial que auxilia na identificação de áreas de despigmentação, especialmente em pessoas de pele clara. Em alguns casos específicos, pode ser recomendada a realização de biópsia da pele para análise e confirmação da ausência de melanócitos na região afetada. Esse tipo de exame auxilia também a descartar outras doenças que possam estar causando os sintomas. Como parte do protocolo de investigação imunológica, análises sanguíneas poderão ser solicitadas para investigar a presença de outras doenças autoimunes.  Vitiligo tem cura? Atualmente, não existe cura para o vitiligo, mas existem boas opções de tratamento para cessar o aumento das lesões (estabilização do quadro) e promover a repigmentação da pele. Para orientação no tratamento, é recomendado definir se a doença está instável ou estável. O vitiligo é considerado estável quando é observada a ausência de novas lesões ou o não aumento das lesões antigas, em um período estimado de 12 meses.    Existem medicamentos que induzem à repigmentação das regiões afetadas, como o tacrolimus e os corticosteroides tópicos, medicamentos que atuam suprimindo a resposta imunológica local. A terapia por luz ultravioleta é uma opção indicada para quase todos os tipos de vitiligo. Esses tratamentos envolvem a exposição controlada da pele às diferentes formas de radiação ultravioleta para estimular a produção de melanina. A mais utilizada é a fototerapia com radiação ultravioleta B banda estreita (UVB-nb), a qual apresenta resultados excelentes em manchas da face e do tronco. Outras opções terapêuticas incluem tecnologias como o laser, técnicas cirúrgicas ou ainda o transplante de melanócitos. Vale salientar que o tratamento do vitiligo é individual, pois os resultados podem variar de pessoa para pessoa. Somente o dermatologista saberá indicar a melhor opção terapêutica conforme as características clínicas apresentadas pelo paciente. Cuidados após o diagnóstico do vitiligo Além desses tratamentos, é importante que as pessoas com vitiligo adotem medidas de proteção solar, uma vez que a pele afetada é mais sensível ao sol. Isso inclui usar protetor solar de amplo espectro, roupas de proteção, bem como evitar a exposição excessiva ao sol. O impacto emocional do vitiligo é significativo, considerando que as manchas podem afetar a autoestima e a qualidade de vida do paciente. Por isso, recomenda-se que as pessoas diagnosticadas procurem apoio psicológico para lidar com os desafios associados à doença. O tratamento deve envolver uma abordagem multidisciplinar, incluindo o cuidado da saúde mental em conjunto com o tratamento dermatológico. O vitiligo é apenas uma característica física, e a autoaceitação e o conhecimento sobre a condição são fundamentais para diminuir o seu estigma. Sendo assim, que tal contribuir para que mais pessoas se informem? Compartilhe este conteúdo em suas redes sociais! Referências: Ahmed jan N, Masood S. Vitiligo. [Updated 2023 Feb 16]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2023 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK559149/ Fiocruz. Vitiligo traz alterações estéticas, mas não é transmissível nem causa limitações à saúde. Disponível em:: https://portal.fiocruz.br/noticia/vitiligo-traz-alteracoes-esteticas-mas-nao-e-transmissivel-nem-causa-limitacoes-saude Acesso em: 25/05/2023. Mayo Clinic. Vitiligo. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/vitiligo/symptoms-causes/syc-20355912 Acesso em: 25/05/2023 Picardo, M., Dell'Anna, M., Ezzedine, K. et al. Vitiligo. Nat Rev Dis Primers 1, 15011 (2015). https://doi.org/10.1038/nrdp.2015.11 SBD. Vitiligo. Disponível em: https://www.sbd.org.br/doencas/vitiligo/ Acesso em: 25/05/2023 Consenso sobre o tratamento do vitiligo – Sociedade Brasileiro de Dermatologia – Anais Brasileiro de Dermatologia. 95(Supl S1), 70-82, 2020.