Sabin Por: Sabin
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A toxoplasmose congênita é uma infecção que pode trazer consequências sérias ao bebê ainda dentro do útero. Ela é causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii, que é transmitido quando a mãe adquire a infecção durante a gravidez. O problema é que muitas mulheres não apresentam sintomas durante a infecção, o que torna o diagnóstico mais difícil e aumenta as chances de complicações.

No Brasil, a incidência dessa infecção é mais alta do que em muitos outros países, o que reforça a importância de orientar gestantes sobre os cuidados necessários. A boa notícia é que, com medidas preventivas e acompanhamento adequado durante o pré-natal, é possível reduzir significativamente os riscos de transmissão.

Continue a leitura para compreender como é feito o diagnóstico e em que momento da gestação deve ter mais cuidado.

Entenda o que é toxoplasmose congênita

A toxoplasmose é uma infecção causada por um parasita que pode estar presente nas fezes de gatos infectados, em alimentos contaminados — como carnes malcozidas, frutas e vegetais mal lavados — e até mesmo no solo

Quando uma mulher adquire a infecção pela primeira vez durante a gravidez, existe a possibilidade de o parasita atravessar a placenta e atingir o bebê, caracterizando a toxoplasmose congênita.

É importante destacar que, muitas vezes, a mãe não apresenta sinais evidentes da doença. Mesmo assim, o bebê pode sofrer consequências graves, entre elas, alterações do sistema nervoso central e dos olhos. 

De modo geral, a prevalência elevada no Brasil reforça a necessidade de disseminar informações sobre prevenção entre gestantes e profissionais de saúde.

Por que o momento da gravidez influencia no risco?

O risco de transmissão da toxoplasmose para o bebê varia conforme a fase da gestação. No primeiro trimestre, a chance de o parasita atingir o feto é menor, mas, se a infecção acontecer, as complicações tendem a ser mais severas. Isso inclui desde abortos espontâneos até sequelas graves.

Já no segundo e principalmente no terceiro trimestre, a possibilidade de transmissão aumenta consideravelmente. Entretanto, as formas clínicas podem ser menos graves.

No Brasil, o perfil genético dos parasitas circulantes é mais agressivo, o que potencializa os riscos de quadros clínicos mais sérios, mesmo em infecções adquiridas em fases mais tardias da gestação.

Um aspecto importante a ser destacado é que, em países como a França, a implementação de exames regulares durante a gravidez contribuiu de forma relevante para a redução dos casos graves de toxoplasmose congênita. Essa experiência internacional corrobora o papel fundamental da triagem e do diagnóstico precoce. 

No Brasil, também avançamos com a criação de regulamentações voltadas ao acompanhamento das gestantes e triagem neonatal, o que representa um passo fundamental na prevenção e no cuidado com a saúde materno-infantil.

Quais os sinais de alerta nos bebês?

Muitos bebês com toxoplasmose congênita nascem sem sintomas aparentes. No entanto, em alguns casos, os sinais e sintomas da infecção podem ser perceptíveis logo nos primeiros dias de vida.

Sinais logo após o nascimento

Alguns recém-nascidos podem apresentar sinais aparentes da infecção ao nascer. Entre os primeiros sinais, estão o amarelamento da pele, conhecido como icterícia, o aumento do tamanho do fígado e do baço e a presença de manchas na pele

A anemia e outras alterações nos exames de sangue também podem chamar a atenção da equipe médica.

Complicações mais preocupantes

As complicações mais preocupantes envolvem o sistema nervoso central e os olhos. O bebê pode apresentar alterações no tamanho da cabeça, como aumento do perímetro cefálico por hidrocefalia ou mesmo microcefalia, além de episódios de convulsões

No campo oftalmológico, a toxoplasmose congênita pode causar inflamações na retina e na coroide, conhecidas como coriorretinite, que podem comprometer a visão e, em casos graves, levar à cegueira.

Efeitos tardios

Mesmo quando o bebê aparenta estar saudável ao nascer, é recomendável manter o acompanhamento com especialistas. Algumas consequências da infecção podem surgir ou se tornar perceptíveis com o passar do tempo, como atrasos no desenvolvimento motor e cognitivo ou dificuldades de aprendizagem.

Como é feito o diagnóstico da toxoplasmose congênita?

O diagnóstico pode ser realizado durante a gravidez ou após o nascimento do bebê. No pré-natal, exames de sangue são solicitados para verificar se a gestante já teve contato com o parasita. 

Caso haja suspeita de infecção recente, o médico pode indicar exames mais detalhados, como a análise do líquido amniótico por meio da amniocentese, que permite verificar se o bebê foi infectado ainda no útero.

Após o nascimento, o bebê também deve ser avaliado. O Teste do Pezinho é utilizado como ferramenta de triagem, sendo crucial na identificação de bebês infectados, porém assintomáticos, cujas mães não foram diagnosticadas na gestação. Adicionalmente, exames de sangue específicos conseguem detectar a presença de anticorpos produzidos pelo próprio organismo do recém-nascido. 

Exames de imagem como ultrassonografia, tomografia ou ressonância magnética são utilizados para investigar possíveis alterações no cérebro. Por fim, a avaliação oftalmológica e auditiva também é essencial, já que olhos e ouvidos são frequentemente afetados pela toxoplasmose congênita.

O que fazer se a toxoplasmose for confirmada?

Se a infecção for diagnosticada durante a gravidez, o tratamento pode ser iniciado ainda antes do nascimento. Em casos de infecção recente, a gestante pode ser tratada com um antibiótico chamado espiramicina, que reduz o risco de o parasita alcançar o bebê. 

Se o diagnóstico indicar que o bebê já foi infectado, uma combinação de medicamentos, incluindo sulfadiazina e pirimetamina, poderá ser prescrita. Todos os tratamentos devem ser realizados com rigoroso acompanhamento médico.

Após o nascimento, o bebê pode precisar continuar o tratamento por um ano. Essa medida tem como objetivo diminuir os riscos de complicações neurológicas e oculares. O acompanhamento com uma equipe multidisciplinar, formada por pediatras, neurologistas, oftalmologistas e outros profissionais, é importante para garantir o melhor desenvolvimento possível da criança.

Como prevenir a toxoplasmose congênita?

A prevenção da toxoplasmose congênita passa por cuidados simples, mas que podem fazer toda a diferença. Um dos principais pontos é a atenção com a alimentação. Carnes devem ser sempre bem cozidas, evitando o consumo de preparações malpassadas ou cruas. Frutas, legumes e verduras precisam ser lavados adequadamente antes do consumo.

Além da alimentação, o contato com dejetos dos animais exige atenção. Evitar o manuseio direto das fezes de gatos é uma medida indispensável, especialmente durante a gravidez. Caso a gestante precise realizar a limpeza da caixa de areia, o uso de luvas e a higiene correta das mãos após o procedimento são determinantes.

Outro ponto importante é o cuidado ao lidar com a terra, como em atividades de jardinagem. Usar luvas e lavar bem as mãos após essas tarefas pode ajudar a reduzir o risco de infecção.

A realização de todos os exames recomendados durante o pré-natal também é uma das formas mais eficazes de prevenir complicações. Manter o pré-natal em dia e realizar todos os exames solicitados pelo obstetra são passos importantíssimos para proteger a saúde do bebê. Por isso, em caso de dúvidas ou suspeitas, o melhor caminho é buscar orientação médica qualificada.

A saúde do bebê também depende da alimentação da mãe após o parto. Aproveite para conhecer nosso conteúdo sobre o tema: Alimentação materna durante a amamentação.

Sabin avisa:

Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.

Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas. 

Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.

Referências:

Olariu, Tudor Rares et al. “Severe congenital toxoplasmosis in the United States: clinical and serologic findings in untreated infants.” The Pediatric infectious disease journal vol. 30,12 (2011): 1056-61. doi:10.1097/INF.0b013e3182343096

Avignon, Marine et al. “Diagnosis of Congenital Toxoplasmosis: Performance of Four IgG and IgM Automated Assays at Birth in a Tricentric Evaluation.” Journal of clinical microbiology vol. 60,5 (2022): e0011522. doi:10.1128/jcm.00115-22

Denis, Julie et al. “Contribution of serology in congenital toxoplasmosis diagnosis: results from a 10-year French retrospective study.” Journal of clinical microbiology vol. 61,10 (2023): e0035423. doi:10.1128/jcm.00354-23

Kahan, Yaara et al. “Characterization of Congenital Toxoplasmosis in Israel: A 17-year Nationwide Study Experience.” The Pediatric infectious disease journal vol. 39,6 (2020): 553-559. doi:10.1097/INF.0000000000002598Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Toxoplasmose congênita: diagnóstico, tratamento e prevenção. Departamento Científico de Infectologia. 2020. Disponível em: 22620c-DC – Toxoplasmose congênita.indd

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O que é toxoplasmose congênita e como evitar complicações no bebê; A toxoplasmose congênita é uma infecção que pode trazer consequências sérias ao bebê ainda dentro do útero. Ela é causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii, que é transmitido quando a mãe adquire a infecção durante a gravidez. O problema é que muitas mulheres não apresentam sintomas durante a infecção, o que torna o diagnóstico mais difícil e aumenta as chances de complicações. No Brasil, a incidência dessa infecção é mais alta do que em muitos outros países, o que reforça a importância de orientar gestantes sobre os cuidados necessários. A boa notícia é que, com medidas preventivas e acompanhamento adequado durante o pré-natal, é possível reduzir significativamente os riscos de transmissão. Continue a leitura para compreender como é feito o diagnóstico e em que momento da gestação deve ter mais cuidado. Entenda o que é toxoplasmose congênita A toxoplasmose é uma infecção causada por um parasita que pode estar presente nas fezes de gatos infectados, em alimentos contaminados — como carnes malcozidas, frutas e vegetais mal lavados — e até mesmo no solo.  Quando uma mulher adquire a infecção pela primeira vez durante a gravidez, existe a possibilidade de o parasita atravessar a placenta e atingir o bebê, caracterizando a toxoplasmose congênita. É importante destacar que, muitas vezes, a mãe não apresenta sinais evidentes da doença. Mesmo assim, o bebê pode sofrer consequências graves, entre elas, alterações do sistema nervoso central e dos olhos.  De modo geral, a prevalência elevada no Brasil reforça a necessidade de disseminar informações sobre prevenção entre gestantes e profissionais de saúde. Por que o momento da gravidez influencia no risco? O risco de transmissão da toxoplasmose para o bebê varia conforme a fase da gestação. No primeiro trimestre, a chance de o parasita atingir o feto é menor, mas, se a infecção acontecer, as complicações tendem a ser mais severas. Isso inclui desde abortos espontâneos até sequelas graves. Já no segundo e principalmente no terceiro trimestre, a possibilidade de transmissão aumenta consideravelmente. Entretanto, as formas clínicas podem ser menos graves. No Brasil, o perfil genético dos parasitas circulantes é mais agressivo, o que potencializa os riscos de quadros clínicos mais sérios, mesmo em infecções adquiridas em fases mais tardias da gestação. Um aspecto importante a ser destacado é que, em países como a França, a implementação de exames regulares durante a gravidez contribuiu de forma relevante para a redução dos casos graves de toxoplasmose congênita. Essa experiência internacional corrobora o papel fundamental da triagem e do diagnóstico precoce.  No Brasil, também avançamos com a criação de regulamentações voltadas ao acompanhamento das gestantes e triagem neonatal, o que representa um passo fundamental na prevenção e no cuidado com a saúde materno-infantil. Quais os sinais de alerta nos bebês? Muitos bebês com toxoplasmose congênita nascem sem sintomas aparentes. No entanto, em alguns casos, os sinais e sintomas da infecção podem ser perceptíveis logo nos primeiros dias de vida. Sinais logo após o nascimento Alguns recém-nascidos podem apresentar sinais aparentes da infecção ao nascer. Entre os primeiros sinais, estão o amarelamento da pele, conhecido como icterícia, o aumento do tamanho do fígado e do baço e a presença de manchas na pele.  A anemia e outras alterações nos exames de sangue também podem chamar a atenção da equipe médica. Complicações mais preocupantes As complicações mais preocupantes envolvem o sistema nervoso central e os olhos. O bebê pode apresentar alterações no tamanho da cabeça, como aumento do perímetro cefálico por hidrocefalia ou mesmo microcefalia, além de episódios de convulsões.  No campo oftalmológico, a toxoplasmose congênita pode causar inflamações na retina e na coroide, conhecidas como coriorretinite, que podem comprometer a visão e, em casos graves, levar à cegueira. Efeitos tardios Mesmo quando o bebê aparenta estar saudável ao nascer, é recomendável manter o acompanhamento com especialistas. Algumas consequências da infecção podem surgir ou se tornar perceptíveis com o passar do tempo, como atrasos no desenvolvimento motor e cognitivo ou dificuldades de aprendizagem. Como é feito o diagnóstico da toxoplasmose congênita? O diagnóstico pode ser realizado durante a gravidez ou após o nascimento do bebê. No pré-natal, exames de sangue são solicitados para verificar se a gestante já teve contato com o parasita.  Caso haja suspeita de infecção recente, o médico pode indicar exames mais detalhados, como a análise do líquido amniótico por meio da amniocentese, que permite verificar se o bebê foi infectado ainda no útero. Após o nascimento, o bebê também deve ser avaliado. O Teste do Pezinho é utilizado como ferramenta de triagem, sendo crucial na identificação de bebês infectados, porém assintomáticos, cujas mães não foram diagnosticadas na gestação. Adicionalmente, exames de sangue específicos conseguem detectar a presença de anticorpos produzidos pelo próprio organismo do recém-nascido.  Exames de imagem como ultrassonografia, tomografia ou ressonância magnética são utilizados para investigar possíveis alterações no cérebro. Por fim, a avaliação oftalmológica e auditiva também é essencial, já que olhos e ouvidos são frequentemente afetados pela toxoplasmose congênita. O que fazer se a toxoplasmose for confirmada? Se a infecção for diagnosticada durante a gravidez, o tratamento pode ser iniciado ainda antes do nascimento. Em casos de infecção recente, a gestante pode ser tratada com um antibiótico chamado espiramicina, que reduz o risco de o parasita alcançar o bebê.  Se o diagnóstico indicar que o bebê já foi infectado, uma combinação de medicamentos, incluindo sulfadiazina e pirimetamina, poderá ser prescrita. Todos os tratamentos devem ser realizados com rigoroso acompanhamento médico. Após o nascimento, o bebê pode precisar continuar o tratamento por um ano. Essa medida tem como objetivo diminuir os riscos de complicações neurológicas e oculares. O acompanhamento com uma equipe multidisciplinar, formada por pediatras, neurologistas, oftalmologistas e outros profissionais, é importante para garantir o melhor desenvolvimento possível da criança. Como prevenir a toxoplasmose congênita? A prevenção da toxoplasmose congênita passa por cuidados simples, mas que podem fazer toda a diferença. Um dos principais pontos é a atenção com a alimentação. Carnes devem ser sempre bem cozidas, evitando o consumo de preparações malpassadas ou cruas. Frutas, legumes e verduras precisam ser lavados adequadamente antes do consumo. Além da alimentação, o contato com dejetos dos animais exige atenção. Evitar o manuseio direto das fezes de gatos é uma medida indispensável, especialmente durante a gravidez. Caso a gestante precise realizar a limpeza da caixa de areia, o uso de luvas e a higiene correta das mãos após o procedimento são determinantes. Outro ponto importante é o cuidado ao lidar com a terra, como em atividades de jardinagem. Usar luvas e lavar bem as mãos após essas tarefas pode ajudar a reduzir o risco de infecção. A realização de todos os exames recomendados durante o pré-natal também é uma das formas mais eficazes de prevenir complicações. Manter o pré-natal em dia e realizar todos os exames solicitados pelo obstetra são passos importantíssimos para proteger a saúde do bebê. Por isso, em caso de dúvidas ou suspeitas, o melhor caminho é buscar orientação médica qualificada. A saúde do bebê também depende da alimentação da mãe após o parto. Aproveite para conhecer nosso conteúdo sobre o tema: Alimentação materna durante a amamentação. Sabin avisa: Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames. Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.  Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial. Referências: Olariu, Tudor Rares et al. “Severe congenital toxoplasmosis in the United States: clinical and serologic findings in untreated infants.” The Pediatric infectious disease journal vol. 30,12 (2011): 1056-61. doi:10.1097/INF.0b013e3182343096 Avignon, Marine et al. “Diagnosis of Congenital Toxoplasmosis: Performance of Four IgG and IgM Automated Assays at Birth in a Tricentric Evaluation.” Journal of clinical microbiology vol. 60,5 (2022): e0011522. doi:10.1128/jcm.00115-22 Denis, Julie et al. “Contribution of serology in congenital toxoplasmosis diagnosis: results from a 10-year French retrospective study.” Journal of clinical microbiology vol. 61,10 (2023): e0035423. doi:10.1128/jcm.00354-23 Kahan, Yaara et al. “Characterization of Congenital Toxoplasmosis in Israel: A 17-year Nationwide Study Experience.” The Pediatric infectious disease journal vol. 39,6 (2020): 553-559. doi:10.1097/INF.0000000000002598Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Toxoplasmose congênita: diagnóstico, tratamento e prevenção. Departamento Científico de Infectologia. 2020. Disponível em: 22620c-DC - Toxoplasmose congênita.indd