No cuidado com a saúde, é importante estar sempre alerta aos sinais que o corpo apresenta. Nesse sentido, devemos ficar atentos aos sintomas do HPV. Lembrando, porém, que, na maioria dos casos, a infecção pode ser assintomática ou causar lesões subclínicas. Por isso, é recomendável manter rotinas de investigação e prevenção da infecção pelo HPV e suas complicações.
Conseguir identificar a infecção por HPV precocemente, mesmo antes de apresentar sintomas, é um grande diferencial para o tratamento, além de evitar que cause problemas mais graves.
Neste artigo, explicaremos o que é o HPV, quais os principais sintomas e os tratamentos mais indicados em caso de infecção. Você também saberá quais os meios para evitar a transmissão e se existe cura para a doença. Vamos lá?
O que é o HPV?
O Papilomavírus Humano (HPV) é um vírus capaz de causar infecções em pele e mucosas. Existem mais de 200 tipos de HPV, sendo cerca de 40 tipos que podem infectar o trato anogenital, tanto em mulheres quanto em homens. Essas infecções podem provocar desde verrugas simples até casos mais sérios, como o câncer de colo uterino ou o câncer anal.
Os papilomavírus são divididos em dois grupos, classificados pelo potencial oncogênico: alto risco (tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59, 68, 73, 82) e baixo risco (tipos 6, 11, 40, 42, 43, 54, 61, 70, 72, 81). Os de alto risco estão relacionados a cânceres de colo de útero, da vagina e do ânus, já os de baixo risco estão associados ao desenvolvimento de verrugas e também alterações de baixo grau nas células do colo do útero.
A identificação dos tipos é feita por números, sendo os tipos oncogênicos 16 e 18 os mais prevalentes, seguidos dos tipos 31, 33, 45 e 58. Esses são os principais responsáveis por aproximadamente 90% dos casos de câncer de colo de útero em todo o mundo, na mulher, e anal, em ambos os sexos.
O HPV é a Infecção Sexualmente Transmissível (IST) mais comum no mundo. Além do câncer de colo uterino, o HPV pode causar câncer de vulva, vagina, ânus, orofaringe e de pênis, assim como verrugas anogenitais e papilomatose de laringe nos dois sexos. A maioria das pessoas no mundo será, provavelmente, infectada por pelo menos um dos diversos tipos de HPV ao longo da vida.
Como o papilomavírus se instala na pele e em mucosas das regiões genital e oral, a transmissão ocorre pelo contato com as lesões. Ainda que a infecção possa ocorrer em crianças, a probabilidade de contato com o vírus aumenta com o início da atividade sexual. Isso ocorre porque a infecção é uma doença transmitida principalmente pela via sexual. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), cerca de 80% das pessoas que tiveram atividades sexuais poderão se contaminar durante a vida.
Quais os sintomas do HPV?
Como mencionamos, a pessoa infectada pode desenvolver verrugas e lesões genitais, precursoras para o desenvolvimento de câncer. No entanto, a infecção pelo papilomavírus geralmente não causa sintomas nos estágios iniciais. Dessa forma, no caso das mulheres, é fundamental a realização de exames ginecológicos periodicamente para diagnosticar a doença logo no início. Os exames e a vacinação são fortes aliados na prevenção de complicações graves.
Mesmo em pacientes sem verrugas genitais visíveis, a consulta médica é necessária: a avaliação ginecológica pode evidenciar lesões no colo do útero invisíveis a olho nu e rastrear padrões que sugerem a infecção pelo HPV.
Se forem infecções por tipos de HPV de alto risco, as células contaminadas podem se multiplicar desordenadamente, formando tumores malignos e dando origem aos cânceres anogenitais. Identificar o tipo do HPV é uma informação de grande valia, uma vez que sabemos, hoje, que alguns deles apresentam risco oncológico maior do que outros.
A replicação do HPV pode ser facilitada pela diminuição na resistência do organismo humano. Portanto, pacientes com o sistema imunológico comprometido, como aqueles vivendo com HIV ou transplantados, estão em maior risco de desenvolver tumores pelo HPV. Mulheres vivendo com HIV têm seis vezes mais chances de desenvolver câncer de colo de útero.
Nessa população, o cuidado deve ser redobrado com esquemas de vacinação com maior número de doses, além dos cuidados universais, que incluem exames periódicos, uso de contraceptivos de barreira (camisinhas) e visitas regulares ao médico.
Quais os tratamentos e se existe cura para o HPV
Não há tratamento antiviral específico para o tratamento da infecção pelo HPV, e o manejo se refere ao tratamento das manifestações clínicas e alterações induzidas pelo vírus. O tratamento das verrugas anogenitais está habitualmente baseado na sua remoção, que pode ser realizada por diferentes técnicas, como aplicação de medicações, eletrocauterização, entre outras. Lesões neoplásicas são conduzidas conforme protocolos específicos para cada tipo identificado.
Em alguns casos, o papilomavírus é eliminado do organismo de forma espontânea, sem que a pessoa sequer saiba que foi infectada. Ainda não existe um medicamento que consiga erradicar o vírus do organismo, podendo a pessoa permanecer infectada por toda a vida. Nesse caso, a doença pode se manifestar de tempos em tempos, levando à necessidade de reavaliação periódica.
Quais os meios de prevenção contra o HPV?
Existem várias maneiras de se proteger contra a doença, e a medicina apresenta avanços constantes para a redução da infecção. Confira, a seguir, as principais formas de prevenção.
Exames
O exame ginecológico mais usado para identificar o câncer de colo de útero é o Papanicolau. Ele é capaz de detectar células com alterações no revestimento do colo uterino, que podem ser tratadas logo no início do contágio. Assim, o exame propicia o diagnóstico precoce de lesões que merecem atenção, evitando a evolução para doenças mais graves, especialmente o câncer de colo de útero.
O Papanicolau é um exame rápido e prático que pode ser realizado no próprio consultório do ginecologista. Atualmente, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) recomenda a realização do exame a cada três anos após dois resultados anuais consecutivos negativos. Em pacientes vivendo com HIV, esse controle deve ser ainda mais estreito. Importante frisar que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a vacinação contra o HPV não substitui o rastreamento do câncer de colo de útero.
Preservativos
O uso de preservativos é essencial na prevenção não só do HPV, mas de todas as ISTs. Contudo, vale lembrar que a medida não evita completamente a transmissão: lesões genitais nas regiões próximas ao pênis e à vulva, por exemplo, ficam desprotegidas do alcance do preservativo e podem ser contagiosas.
Vacinas
A vacinação é uma estratégia usada no enfrentamento da infecção pelo HPV. A infecção ou doença natural não proporciona imunidade de forma definitiva e não protege contra as reinfecções, sendo necessária a imunização pela vacina. Cabe destacar que a vacina é uma prevenção e não um tratamento.
Há duas vacinas disponíveis para combater o HPV: a quadrivalente e a nonavalente, e ambas têm como função estimular a produção de anticorpos contra os tipos de HPV contemplados em suas formulações.
A vacina quadrivalente oferece proteção aos tipos 6, 11, 16 e 18, prevenindo cerca de 70% dos cânceres de colo de útero e 90% das verrugas genitais. A nonavalente adiciona proteção contra mais cinco tipos virais oncogênicos (31, 33, 45, 52 e 58).
No Sistema Único de Saúde (SUS), a quadrivalente está disponível para:
- meninas e meninos entre nove e 14 anos;
- até dezembro de 2025, adolescentes de 15 a 19 anos não vacinados;
- pessoas imunossuprimidas de nove a 45 anos (pessoas vivendo com HIV, pacientes oncológicos em quimioterapia e/ou radioterapia, transplantados de órgãos sólidos ou de medula óssea) e vítimas de violência sexual;
- usuários de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV) entre 15 e 45 anos;
- portadores de papilomatose respiratória recorrente a partir de dois anos.
As vacinas funcionam melhor se administradas antes do início da vida sexual, ou seja, antes da exposição ao HPV. Ressalta-se que melhores respostas imunológicas são observadas quando a administração da vacina é feita no início da adolescência.
Proteção ampliada
Apesar de a vacina quadrivalente ser uma excelente ferramenta preventiva contra quatro dos tipos mais graves do vírus HPV, uma vacina que oferta proteção ampliada foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso no Brasil em 2017, sendo disponibilizada posteriormente na rede privada a partir de 2023.
Trata-se da Gardasil® nonavalente, que oferece proteção contra nove tipos diferentes do vírus. Além dos tipos 6, 11, 16 e 18, inclui cobertura adicional contra outros cinco (31, 33, 45, 52, 58), chegando a 90% de proteção dos tipos mais comuns de HPV.

A nonavalente é recomendada para usos pediátrico e adulto, dos nove aos 45 anos, em mulheres e homens, e o esquema vacinal varia conforme faixa etária e histórico prévio de imunização.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) recomenda o esquema abaixo para indivíduos que não foram previamente vacinados.
- meninas e meninos de nove a 14 anos: duas doses, com seis meses de intervalo (0-6 meses);
- a partir de 15 anos: três doses (0 – 2 – 6 meses);
- imunodeprimidos de nove a 45 anos, independentemente da idade: três doses (0 – 2 – 6 meses).
A vacina nonavalente está disponível apenas na rede privada. Aproveitamos para informar que o Sabin oferece a vacina HPV nonavalente, e a aquisição pode ser feita pela loja virtual.
Dúvidas frequentes
Como toda novidade, a chegada da Gardasil 9® gerou dúvidas na população quanto a sua utilização. Uma das perguntas mais frequentes é se quem já completou o esquema vacinal com a quadrivalente pode receber também a nova vacina para adquirir proteção extra. A resposta é sim!
Entretanto, o esquema será definido conforme a idade do indivíduo a ser vacinado e número de doses prévias recebidas das formulações anteriormente disponíveis. Veja as recomendações da SBIm:
Meninos e meninas de 9 a 14 anos
- vacinados com uma dose de HPV4: duas doses de HPV9 (0 – 6 meses), respeitando o intervalo de seis meses em relação à primeira dose de HPV4;
- completamente vacinados com HPV2 ou HPV4: duas doses de HPV9 (0 – 6 meses), respeitando o intervalo mínimo de um ano após a última dose de HPV2 ou HPV4; adolescentes previamente expostos podem ser vacinados.
Adolescentes a partir de 15 anos e adultos
- vacinados com uma ou duas doses de HPV2 ou HPV4: três doses de HPV9 (0 – 2 – 6 meses), respeitando o intervalo de dois meses em relação à primeira dose de HPV4 ou de três meses em relação à segunda dose de HPV4;
- completamente vacinados com HPV2 ou HPV4: três doses de HPV9 (0 – 2 – 6 meses), respeitando o intervalo mínimo de um ano após a última dose de HPV2 ou HPV4.
Pessoas que estão com HPV ou que já tiveram a doença em algum momento também devem se vacinar.
Embora seja segura e apresente boa tolerância a efeitos adversos, não é recomendada a aplicação da Gardasil 9® em gestantes ou em pessoas que apresentam alergia a algum componente da vacina. Caso a mulher engravide durante o esquema vacinal, ele deverá ser interrompido e reiniciado após a gestação.
A aplicação da vacina em pessoas acima dos 45 anos só poderá ser feita sob recomendação médica.
Cenário da vacinação do HPV no Brasil
No Brasil, até 2017, a imunização contra HPV era feita somente em meninas. Isso se devia à incidência da infecção ser maior em mulheres, e a vacina tinha o objetivo de proteger contra um dos principais cânceres, o de colo de útero.
O câncer de colo de útero é um sério problema de saúde pública, com mais de 500 mil novos casos diagnosticados no mundo, a cada ano. Conforme a OMS, cerca de 311 mil mulheres morrem da doença. No Brasil, é o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres, superado apenas pelo câncer de mama.
Em contrapartida, estudos mostraram que homens também podiam se infectar pelo HPV e, além disso, observaram maior frequência de câncer de pênis, oral e anal, doenças diretamente relacionadas ao papilomavírus. Anualmente, são diagnosticados quase 30 mil casos de câncer anal em homens e mulheres e 18 mil casos de câncer peniano.
A vacinação é considerada um grande avanço na prevenção e no controle do HPV, tendo em vista que a infecção natural parece não oferecer imunidade suficiente para impedir a ocorrência de novas infecções pelo mesmo tipo viral, diferentemente da resposta imune induzida pelas vacinas contra HPV. É fundamental que seja ampliada a divulgação de informações para uma adesão mais efetiva da população. Conheça os principais mitos sobre a vacinação e fique por dentro!
Em caso de dúvidas, sempre procure um médico, pois será ele quem indicará a melhor estratégia para o diagnóstico, um tratamento direcionado e o esquema vacinal adequado. Agora que você já sabe a importância da prevenção do HPV, sugerimos a leitura do conteúdo sobre saúde sexual para saber mais sobre ISTs e gravidez precoce.
Sabin avisa:
Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.
Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.
Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.
Referências:
Bula Gardasil 9Ⓡ. Disponível em: https://saude.msd.com.br/wp-content/uploads/sites/91/2023/01/gardasi_9_bula_pro.pdf
Luria L, Cardoza-Favarato G. Human Papillomavirus. [Updated 2022 Jan 24]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK448132/
Roteli-Martins, C. M., Magno, V., Santos, A. L. F., Teixeira, J. C., Neves, N. A., & Fialho, S. C. A. V. (2022). Vacinação contra o HPV na mulher adulta. Femina, 355-359. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1380717
Velicer C, Zhu X, Vuocolo S et al. Prevalence and incidence of HPV genital infection in women. Sex Transm Dis. 2009;36(11):696-70.
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Calendário de Vacinação Sociedade Brasileira de Imunizações/SBIm. Disponível em: https://sbim.org.br/
Esquema alternativo das vacinas HPV quadrivalente e HPV nonavalente, modificado e divulgado pela equipe Imunização Sabin.