Sabin Por: Sabin
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A gravidez é um momento de intensas transformações fisiológicas, e a nutrição adequada é importante para o desenvolvimento saudável do bebê. Entre os nutrientes essenciais nesse período, o ácido fólico, que é a forma sintética da vitamina B9, ocupa posição de destaque. 

A suplementação dessa vitamina é amplamente reconhecida por sua capacidade de reduzir o risco de malformações congênitas, especialmente os defeitos de fechamento do tubo neural (DFTN), como a espinha bífida e a anencefalia. No entanto, mesmo com o avanço da genética, que vem identificando mutações espontâneas envolvidas na formação de DFTNs, o ácido fólico permanece como uma das estratégias preventivas mais eficazes e seguras recomendadas atualmente. 

Continue a leitura para saber mais!

O que é ácido fólico e qual sua função no organismo?

O ácido fólico é a versão sintética da vitamina B9, utilizada em suplementos e alimentos fortificados, devido à sua estabilidade e eficácia na prevenção de deficiências nutricionais. Já o folato é a forma natural da vitamina, encontrado em diversos alimentos.

Essa vitamina desempenha um papel importante na formação do DNA, na divisão celular, na formação das células sanguíneas e no funcionamento do sistema nervoso. No contexto da gestação, sua presença é determinante nas primeiras semanas, período crítico para o fechamento adequado do tubo neural — estrutura embrionária que dará origem ao cérebro e à medula espinhal.

Estudos recentes demonstram que alterações genéticas podem afetar o metabolismo do folato, dificultando sua ativação e função. Nesses casos, a presença adequada da vitamina no organismo pode compensar possíveis falhas metabólicas e reduzir os riscos associados.

Por que o ácido fólico é tão importante durante a gestação?

A importância do ácido fólico na gestação está diretamente relacionada à prevenção de defeitos do tubo neural. O tubo neural é uma estrutura formada bem precocemente no feto e é responsável pela formação do cérebro, do crânio, da medula espinhal e da coluna do bebê. O tubo neural se forma entre o décimo oitavo e o vigésimo oitavo dia após a fecundação, normalmente antes mesmo de a mulher saber que está grávida. Entre os principais DFTNs estão a espinha bífida, a mielomeningocele, a encefalocele e a anencefalia, que podem ter impacto severo e permanente sobre a vida da criança.

Os defeitos de fechamento do tubo neural têm etiologia multifatorial, ou seja, tanto fatores ambientais quanto genéticos podem contribuir para a ocorrência. Na parte genética, o que se acredita é que vários genes contribuem, conjuntamente, para o aparecimento de um DFTN. Na parte ambiental, o fator mais relevante é o nutricional. Isso reforça a necessidade de estratégias preventivas amplas, como a suplementação universal com ácido fólico em mulheres em idade fértil. 

De modo geral, a recomendação é iniciar a suplementação com pelo menos 400 microgramas por dia, no mínimo 30 dias antes da concepção, e mantê-la até o final do primeiro trimestre.

Diferenças entre ácido fólico e folato: o que você precisa saber

Embora os termos ácido fólico e folato sejam frequentemente usados como sinônimos, existem diferenças importantes entre eles. O folato é a forma natural da vitamina B9 presente em alimentos, enquanto o ácido fólico é uma forma sintética mais estável, utilizada em suplementos e na fortificação de alimentos processados.

Existe, ainda, uma outra forma sintética: o 5-metiltetrahidrofolato (5-MTHF), que é a forma ativa da vitamina B9, diretamente utilizada pelo organismo. Essa alternativa tem se mostrado útil para pessoas com variações genéticas que dificultam a conversão do ácido fólico em sua forma ativa. Nesses casos, a suplementação com 5-MTHF pode oferecer melhor aproveitamento metabólico e reduzir a presença de ácido fólico não metabolizado no sangue.

Fontes naturais de folato: como incluir na alimentação

O folato pode ser encontrado em diversos alimentos, principalmente em vegetais de folhas verdes escuras, como espinafre, couve e alface. Também está presente em leguminosas, como feijões e lentilhas, frutas cítricas, abacate, brócolis, beterraba e aspargos

Apesar da presença do nutriente na dieta, a ingestão alimentar isolada dificilmente atinge os níveis recomendados para a prevenção de DFTNs. Isso ocorre por fatores como perdas no cozimento, absorção limitada e aumento da necessidade no início da gestação. Assim, mesmo com uma alimentação saudável, a suplementação é recomendada.

Quem mais se beneficia da suplementação de ácido fólico?

Além das mulheres grávidas ou que planejam engravidar, a suplementação de ácido fólico pode ser benéfica sobretudo para mulheres com histórico familiar de defeitos do tubo neural, usuárias de anticonvulsivantes e medicamentos que interferem no metabolismo do folato, mulheres com diabetes ou obesidade, tabagistas, pessoas com dietas restritivas, má absorção intestinal ou mutações genéticas como as do gene MTHFR. 

Ainda que não haja histórico familiar, estudos indicam que mutações aleatórias podem aumentar o risco de malformações, justificando a recomendação de suplementação em mulheres em idade fértil.

Riscos da deficiência de ácido fólico na gravidez

Além dos riscos comentados anteriormente, a deficiência de ácido fólico durante a gestação está associada a diversas complicações que também comprometem a saúde materna. Entre elas, estão o aumento do risco de parto prematuro, abortos espontâneos, pré-eclâmpsia e anemia megaloblástica. 

Evidências epidemiológicas confirmam que a suplementação no período adequado diminui significativamente esses riscos. Mesmo considerando fatores genéticos envolvidos, garantir níveis suficientes de ácido fólico no organismo é uma forma comprovada de proteção.

O ácido fólico é, de maneira geral, seguro. Entretanto, o uso de doses muito elevadas, como acima de 1.000 microgramas por dia, pode prejudicar e mascarar deficiências de vitamina B12, dificultando o diagnóstico de anemias graves. 

Há estudos em andamento que investigam se o excesso de ácido fólico não metabolizado pode ter impacto no neurodesenvolvimento fetal. Por isso, a suplementação deve ser feita de forma responsável, com base em orientação médica. A dose padrão de 400 microgramas por dia é considerada segura e eficaz para a maioria das mulheres em idade reprodutiva.

Fortificação de alimentos com ácido fólico: uma medida de saúde pública

Desde 2004, o Brasil adota a fortificação obrigatória de farinhas com ácido fólico, uma política pública que contribuiu consideravelmente para a redução dos casos de alterações no fechamento do tubo neural. Essa medida é considerada uma das mais eficazes estratégias de prevenção de malformações congênitas em larga escala.

Cabe ressaltar que a fortificação sozinha não garante níveis ideais da vitamina, em particular nas primeiras semanas da gestação, quando muitas mulheres ainda não sabem que estão grávidas. Por esse motivo, a suplementação individualizada continua sendo fundamental, mesmo para aquelas que não estão planejando engravidar de imediato.

Iniciar a gestação com níveis adequados de ácido fólico é uma ação simples, segura e acessível. Para isso, é importante contar com a orientação de profissionais de saúde, que indicarão a forma e a dose mais adequada para cada mulher.

Quer entender melhor como as vitaminas e os minerais atuam na sua saúde? Acesse nosso conteúdo no Blog Sabin: Importância da suplementação

Sabin avisa:

Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.

Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas. 

Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.

Referências:

Viswanathan, Meera et al. “Folic Acid Supplementation to Prevent Neural Tube Defects: Updated Evidence Report and Systematic Review for the US Preventive Services Task Force.” JAMA vol. 330,5 (2023): 460-466. doi:10.1001/jama.2023.9864

Cochrane, Kelsey M et al. “Supplementation with (6S)-5-methyltetrahydrofolic acid appears as effective as folic acid in maintaining maternal folate status while reducing unmetabolised folic acid in maternal plasma: a randomised trial of pregnant women in Canada.” The British journal of nutrition vol. 131,1 (2024): 92-102. doi:10.1017/S0007114523001733

Crider, Krista S et al. “Folic Acid and the Prevention of Birth Defects: 30 Years of Opportunity and Controversies.” Annual review of nutrition vol. 42 (2022): 423-452. doi:10.1146/annurev-nutr-043020-091647

Ministério da Saúde (BR). Atenção Primária à Saúde. Como deve ser a prescrição de ácido fólico e sulfato ferroso durante a gestação? [Internet]. Brasília: BVS APS; 2023

Ha, YJ., Nisal, A., Tang, I. et al. The contribution of de novo coding mutations to meningomyelocele. Nature 641, 419–426 (2025). https://doi.org/10.1038/s41586-025-08676-x

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Ácido fólico: entenda a importância na gestação; A gravidez é um momento de intensas transformações fisiológicas, e a nutrição adequada é importante para o desenvolvimento saudável do bebê. Entre os nutrientes essenciais nesse período, o ácido fólico, que é a forma sintética da vitamina B9, ocupa posição de destaque.  A suplementação dessa vitamina é amplamente reconhecida por sua capacidade de reduzir o risco de malformações congênitas, especialmente os defeitos de fechamento do tubo neural (DFTN), como a espinha bífida e a anencefalia. No entanto, mesmo com o avanço da genética, que vem identificando mutações espontâneas envolvidas na formação de DFTNs, o ácido fólico permanece como uma das estratégias preventivas mais eficazes e seguras recomendadas atualmente.  Continue a leitura para saber mais! O que é ácido fólico e qual sua função no organismo? O ácido fólico é a versão sintética da vitamina B9, utilizada em suplementos e alimentos fortificados, devido à sua estabilidade e eficácia na prevenção de deficiências nutricionais. Já o folato é a forma natural da vitamina, encontrado em diversos alimentos. Essa vitamina desempenha um papel importante na formação do DNA, na divisão celular, na formação das células sanguíneas e no funcionamento do sistema nervoso. No contexto da gestação, sua presença é determinante nas primeiras semanas, período crítico para o fechamento adequado do tubo neural — estrutura embrionária que dará origem ao cérebro e à medula espinhal. Estudos recentes demonstram que alterações genéticas podem afetar o metabolismo do folato, dificultando sua ativação e função. Nesses casos, a presença adequada da vitamina no organismo pode compensar possíveis falhas metabólicas e reduzir os riscos associados. Por que o ácido fólico é tão importante durante a gestação? A importância do ácido fólico na gestação está diretamente relacionada à prevenção de defeitos do tubo neural. O tubo neural é uma estrutura formada bem precocemente no feto e é responsável pela formação do cérebro, do crânio, da medula espinhal e da coluna do bebê. O tubo neural se forma entre o décimo oitavo e o vigésimo oitavo dia após a fecundação, normalmente antes mesmo de a mulher saber que está grávida. Entre os principais DFTNs estão a espinha bífida, a mielomeningocele, a encefalocele e a anencefalia, que podem ter impacto severo e permanente sobre a vida da criança. Os defeitos de fechamento do tubo neural têm etiologia multifatorial, ou seja, tanto fatores ambientais quanto genéticos podem contribuir para a ocorrência. Na parte genética, o que se acredita é que vários genes contribuem, conjuntamente, para o aparecimento de um DFTN. Na parte ambiental, o fator mais relevante é o nutricional. Isso reforça a necessidade de estratégias preventivas amplas, como a suplementação universal com ácido fólico em mulheres em idade fértil.  De modo geral, a recomendação é iniciar a suplementação com pelo menos 400 microgramas por dia, no mínimo 30 dias antes da concepção, e mantê-la até o final do primeiro trimestre. Diferenças entre ácido fólico e folato: o que você precisa saber Embora os termos ácido fólico e folato sejam frequentemente usados como sinônimos, existem diferenças importantes entre eles. O folato é a forma natural da vitamina B9 presente em alimentos, enquanto o ácido fólico é uma forma sintética mais estável, utilizada em suplementos e na fortificação de alimentos processados. Existe, ainda, uma outra forma sintética: o 5-metiltetrahidrofolato (5-MTHF), que é a forma ativa da vitamina B9, diretamente utilizada pelo organismo. Essa alternativa tem se mostrado útil para pessoas com variações genéticas que dificultam a conversão do ácido fólico em sua forma ativa. Nesses casos, a suplementação com 5-MTHF pode oferecer melhor aproveitamento metabólico e reduzir a presença de ácido fólico não metabolizado no sangue. Fontes naturais de folato: como incluir na alimentação O folato pode ser encontrado em diversos alimentos, principalmente em vegetais de folhas verdes escuras, como espinafre, couve e alface. Também está presente em leguminosas, como feijões e lentilhas, frutas cítricas, abacate, brócolis, beterraba e aspargos.  Apesar da presença do nutriente na dieta, a ingestão alimentar isolada dificilmente atinge os níveis recomendados para a prevenção de DFTNs. Isso ocorre por fatores como perdas no cozimento, absorção limitada e aumento da necessidade no início da gestação. Assim, mesmo com uma alimentação saudável, a suplementação é recomendada. Quem mais se beneficia da suplementação de ácido fólico? Além das mulheres grávidas ou que planejam engravidar, a suplementação de ácido fólico pode ser benéfica sobretudo para mulheres com histórico familiar de defeitos do tubo neural, usuárias de anticonvulsivantes e medicamentos que interferem no metabolismo do folato, mulheres com diabetes ou obesidade, tabagistas, pessoas com dietas restritivas, má absorção intestinal ou mutações genéticas como as do gene MTHFR.  Ainda que não haja histórico familiar, estudos indicam que mutações aleatórias podem aumentar o risco de malformações, justificando a recomendação de suplementação em mulheres em idade fértil. Riscos da deficiência de ácido fólico na gravidez Além dos riscos comentados anteriormente, a deficiência de ácido fólico durante a gestação está associada a diversas complicações que também comprometem a saúde materna. Entre elas, estão o aumento do risco de parto prematuro, abortos espontâneos, pré-eclâmpsia e anemia megaloblástica.  Evidências epidemiológicas confirmam que a suplementação no período adequado diminui significativamente esses riscos. Mesmo considerando fatores genéticos envolvidos, garantir níveis suficientes de ácido fólico no organismo é uma forma comprovada de proteção. O ácido fólico é, de maneira geral, seguro. Entretanto, o uso de doses muito elevadas, como acima de 1.000 microgramas por dia, pode prejudicar e mascarar deficiências de vitamina B12, dificultando o diagnóstico de anemias graves.  Há estudos em andamento que investigam se o excesso de ácido fólico não metabolizado pode ter impacto no neurodesenvolvimento fetal. Por isso, a suplementação deve ser feita de forma responsável, com base em orientação médica. A dose padrão de 400 microgramas por dia é considerada segura e eficaz para a maioria das mulheres em idade reprodutiva. Fortificação de alimentos com ácido fólico: uma medida de saúde pública Desde 2004, o Brasil adota a fortificação obrigatória de farinhas com ácido fólico, uma política pública que contribuiu consideravelmente para a redução dos casos de alterações no fechamento do tubo neural. Essa medida é considerada uma das mais eficazes estratégias de prevenção de malformações congênitas em larga escala. Cabe ressaltar que a fortificação sozinha não garante níveis ideais da vitamina, em particular nas primeiras semanas da gestação, quando muitas mulheres ainda não sabem que estão grávidas. Por esse motivo, a suplementação individualizada continua sendo fundamental, mesmo para aquelas que não estão planejando engravidar de imediato. Iniciar a gestação com níveis adequados de ácido fólico é uma ação simples, segura e acessível. Para isso, é importante contar com a orientação de profissionais de saúde, que indicarão a forma e a dose mais adequada para cada mulher. Quer entender melhor como as vitaminas e os minerais atuam na sua saúde? Acesse nosso conteúdo no Blog Sabin: Importância da suplementação.  Sabin avisa: Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames. Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.  Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial. Referências: Viswanathan, Meera et al. “Folic Acid Supplementation to Prevent Neural Tube Defects: Updated Evidence Report and Systematic Review for the US Preventive Services Task Force.” JAMA vol. 330,5 (2023): 460-466. doi:10.1001/jama.2023.9864 Cochrane, Kelsey M et al. “Supplementation with (6S)-5-methyltetrahydrofolic acid appears as effective as folic acid in maintaining maternal folate status while reducing unmetabolised folic acid in maternal plasma: a randomised trial of pregnant women in Canada.” The British journal of nutrition vol. 131,1 (2024): 92-102. doi:10.1017/S0007114523001733 Crider, Krista S et al. “Folic Acid and the Prevention of Birth Defects: 30 Years of Opportunity and Controversies.” Annual review of nutrition vol. 42 (2022): 423-452. doi:10.1146/annurev-nutr-043020-091647 Ministério da Saúde (BR). Atenção Primária à Saúde. Como deve ser a prescrição de ácido fólico e sulfato ferroso durante a gestação? [Internet]. Brasília: BVS APS; 2023 Ha, YJ., Nisal, A., Tang, I. et al. The contribution of de novo coding mutations to meningomyelocele. Nature 641, 419–426 (2025). https://doi.org/10.1038/s41586-025-08676-x