Sabin Por: Sabin
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A doença de Crohn é uma condição englobada no grupo de doenças inflamatórias intestinais (ou DII). É caracterizada por inflamação crônica que pode ocorrer em qualquer parte do sistema digestivo, mas é mais comum afetar o intestino delgado e o cólon, porção do intestino grosso responsável por importantes funções, como a absorção de água, sais minerais e vitaminas.

No Brasil, as DII (incluindo a doença de Crohn) têm sido cada vez mais diagnosticadas e, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), a incidência dessas doenças pode chegar a cerca de 100 casos por 100 mil habitantes.

Uma pesquisa divulgada em 2022, na revista científica The Lancet Regional Health – Americas, relata que a incidência da doença de Crohn no Brasil está aumentando a uma taxa de 12% ao ano. Esse aumento, embora mais acentuado nas regiões Sul e Sudeste do país, é um fenômeno que merece atenção em todo o território nacional.

Todos esses dados tornam fundamentais a conscientização e a orientação da nossa população sobre a doença de Crohn. Neste conteúdo, informaremos sobre essa condição, explicando o que é a doença, seus sintomas, diagnóstico e quais os tratamentos disponíveis.

O que é a doença de Crohn?

A doença de Crohn é uma doença de origem autoimune que afeta o sistema digestivo, causando inflamação nos tecidos do trato intestinal. Isso significa que o sistema imunológico não reconhece e reage contra o próprio tecido do corpo. Essa inflamação pode se manifestar de diversas formas e trazer consigo uma série de sintomas que impactam a qualidade de vida do paciente.

A inflamação causada pela doença de Crohn pode afetar diferentes partes do trato digestivo, porém é mais comum no íleo (intestino delgado) e no cólon (intestino grosso). Além disso, essa inflamação tende a se estender às camadas mais profundas do intestino, o que pode aumentar a gravidade dos sintomas.

As causas específicas ainda não são totalmente compreendidas, e acredita-se que a doença possa estar relacionada a uma combinação de fatores genéticos, ambientais e à desregulação da microbiota intestinal. Entre os fatores ambientais possíveis, estão o estresse, uma dieta rica em gorduras e alimentos processados, o tabagismo e o uso excessivo de anti-inflamatórios e antibióticos.

A doença de Crohn pode ser extremamente debilitante e, em alguns casos, levar a complicações graves e risco de morte. Embora não haja uma cura conhecida para essa condição, existem terapias disponíveis que podem ajudar a reduzir os sintomas e até mesmo induzir a remissão por longo prazo, permitindo que as pessoas vivam de forma mais funcional e confortável.

Quais os sintomas da doença de Crohn?

Os sintomas podem se manifestar de diversas maneiras, variando de leves a graves, e geralmente se desenvolvem com o decorrer do tempo. Em alguns casos, podem surgir repentinamente, enquanto em outros momentos o paciente pode passar por períodos sem sintomas. É importante estar atento aos sinais que o corpo apresenta e procurar ajuda médica, sempre que necessário.

Durante os períodos de atividade da doença, os sintomas mais comuns incluem:

  • dor abdominal e cólicas;
  • diarreia intensa e frequente;
  • febre;
  • fadiga;
  • presença de sangue nas fezes;
  • redução do apetite e perda de peso;
  • desnutrição;
  • dor ou secreção ao redor do ânus.

Em casos mais graves, a doença de Crohn pode apresentar sintomas fora do trato intestinal, como inflamações na pele, nos olhos, nas articulações, no fígado ou nos ductos biliares, formação de pedras nos rins, deficiência de ferro (anemia), aftas na boca e atraso de crescimento ou desenvolvimento infantil.

Esses sintomas adicionais destacam a complexidade e o impacto que a doença de Crohn pode ter no indivíduo e a importância da avaliação clínica precoce, na persistência dos sintomas.

Como é feito o diagnóstico da doença de Crohn?

O diagnóstico da doença de Crohn envolve diferentes etapas. Inicialmente, é necessário que o médico analise a história clínica do paciente, considerando sintomas como dor abdominal, padrão de evacuação e perda de peso, entre outros indicativos.

Em casos suspeitos, são realizados testes laboratoriais, como o hemograma e outros exames de sangue, para identificar sinais de inflamação ou anemia. A análise das fezes também é essencial para detectar possíveis sangramentos ou infecções, além da dosagem da calprotectina fecal, que serve como um marcador importante de inflamação intestinal.

Para visualizar o trato gastrointestinal em detalhes, são frequentemente realizados exames de imagem como colonoscopia, endoscopia e tomografia computadorizada. Esses exames ajudam a identificar áreas inflamadas ou úlceras características da doença. Durante procedimentos endoscópicos, biópsias são coletadas para análise microscópica dos tecidos, auxiliando na confirmação do diagnóstico.

Cabe ressaltar que o diagnóstico precoce da doença de Crohn pode ser desafiador, devido à falta de especificidade dos sintomas, variação na apresentação da doença e similaridade com outras condições. As fases de remissão e exacerbação da doença, a realização de exames mais invasivos e as limitações dos exames de imagem também contribuem para essa complexidade.

Diante desses desafios, uma abordagem integrada e o acompanhamento médico contínuo são primordiais para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado, o que pode auxiliar no manejo dos sintomas e na qualidade de vida dos pacientes.

Quais as opções de tratamentos para a doença de Crohn?

O tratamento da doença de Crohn é sintomático e altamente personalizado, considerando a gravidade dos sintomas, a extensão da doença e a resposta individual do paciente. É recomendável manter um acompanhamento médico regular para ajustar o plano terapêutico conforme necessário, garantindo uma gestão eficaz da condição ao longo do tempo.

No aspecto medicamentoso, diferentes abordagens podem ser adotadas. Medicamentos anti-inflamatórios como os corticosteroides são frequentemente utilizados para controlar a inflamação aguda. Já imunossupressores e moduladores imunológicos são prescritos para regular a resposta do sistema imunológico, enquanto agentes biológicos como os anticorpos monoclonais podem neutralizar substâncias inflamatórias específicas.

Uma abordagem nutricional específica pode ser recomendada em alguns casos, incluindo a implementação de dietas especiais para auxiliar no controle dos sintomas e prevenir deficiências nutricionais. A suplementação de nutrientes, como vitaminas e minerais, pode ser necessária para compensar possíveis deficiências pela má absorção intestinal.

Em situações mais graves ou quando outras abordagens não são eficazes, a cirurgia pode ser necessária para remover áreas afetadas do intestino. O manejo dos sintomas visa tratar questões específicas, como diarreia, dor abdominal e fadiga, melhorando a qualidade de vida do paciente.

Por fim, deve-se enfatizar a importância de adotar um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta equilibrada, prática regular de exercícios físicos e controle do estresse. Vale lembrar que é recomendado discutir qualquer decisão relacionada ao tratamento com seu médico. Para entender mais sobre doenças inflamatórias intestinais, confira nosso conteúdo: Entenda o que é a doença inflamatória intestinal. Boa leitura!

Sabin avisa:

Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.

Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas. 

Referências:

Ministério da Saúde. Doença de Crohn. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/doenca-de-crohn/#!. Acesso em: 26/06/2024.

Ministério da Saúde. 19/5 – Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal: “DII não tem idade”. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/19-5-dia-mundial-da-doenca-inflamatoria-intestinal-dii-nao-tem-idade/. Acesso em: 26/03/2024.

Abel B., et al. Temporal trends in the epidemiology of inflammatory bowel diseases in the public healthcare system in Brazil: A large population-based study. The Lancet Regional Health – Americas. Volume 13, 2022, 100298, ISSN 2667-193X, doi: 10.1016/j.lana.2022.100298.

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Doença de Crohn: saiba quais os sintomas e como é feito o diagnóstico; A doença de Crohn é uma condição englobada no grupo de doenças inflamatórias intestinais (ou DII). É caracterizada por inflamação crônica que pode ocorrer em qualquer parte do sistema digestivo, mas é mais comum afetar o intestino delgado e o cólon, porção do intestino grosso responsável por importantes funções, como a absorção de água, sais minerais e vitaminas. No Brasil, as DII (incluindo a doença de Crohn) têm sido cada vez mais diagnosticadas e, segundo dados do Ministério da Saúde (MS), a incidência dessas doenças pode chegar a cerca de 100 casos por 100 mil habitantes. Uma pesquisa divulgada em 2022, na revista científica The Lancet Regional Health - Americas, relata que a incidência da doença de Crohn no Brasil está aumentando a uma taxa de 12% ao ano. Esse aumento, embora mais acentuado nas regiões Sul e Sudeste do país, é um fenômeno que merece atenção em todo o território nacional. Todos esses dados tornam fundamentais a conscientização e a orientação da nossa população sobre a doença de Crohn. Neste conteúdo, informaremos sobre essa condição, explicando o que é a doença, seus sintomas, diagnóstico e quais os tratamentos disponíveis. O que é a doença de Crohn? A doença de Crohn é uma doença de origem autoimune que afeta o sistema digestivo, causando inflamação nos tecidos do trato intestinal. Isso significa que o sistema imunológico não reconhece e reage contra o próprio tecido do corpo. Essa inflamação pode se manifestar de diversas formas e trazer consigo uma série de sintomas que impactam a qualidade de vida do paciente. A inflamação causada pela doença de Crohn pode afetar diferentes partes do trato digestivo, porém é mais comum no íleo (intestino delgado) e no cólon (intestino grosso). Além disso, essa inflamação tende a se estender às camadas mais profundas do intestino, o que pode aumentar a gravidade dos sintomas. As causas específicas ainda não são totalmente compreendidas, e acredita-se que a doença possa estar relacionada a uma combinação de fatores genéticos, ambientais e à desregulação da microbiota intestinal. Entre os fatores ambientais possíveis, estão o estresse, uma dieta rica em gorduras e alimentos processados, o tabagismo e o uso excessivo de anti-inflamatórios e antibióticos. A doença de Crohn pode ser extremamente debilitante e, em alguns casos, levar a complicações graves e risco de morte. Embora não haja uma cura conhecida para essa condição, existem terapias disponíveis que podem ajudar a reduzir os sintomas e até mesmo induzir a remissão por longo prazo, permitindo que as pessoas vivam de forma mais funcional e confortável. Quais os sintomas da doença de Crohn? Os sintomas podem se manifestar de diversas maneiras, variando de leves a graves, e geralmente se desenvolvem com o decorrer do tempo. Em alguns casos, podem surgir repentinamente, enquanto em outros momentos o paciente pode passar por períodos sem sintomas. É importante estar atento aos sinais que o corpo apresenta e procurar ajuda médica, sempre que necessário. Durante os períodos de atividade da doença, os sintomas mais comuns incluem: dor abdominal e cólicas; diarreia intensa e frequente; febre; fadiga; presença de sangue nas fezes; redução do apetite e perda de peso; desnutrição; dor ou secreção ao redor do ânus. Em casos mais graves, a doença de Crohn pode apresentar sintomas fora do trato intestinal, como inflamações na pele, nos olhos, nas articulações, no fígado ou nos ductos biliares, formação de pedras nos rins, deficiência de ferro (anemia), aftas na boca e atraso de crescimento ou desenvolvimento infantil. Esses sintomas adicionais destacam a complexidade e o impacto que a doença de Crohn pode ter no indivíduo e a importância da avaliação clínica precoce, na persistência dos sintomas. Como é feito o diagnóstico da doença de Crohn? O diagnóstico da doença de Crohn envolve diferentes etapas. Inicialmente, é necessário que o médico analise a história clínica do paciente, considerando sintomas como dor abdominal, padrão de evacuação e perda de peso, entre outros indicativos. Em casos suspeitos, são realizados testes laboratoriais, como o hemograma e outros exames de sangue, para identificar sinais de inflamação ou anemia. A análise das fezes também é essencial para detectar possíveis sangramentos ou infecções, além da dosagem da calprotectina fecal, que serve como um marcador importante de inflamação intestinal. Para visualizar o trato gastrointestinal em detalhes, são frequentemente realizados exames de imagem como colonoscopia, endoscopia e tomografia computadorizada. Esses exames ajudam a identificar áreas inflamadas ou úlceras características da doença. Durante procedimentos endoscópicos, biópsias são coletadas para análise microscópica dos tecidos, auxiliando na confirmação do diagnóstico. Cabe ressaltar que o diagnóstico precoce da doença de Crohn pode ser desafiador, devido à falta de especificidade dos sintomas, variação na apresentação da doença e similaridade com outras condições. As fases de remissão e exacerbação da doença, a realização de exames mais invasivos e as limitações dos exames de imagem também contribuem para essa complexidade. Diante desses desafios, uma abordagem integrada e o acompanhamento médico contínuo são primordiais para um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado, o que pode auxiliar no manejo dos sintomas e na qualidade de vida dos pacientes. Quais as opções de tratamentos para a doença de Crohn? O tratamento da doença de Crohn é sintomático e altamente personalizado, considerando a gravidade dos sintomas, a extensão da doença e a resposta individual do paciente. É recomendável manter um acompanhamento médico regular para ajustar o plano terapêutico conforme necessário, garantindo uma gestão eficaz da condição ao longo do tempo. No aspecto medicamentoso, diferentes abordagens podem ser adotadas. Medicamentos anti-inflamatórios como os corticosteroides são frequentemente utilizados para controlar a inflamação aguda. Já imunossupressores e moduladores imunológicos são prescritos para regular a resposta do sistema imunológico, enquanto agentes biológicos como os anticorpos monoclonais podem neutralizar substâncias inflamatórias específicas. Uma abordagem nutricional específica pode ser recomendada em alguns casos, incluindo a implementação de dietas especiais para auxiliar no controle dos sintomas e prevenir deficiências nutricionais. A suplementação de nutrientes, como vitaminas e minerais, pode ser necessária para compensar possíveis deficiências pela má absorção intestinal. Em situações mais graves ou quando outras abordagens não são eficazes, a cirurgia pode ser necessária para remover áreas afetadas do intestino. O manejo dos sintomas visa tratar questões específicas, como diarreia, dor abdominal e fadiga, melhorando a qualidade de vida do paciente. Por fim, deve-se enfatizar a importância de adotar um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta equilibrada, prática regular de exercícios físicos e controle do estresse. Vale lembrar que é recomendado discutir qualquer decisão relacionada ao tratamento com seu médico. Para entender mais sobre doenças inflamatórias intestinais, confira nosso conteúdo: Entenda o que é a doença inflamatória intestinal. Boa leitura! Sabin avisa: Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames. Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.  Referências: Ministério da Saúde. Doença de Crohn. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/doenca-de-crohn/#!. Acesso em: 26/06/2024. Ministério da Saúde. 19/5 – Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal: “DII não tem idade”. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/19-5-dia-mundial-da-doenca-inflamatoria-intestinal-dii-nao-tem-idade/. Acesso em: 26/03/2024. Abel B., et al. Temporal trends in the epidemiology of inflammatory bowel diseases in the public healthcare system in Brazil: A large population-based study. The Lancet Regional Health - Americas. Volume 13, 2022, 100298, ISSN 2667-193X, doi: 10.1016/j.lana.2022.100298.