Sabin Por: Sabin
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Você sabia que cuidar da saúde do coração pode influenciar também na prevenção do câncer? Pesquisas recentes vêm apontando uma relação significativa entre doenças cardiovasculares (DCV) e o risco aumentado de desenvolver diferentes tipos de câncer. Essa conexão tem ganhado força com evidências científicas robustas e com o crescente interesse da comunidade médica.

Acontece que ambas as doenças estão entre as principais causas de morte no mundo, e entender como elas se conectam é importante para promover ações de prevenção integradas. Continue a leitura para saber mais!

O que a ciência descobriu sobre essa associação?

Um dos maiores estudos já realizados sobre o tema foi publicado em 2024 na revista BMC Medicine. A pesquisa utilizou um banco de dados com base em grande parcela populacional do Reino Unido, e realizou também uma meta-análise de 47 estudos de coorte. 

O resultado foi interessante: pessoas com alguma doença cardiovascular apresentaram um risco maior de desenvolver câncer, independentemente de fatores como idade, tabagismo e obesidade.

O dado mais intrigante é que essa associação parece não ser explicada apenas por fatores de risco compartilhados, como estilo de vida. Os pesquisadores sugerem a existência de mecanismos biológicos comuns entre as duas doenças, como inflamação crônica e alterações no sistema imunológico. Houve, ainda, aumento de risco mesmo para diferentes tipos de DCV e cânceres variados, principalmente em indivíduos com menos de 65 anos.

As descobertas apontam para a importância da vigilância oncológica em pacientes com doenças cardiovasculares, sem, no entanto, gerar pânico. A ciência continua investigando essa ligação para identificar os caminhos que interligam coração e câncer.

Quais os fatores em comum entre doenças cardiovasculares e câncer?

Do ponto de vista clínico, câncer e DCV compartilham uma série de fatores de risco que ajudam a explicar, em parte, essa conexão

A obesidade, por exemplo, favorece inflamações crônicas e alterações hormonais que podem levar ao desenvolvimento de ambas as doenças. Já o sedentarismo está associado ao acúmulo de gordura visceral e à resistência à insulina, influenciando negativamente a saúde metabólica e cardiovascular. 

A má alimentação, especialmente com excesso de açúcares refinados, gorduras saturadas e ultraprocessados, pode ser prejudicial para o coração e favorecer a carcinogênese. Condições como hipertensão arterial, dislipidemias e diabetes tipo 2 elevam o risco cardiovascular e, segundo estudos recentes, também estão associadas a maior incidência de cânceres específicos. 

Fatores como o estresse oxidativo, alterações hormonais e o envelhecimento precoce das células têm sido apontados como possíveis pontes biológicas entre as duas doenças, contribuindo para danos no DNA, crescimento celular descontrolado e desequilíbrios no sistema imunológico.

Existem tipos específicos de câncer mais relacionados a quem tem doença cardiovascular?

Sim. De acordo com as últimas pesquisas, existe uma maior incidência de alguns tipos específicos de câncer entre pessoas com doença cardiovascular, em particular os de pulmão, fígado, rim e cólon. Esses tipos de câncer são também fortemente influenciados por fatores ambientais, como exposição a poluentes, dieta inadequada e tabagismo

Em pessoas com DCV, esses fatores de risco muitas vezes estão mais presentes, o que pode potencializar os efeitos negativos. Um dado relevante é que o risco de câncer foi mais pronunciado em indivíduos com menos de 65 anos. Isso sugere que a manifestação precoce de uma DCV pode ser um marcador de que o organismo está sob maior estresse metabólico e inflamatório. Logo, mais vulnerável a outras doenças complexas como o câncer.

Cabe ressaltar que a associação é estatística e não determinística. Ou seja, ter uma doença cardiovascular não significa, obrigatoriamente, que a pessoa desenvolverá câncer. Entretanto, é um indicativo de que mais atenção deve ser dada à saúde de forma integral.

Como os hábitos de vida influenciam no risco de câncer?

A boa notícia é que muitos dos fatores associados ao aumento do risco de câncer e de doenças cardiovasculares são modificáveis. Em outras palavras, mudanças simples no estilo de vida podem reduzir consideravelmente os riscos combinados. 

Práticas como manter uma alimentação balanceada, praticar atividades físicas regularmente, não fumar e evitar o consumo excessivo de álcool são algumas das mudanças que fazem a diferença.

Há casos notáveis que exemplificam o impacto positivo dos hábitos saudáveis na saúde do corpo. Um dos mais impressionantes é o do ultramaratonista norte-americano que completou 366 maratonas em 366 dias consecutivos. O desafio, além de extraordinário, despertou o interesse de instituições, como o Instituto do Coração (InCor), que acompanharam sua saúde durante esse período. 

Os exames clínicos realizados demonstraram que, mesmo submetido a uma exigência física extrema, seu sistema cardiovascular manteve-se em excelentes condições, com baixos níveis de inflamação e ótima função cardíaca. É evidente que o atleta possuía preparação e condicionamento para isso, mas o caso reforça que a atividade física regular e o movimento contínuo são fundamentais para a promoção da saúde global.

Populações com risco de câncer elevado

As desigualdades sociais e raciais também desempenham um papel expressivo no risco aumentado de câncer e DCV. As razões são múltiplas e complexas, envolvendo acesso limitado a serviços de saúde, atrasos no diagnóstico e início do tratamento, maior exposição a ambientes insalubres, alimentação precária e, sobretudo, impactos do racismo estrutural e da exclusão social.

Por isso, políticas públicas voltadas à equidade em saúde são essenciais. Garantir acesso a diagnóstico precoce, exames regulares, tratamento adequado e campanhas educativas é o primeiro passo para reverter esse cenário e oferecer melhores desfechos para populações historicamente vulnerabilizadas.

Cuidados com a saúde do coração e do corpo

Cuidar do coração é, também, uma forma inteligente de cuidar do corpo todo. Um organismo com boa saúde cardiovascular tem maior capacidade de resposta imunológica, menos inflamação sistêmica e metabolismo mais equilibrado, fatores que ajudam a prevenir o surgimento de tumores.

Dessa maneira, é importante manter a rotina de check-ups médicos, realizar exames laboratoriais periodicamente e manter o acompanhamento regular com profissionais de saúde. Além disso, estratégias preventivas como alimentação rica em fibras, vegetais e frutas, prática de exercícios físicos, abandono do tabagismo e gestão do estresse são medidas que protegem o organismo de forma global.

A informação de que pessoas com doenças cardiovasculares têm mais risco de câncer não deve ser vista com pânico. Ela deve servir como um convite à prevenção, ao autocuidado e à busca por hábitos de vida mais saudáveis.

Saiba como cuidar da saúde do coração em nosso blog e continue atualizado sobre sua saúde e bem-estar! 

Sabin avisa:

Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.

Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas. 

Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.

Referências:

Shu, C., Han, H., Li, H. et al. Cancer risk subsequent to cardiovascular disease: a prospective population-based study and meta-analysis. BMC Med 23, 192 (2025). https://doi.org/10.1186/s12916-025-04013-1

Siegel RL, Kratzer TB, Giaquinto AN, Sung H, Jemal A. Cancer statistics, 2025. CA Cancer J Clin. 2025 Jan-Feb;75(1):10-45. doi: 10.3322/caac.21871. Epub 2025 Jan 16. PMID: 39817679; PMCID: PMC11745215.

Gudenkauf, Franciska J, and Aaron P Thrift. “Preventable causes of cancer in Texas by race/ethnicity: Major modifiable risk factors in the population.” PloS one vol. 17,10 e0274905. 13 Oct. 2022, doi:10.1371/journal.pone.0274905

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Câncer e doença cardiovascular: qual a relação?; Você sabia que cuidar da saúde do coração pode influenciar também na prevenção do câncer? Pesquisas recentes vêm apontando uma relação significativa entre doenças cardiovasculares (DCV) e o risco aumentado de desenvolver diferentes tipos de câncer. Essa conexão tem ganhado força com evidências científicas robustas e com o crescente interesse da comunidade médica. Acontece que ambas as doenças estão entre as principais causas de morte no mundo, e entender como elas se conectam é importante para promover ações de prevenção integradas. Continue a leitura para saber mais! O que a ciência descobriu sobre essa associação? Um dos maiores estudos já realizados sobre o tema foi publicado em 2024 na revista BMC Medicine. A pesquisa utilizou um banco de dados com base em grande parcela populacional do Reino Unido, e realizou também uma meta-análise de 47 estudos de coorte.  O resultado foi interessante: pessoas com alguma doença cardiovascular apresentaram um risco maior de desenvolver câncer, independentemente de fatores como idade, tabagismo e obesidade. O dado mais intrigante é que essa associação parece não ser explicada apenas por fatores de risco compartilhados, como estilo de vida. Os pesquisadores sugerem a existência de mecanismos biológicos comuns entre as duas doenças, como inflamação crônica e alterações no sistema imunológico. Houve, ainda, aumento de risco mesmo para diferentes tipos de DCV e cânceres variados, principalmente em indivíduos com menos de 65 anos. As descobertas apontam para a importância da vigilância oncológica em pacientes com doenças cardiovasculares, sem, no entanto, gerar pânico. A ciência continua investigando essa ligação para identificar os caminhos que interligam coração e câncer. Quais os fatores em comum entre doenças cardiovasculares e câncer? Do ponto de vista clínico, câncer e DCV compartilham uma série de fatores de risco que ajudam a explicar, em parte, essa conexão.  A obesidade, por exemplo, favorece inflamações crônicas e alterações hormonais que podem levar ao desenvolvimento de ambas as doenças. Já o sedentarismo está associado ao acúmulo de gordura visceral e à resistência à insulina, influenciando negativamente a saúde metabólica e cardiovascular.  A má alimentação, especialmente com excesso de açúcares refinados, gorduras saturadas e ultraprocessados, pode ser prejudicial para o coração e favorecer a carcinogênese. Condições como hipertensão arterial, dislipidemias e diabetes tipo 2 elevam o risco cardiovascular e, segundo estudos recentes, também estão associadas a maior incidência de cânceres específicos.  Fatores como o estresse oxidativo, alterações hormonais e o envelhecimento precoce das células têm sido apontados como possíveis pontes biológicas entre as duas doenças, contribuindo para danos no DNA, crescimento celular descontrolado e desequilíbrios no sistema imunológico. Existem tipos específicos de câncer mais relacionados a quem tem doença cardiovascular? Sim. De acordo com as últimas pesquisas, existe uma maior incidência de alguns tipos específicos de câncer entre pessoas com doença cardiovascular, em particular os de pulmão, fígado, rim e cólon. Esses tipos de câncer são também fortemente influenciados por fatores ambientais, como exposição a poluentes, dieta inadequada e tabagismo.  Em pessoas com DCV, esses fatores de risco muitas vezes estão mais presentes, o que pode potencializar os efeitos negativos. Um dado relevante é que o risco de câncer foi mais pronunciado em indivíduos com menos de 65 anos. Isso sugere que a manifestação precoce de uma DCV pode ser um marcador de que o organismo está sob maior estresse metabólico e inflamatório. Logo, mais vulnerável a outras doenças complexas como o câncer. Cabe ressaltar que a associação é estatística e não determinística. Ou seja, ter uma doença cardiovascular não significa, obrigatoriamente, que a pessoa desenvolverá câncer. Entretanto, é um indicativo de que mais atenção deve ser dada à saúde de forma integral. Como os hábitos de vida influenciam no risco de câncer? A boa notícia é que muitos dos fatores associados ao aumento do risco de câncer e de doenças cardiovasculares são modificáveis. Em outras palavras, mudanças simples no estilo de vida podem reduzir consideravelmente os riscos combinados.  Práticas como manter uma alimentação balanceada, praticar atividades físicas regularmente, não fumar e evitar o consumo excessivo de álcool são algumas das mudanças que fazem a diferença. Há casos notáveis que exemplificam o impacto positivo dos hábitos saudáveis na saúde do corpo. Um dos mais impressionantes é o do ultramaratonista norte-americano que completou 366 maratonas em 366 dias consecutivos. O desafio, além de extraordinário, despertou o interesse de instituições, como o Instituto do Coração (InCor), que acompanharam sua saúde durante esse período.  Os exames clínicos realizados demonstraram que, mesmo submetido a uma exigência física extrema, seu sistema cardiovascular manteve-se em excelentes condições, com baixos níveis de inflamação e ótima função cardíaca. É evidente que o atleta possuía preparação e condicionamento para isso, mas o caso reforça que a atividade física regular e o movimento contínuo são fundamentais para a promoção da saúde global. Populações com risco de câncer elevado As desigualdades sociais e raciais também desempenham um papel expressivo no risco aumentado de câncer e DCV. As razões são múltiplas e complexas, envolvendo acesso limitado a serviços de saúde, atrasos no diagnóstico e início do tratamento, maior exposição a ambientes insalubres, alimentação precária e, sobretudo, impactos do racismo estrutural e da exclusão social. Por isso, políticas públicas voltadas à equidade em saúde são essenciais. Garantir acesso a diagnóstico precoce, exames regulares, tratamento adequado e campanhas educativas é o primeiro passo para reverter esse cenário e oferecer melhores desfechos para populações historicamente vulnerabilizadas. Cuidados com a saúde do coração e do corpo Cuidar do coração é, também, uma forma inteligente de cuidar do corpo todo. Um organismo com boa saúde cardiovascular tem maior capacidade de resposta imunológica, menos inflamação sistêmica e metabolismo mais equilibrado, fatores que ajudam a prevenir o surgimento de tumores. Dessa maneira, é importante manter a rotina de check-ups médicos, realizar exames laboratoriais periodicamente e manter o acompanhamento regular com profissionais de saúde. Além disso, estratégias preventivas como alimentação rica em fibras, vegetais e frutas, prática de exercícios físicos, abandono do tabagismo e gestão do estresse são medidas que protegem o organismo de forma global. A informação de que pessoas com doenças cardiovasculares têm mais risco de câncer não deve ser vista com pânico. Ela deve servir como um convite à prevenção, ao autocuidado e à busca por hábitos de vida mais saudáveis. Saiba como cuidar da saúde do coração em nosso blog e continue atualizado sobre sua saúde e bem-estar!  Sabin avisa: Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames. Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.  Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial. Referências: Shu, C., Han, H., Li, H. et al. Cancer risk subsequent to cardiovascular disease: a prospective population-based study and meta-analysis. BMC Med 23, 192 (2025). https://doi.org/10.1186/s12916-025-04013-1 Siegel RL, Kratzer TB, Giaquinto AN, Sung H, Jemal A. Cancer statistics, 2025. CA Cancer J Clin. 2025 Jan-Feb;75(1):10-45. doi: 10.3322/caac.21871. Epub 2025 Jan 16. PMID: 39817679; PMCID: PMC11745215. Gudenkauf, Franciska J, and Aaron P Thrift. “Preventable causes of cancer in Texas by race/ethnicity: Major modifiable risk factors in the population.” PloS one vol. 17,10 e0274905. 13 Oct. 2022, doi:10.1371/journal.pone.0274905