A asma infantil é uma condição crônica que afeta as vias respiratórias de crianças e adolescentes, causando inflamação. Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), a doença afeta aproximadamente 300 milhões de pessoas de todas as idades em âmbito mundial. No Brasil, estima-se que haja em torno de 20 milhões de asmáticos, com alta prevalência entre crianças e adolescentes, e uma taxa próxima de 20% em algumas regiões urbanas.
Para a construção deste conteúdo, convidamos a Dra. Sara Habka, médica pneumologista pediatra, com título em área de atuação em pneumologia pediátrica pela SBPT/SBP, para explicar como a asma é desencadeada, quais são as idades mais acometidas e os principais sintomas. Continue a leitura e tire suas dúvidas sobre o assunto!
O que é asma?
A asma é uma condição na qual as vias aéreas ficam inflamadas, causando inchaço e estreitamento, dificultando a respiração. Essa doença respiratória é comum e pode surgir em qualquer idade, sendo particularmente frequente na infância. Em alguns casos, os sintomas podem diminuir com o tempo.
A doença afeta os pulmões, especificamente os brônquios, que conduzem o ar até os pulmões. O estreitamento desses canais provoca crises que, em situações severas, podem levar à falta de oxigênio nos tecidos e, em casos extremos, ao óbito. Para saber mais sobre a doença em todas as faixas etárias, leia o conteúdo: “Quais os principais sintomas e como prevenir a asma?”.
Qual a diferença entre a manifestação da asma em crianças e adultos?
Geralmente, o problema se manifesta de maneira semelhante. Ambos os casos são caracterizados por inflamação nos brônquios, no entanto, há uma distinção importante a ser observada: o tamanho da passagem de ar nas vias respiratórias de crianças.
Na infância, o sistema respiratório continua em desenvolvimento, o que significa que suas estruturas são menores e proporcionais ao tamanho corporal da criança. Portanto, qualquer inflamação pode causar um fechamento parcial ou total das vias aéreas, criando uma emergência médica relevante.
Quais são as principais causas da asma infantil?
As causas da asma são as mesmas em todas as faixas etárias, porém, especialmente nas crianças, alguns fatores podem aumentar as chances de desenvolvimento da doença. A seguir, descrevemos alguns dos principais fatores causais que estão associados ao surgimento da asma infantil.
- Hereditariedade: a genética é uma das principais causas da asma infantil. Se pais ou avós possuem histórico de asma ou outras condições alérgicas e respiratórias, como eczema ou rinite, as crianças têm um risco maior de desenvolver a doença;
- Alergias: processos alérgicos são outra causa comum. A alergia provoca inflamação no organismo, que pode atingir os brônquios, causando sua inflamação e desencadeando crises asmáticas;
- Alimentação: certos alimentos podem contribuir para o aparecimento da asma, seja por intolerâncias, alergias alimentares ou, ainda, pela composição dos ingredientes. Monitorar a relação entre crises asmáticas e a ingestão de alimentos auxilia no manejo da doença;
- Prematuridade: bebês nascidos prematuramente apresentam maior probabilidade de desenvolver asma devido à imaturidade do sistema respiratório. Embora possam crescer saudáveis, a prematuridade pode deixar sequelas leves no desenvolvimento pulmonar;
- Exposição ao fumo: crianças cujas mães fumaram durante a gestação ou que convivem com fumantes têm maior risco de desenvolver doenças respiratórias, incluindo asma. O fumo pode afetar o desenvolvimento das estruturas pulmonares, causando sequelas que aumentam a predisposição à asma.
Gatilhos da asma infantil
A asma não é um problema primário, mas secundário. Isso significa que algo precisa acontecer para que ela se manifeste no organismo. Além dos fatores causais, existem gatilhos aos quais a criança é exposta no dia a dia, que podem aumentar as chances de crises asmáticas. São eles:
- Exposição a alérgenos: como mencionado, a exposição a determinados alérgenos pode ocasionar alergias, gerando inflamação e possíveis problemas respiratórios em crianças e adultos;
- Alimentos: alguns alimentos, como o leite, podem fazer com que crises de asma apareçam. Contudo, ele não é o grande vilão da respiração. Cada pessoa é única, e é fundamental que os pais e responsáveis possam identificar as relações entre o consumo e as crises. Manter um diário alimentar (que pode ser feito no bloco de notas do celular) é uma boa ideia para não se perder nessa investigação;
- Infecções respiratórias: vírus respiratórios, como os que causam gripes e resfriados, são grandes gatilhos para crises de asma. Pessoas asmáticas fazem parte do grupo de risco para infecções respiratórias, necessitando de cuidados redobrados;
- Exposição ao cigarro: mesmo mencionando acima, é importante relembrar. Pessoas com asma não devem ser expostas ao cigarro, seja ativa ou passivamente (com um fumante no ambiente). Esse pode ser um gatilho para crises bem graves, produzindo uma resposta inflamatória potente no corpo da criança ou adulto asmático;
- Mudanças climáticas: variações climáticas, como a transição do calor para o frio ou mudanças de estação, podem provocar crises de asma. A primavera, em particular, pode aumentar a incidência das crises pela presença de pólen (alérgeno) no ambiente.
Posso dizer que meu bebê tem asma?
Não, a asma em bebês não é um diagnóstico preciso. O que eles realmente apresentam é algo conhecido como bronquiolite viral aguda, um problema que causa a sibilância, nome dado ao chiado associado aos sintomas de gripes e resfriados.
Bebês que apresentam chiados contínuos após algum resfriado são considerados “lactentes sibilantes”, demandando acompanhamento médico regular para tratar os sintomas dessas inflamações. Entretanto, é possível que não voltem a manifestar qualquer tipo de problema à medida que forem crescendo.
Caso os sintomas permaneçam mesmo com o crescimento, o bebê (que agora será uma criança) será considerado um paciente asmático. Dessa forma, é um processo que pode ou não terminar no diagnóstico da asma.
O que pode significar se o bebê apresentar sintomas de asma?
Significa haver um processo inflamatório nos brônquios, algo tecnicamente conhecido como aumento da responsividade brônquica. Ou seja, algo fez com que essas estruturas ficassem mais estreitas, como uma alergia, um resfriado ou qualquer gatilho externo.
O que pode provocar esse tipo de desconforto?
O gatilho mais comum é a infecção viral, como o vírus sincicial respiratório e o vírus da influenza (que causa a gripe). Outros possíveis gatilhos são a exposição ao cigarro, alergias, presença de mofo no ambiente no qual o bebê fica, entre outros.
O que fazer ao identificar esses problemas e como aliviar os sintomas?
Nesse caso, o acompanhamento médico é imprescindível, e o bebê precisará de consultas constantes para acompanhar a evolução da condição.
De modo geral, os sintomas são aliviados com o uso controlado de medicamentos do tipo corticoides, que ajudam a reduzir a inflamação. Além disso, há os broncodilatadores, que ajudam a expandir o espaço nos brônquios e facilitam a passagem do ar.
Como lidar com a asma infantil?
Lidar com a asma infantil costuma ser desafiador para pais ou cuidadores. Sem contar que a retratação da criança asmática em séries, filmes e novelas não é igual à realidade. Os pequenos que sofrem com esse problema não terão uma vida limitada, não precisarão deixar de brincar com os amigos, nem serão privados de nada ao longo de suas vidas.
Os responsáveis devem estar atentos aos gatilhos, identificando quais são as causas das crises. Assim, poderão evitá-los na rotina das crianças, mantendo-as o mais saudável possível. Também é importante dialogar com os pequenos sobre a própria segurança. Manter a bombinha sempre por perto é uma medida essencial, que deve ser informada à escola e a todos que convivem com a criança.
Quais os passos para o diagnóstico?
Diagnosticar a asma nem sempre é um processo simples, sobretudo em crianças que não conseguem expressar claramente seus sintomas. Por outro lado, profissionais de saúde atentos são capazes de estabelecer esse diagnóstico por meio de consultas e exames.
O primeiro passo é o exame físico, no qual o médico examina a criança e coleta informações dos pais ou responsáveis (anamnese). Em seguida, podem ser solicitados exames de imagem, como a radiografia de tórax, para descartar outras possíveis condições. Existem, ainda, testes complementares que podem ser úteis no diagnóstico e tratamento da asma.
Os testes para verificar a presença de alergias são decisivos para identificar gatilhos. A gasometria pode ser utilizada para avaliar a oxigenação e outros parâmetros, enquanto o hemograma completo (exame de sangue) detecta a presença de infecções no organismo. Já a pesquisa de vírus respiratórios ajuda a rastrear infecções e determinar o melhor tratamento.
As pesquisas de tuberculose e covid-19 podem ser realizadas para diagnóstico diferencial. A espirometria, um teste que avalia a função pulmonar, é aplicável apenas às crianças acima de cinco anos e que não tenham suspeita de covid-19.
Como visto, o diagnóstico também passa por uma série de exclusões para garantir que o médico não está lidando com outras doenças além da asma. Consequentemente, um diagnóstico certeiro pode ser fechado, e a doença pode ser melhor compreendida a partir de outros exames (como a espirometria e o teste alérgico).
Como é feito o tratamento da asma infantil?
O tratamento é feito com a administração de medicamentos que, em alguns casos, somente são utilizados durante as crises. Em outros, podem ser prescritos mais vezes durante os intervalos entre crises, a fim de prevenir ou minimizar sintomas que permaneçam nesse período. Os medicamentos mais comuns são os corticoides e os broncodilatadores. Eles são normalmente administrados por meio de nebulizadores ou inaladores (bombinhas).
Cada tratamento é único, com remédios e doses personalizados para cada caso, podendo ser atualizado com frequência, conforme os sintomas e espaçamento das crises do paciente. Por isso, o acompanhamento médico é indispensável.
Como prevenir as crises asmáticas nas crianças?
As crises são prevenidas com a redução da exposição das crianças aos gatilhos que mencionamos ao longo do texto. Confira as dicas:
- Mantenha o ambiente sempre limpo e higienizado;
- Deixe janelas abertas sempre que possível, para evitar a presença do mofo em casa;
- Evite alimentos que gerem uma resposta imunológica na criança;
- Cesse o fumo próximo à criança;
- Atualize o calendário de vacinação, evitando infecções que podem desencadear as crises.
Agora que você já sabe o que é a asma infantil, como ela se manifesta e quais as principais causas, fique atento e procure auxílio médico caso note quaisquer sintomas em seus filhos.
Quer saber mais sobre a saúde infantil? Separamos um conteúdo que fala sobre o autismo, uma condição de saúde séria e que ainda gera muitas dúvidas entre pais e familiares. Boa leitura!
Sabin avisa:
Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.
Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.
Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.
Referências:
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Asma. Disponível em: https://sbpt.org.br/portal/espaco-saude-respiratoria-asma/. Acesso em: 22/05/2024.
Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Apenas 12,3% dos asmáticos brasileiros estão com a doença bem controlada. Disponível em: https://sbpt.org.br/portal/dia-mundial-asma-2023/. Acesso em: 21/05/2024.
Ministério da Saúde. Asma. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/asma. Acesso em: 21/05/2024.
Biblioteca Virtual em Saúde. Ministério da Saúde. Asma. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/asma/. Acesso em: 21/05/2024.