Sabin Por: Sabin
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Não pode haver dúvidas sobre a importância de estarmos atentos a quaisquer sintomas de tuberculose, tendo em vista que, mesmo que muitos não saibam, é uma doença que ainda se faz bastante presente nos dias de hoje. Infecciosa, é transmitida por uma bactéria e afeta, na maioria dos casos, os pulmões, podendo se tornar fatal se não tratada adequadamente.

Quando identificada precocemente, contudo, tem grandes chances de cura. Mesmo assim, faz parte dos critérios de priorização de agravo em saúde pública, considerando que mesmo com a existência de mecanismos tecnológicos capazes de viabilizar o seu controle, seus números ainda são preocupantes.

Para tratar do tema, conversamos com a Dra. Luciana Rodrigues Pires de Campos, médica infectologista e responsável técnica pela área de vacinas do Sabin em São José dos Campos, localizado em São Paulo, a fim de esclarecer algumas das principais questões sobre a tuberculose.

O que é tuberculose?

Trata-se de uma doença infectocontagiosa causada pela Mycobacterium tuberculosis, uma bactériatambém chamada de bacilo de Koch. O comprometimento pulmonar é seu desdobramento mais frequente e de maior relevância, mas a doença pode afetar outras partes do corpo, como os olhos, rins, intestino, pleura – vindo a ser conhecida como tuberculose extrapulmonar.

No Brasil, é vista como um sério problema de saúde pública, já que a cada ano são notificadas, em média, 70 mil novos casos e registradas aproximadamente 4,5 mil óbitos devido à enfermidade. Outro ponto a ser destacado é que no ano de 2020, o país registrou alarmantes 66.819 novos casos da doença, representando um coeficiente de incidência de 31,6 casos por 100 mil habitantes.

Em contrapartida, a tuberculose apresenta boas chances de cura e o seu tratamento é gratuito, sendo ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, especialistas buscam conhecer os indicadores epidemiológicos e, assim, planejar as melhores ações que possam contribuir para o controle da doença em seus variados âmbitos.

Essa análise permite, ainda, compreender as situações que geram desafios ao controle da doença, principalmente diante do contexto atual de enfrentamento à pandemia causada pela covid-19, que contribui diretamente para o agravamento da situação epidemiológica da tuberculose no Brasil e no mundo. Em relatório sobre o tema, a Organização Mundial de Saúde aponta que o coronavírus representa não somente um risco aumentado para as pessoas com tuberculose, como também compromete os recursos e mão-de-obra antes alocados na prevenção e no tratamento da doença.

Quais as formas da tuberculose?

A forma pulmonar da tuberculose, além de ser a mais comum, é também a de maior impacto para a saúde pública, considerando que é a principal responsável pela manutenção da cadeia de transmissão da enfermidade. Acomete os pulmões, onde o bacilo de instala, provocando sintomas como tosse seca, com ou sem sangue, e outros sinais sistêmicos como febre, perda ponderal, sudorese noturna.

No caso da forma extrapulmonar, a tuberculose atinge outros órgãos e pode ser mais fatal em indivíduos que apresentam comprometimento de seu sistema imunológico. Seus principais subtipos são:

  • Tuberculose ganglionar: acontece quando a bactéria se instala nos gânglios, que são as regiões nas quais as células de defesa se concentram). Os principais sintomas são inflamação, inchaço dos gânglios, dor e vermelhidão;
  • Tuberculose óssea: nessa forma, os ossos são afetados, principalmente nas vértebras, e metáfises dos ossos longos. Entre os principais sintomas, podemos destacar o emagrecimento, febre e dor óssea;
  • Tuberculose pleural: atinge a pleura, que é uma membrana responsável por revestir os pulmões. Os sintomas mais comuns são a astenia (perda ou redução da força física), tosse, dor torácica, febre e emagrecimento.

Quais os principais sintomas de tuberculose?

Entre os principais sintomas da tuberculose, está a tosse com expectoração que permanece por mais de duas semanas, além de febre no período vespertino (final da tarde), perda de peso e sudorese noturna.

Sendo assim, é preciso estar alerta ao entrar em contato com alguém com tuberculose. Ao identificar alguns dos sintomas, busque por atendimento médico o mais rápido possível para se submeter a uma avaliação especializada e realizar os exames apropriados. Caso o resultado seja positivo, é necessário iniciar o tratamento imediatamente e cumprir rigorosamente seu ciclo.

É preciso ressaltar, ainda, que a doença tem maior probabilidade de se manifestar em pacientes renais crônicos, portadores de HIV e imunodeprimidos.

Como é feito o seu diagnóstico?

O exame de baciloscopia do escarro, desde que realizado corretamente em todas as suas etapas, possibilita a detecção da maioria dos casos de tuberculose pulmonar. Ele é feito em duas amostras que são coletadas em dias diferentes, preferencialmente em jejum. O paciente precisa receber a orientação apropriada para evitar coletas de saliva inadequadas e garantir a precisão dos resultados.

A pesquisa da micobactéria no escarro também pode ser feita através da técnica de PCR, que possibilita a detecção de resistência à rifampicina, uma das principais drogas utilizadas para o tratamento. Este exame também está disponível na rede pública.

A requisição do exame de cultura de escarro é necessária para pacientes que reativam a doença, para paciente que não terminaram tratamento e pacientes imunodeprimidos. A grande desvantagem deste exame é o tempo prolongado para o resultado, ao redor de 40 dias.

Em função da caracterização da tuberculose como uma doença pulmonar, torna-se mais difícil realizar o diagnóstico quando outras regiões do corpo são comprometidas, sendo necessário um índice de suspeita seguido de biópsia.

Como acontece sua transmissão?

A tuberculose é transmitida pelo ar e se instala por meio da inalação de aerossóis originários das vias aéreas por meio de espirro, tosse ou fala de indivíduos infectados e com a doença ativa, pelo lançamento de partículas contendo bacilos.

Quanto maior o período de contato entre a pessoa com tuberculose e outros indivíduos próximos (que vivem na mesma casa, que trabalham ou compartilham o mesmo espaço), e quanto menor for a ventilação do ambiente, maior é a chance de infecção pelo bacilo. Lembrando que apenas pacientes com tuberculose pulmonar e laríngea bacilíferos são capazes de transmitir a doença.

Qualquer pessoa pode ser contaminada e contrair tuberculose. No entanto, como já foi dito, existem alguns grupos que, observando as condições de saúde e sociais, estão mais propensos a adoecerem — como as pessoas vivendo com HIV, diabéticos, indígenas, privados de liberdade e aqueles que se encontram em situação de rua. Essa contaminação também depende do tempo de exposição à doença e da imunidade de cada um.

“Há pessoas que entram em contato com alguém contaminado, fazendo com que o pulmão tenha um contágio inicial, mas o organismo realiza uma reação anti-inflamatória e consegue combater o bacilo. Já em outros casos, a doença se estabelece, reforçando a influência da resposta imunológica de cada indivíduo”, explica a médica infectologista.

Todo paciente com tuberculose pode transmitir a doença?

Nem todo paciente com tuberculose transmite a doença — isso acontece somente com os bacilíferos, ou seja, portadores de bacilos presentes nos pulmões e que eliminam esses microrganismos no ar. Os indivíduos que apresentam a enfermidade em outras partes do corpo não transmitem tuberculose, tendo em vista que os bacilos não são dispersados pela tosse.

Os doentes que já estão passando pelo tratamento também podem não oferecer perigo de contágio, levando em conta que a partir do começo do tratamento o risco de transmissão é reduzido com o decorrer do tempo. A partir de 15 dias da administração correta de todas as medicações indicadas, é provável que o paciente não esteja mais eliminando os bacilos responsáveis pela contaminação.

Pessoas que moram com um indivíduo com tuberculose podem pegar a doença?

Sim. Afinal, a dinâmica de transmissão da tuberculose se dá quando o indivíduo contaminado e com a doença estabelecida em seus pulmões elimina bacilos por meio de espirros, tosse e fala. Por esse motivo, as pessoas que convivem com ele, especialmente na mesma casa, antes do início do tratamento apropriado, são as que apresentam maiores riscos de serem contaminadas.

Contato de tuberculose é o nome dado ao caso daqueles indivíduos que convivem no mesmo espaço que o paciente doente na data do diagnóstico — que pode ser a residência, local de trabalho, escola, instituições de longa permanência, entre outros. Dessa forma, esses contatos precisam ser investigados para averiguar se houve ou não infecção.

Como se proteger da tuberculose?

“Não existe, na verdade, um protocolo de proteção. Devemos ficar atentos a quaisquer sintomas. Contatos breves não são suficientes para a contaminação, sendo que a transmissão é mais comum entre os contatos domiciliares”, pondera Dra. Luciana.

A principal vacina usada para a prevenção de tuberculose é a BCG (Bacillus Calmette-Guérin), que se encontra disponível gratuitamente no SUS e deve ser administrada em crianças logo após o nascimento ou até completarem 5 anos de idade. “A BCG protege contra os casos graves da doença, como tuberculose do sistema nervoso central. E ela não faz efeito prolongado em adultos”, alerta.

“A maior parte das crianças deixa a maternidade vacinada com a BCG. Contudo, em pacientes como bebês prematuros ou com peso menor que 2 quilos, a aplicação não deve ser feita. Nestes casos, o adequado é esperar algum tempo antes de administrá-la para evitar qualquer tipo de reação adversa”, detalha Campos.

É importante manter os ambientes arejados e iluminados, com uma boa circulação do ar, o que permite a dispersão de partículas infectantes. Da mesma forma, evitar a visitação de pessoas infectadas ou suspeitas de terem adquirido a doença também é uma medida de prevenção.

Também é necessário salientar a importância de uma vida saudável: uma alimentação balanceada, livre de álcool ou tabagismo, bem como uma higiene correta, a prática de atividades físicas e boas noites de sono reforçam a proteção contra a tuberculose e outras doenças.

Como se dá o tratamento da doença?

A tuberculose tem cura e seu tratamento é fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para o sucesso das ações empregadas, é indispensável que o paciente faça uso dos medicamentos de maneira regular, ou seja, todos os dias e nas horas prescritas, bem como pelo período necessário, que é de 6 meses, no mínimo, dependendo da forma da doença.

“Usamos há cerca de dez anos o mesmo protocolo, um esquema fornecido pelo Ministério da Saúde. A duração do tratamento e a quantidade de medicações vão variar de acordo com a forma da doença, o peso e as condições de saúde do paciente”, afirma a especialista.

Um aspecto interessante é que, com o início do tratamento, a transmissão tende a reduzir de maneira gradual e, na maioria dos casos, depois de 15 dias de tratamento, a chance de contaminação é mínima.

Ainda assim, o adequado é que as práticas de controle sejam empregadas até que ocorra o resultado negativo da baciloscopia ou da cultura para micobactéria. Isso inclui cobrir a boca com o braço ou com um lenço ao tossir ou espirrar, manter o ambiente ventilado e com entrada de luz natural.

Apesar da eficácia do tratamento, manter o paciente comprometido pelo período de 6 meses pode ser bastante desafiador. Por esse motivo, o risco de abandono antes do tempo necessário para considerar o caso curado requer atenção especial.

“É um tratamento longo, e o paciente pode relaxar após apresentar melhora. Há uma série de riscos quando isso acontece, inclusive o de estimular resistência da bactéria à medicação”, revela Dra. Luciana.

Ela explica que os pacientes que abandonam os seus tratamentos desencadeiam o risco de tuberculose resistente, o que vai manter a cadeia de transmissão frequente e, muitas vezes, os bacilos resistentes às terapias habituais.

Vale ressaltar que a resistência da bactéria às medicações usadas no tratamento pode levar ao aumento da transmissão de tuberculose para outras pessoas, resistência aos antibióticos, surgimento de casos graves ou, até mesmo, à morte.

Outro desafio encontrado durante o combate à doença é a falta de conhecimento sobre o assunto. Sendo assim, é fundamental conscientizar e sensibilizar a sociedade, tendo em vista que a tuberculose impõe aos pacientes uma sobrecarga relacionada ao impacto da doença na saúde, ao tratamento prolongado e difícil, e à exclusão das pessoas ao redor, principalmente devido aos mitos sobre a enfermidade e o medo que ela provoca.

Para combater a desinformação, é necessário reforçar junto à população que a doença tem cura e que o tratamento é gratuito, disponibilizado pela rede SUS e com altas chances de sucesso. Além disso, é fundamental que todos saibam como se proteger e evitar a sua contaminação, além de apoiar pacientes que estão em fase de tratamento.

Por que a incidência de tuberculose aumentou em 2021?

Os efeitos gerados pela pandemia da covid-19 têm influenciado de forma negativa o combate à tuberculose, com comprometimento de indicadores operacionais da doença. Os serviços médicos passaram a se concentrar no controle da covid-19, contribuindo para que um número crescente de pessoas não soubessem que estavam com tuberculose, já que não foram diagnosticadas corretamente.

Apesar de ser uma doença que tem cura, pode se agravar quando o diagnóstico não é rapidamente fechado. Este foi uns dos principais problemas dos últimos anos: negligenciar a tuberculose por falta de diagnóstico, por achar que os pacientes estavam com covid-19.

Outro ponto considerável é que as pessoas ficaram isoladas para conter a disseminação do coronavírus e, com isso, deixaram de procurar assistência médica. Somente agora é que podemos perceber essa retomada do cuidado que estava represado.

Nesse cenário de pandemia, algumas alterações relevantes nos indicadores epidemiológicos e operacionais também foram verificadas, como a redução do total de notificações de tuberculose nos três níveis de atenção, com queda mais manifestada na atenção terciária, na qual ocorre o oferecimento de serviços para tratar as doenças, além da minimização no consumo de cartuchos da rede de teste rápido molecular para tuberculose, quando feita uma comparação com o ano de 2019.

Onde ocorre a maior prevalência da doença?

Em relação ao predomínio da doença, um perfil mais comum de quem é acometido pela tuberculose são os indivíduos que enfrentam vulnerabilidades sociais, biológicas e econômicas. Podemos citar como exemplo as pessoas que exercem atividades laborais informais ou que realizam grandes trajetos ao se deslocarem para o local de trabalho, que residem às margens dos grandes centros urbanos, entre outros.

Em função da importância de um tratamento diário e contínuo para a cura da doença, é recomendado pelo Ministério da Saúde que o protocolo seja monitorado por profissionais da unidade de saúde mais próxima do paciente e, com isso, favoreça sua adesão e comprometimento.

Esse acompanhamento é conhecido como Tratamento Diretamente Observado (TDO), que estabelece a supervisão de um colaborador de saúde qualificado com o intuito de verificar se os medicamentos estão sendo tomados corretamente. Além disso, ele oferece orientações claras e objetivas referente às características da tuberculose e os riscos que a interrupção das terapias implementadas pode causar para o indivíduo, familiares e sociedade em geral.

“Devemos dedicar atenção especial também aos próprios profissionais de saúde. Este é um dos grupos de maior risco para a contaminação por tuberculose, devido ao contato com casos da doença”, alerta Dra. Luciana. “O problema é bastante comum, ainda, entre pacientes etilistas, pneumopatas, por exemplo, além de transplantados renais, por terem a imunidade celular diminuída”, complementa.

“Não podemos ter preconceito com a doença, precisamos desmistificá-la”, reflete. Ela destaca, ainda, que a cura não impede que ocorra uma nova infecção. Por esse motivo, adotar medidas de precaução, observar se teve contato com uma pessoa contaminada e estar atento aos sintomas devem ser práticas constantes.

Conseguiu entender melhor quais são os sintomas da tuberculose, como a doença é transmitida e como se proteger? Pelo fato de algumas doenças do trato respiratório apresentarem sintomas parecidos, o ideal é consultar um médico para avaliação e diagnóstico correto diante de qualquer suspeita. Aproveite sua visita no blog para entender o que é asma infantil e quais são as suas possíveis causas!

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Conheça os sintomas de tuberculose e saiba como a doença é transmitida; Não pode haver dúvidas sobre a importância de estarmos atentos a quaisquer sintomas de tuberculose, tendo em vista que, mesmo que muitos não saibam, é uma doença que ainda se faz bastante presente nos dias de hoje. Infecciosa, é transmitida por uma bactéria e afeta, na maioria dos casos, os pulmões, podendo se tornar fatal se não tratada adequadamente. Quando identificada precocemente, contudo, tem grandes chances de cura. Mesmo assim, faz parte dos critérios de priorização de agravo em saúde pública, considerando que mesmo com a existência de mecanismos tecnológicos capazes de viabilizar o seu controle, seus números ainda são preocupantes. Para tratar do tema, conversamos com a Dra. Luciana Rodrigues Pires de Campos, médica infectologista e responsável técnica pela área de vacinas do Sabin em São José dos Campos, localizado em São Paulo, a fim de esclarecer algumas das principais questões sobre a tuberculose. O que é tuberculose? Trata-se de uma doença infectocontagiosa causada pela Mycobacterium tuberculosis, uma bactériatambém chamada de bacilo de Koch. O comprometimento pulmonar é seu desdobramento mais frequente e de maior relevância, mas a doença pode afetar outras partes do corpo, como os olhos, rins, intestino, pleura - vindo a ser conhecida como tuberculose extrapulmonar. No Brasil, é vista como um sério problema de saúde pública, já que a cada ano são notificadas, em média, 70 mil novos casos e registradas aproximadamente 4,5 mil óbitos devido à enfermidade. Outro ponto a ser destacado é que no ano de 2020, o país registrou alarmantes 66.819 novos casos da doença, representando um coeficiente de incidência de 31,6 casos por 100 mil habitantes. Em contrapartida, a tuberculose apresenta boas chances de cura e o seu tratamento é gratuito, sendo ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, especialistas buscam conhecer os indicadores epidemiológicos e, assim, planejar as melhores ações que possam contribuir para o controle da doença em seus variados âmbitos. Essa análise permite, ainda, compreender as situações que geram desafios ao controle da doença, principalmente diante do contexto atual de enfrentamento à pandemia causada pela covid-19, que contribui diretamente para o agravamento da situação epidemiológica da tuberculose no Brasil e no mundo. Em relatório sobre o tema, a Organização Mundial de Saúde aponta que o coronavírus representa não somente um risco aumentado para as pessoas com tuberculose, como também compromete os recursos e mão-de-obra antes alocados na prevenção e no tratamento da doença. Quais as formas da tuberculose? A forma pulmonar da tuberculose, além de ser a mais comum, é também a de maior impacto para a saúde pública, considerando que é a principal responsável pela manutenção da cadeia de transmissão da enfermidade. Acomete os pulmões, onde o bacilo de instala, provocando sintomas como tosse seca, com ou sem sangue, e outros sinais sistêmicos como febre, perda ponderal, sudorese noturna. No caso da forma extrapulmonar, a tuberculose atinge outros órgãos e pode ser mais fatal em indivíduos que apresentam comprometimento de seu sistema imunológico. Seus principais subtipos são: Tuberculose ganglionar: acontece quando a bactéria se instala nos gânglios, que são as regiões nas quais as células de defesa se concentram). Os principais sintomas são inflamação, inchaço dos gânglios, dor e vermelhidão; Tuberculose óssea: nessa forma, os ossos são afetados, principalmente nas vértebras, e metáfises dos ossos longos. Entre os principais sintomas, podemos destacar o emagrecimento, febre e dor óssea; Tuberculose pleural: atinge a pleura, que é uma membrana responsável por revestir os pulmões. Os sintomas mais comuns são a astenia (perda ou redução da força física), tosse, dor torácica, febre e emagrecimento. Quais os principais sintomas de tuberculose? Entre os principais sintomas da tuberculose, está a tosse com expectoração que permanece por mais de duas semanas, além de febre no período vespertino (final da tarde), perda de peso e sudorese noturna. Sendo assim, é preciso estar alerta ao entrar em contato com alguém com tuberculose. Ao identificar alguns dos sintomas, busque por atendimento médico o mais rápido possível para se submeter a uma avaliação especializada e realizar os exames apropriados. Caso o resultado seja positivo, é necessário iniciar o tratamento imediatamente e cumprir rigorosamente seu ciclo. É preciso ressaltar, ainda, que a doença tem maior probabilidade de se manifestar em pacientes renais crônicos, portadores de HIV e imunodeprimidos. Como é feito o seu diagnóstico? O exame de baciloscopia do escarro, desde que realizado corretamente em todas as suas etapas, possibilita a detecção da maioria dos casos de tuberculose pulmonar. Ele é feito em duas amostras que são coletadas em dias diferentes, preferencialmente em jejum. O paciente precisa receber a orientação apropriada para evitar coletas de saliva inadequadas e garantir a precisão dos resultados. A pesquisa da micobactéria no escarro também pode ser feita através da técnica de PCR, que possibilita a detecção de resistência à rifampicina, uma das principais drogas utilizadas para o tratamento. Este exame também está disponível na rede pública. A requisição do exame de cultura de escarro é necessária para pacientes que reativam a doença, para paciente que não terminaram tratamento e pacientes imunodeprimidos. A grande desvantagem deste exame é o tempo prolongado para o resultado, ao redor de 40 dias. Em função da caracterização da tuberculose como uma doença pulmonar, torna-se mais difícil realizar o diagnóstico quando outras regiões do corpo são comprometidas, sendo necessário um índice de suspeita seguido de biópsia. Como acontece sua transmissão? A tuberculose é transmitida pelo ar e se instala por meio da inalação de aerossóis originários das vias aéreas por meio de espirro, tosse ou fala de indivíduos infectados e com a doença ativa, pelo lançamento de partículas contendo bacilos. Quanto maior o período de contato entre a pessoa com tuberculose e outros indivíduos próximos (que vivem na mesma casa, que trabalham ou compartilham o mesmo espaço), e quanto menor for a ventilação do ambiente, maior é a chance de infecção pelo bacilo. Lembrando que apenas pacientes com tuberculose pulmonar e laríngea bacilíferos são capazes de transmitir a doença. Qualquer pessoa pode ser contaminada e contrair tuberculose. No entanto, como já foi dito, existem alguns grupos que, observando as condições de saúde e sociais, estão mais propensos a adoecerem — como as pessoas vivendo com HIV, diabéticos, indígenas, privados de liberdade e aqueles que se encontram em situação de rua. Essa contaminação também depende do tempo de exposição à doença e da imunidade de cada um. "Há pessoas que entram em contato com alguém contaminado, fazendo com que o pulmão tenha um contágio inicial, mas o organismo realiza uma reação anti-inflamatória e consegue combater o bacilo. Já em outros casos, a doença se estabelece, reforçando a influência da resposta imunológica de cada indivíduo", explica a médica infectologista. Todo paciente com tuberculose pode transmitir a doença? Nem todo paciente com tuberculose transmite a doença — isso acontece somente com os bacilíferos, ou seja, portadores de bacilos presentes nos pulmões e que eliminam esses microrganismos no ar. Os indivíduos que apresentam a enfermidade em outras partes do corpo não transmitem tuberculose, tendo em vista que os bacilos não são dispersados pela tosse. Os doentes que já estão passando pelo tratamento também podem não oferecer perigo de contágio, levando em conta que a partir do começo do tratamento o risco de transmissão é reduzido com o decorrer do tempo. A partir de 15 dias da administração correta de todas as medicações indicadas, é provável que o paciente não esteja mais eliminando os bacilos responsáveis pela contaminação. Pessoas que moram com um indivíduo com tuberculose podem pegar a doença? Sim. Afinal, a dinâmica de transmissão da tuberculose se dá quando o indivíduo contaminado e com a doença estabelecida em seus pulmões elimina bacilos por meio de espirros, tosse e fala. Por esse motivo, as pessoas que convivem com ele, especialmente na mesma casa, antes do início do tratamento apropriado, são as que apresentam maiores riscos de serem contaminadas. Contato de tuberculose é o nome dado ao caso daqueles indivíduos que convivem no mesmo espaço que o paciente doente na data do diagnóstico — que pode ser a residência, local de trabalho, escola, instituições de longa permanência, entre outros. Dessa forma, esses contatos precisam ser investigados para averiguar se houve ou não infecção. Como se proteger da tuberculose? "Não existe, na verdade, um protocolo de proteção. Devemos ficar atentos a quaisquer sintomas. Contatos breves não são suficientes para a contaminação, sendo que a transmissão é mais comum entre os contatos domiciliares", pondera Dra. Luciana. A principal vacina usada para a prevenção de tuberculose é a BCG (Bacillus Calmette-Guérin), que se encontra disponível gratuitamente no SUS e deve ser administrada em crianças logo após o nascimento ou até completarem 5 anos de idade. "A BCG protege contra os casos graves da doença, como tuberculose do sistema nervoso central. E ela não faz efeito prolongado em adultos", alerta. "A maior parte das crianças deixa a maternidade vacinada com a BCG. Contudo, em pacientes como bebês prematuros ou com peso menor que 2 quilos, a aplicação não deve ser feita. Nestes casos, o adequado é esperar algum tempo antes de administrá-la para evitar qualquer tipo de reação adversa", detalha Campos. É importante manter os ambientes arejados e iluminados, com uma boa circulação do ar, o que permite a dispersão de partículas infectantes. Da mesma forma, evitar a visitação de pessoas infectadas ou suspeitas de terem adquirido a doença também é uma medida de prevenção. Também é necessário salientar a importância de uma vida saudável: uma alimentação balanceada, livre de álcool ou tabagismo, bem como uma higiene correta, a prática de atividades físicas e boas noites de sono reforçam a proteção contra a tuberculose e outras doenças. Como se dá o tratamento da doença? A tuberculose tem cura e seu tratamento é fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para o sucesso das ações empregadas, é indispensável que o paciente faça uso dos medicamentos de maneira regular, ou seja, todos os dias e nas horas prescritas, bem como pelo período necessário, que é de 6 meses, no mínimo, dependendo da forma da doença. "Usamos há cerca de dez anos o mesmo protocolo, um esquema fornecido pelo Ministério da Saúde. A duração do tratamento e a quantidade de medicações vão variar de acordo com a forma da doença, o peso e as condições de saúde do paciente", afirma a especialista. Um aspecto interessante é que, com o início do tratamento, a transmissão tende a reduzir de maneira gradual e, na maioria dos casos, depois de 15 dias de tratamento, a chance de contaminação é mínima. Ainda assim, o adequado é que as práticas de controle sejam empregadas até que ocorra o resultado negativo da baciloscopia ou da cultura para micobactéria. Isso inclui cobrir a boca com o braço ou com um lenço ao tossir ou espirrar, manter o ambiente ventilado e com entrada de luz natural. Apesar da eficácia do tratamento, manter o paciente comprometido pelo período de 6 meses pode ser bastante desafiador. Por esse motivo, o risco de abandono antes do tempo necessário para considerar o caso curado requer atenção especial. "É um tratamento longo, e o paciente pode relaxar após apresentar melhora. Há uma série de riscos quando isso acontece, inclusive o de estimular resistência da bactéria à medicação", revela Dra. Luciana. Ela explica que os pacientes que abandonam os seus tratamentos desencadeiam o risco de tuberculose resistente, o que vai manter a cadeia de transmissão frequente e, muitas vezes, os bacilos resistentes às terapias habituais. Vale ressaltar que a resistência da bactéria às medicações usadas no tratamento pode levar ao aumento da transmissão de tuberculose para outras pessoas, resistência aos antibióticos, surgimento de casos graves ou, até mesmo, à morte. Outro desafio encontrado durante o combate à doença é a falta de conhecimento sobre o assunto. Sendo assim, é fundamental conscientizar e sensibilizar a sociedade, tendo em vista que a tuberculose impõe aos pacientes uma sobrecarga relacionada ao impacto da doença na saúde, ao tratamento prolongado e difícil, e à exclusão das pessoas ao redor, principalmente devido aos mitos sobre a enfermidade e o medo que ela provoca. Para combater a desinformação, é necessário reforçar junto à população que a doença tem cura e que o tratamento é gratuito, disponibilizado pela rede SUS e com altas chances de sucesso. Além disso, é fundamental que todos saibam como se proteger e evitar a sua contaminação, além de apoiar pacientes que estão em fase de tratamento. Por que a incidência de tuberculose aumentou em 2021? Os efeitos gerados pela pandemia da covid-19 têm influenciado de forma negativa o combate à tuberculose, com comprometimento de indicadores operacionais da doença. Os serviços médicos passaram a se concentrar no controle da covid-19, contribuindo para que um número crescente de pessoas não soubessem que estavam com tuberculose, já que não foram diagnosticadas corretamente. Apesar de ser uma doença que tem cura, pode se agravar quando o diagnóstico não é rapidamente fechado. Este foi uns dos principais problemas dos últimos anos: negligenciar a tuberculose por falta de diagnóstico, por achar que os pacientes estavam com covid-19. Outro ponto considerável é que as pessoas ficaram isoladas para conter a disseminação do coronavírus e, com isso, deixaram de procurar assistência médica. Somente agora é que podemos perceber essa retomada do cuidado que estava represado. Nesse cenário de pandemia, algumas alterações relevantes nos indicadores epidemiológicos e operacionais também foram verificadas, como a redução do total de notificações de tuberculose nos três níveis de atenção, com queda mais manifestada na atenção terciária, na qual ocorre o oferecimento de serviços para tratar as doenças, além da minimização no consumo de cartuchos da rede de teste rápido molecular para tuberculose, quando feita uma comparação com o ano de 2019. Onde ocorre a maior prevalência da doença? Em relação ao predomínio da doença, um perfil mais comum de quem é acometido pela tuberculose são os indivíduos que enfrentam vulnerabilidades sociais, biológicas e econômicas. Podemos citar como exemplo as pessoas que exercem atividades laborais informais ou que realizam grandes trajetos ao se deslocarem para o local de trabalho, que residem às margens dos grandes centros urbanos, entre outros. Em função da importância de um tratamento diário e contínuo para a cura da doença, é recomendado pelo Ministério da Saúde que o protocolo seja monitorado por profissionais da unidade de saúde mais próxima do paciente e, com isso, favoreça sua adesão e comprometimento. Esse acompanhamento é conhecido como Tratamento Diretamente Observado (TDO), que estabelece a supervisão de um colaborador de saúde qualificado com o intuito de verificar se os medicamentos estão sendo tomados corretamente. Além disso, ele oferece orientações claras e objetivas referente às características da tuberculose e os riscos que a interrupção das terapias implementadas pode causar para o indivíduo, familiares e sociedade em geral. "Devemos dedicar atenção especial também aos próprios profissionais de saúde. Este é um dos grupos de maior risco para a contaminação por tuberculose, devido ao contato com casos da doença", alerta Dra. Luciana. "O problema é bastante comum, ainda, entre pacientes etilistas, pneumopatas, por exemplo, além de transplantados renais, por terem a imunidade celular diminuída", complementa. "Não podemos ter preconceito com a doença, precisamos desmistificá-la", reflete. Ela destaca, ainda, que a cura não impede que ocorra uma nova infecção. Por esse motivo, adotar medidas de precaução, observar se teve contato com uma pessoa contaminada e estar atento aos sintomas devem ser práticas constantes. Conseguiu entender melhor quais são os sintomas da tuberculose, como a doença é transmitida e como se proteger? Pelo fato de algumas doenças do trato respiratório apresentarem sintomas parecidos, o ideal é consultar um médico para avaliação e diagnóstico correto diante de qualquer suspeita. Aproveite sua visita no blog para entender o que é asma infantil e quais são as suas possíveis causas!