A bronquiolite é uma das infecções respiratórias mais frequentes na infância, especialmente em bebês e crianças com menos de dois anos. Causada por vírus que atingem os pulmões, essa condição geralmente começa com sintomas leves, semelhantes a um resfriado, mas pode evoluir para um quadro com chiado no peito, dificuldade para respirar e, em casos mais graves, necessidade de hospitalização.
Durante o outono e o inverno, quando os vírus respiratórios circulam com maior intensidade em grande parte do país, aumenta também a ocorrência de bronquiolite. Embora afete principalmente lactentes, a doença pode trazer riscos também para idosos, como aqueles com comorbidades ou imunidade comprometida. Nessa população, o quadro pode ser inicialmente mais sutil, porém com potencial de evolução grave. Por isso, além de proteger os bebês, é crucial considerar medidas de prevenção em toda a rede de convivência.
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O que é a bronquiolite?
A bronquiolite é uma infecção viral aguda que atinge os bronquíolos, pequenas ramificações dos pulmões responsáveis por conduzir o ar. Quando esses canais ficam inflamados e obstruídos por secreções, a passagem de ar se torna difícil, comprometendo a respiração.
A doença acomete particularmente bebês com menos de dois anos de idade, sendo mais comum nos primeiros seis meses de vida. O quadro começa com sintomas leves, como coriza e febre baixa; no entanto, tende a piorar entre o terceiro e o quinto dia, quando a inflamação pulmonar se intensifica.
Após o período crítico, a maioria das crianças começa a melhorar gradualmente. A resolução dos sintomas costuma ocorrer após 10 a 14 dias. Em alguns casos, sintomas residuais (como tosse) podem durar mais tempo.
É importante entender que a bronquiolite é diferente de outras infecções respiratórias, como a bronquite, mais frequente em adultos, e a pneumonia, que pode ter causas bacterianas.
Quais são os sintomas da bronquiolite?
Como mencionamos, no início, a bronquiolite pode se parecer com um simples resfriado. Contudo, à medida que a infecção progride, podem surgir sinais mais preocupantes, como chiado no peito, respiração rápida, retrações nas costelas, gemência e dificuldade para mamar ou se alimentar.
Em casos mais graves, a criança pode ter pausas na respiração (apneia), coloração azulada nos lábios ou dedos (cianose), sonolência excessiva, desidratação e piora do estado geral. Esses sinais indicam comprometimento respiratório e exigem atendimento médico imediato. A piora clínica acontece usualmente entre o terceiro e o quinto dia de sintomas, representando o período de maior atenção e necessidade de vigilância constante.
Quais são as causas da bronquiolite?
O principal causador da bronquiolite é o vírus sincicial respiratório (VSR), responsável por grande parte dos casos, em especial durante as estações mais frias. Outros vírus também podem estar envolvidos, como o rinovírus, metapneumovírus, influenza, parainfluenza e bocavírus humano. Muitas vezes, dois ou mais vírus estão presentes simultaneamente, o que caracteriza uma coinfecção viral.
Além disso, a inflamação causada pelo vírus pode facilitar a ocorrência de infecções bacterianas secundárias, sobretudo em pacientes mais vulneráveis, o que pode aumentar a gravidade do quadro e demandar cuidados adicionais.
Como a bronquiolite é transmitida?
A transmissão ocorre por contato direto com secreções respiratórias, como espirros, tosse ou até mesmo pelo toque em superfícies contaminadas. Alguns vírus podem sobreviver por horas em objetos de uso comum, como brinquedos, roupas, talheres e móveis.
Ambientes fechados e com aglomeração, como creches e escolas, favorecem a disseminação da doença. Portanto, medidas como higienizar as mãos regularmente, evitar contato com pessoas gripadas e manter os espaços bem ventilados são essenciais para conter a transmissão.
Quem tem mais risco de desenvolver bronquiolite grave?
Apesar de qualquer bebê estar propenso a desenvolver bronquiolite, o risco de evolução grave é maior em lactentes com menos de três meses de vida, destacando-se aqueles que nasceram prematuros ou com baixo peso. Crianças com cardiopatias congênitas, doenças pulmonares crônicas, neuromusculares, síndromes genéticas como a síndrome de Down ou imunodeficiências também estão entre os grupos mais vulneráveis.
Fatores ambientais e sociais, como exposição ao tabagismo passivo, ausência de aleitamento materno e condições socioeconômicas desfavoráveis, contribuem para o agravamento da doença.
Um ponto interessante é que os meninos apresentam taxas mais elevadas de hospitalização por bronquiolite do que meninas, segundo dados epidemiológicos.
Como é feito o diagnóstico da bronquiolite?
O diagnóstico é clínico e feito por um profissional de saúde com base na avaliação dos sintomas e no exame físico da criança. São observados sinais como respiração acelerada, chiado no peito, retrações torácicas, dificuldade para mamar e saturação (ou queda) de oxigênio. Normalmente, não é necessário realizar exames laboratoriais ou radiografias, a menos que o quadro fuja do padrão típico ou haja suspeita de complicações.
De modo geral, o acompanhamento periódico é determinante para avaliar a evolução da doença e identificar rapidamente qualquer sinal de piora, principalmente nos dias críticos de progressão do quadro.
Tratamento e prevenção da bronquiolite
Como não existe um medicamento específico para combater os vírus que causam bronquiolite, o tratamento é de suporte. Em casos leves, os cuidados podem ser feitos em casa, com foco na hidratação, alimentação e controle dos sintomas.Nos quadros moderados a graves, pode ser preciso internar a criança para garantir suporte adequado.
O uso de oxigênio por cateter nasal de alto fluxo ou CPAP pode ser indicado para manter a oxigenação adequada. Já em casos de insuficiência respiratória grave, pode ser necessário utilizar estratégias de ventilação mecânica invasiva, em ambiente hospitalar, com acompanhamento intensivo.
Cabe ressaltar que broncodilatadores, corticosteroides, antibióticos, solução salina hipertônica e fisioterapia respiratória não são recomendados de forma rotineira, pois não apresentam benefícios comprovados nos casos típicos de bronquiolite viral.
Cuidados preventivos
A melhor forma de prevenir a bronquiolite é adotar medidas simples no dia a dia. Lavar as mãos com frequência, manter os ambientes ventilados, evitar contato com pessoas gripadas e higienizar brinquedos e objetos compartilhados são práticas que fazem a diferença. Em períodos de maior circulação viral, o cuidado deve ser redobrado, especificamente com bebês pequenos.
Essas atitudes têm grande impacto na redução da transmissão, como ficou evidente durante a pandemia de covid-19, quando medidas de prevenção resultaram em uma queda significativa das internações por bronquiolite.
Imunização e estratégias de proteção passiva
Além dos cuidados comportamentais, o Brasil passou a contar recentemente com estratégias modernas de imunização contra o vírus sincicial respiratório. Uma delas é a vacinação da gestante com a vacina Abrysvo, indicada a partir da vigésima oitava semana de gestação. Essa medida promove a transferência de anticorpos da mãe para o bebê ainda na barriga, protegendo-o nos primeiros meses de vida.
Outra importante ferramenta é o anticorpo monoclonal Nirsevimabe (comercialmente conhecido como Beyfortus). Ele é indicado para todos os bebês com até oito meses de idade, durante o período de maior circulação do vírus, e também para crianças com fatores de risco até os dois anos de vida. O Nirsevimabe oferece proteção passiva imediata, com dose única e ação prolongada.
Com a chegada dessas novas tecnologias, o uso do Palivizumabe, que antes era utilizado em grupos restritos, está sendo substituído gradativamente, devido à maior eficácia e conveniência das novas alternativas.
Como a bronquiolite se manifesta no Brasil
A bronquiolite é uma das principais causas de hospitalização em bebês no Brasil, com impacto significativo sobre os serviços de saúde pública. Aproximadamente 10% dos casos evoluem para internação hospitalar, especialmente entre os menores de 12 meses. A média de permanência é de quatro a cinco dias, mas pode variar conforme a gravidade e as condições clínicas da criança.
Em virtude das dimensões continentais do país, a sazonalidade da bronquiolite varia entre as regiões. De acordo com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), no Sul e Sudeste, o pico de casos ocorre entre março e julho, enquanto no Norte e Nordeste, a maior incidência acontece entre janeiro e maio. Essa diferença tem impacto direto na definição das estratégias de imunização e no planejamento da assistência pediátrica em cada localidade.
Nos últimos anos, observou-se que medidas simples, como o distanciamento social durante a pandemia de covid-19, resultaram em uma expressiva redução nas internações por outras infecções respiratórias — entre elas, a bronquiolite. Esse dado reforça a importância da vacinação para proteger os bebês, principalmente nos períodos de maior circulação viral.
A chegada de novas vacinas e anticorpos monoclonais representa um avanço elementar no cuidado com os bebês. Cuidar da saúde respiratória das crianças é uma forma de garantir um início de vida mais seguro e saudável. E manter-se bem informado é o primeiro passo para isso.
Quer saber mais sobre outras doenças respiratórias que afetam crianças e adultos? Leia nosso conteúdo: Entenda o que são e quais as principais doenças respiratórias.
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Este conteúdo é meramente informativo e não pretende substituir consultas médicas, avaliações por profissionais de saúde ou fornecer qualquer tipo de diagnóstico ou recomendação de exames.
Importante ressaltar que diagnósticos e tratamentos devem ser sempre indicados por uma avaliação médica individual. Em caso de dúvidas, converse com seu médico. Somente o profissional pode esclarecer todas as suas perguntas.
Lembre-se: qualquer decisão relacionada à sua saúde sem orientação profissional pode ser prejudicial.
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